Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 22: Cristal

Antes da raid, Lucas teve uma tarde inteira para se preparar e fez uma descoberta revolucionária — ele podia acumular inúmeras mobtraps uma do lado da outra.

Existia uma prática em jogos de esperar parado em cima de uma plataforma para monstros aparecerem com mais frequência, no entanto, também havia a de aumentar a eficiência desses abatedouros.

Uma deles era “nerfar” a região, diminuir a quantidade de lugares onde os monstros surgiriam e concentrar num único lugar.

No período de muitas horas, ele construiu novas farms de goblin perto da vila dos vampiros, e como a região era ampla, ele conseguiu fazer diversas caixas para que ao invés dos monstros surgirem na superfície, eles apareceriam no subsolo.

Todas foram interconectadas por um corredor circular que rodeava a vila, então bastava dar voltas por esse corredor e atirar uma magia dentro do matadouro para ganhar os drops.

Era como um tipo de treino e um meio de aumentar os níveis, aproveitando que o fluxo e seus atributos garantiam uma duração longa do genocídio de goblins.

Seu nível continuou subindo até estagnar no 20 perto do horário de trocar de turno no hospital. Uma coisa curiosa que viu foi o fato dos vampiros não tostarem debaixo do sol.

Ele tentou descobrir o motivo daquilo e perguntou a Mila o motivo. A morcega desconversou e retrucou que explicaria se recebesse mais sangue de presente.

Para a sua tristeza, não recebeu nem uma gota sequer. Lucas terminou sua sessão de grind e saiu da zona quando era hora.

O dia passou e agora ele estava perto de iniciar uma raid com os demais. Não era necessário realizar aquele teste, mas Bianca pediu para que fizesse mesmo assim.

O motivo era simples: ela queria ver a habilidade de Lucas em ação e também estreá-lo como um raider para mandá-lo em outras raids.

Além disso, era parte das cláusulas do contrato assinado, e como compensação dariam as medicinas novas que ele ofereceu para seu irmão. 

“Eu ainda tenho um receio de fazer essas coisas, só que é o jeito.”

Olhou o ambiente a sua volta — uma espaçosa caverna com diversos cristais nas paredes e teto, extremamente iluminada e com diversas cores que enchiam a caverna.

O que estranhou foi o fato de ter aparecido num lugar em que havia poucas pessoas. O portal também parecia ter sido removido do lugar, pois atrás dele havia uma parede.

Dentre as pessoas, a única que se familiarizou foi com a garota do moletom amarelo. Tirando ela, todos eram desconhecidos.

Outra coisa que tomou nota foi a quantidade de monstros domesticados ali. Eram poucos, a maioria de pequeno porte, como pequenos animais ou até fadinhas. 

Não eram nada se comparados ao dragão que viu no seu primeiro dia naquela realidade, por mais que fossem muito fofos.

Sorte a dele ter Mila escondida dentro de um de seus bolsos. 

— Pessoal, pessoal! — chamou um dos participantes, que tinha um chapéu e um arco. — Eu tenho uma proposta incrível para vocês! Que tal formarmos um time? Assim poderíamos derrotar os monstros e os que não puderem lutar coletam os materiais. No final, dividiremos tudo igualmente!

Lucas achava aquele plano bom, e muitos acabaram concordando com a proposta, exceto ele próprio e umas pessoas que preferiam ficar sozinhas — incluindo a garota de moletom.

A razão pela qual não se juntaria eram duas:

1°: Ele não confiava em caras que tinham aparência de galã e que esbanjavam um sorriso muito confiante.

2°: Estava acostumado a matar monstros sozinhos e possuía bastantes artifícios para se virar, incluindo uma vampira fortona no seu bolso.

Sem compactuar com a proposta, saiu do caminho antes que chamasse alguma atenção, indo rumo aos caminhos de cristal em busca das formigas que disseram existir lá. 

Só que uma pessoa o seguia. Era de novo ela, aquela garota estranha que o olhava desde antes da entrada no portal. Já de saco cheio, virou-se para trás e a encarou.

“Puta que pariu, ela parece uma assaltante”, pensou, temendo um revolver sair daquela calça. — Posso ajudar? Quer alguma coisa?

— Pe-pera, você não lembra de mim?! — Ela puxou o casaco, revelando os olhos claros e cabelo curto. — Sou eu, poxa! A Alice!

