Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 25: Novidade

Lucas teve bastante facilidade em vencer, o que o fez acreditar que farmar por tempo demais tornava parte das recompensas meio insignificantes se comparadas ao seu set atual.

No entanto, as duas outras recompensas em seu menu eram o que fizeram valer a pena todo o esforço. Ele abriu primeiro a Loja dos Heróis, que apresentava um amplo display de itens mostrados de maneira igual a um site.

Os produtos possuíam uma moeda, mas sua conta estava completamente zerada. Tinha diversas coisas, só que seus olhos pararam nos elixires e poções, especialmente os que permitiam um aumento de atributo.

Uma pena que não podia comprar, por estar totalmente quebrado. Fechou a aba e partiu para a segunda novidade, as Masmorras. 

A primeira coisa que aparecia era uma lista de diferentes tipos, como por exemplo, um “design” para qual masmorra ir. Havia uma de fogo, outra de gelo, uma na floresta, assim por diante.

Junto disso, tinha uma parte para escolher dificuldade, que ia do “Fácil” até “Infernal”, e por fim um terceiro espaço para Desafios, onde certas opções podiam ser escolhidas e aplicar penalidades a quem entrasse na masmorra.

Era um grande prato para Lucas saborear, ao ponto que ele queria naquela mesma hora testar as diversas possibilidades, porém se conteve, ciente de que se fizesse as escolhas erradas, estaria na estaca zero que nem aconteceu da primeira vez que adentrou a masmorra.

— Acho que eu deveria trazer Mila comigo para uma das minhas aventuras, seria mais fácil. Agora me pergunto, será que compartilhamos níveis se matarmos o mesmo monstro?

Enquanto ele pensava, uma escadaria surgiu no final do corredor escuro, levando de volta à superfície. 

Largou os devaneios para depois e subiu a escadaria, dando de cara com o ambiente sombrio da cidade. 

Pela aparência, ainda era uma das zonas, mais exatamente um dos distritos isolados pelo qual não se aventurou tanto. 

Escondeu-se nas sombras antes de qualquer criatura avistá-lo e observou qualquer movimentação. Ninguém à vista. Saiu da região com cuidado, até parar na terra devastada onde os vampiros habitavam. 

No caminho, Lucas teve uma ideia melhor do que atacar outra masmorra logo de cara. Seria melhor abrir um pouco mais seus domínios, quem sabe para as demais zonas.

Não levou muito tempo para entrar na vila e acenar aos seus amigos vampiros, além de uma contente vampirinha de cabelo preto que veio saltitando na sua direção e o abraçou como se fosse quebrá-lo.

— Mestre, mestre! Finalmente voltou, eu fiquei com saudade!

— Mas não deve fazer nem uma hora desde que eu saí… 

— Não importa, eu fiquei com saudade mesmo assim. Agora, se me permite… 

Ela esticou a cabeça na direção do pescoço de Lucas, que prontamente revirou com uma batida na cabeça dela e escondeu sua garganta pela gola do traje de treino. 

— Agora não, só mais tarde. — Suspirou, sentindo um calor subir pelas suas bochechas. Eu… tenho uma nova missão para você, Mila. Se a fizer, então vai ter sua parte de sangue.

— O que eu preciso fazer? — Os olhos dela brilharam como duas lâmpadas. 

— Quero invadir as outras zonas e conseguir mais recursos… Vamos atrás de outros monstros, que tal?

— Vamos, depressa! Sangue, sangue!

Como uma criança, a vampira correu na direção dos distantes prédios, acompanhada de uma leva de vampiros prontos para servi-lá. 

Lucas revirou os olhos e os seguiu, ligeiramente arrependido de tê-la chamado. Felizmente, esse arrependimento se foi rápido quando chegaram na zona seguinte.

O esquadrão atravessou a barreira e uma carnificina se iniciou. Eles eram impetuosos em assassinar os monstros no caminho, pareciam verdadeiras bestas.

"Aposto que eles ficaram matando os goblins e adquiriram muitos níveis…"

Era um pouco decepcionante perder alguma experiência, porém talvez fosse um pouco difícil adquirir outro nível se o seu já estava acima do 30. 

