Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 52: Elfo

Lucas estava armado com seu moletom de treino e botas propensas a caminhar na neve. Observou o ambiente e a neve, era realmente calmo demais ficar por ali.

Mais cedo, uma rotina de treino foi combinada com seu mestre. O porém é que só começariam no dia seguinte, após conversar com a dona da casa apropriadamente.

Enquanto isso, a forma que ele achou de descansar era procrastinar dentro da masmorra do Lago Congelado, meio que só tirar seu tempo para pensar.

Mas, como era tedioso permanecer parado, seus pés seguiram para dentro da floresta. Ele queria correr um pouquinho só para tirar seu tempo.

O vento soprou mais forte enquanto se aprofundava entre os pinheiros. A temperatura também aparentou abaixar de uma hora para a outra.

Mesmo tendo treinado quase tudo em físico, o constante uso de magias como Lâmina de Vento desenvolveu uma sensibilidade esquisita no rapaz.

Às vezes, quando não se concentrava em nada, ele podia ver um rastro azulado no ambiente. 

Não sabia o que era, só chamava de “mana” por conveniência de ser azul como era representado na maioria da mídia.

As coisas ficavam estranhas quando usava uma de suas magias. Na Lâmina de Vento, ao usá-la, sempre via esse rastro se acumular na sua frente e ganhar uma forma de bastão.

Em seguida, a magia era disparada e a tal coisa que ele via sumia. Era muito estranho, pois sequer sabia a utilidade disso direito, até certas experiências atrás.

Por causa dessa sensibilidade, teve um pressentimento ruim quando encontrou seu campo de visão bastante cheio dessas partículas.

“Só tem duas possibilidades, ou algo está produzindo mana, ou alguém está usando. Eu nunca encontrei nenhuma criatura durante meu tempo aqui dentro.”

O mal pressentimento se intensificou com a existência dessas duas possibilidades. Ele desacelerou o passo e olhou os arredores com mais atenção.

Não tinha uma alma viva a vista, o som das folhas balançando cortando o silêncio também trazia uma impressão macabra demais para seus gostos pessoais.

Imaginou voltar e chamar talvez Amora para conferirem, mas se não tivesse nada, então seria uma grandíssima vergonha.

“Bora lá, Lucas, só conferir rapidinho e voltar. Dois tempos.” Com esse pensamento heróico, ele continuou o caminho.

Uns metros adiantes do ponto que parou, deparou-se com uma figura humanóide estranha. Era muito alta, tinha cabelo prateado e orelhas pontudas.

Ele ficou em absoluto estado de alerta, especialmente porque a pessoa estava armada com uma espada fina de cabo em formato de floco de neve.

Quis desviar e voltar atrás, só para conferir se Hurrto estava seguro mesmo com a presença de um ser igual aquele.

Pena que demorou demais. 

 

O status Friagem foi aplicado.

Os atributos físicos foram reduzidos em 10%, velocidade e agilidade diminuíram em mais 30%.

 

— Ah, merda!! — Assim que viu a mensagem, seu corpo por instinto saltou para trás, evitando por muito pouco uma flecha que se cravou num tronco ao invés de sua testa. — Droga, e ainda sinto meu corpo extremamente pesado.

Essa situação fria era agora um grandíssimo problema para Lucas, que não sabia como lidaria com o novo inimigo.

Seus atributos relacionados à movimentação tinham se reduzido grandemente, fazendo-o querer xingar até mesmo a tela flutuante.

Também não possuía sua arma principal em mãos, somente os punhos vazios e um conjunto de magias que podiam ou não mudar sua situação.

Outro problema era que seu inimigo estava armado com uma espada, com o cabo em formato de floco de neve e o fio afiadíssimo.

A flecha, no entanto, não veio dele. Os olhos de Lucas correram pelas árvores, havia uma segunda criatura sentada num dos galhos, pronto para disparar sua segunda flecha gelada.

Lucas girou o corpo como um todo, vendo o vento ser cortado no meio da trajetória do projétil, mas não perdeu a calma.