— A irmã do Theo…? — Levantou as sobrancelhas de surpresa, extremamente receoso. — Por que você tá aqui? Na verdade, como diabos você passou no teste?

— Be-bem… eu dei uma sorte, hehehe! Mas eu quem devia perguntar isso, o que tu faz aqui?

— São questões pessoais.

— Então as minhas também são questões pessoais.

Teve um momento de silêncio que durou uma eternidade. Lucas desviou o rosto e sentiu um breve déjà vu, com certeza aquilo aconteceu antes em algum momento.

— Quer ir andando pra gente não ficar parado aqui?

— Claro, acho que é melhor do que escutar aquele fanfarrão lá atrás.

— Fanfarrão? — Levantou a sobrancelha. — Como assim fanfarrão?

— Você não conhece aquele cara? Caramba, tá bem desatualizado.

Os dois então foram andando e conversando sobre o rapaz de antes que chamou todos para montarem grupos.

Alice fez uma explicação rápida por cima. Ele era um digital influencer muito popular que em seu último blog confessou seu desejo por uma carreira como raider.

Pelas próprias palavras dela, era um “modinha” e “cringe”.

— Esses caras que inventam de atingir coisas grandiosas sem nem conhecer o que tem por trás logo vão ser desclassificados. — Mostrou a língua de nojo. — Foi impressionante ele ter passado pelo primeiro teste, mas desse não tem como passar.

— Por que acha isso?

— Ah, sei lá, imagina você nunca ter se afogado, então tem uma vez que acontece. Vira um trauma, né? É disso que eu tô falando, ele vai enfrentar uma das formigas daqui, vai ficar todo assustado e por fim vai correr se mijando de medo. 

— Mas o mesmo não se aplica a ti? Tipo, você é uma garota, é meio comum sentir medo e…

— Machista! — Alice deu um soco nas costelas do rapaz, para sua sorte não foi forte ao ponto de quebrá-las. — Eu amo esse tipo de coisa, tá maluco?! É por isso que eu tava lá pra matar goblins, cacete, eu amo essa adrenalina de matar esses monstros!

Lucas se contorceu um pouco por conta da dor no culote, logo o pior canto para bater. Imaginou que Alice fosse uma garota meio incomum por preferir esse tipo de assunto.

Porém, julgando um pouco de sua personalidade, fazia certo sentido. Enquanto falavam sobre como era ficar dentro daquele portal, repararam numa formiga gigante no teto.

Ela mastigava um cristal e sua carapaça era envolvida por pedras, além de brilhar igual o restante da caverna. Lucas apontou para a criatura.

— Você não tem nenhum medo daquilo lá? 

— Não, tem coisas mais assustadoras… uma barata voadora, por exemplo.

— Já que você não tem medo mesmo, que tal fazermos uma competição? Aquele que matar mais formigas faz o que o outro quiser pelo resto do dia. 

— Sé-sério…? — Pausou por um instante, encarando de maneira relutante a criatura. — Beleza, eu topo.

Lucas acenou com a cabeça, a primeira coisa que imediatamente fez foi conjurar uma Esfera Elétrica combinada com Carregar Força recém-melhorada.

Um relâmpago atravessou o ar e atingiu em cheio a formiga, soltando uma pequena explosão que fritou o inseto e o fez despencar em direção ao chão.

— Então é bom que você seja rápida, se não minha vitória é garantida.

O queixo de Alice caiu. Ela ficou paralisada no lugar, enquanto Lucas caminhou na direção do monstro com um sorriso abobalhado, como se aquilo fosse mais uma situação normal.

A situação criou uma emergência imediata, exatamente o que ele queria, pois a garota começou a ir de lá pra cá afundando formigas com chutes numa velocidade anormal.

Observando mais de perto, Lucas também deduziu que a habilidade de Alice parecia com um tipo de supervelocidade. 

Consistia em deslizar os pés pelo chão a partir de um impulso repentino que saia dos pés, permitindo mover as pernas de um modo veloz. 

Era fácil enxergar um jeito de destruir inimigos com aquilo, desde que usasse os pés ao invés dos punhos. 

O rapaz voltou sua atenção às formigas. Outra apareceu bem longe, então ele se concentrou em usar seu dedo igual a uma mira, para assim disparar outra Esfera Elétrica.