Um ponto negativo que percebeu era sobre os drops, no qual surgiam em poucas quantidades. Os monstros raramente deixavam cair itens, o que fez a cabeça do rapaz anotar mentalmente alguns dos contras de colocar os vampiros para lutar.

Quando a faxina terminou, eles se reuniram perto da barreira da zona anterior. Mila ordenou que todos se ajoelhassem.

— Muito bem, camaradas! Agora escutem as palavras do digníssimo e poderosíssimo mestre com atenção! 

Lucas teve uma certa raiva da vampira por mete-lo de repente naquela situação, mas não havia o que fazer. Ele deu um passo em frente.

— Ok… eu agradeço pelo que fizeram. Vamos continuar do jeito que estamos, porém eu preciso que vocês também derrubem os prédios.

Ele explicou para antes chegarem o que há dentro, e que se caso encontrassem alguma sala com um baú, deixassem a estrutura intacta para que pudesse investigar mais tarde.

 Os vampiros acataram as ordens e começaram a demolir tudo. Lucas se sentou num canto afastado e só observou, ao seu lado ficou Mila, que permanecia com a expressão brilhosa de sempre.

— Os melhores do bando são realmente incríveis, não é, mestre?

— São sim… eu não me imagino derrubando coisas assim.

— Eles só não são melhores que eu!

— É, acho que sim. — Enquanto os via trabalhar, pensou como podiam arranjar tanta força, o que fez uma memória passar pela sua cabeça. — Ah, agora que lembrei, você me deve uma certa explicação, Mila. Como você consegue sobreviver debaixo do sol sendo uma vampira?

— Hum… verdade, não expliquei nada a você, mestre. — A vampira tocou no queixo. — Para falar a verdade, isso nunca existiu pra nenhum de nós. Quando o sol aparece por alguns minutos nesse lugar, tudo o que sentimos é fraqueza. 

— Estranho… pensei que vampiros morriam diante do sol… hummm… — Lucas ponderou, e lembrando bem, Crônicas de Lorisque nunca especificou as fraquezas de certos monstros. — Mas se enfrentarem algo como um poder divino, não teriam chance.

— Poder divino…? O que é isso?

— Imagine que é como se alguém pudesse falar com um deus e usufruir dos poderes que ele deu. Um poder divino que eu digo é vindo de uma divindade, como uma água mística que purifica demônios.

Lucas reparou na expressão desacreditada da vampira, mas ela decidiu não comentar mais nada. 

Os dois se sentaram num banco e vigiaram os demais derrubarem a infraestrutura do distrito, lentamente o horizonte ficou cada vez mais limpo até não sobrar quase nada.

Com exceção de algumas estruturas, tudo o que havia ali caiu. Pedaços de destroços e muita poeira se alastrava de lá pra cá, o que só piorava para enxergar o ambiente.

O rapaz, aproveitando que a maioria das coisas estavam no chão, recolheu parte do entulho para realizar uma nova construção.

— Ei, Mila, eu estava com a ideia de aumentar tribo há algum tempo já, só não sabia como fazer isso, até que eu tive uma ideia boa. — Ele construiu um bloco de pedra.

— Hum… não consigo imaginar como isso seria possível, mestre.

— Lembra que você comandou muitos morcegos na primeira vez que viemos aqui? Pensei em reproduzir aquilo, criar uma nova mobtrap para os próprios morcegos e quando puder, você tirar alguns.

— Oh, que ótima ideia! — Ela bateu palmas, mais uma vez encantada pela inteligência de seu mestre. — Mas não seria imprudente pegar qualquer morcego que aparecer?

— Por isso que vamos escolher só os melhores… pensei num método útil.

Resumindo a ideia, era praticamente criar uma caixa para acumular os morcegos e arranjar uma pessoa com um tipo de habilidade que pudesse avaliar outras criaturas.

Por conta da evolução, Mila obteve várias coisas novas, então talvez o mesmo teria acontecido com os demais vampiros, só precisavam procurar.

A líder da tribo acatou a ideia na mesma hora, impressionando-se ainda mais com a sabedoria do humano à sua frente.