Uma respirada gelada depois e seus punhos se levantaram, um passo rápido o colocou de frente para o elfo com a espada e um soco no meio do peitoral o empurrou longe o bastante para lhe dar tempo.

Em seguida, girou o quadril e encaixou um chute no tronco, de tão forte foi capaz de derrubá-la e jogá-la para o ar, o que forçou o arqueiro a mudar de posição com um salto.

Lucas apontou sua mão na direção do maldito, a mana se reuniu na ponta dos dedos e uma Lâmina de Vento se formou, mas antes de conseguir soltá-la, o elfo da espada chegou perto demais.

“Que velocidade é essa?!? Não era pra ter me alcançado!” Numa reação imediata, um círculo se acendeu ao seu redor, erguendo-se em um pilar de chamas.

Infelizmente sua magia errou o alvo, cortando o tronco ao lado ao invés de quem queria. Lucas recuou como forma de abrir o campo de visão, uma terceira flecha veio e ele tratou de pegá-la.

Uma péssima escolha, seus dedos quase congelaram e imediatamente soltaram-na. Encarou a mão, no lugar que havia tocado imediatamente apareceram pequenos bloquinhos de gelo.

Agora uma de suas mãos estava inutilizada, piorando ainda mais um combate já difícil. O elfo da espada avançou em sua direção, chutando a neve para cima, mas a esquiva rápida de Lucas impediu ter sua visão obstruída.

Uma estocada atingiu o chão branco onde esteve há poucos segundos, e um chute na coxa paralisou o inimigo por um momento, dando espaço para criar meio círculo de fogo atrás de si como uma barreira invisível.

Um quarto disparo, que sumiu quando se aproximou das chamas, e não demorou para que a presença de Lucas também desaparecesse no meio do caos.

Os dois elfos entraram num estado de desespero. Um ficou bastante machucado e precisava de fôlego para se recuperar, já o outro se colocou numa posição sem muita janela para movimentação.

Esse último era o alvo de Lucas, que saiu de sua furtividade e desceu um soco bem em cima da cabeça do arqueiro ao cair do topo da árvore, deixando seu parceiro desnorteado.

Claro, o rapaz não deixaria barato para o cara que quase o empalou contra o chão, tratou de se apoiar no galho e retornar ao piso nevado em instantes.

Com um punho abaixado e o outro levantado, entrou na sua base do boxe, a visão focada 100% naquela lâmina pontiaguda. 

O elfo ganhou uma carranca no rosto, com certeza por causa de seu aliado caído. Num frenesi, correu na direção do garoto, a lâmina cortando todos os lados, mas atingiu quase só o vento.

Se não fosse pela redução de atributos, Lucas teria conseguido evitar os cortes na bochecha e também seu moletom ia permanecer inteiro, uma pena que esse efeito maldito reduzia justamente os atributos chaves de sua arte marcial.

Era meio complicado se esgueirar ao mesmo tempo que uma arma capaz de arrancar sua vida passava diante de seus olhos, mas como havia se acostumado a isso na rotina, era nada demais.

Um jab quebrou o nariz do elfo, só para um cruzado tirar sua consciência, uma sequência de dois socos no peito tirar o ar e um último golpe na boca do estômago fazê-lo se dobrar no chão vomitando.

Lucas chutou a espada para longe antes que seu inimigo recuperasse alguma energia, mas nem foi necessário, porque o finalizou com uma pancada acima da orelha que o nocauteou na hora.

Os dois elfos pararam de se mexer. O rapaz liberou sua respiração agora que havia ganhado tempo, só que decidiu voltar em disparada a parte segura da masmorra ao invés de esperar por mais daquelas criaturas.

Não os matou, por consequência não recebeu experiência também, mas isso pouco importava se era fácil morrer para qualquer um deles!

“Eu que não entro nessa porra sozinho de novo!”

A pressa foi tamanha que Lucas imediatamente entrou na cabana de Hurrto e encostou a mão na parede quente para descongelar os cubinhos de gelo.