Porém, para dar uma variada a mais, enfrentou algumas frente a frente. Ironicamente, com um soco a armadura de cristais se estilhaçava.

Usar as garras foi ineficiente, já que as pontas riscavam a pedra e não causavam um arranhão que fosse, logo a porradaria bruta era mais atrativa.

 

5× Fragmento de Cristal 

1× Rubi

3× Ferrões de Formiga

 

Você ganhou 5 níveis

 

"A velocidade de level up tá bem alta, deve ser porque são mais fortes que os goblins… porém também quer dizer que meus golpes estão grandes demais pro meu nível"

A oportunidade de usar artes não surgiu. Estava fácil demais matar cada um dos mobs, tanto que parecia até sem graça de tão lentos que eles eram.

Mas Lucas não abaixou a guarda, era uma situação de perigo. Quando bateu 10 níveis ganhos, ele repentinamente parou e voltou para procurar por Alice.

A garota lutava contra uma das formigas e estava passando por algumas dificuldades. Talvez a falta de força física contribuísse para seu estilo de luta.

Como era uma competição, o rapaz aproveitou e roubou a formiga, matando com uma mera magia que a deixou queimada.

— Ei! Tu roubou minha kill, arrombado!

— Parecia mais que você não ia conseguir derrotar aquilo…

— Eu ia, era questão de tempo! Mas agora foi tudo pelo ralo, porra…

Lucas suspirou e retirou as luvas, aproximando-se de Alice e colocando o equipamento nas mãos dela. 

— Você tava cheia de dificuldade, não precisa mentir. — Depois de fechar o elástico, ele se afastou. — Vou te dar isso e mais tarde me devolve, tá? Ah, e uma dica: gire o quadril quando for bater, vai aumentar a força do seu soco.

Deu uma piscada, voltando a matar os monstros ao longo da caverna, sem sequer olhar para o rosto explosivamente corado da garota.

Sua lerdeza era venerável, especialmente porque Alice agradeceu silenciosamente antes de voltar à sua parte do trabalho.

Após resolver o problema, Lucas se aprofundou na caverna. Ele trouxe uma pequena mochila para coletar os drops, porém não ia entregá-los a ninguém.

Era melhor sair matando todo mob que visse pela frente e usá-los como combustível para criar itens novos e quem sabe ganhar mais um pouco de dinheiro na Scarlet Witch Bazar.

Após coletar mais alguns Fragmentos de Cristal, parou perto de uma parede e abriu a aba de criação. Levou consigo outros objetos para a fabricação, sua sorte era que seria uma arma.

Os itens foram consumidos e uma pequena broca arroxeada apareceu, perfeita para caber no punho.

— Acho que também tenho como usar pra outra coisa além de combate…

Encostou a broca contra a parede, ela girou rapidamente e pouco a pouco tirou lascas da parede, abrindo um túnel que cada vez mais aumentou.

Lucas seguiu o fluxo e continuou cavando, encontrando inclusive algumas coisas interessantes no caminho.

 

3x Joia Elemental

5x Minério de Ferro

 

Mecânicas de mineração não existiam em Crônicas do Rei, mas não possuía o mínimo motivo para reclamar. Mexeu rapidamente no bolso, tirando uma morceguinha de lá.

— Ei, dorminhoca, hora de acordar.

— Nimu… quero duimí…

— Sério, só agora que eu posso falar contigo e você vem com essa ignorância?

Mila fez uma careta feia e abanou as asas até alçar voo, bocejando em meio às batidas preguiçosas. Continuava com muita preguiça, mais irritada ainda pelo barulho da broca.

— O que está fazendo, mestre?

— Não sei, só fiquei curioso pra ver se isso funcionava e tô vendo até onde posso ir…

O caminho à frente repentinamente se desmanchou. Lucas deu um passo para trás, evitando cair num abismo escuro.

Era uma área meio diferente, bem escura e com cristais azulados iluminando um pouco o lugar. Olhou para baixo, o caminho era um escorregador íngreme. 

— Mila, consegue ver alguma coisa?

— Tem uns monstros inferiores e pedras… Espere, tem algo no teto.

Ele ergueu a cabeça, vendo um grande ovo brilhante pendurado de ponta cabeça no lugar que Mila havia dito.

 

O Chefe da Masmorra Formigueiro de Cristal está prestes a aparecer

 

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