Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 24: Revanche

Bianca estava pálida e trêmula, seus olhos não conseguiam acreditar nos dados produzidos pelo notebook. 

Lucas tinha sido derrotado, mas seu número de pontos disparou logo em seguida. A curiosidade atiçou sua cabeça, fazendo-a pensar ainda mais em qual era a habilidade do rapaz.

“Isso não faz o menor sentido. Espero que ele tenha uma boa explicação!”

— Já deu o tempo, tirem-nos de lá de dentro — falou aos demais funcionários, que logo seguiram a ordem. — Hah, esse ano foi meio decepcionante…

— Realmente — concordou seu amigo Arthur logo ao lado. — Mas não é como se os anos anteriores fossem muito diferentes.

— Para de jogar praga. Olhe pelo lado bom: temos uma joia rara no meio, logo nós que há pouco tempo éramos uma pequena empresa! — Ela fechou o punho, lembrando de todos os empréstimos que devia há anos desaparecendo num único mês. — E aliás, por que está aqui? Não precisava vir, você sabe.

— É, eu sei, só senti vontade… Acho que é por causa da época que nós assistiamos os raiders indo para os portais quando éramos pequenos. 

— Escavou fundo para lembrar disso.

Arthur riu, era realmente algo bem antigo do passado. Na verdade, era exatamente por conta desse tempo que Bianca tinha tanto interesse em fundar uma empresa.

Originalmente, ela queria ser uma raider, porém após falhar tantas vezes em atingir esse objetivo, optou por criar um lugar em que poderia contratá-los.

A mulher suspirou e abandonou o notebook, vendo agora alguns dos participantes saírem do portal. 

A maioria, como era de se esperar, estava assustada, enquanto outra parte estava inconsciente e eram carregados por seus companheiros ou por outros raiders.

Lucas demorou para aparecer, e quando ele saiu, carregava nos braços uma mulher de cabelo negro e extremamente pálida, ao ponto que parecia doente. 

Bianca esperou que todos saíssem, então o impensável aconteceu: o portal começou a girar mais rápido, partículas saíram das bordas e assim o portal encolheu até evaporar.

— Espera… como? 

A surpresa era mais que visível, mas pior, aquele portal tinha custado caro e de algum jeito fechou num momento ruim. Era como se todo o capital tivesse sido jogado fora.

Para isso acontecer só havia duas opções, ou alguém derrotou o chefe de lá ou o portal já existia há muito tempo. A segunda opção era impossível, pois as suas assinaturas eram novas.

Sendo assim, só restava uma alternativa. Bianca encarou Lucas no meio da multidão, sua expressão de choque parecia estampada. Ele apenas acenou de volta, tentando disfarçar o nervosismo.

— Be-bem… não há nada que precisem se preocupar! — exclamou a chefe, vendo que os demais também estavam apreensivos. — Isso já estava planejado, então podem ir! Próxima semana disponibilizaremos o resultado no nosso site.

A maioria saiu de lá como se tivessem perdido a alma. Depois de verem muitas coisas horripilantes naquele show de horrores, muitos desistiram de uma vez do trabalho.

Já outros, mal pareciam abatidos por isso. Lucas era uma dessas pessoas, ele estava plenamente normal e até mesmo conversava com a mesma moça na qual carregou para fora do portal.

Porém, era possível notar uma certa garota de moletom amarelo mordiscando a ponta do dedo enquanto olhava aquela cena, deixando sua frustração mais que visível.

Assim que uma parte se mandou, os funcionários e Lucas foram chamados para entrar na limusine, mas só quando foi possível evitar olhos curiosos. 

— Hã… Lucas, peço que mande sua amiga embora — falou Bianca, num tom meio baixo. — Ela pode atrapalhar algumas coisas.

— Ah, foi mal. — Apontou para a mulher. — Mila, pode voltar a forma de morcego?

Ela virou fumaça por um instante, dando lugar à sua forma de morceguinho. Voou na direção do rapaz e se escondeu dentro do zíper aberto da bolsa que levava nas costas.

— Não ligue, ela é minha familiar. Ei, por que tá me olhando assim?

— Puta que pariu, garoto! Que tipo de anomalia você é?!?

Demorou muito para reparar o que aquela pergunta queria dizer. Lucas tomou um susto, sua lerdeza havia agido antes mesmo de perceber. 

De qualquer forma, Bianca e o restante dos raiders, junto do rapaz, se retiraram do lugar, mas dessa vez a chefona e Lucas iam sozinhos na mesma limusine. 

Alguns dos funcionários riram, e só por conta disso, Arthur foi obrigado a ir junto deles para não gerar nenhum "mal-entendido". 

Dentro do carro e já a caminho para a empresa, houve uma conversa interessante entre ambas as partes. Lucas foi curto e direto, ele confessou que matou o chefe com certa dificuldade.

Aquilo só fez os olhos de Bianca saltarem de órbita. Era absurdo que um garoto no qual conhecera só tinha um mês seria capaz de derrotar um chefe tão rápido. 

Demorava pelo menos quatro ou até seis meses para que uma pessoa sozinha pudesse realizar tal feito. Mas não podia entrar em desespero agora, por mais que sua mente já estivesse.

— Então você tá me dizendo que além de ter uma invocação especial, ter matado várias das formigas com poucos golpes e possuir muitas habilidades diferentes, você ainda pegou uma arma do chefão? 

— Sim, olha aqui. — Ele tirou as garras de dentro da mochila e a revelou. 

Os olhos de Bianca se transformaram em cifrões pelo tanto de brilho que as garras possuíam. Apenas a aparência macabra seria o bastante para ganhar alguns milhões.