Como nem isso estava dando certo, entrou no quarto da fornalha, em que o anão ainda martelava e sequer virou a cabeça para cumprimentá-lo.

Provavelmente não o reparou por se concentrar no material diante de si. Ao menos, deu um tempo para vê-lo trabalhar.

Os óculos de ferreiro, o martelo pesado, as mãos escuras de carvão, Hurrto tinha uma aparência típica de ferreiro.

 

O atributo Força aumentou.

 

A tela surgiu ao lado do velho, com uma tonalidade vermelho-vinho e rodeada por bordas flamejantes. 

Por curiosidade, Lucas abriu a boca e perguntou: — Ei, Hurrto, como é que o teu sistema funciona?

— Ah! — Ele bateu forte quando escutou ser chamado. — Sir Lucas, avise quando chegar, eu me assustei!

— Eu tinha acabado de abrir a porta… Enfim, pode me dizer? 

O anão parou por um momento e pôs suas ferramentas em cima de uma bigorna. 

Como só estava criando uma simples adaga de ferro, não faria mal perdê-la agora, levando em conta que o processo tinha acabado de começar.

O velho disse brevemente que consistia num conjunto de técnicas que possibilitavam a facilitação da forja. 

Era como um manual de instruções, ele escolhia o molde e o tipo de arma, então sua cabeça era enchida de coisas que o faziam ver como a temperatura deveria estar, como deveria ser afiada a espada, o quanto de couro deveria curtir o couro, assim por diante.

Ele também afirmou que algumas vezes esses blocos irritantes apareciam, mas que não fazia ideia para que serviam.

Se ele sentia sua força aumentar, por que precisaria ser avisado disso? Além de que, ele era um forte anão, saber disso era inútil.

— E tipo, você tem que habilidades? Quais atributos aparecem para você? O que você ganha forjando diversas vezes?

— Ora, Sir Lucas, eu sou um anão. Todo anão nasceu com o sonho de ser o melhor ferreiro do mundo, e o Guia de Forja é o que possibilita alcançar meus sonhos. 

— Huumm… É completamente diferente do meu, devo dizer…

— Como o seu Guia atua, Sir Lucas?

— Ele me permite repetir certas coisas. Por exemplo, eu posso matar monstros, mas mais deles reaparecerão depois de um tempo, além de que eu sou recompensado por fazer ações repetitivas como matar monstros ou construir a mesma coisa.

— Um tipo de mestre, como eu… A diferença é que pelo visto você pode ser mestre de tudo.

Lucas inclinou a cabeça para o lado, pensando se era o caso. Fazia sentido, ele realmente poderia se modificar para ser como bem entendesse.

No meio da conversa, Hurrto reparou na sua mão gelada e perguntou como conseguiu aquilo. 

Ele falou sobre os elfos que encontrou para dentro da floresta, e o anão ganhou uma expressão irritada. 

Pelo visto havia um traço de xenofobia pela forma como xingou com tanto gosto os seres esguios e de pele branca de mais cedo.

O velho também aproveitou para comentar que também se deparou com ele s uma vez, mas seu martelo flamejante o amassou e transformou em churrasco.

Lucas soltou um suspiro, realmente não seria nada legal ser esmagado por algo assim. Eles trocaram mais um tempo de conversa sobre seus poderes, mas não durou muito.

Pouco tempo depois, o rapaz se despediu do colega e tratou sua ferida, seguindo para o lago congelado apreciar a paisagem.

Em breve seu treino começaria, não tinha como se sentir menos ansioso. Era hora de alcançar outros níveis, muito superiores à vez passada.

Se julgasse, com certeza seus atributos e níveis tinham se escalado a alturas que não esperava, mas os pontos para desbloquear skills ainda estavam ali parados.

Quando saísse do treino, ele liberaria o máximo de coisas possíveis, foi o que prometeu para si.

Após esticar os braços para o alto num gesto de preguiça, Lucas se encaminhou para os portões no meio do campo nevado.

Era hora de chamar seu mestre, não podia mais conter a ansiedade de enfim ter um gostinho real do que era ter um poder absurdo nas mãos.



Comentários