Depois da caixa ser construída, o grupo retornou a vila. Lá, Lucas usou a janela de atributos para checar as capacidades dos demais. 

Imaginava que a janela não funcionava em inimigos ou seres que não fossem seus aliados, e essa teoria se provou correta.

Leu dezenas de skills entre os habitantes, e até teve a gigantesca sorte de encontrar o que procurava. 

 

Olhos Investigadores

Rank: E

 

Melhora a capacidade ocular, entregando modos sobrenaturais e uma intuição para descobrir os talentos e propriedades de coisas ou seres.

 

— Finalmente, eu já tava ficando cego! Qual seu nome?

— E-eh? — O vampiro em específico se encolheu um pouco, nervoso pelo jeito do humano. — Me-me chamo Rodreas…

— Certo, venha comigo, Rodreas! 

O pobre garoto magrelo foi arrastado por Lucas de volta à zona em que a nova mobtrap estava. Junto de mais um punhado de companheiros, eles pararam perto da caixa.

Lucas apontou para uma das diversas frestas e uma porta meio pesada que servia como barreira para evitar que os monstros saíssem.

— Seguinte, vou te dar um trabalho essencial, Rodreas. — Ele sorriu, dando um tapa nas costas do novo talento. — Seu objetivo será coletar alguns morcegos dali de dentro que você veja como grandes talentos potenciais, trazer para Mila e transformá-los em novos recrutas da tribo. Entendeu?

— Isso não é um pouco complicado demais? Digo, eu não sou forte… não tenho como pegar qualquer coisa dali tão facilmente.

— Por isso que você acabou de ganhar na loteria! Você  terá cinco amigos para cumprir essas ordens, então espero ver ótimos resultados!

Rodreas naquele momento sofreu a maior enganação da história. Ele não queria, porém os olhos de Mila com certeza o matariam se fosse possível. 

Encurralado, não teve outra escolha além de aceitar. Deu de ombros, apertando a mão de Lucas, que saiu dali mais que contente. 

Já que o pelotão de recrutamento ia começar seu trabalho, o rapaz decidiu construir algumas coisas ao redor e dentro da vila com os materiais restantes. 

Não podia jogar tudo em puramente farmar e deixar uma infraestrutura frágil naquele lugar, já que era seu point principal para coletar recursos. 

Sua primeira ideia foi construir túneis que serviriam de mineradora, semelhantes aos que conectavam às mobtraps de goblin, e em seguida deu início a um longo projeto de construção com foco em tornar aquela região o mais “civilizada possível”.

Porém, não estava sozinho. Junto dele havia um novo recruta, uma vampira com uma ótima habilidade em cálculos matemáticos e que conseguia realizar projeções mentais de estruturas.

Seu nome era Elisa, e era a melhor arquiteta que Lucas poderia desejar. Em um piscar de olhos a vila ganhou vida, as tendas foram substituídas por casas aconchegantes e agora havia um enorme refeitório em que se servia carne e sangue de goblin a qualquer hora que se desejasse.

Além disso, a tenda de Mila teve o maior destaque, tornando-se mais próximo de uma mansão que qualquer outra coisa.

O rapaz ainda pretendia criar um castelo um dia, quem sabe até fazer uma incrível coroa para sua cabeça e se auto-proclamar “rei”.

Era um sonho interessante, no entanto sua cabeça tinha que ficar na terra e focar no que era mais importante.

— Certo… e depois construíremos uma área de lazer. Precisamos também de mais moradias, novas pessoas chegarão em breve. 

— Sim, mesmo com muito espaço disponível, o material que temos não cobre o custo.

— Que coisa complicada… Hah… e quanto às minas? Teve algum…

Um tremor repentino puxou os nervos de Lucas, ele levantou a cabeça e em seguida viu uma comoção na distância. 

Suas ordens foram rápidas, todos deviam se reunir no centro da vila até segunda ordem. O rapaz escalou a estrutura mais alta que conseguia ver, e de lá avistou algo realmente perigoso.

— De onde essas coisas vieram…?

Eram criaturas com aparência reptiliana, dezenas deles, cavalgando em sua direção. Quando pensava que estaria sozinho naquela imensidão, a realidade logo provou o contrário.



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