“Não, não, preciso me controlar um pouco…” 

— Eu gostaria de ficar com elas — falou Lucas, então pegando ou colar que o boss dropou. — Acabei perdendo as luvas, então teria problema você ficar com isso? 

A chefe pegou a bijuteria e a analisou, testaria mais tarde as propriedades do item, porém se decepcionou que não ficaria com aquele par de presas lindas.

Mesmo sendo ele o empregado, acreditava que seria injusto tirá-lo alguns benefícios, ainda mais depois de sua empresa praticamente atingir o sucesso imediato depois de conhecê-lo.

Suspirou e acenou com a cabeça, concordando em ficar com o colar. O rapaz sorriu por dentro, sua cabeça estava cheia de ideias de como usar aquele objeto.

— Ah, e uma coisa, eu posso ter uma semana de folga?

— É o que? — O semblante de Bianca mudou na hora, era um pedido absurdo. — Mas e as outras raids? Eu quero deixar seu rank alto logo para conseguirmos mais lucro!

— Mas a minha folga é exatamente para conseguirmos mais lucro. — Ele levantou o  dedo, soltando um sorrisinho. — Só preciso de uma semana, eu prometo. 

— Hummm… — Ela olhou para Arthur, que estava quase dormindo ao seu lado. — O  que você acha, Arthur?

— Haahh… Deixa o menino ir, você conseguiu pagar as dívidas e precisa investir na infraestrutura ao invés de adquirir mais. Dê uma folga.

— Então assim seja. Aproveite sua folga, Lucas.

O rapaz riu por dentro. Deu graças a Deus que seu plano funcionou, porque agora seria um ponto de virada completa para seus poderes. Ele ia enfim voltar à masmorra.

 

*****

 

Lucas era mestre em procrastinar, porém, dessa vez as coisas tinham ido um pouco além do que esperava. 

Seu plano era passar algumas semanas treinando e então retornar à masmorra do troll, no entanto, ficou tão imerso nos treinos e nos outros problemas que absolutamente esqueceu isso.

No entanto, mesmo que tarde, ainda sabia que era uma excelente ideia enfrentá-lo aquela altura, especialmente com a arma recém-adquirida.

Bastou que entrasse nas Zonas que foi possível ativar o desafio de matar os goblins. Após um churrasco de goblin nas mobtraps, foi possível acionar a masmorra.

A escadaria apareceu diante de Lucas, levando a um lugar escuro e úmido. Ele deu uma breve despedida aos vampiros da vila, que de certa forma o ajudaram a acumular inúmeros recursos. 

Desceu lentamente as escadarias, o sentimento e a pressão eram os mesmos da última vez, porém a ânsia de enfim testar seus limites o fez encarar o desafio de queixo erguido.

As escadarias desapareceram atrás dele, e assim sua jornada começou dentro do labirinto. 

Ele queria mais que tudo enfrentar o chefe, matando com rapidez os inimigos no caminho e sequer parando para coletar os drops.

Parou de caminhar no instante que achou o lugar que o viu pela primeira vez, naquele corredor apertado e úmido. O chão tremeu uma, duas, três vezes.

Em meio a escuridão, um par de olhos brancos apareceu, só então o troll mostrou as caras. Lucas sorriu, as presas ficaram acopladas em ambas as mãos.

— Hora da revanche, seu maldito! 

Um urro balançou o túnel, o inimigo correu na direção do rapaz com sua arma erguida para o alto e a bateu contra o chão, porém o garoto tinha afiado seus sentidos há muito tempo, desviar daquilo era tão fácil quanto evitar a flecha de um goblin.

Seu corpo se moveu por instinto, a mão fez subiu na direção do braço esticado e o decepou num corte limpo, fazendo a criatura recuar e gemer de dor.

— Hah… essa sensação é muito boa… — 

Colocou-se na base do boxe, estocando o punho com um jab que quebrou as pedras que compunham a armadura natural do troll. 

Sangue verde jorrou das rochas, enquanto outros dois jabs criaram mais dois buracos pelo corpo.

A adrenalina correu pelas veias de Lucas, aquilo que um dia fora tão difícil não passava de uma brisa. Seu corpo estava leve, seus golpes fatais, e o melhor, tudo num espaço de dois meses!

Um último ataque perfurou o queixo do troll pela parte de baixo, e então ao puxar para trás, arrancou parte da cara e miolos do cérebro. 

Aquilo foi fácil, mal serviu como aquecimento. Continuava energizado, sua cabeça estava a mil vendo o corpo do monstro cair no chão e seu corpo se transformar em partículas. 

 

Você derrotou o chefe!

 

Um baú cheio de adornos dourados e de madeira vermelha apareceu à sua frente. Ele se abriu sozinho, lançando uma luz amarela pelo ambiente.

 

Por sua grande proeza, recompensas foram dadas. 

 

Você ganhou um ponto para distribuir em suas skills.

Você liberou a aba Masmorras

Você desbloqueou a Loja dos Heróis.

 

Porrete do Brutamonte

Raridade: Incomum

Um grande pedaço de madeira feito de maneira rústica por um troll. Dizem que é a assinatura de sua espécie.

 

Orbe Arcano

Raridade: Comum

Uma esfera de cristal usado por muitos magos e arcanistas. Seu material é desconhecido, mas uma grande energia mágica ronda dentro dela.

 

Aumenta em 5% o efeito de qualquer magia.

 

Não era qualquer recompensa, eram as melhores de todas. Lucas sabia que daqui para frente, seria uma longa rampa para o sucesso, e ele tinha toda a satisfação de escalá-la.



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