Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 55: Vila

A vila diante de seus olhos surpreendeu Lucas. Era uma construção impressionante para seus hábitos urbanos, dava uma inspiração por lembrar uma vila de RPG.

Tinham blocos enormes de gelo e madeira que formavam casas, os muros eram altos e um aro de metal frio cruzava a entrada.

Só que, como de se esperar, a presença de um humano seria assustadora a todos. Vários arqueiros apareceram sobre o muro com flechas a postos nos arcos.

O único motivo para não dispararem era Solein, a mulher elfa ao seu lado. 

Com um sinal de mão, os arqueiros afrouxaram a puxada nos arcos e deram um passo para trás, mas não perderam a tensão no rosto.

Os dois entraram, o rosto extremamente surpreso de Lucas só ficou ainda maior ao se deparar com aquela vila tão bem construída.

Era um sonho de qualquer fanático por jogos de fantasia e aventura, o que era seu caso. 

O mundo real não tinha uma arquitetura assim, encontrá-la com seus próprios olhos trazia uma felicidade imensurável, como um sonho virando realidade.

— Pare de comer todos com os olhos assim! — disse Solein, puxando sua orelha com força ao ponto de ficar vermelha. — Ande, veremos o ancião agora e você vai ajudar no problema, então pare de parar do nada feito um retardado!

“Mina estressada, eu hein!” Ele prontamente tirou as mãos dela de perto e revirou os olhos em concordância.

A elfa o guiou entre as casas rumo a uma tenda destacada por uma bandeira na entrada, com o símbolo de um floco de neve.

Após empurrar o tecido que dividia o interior do exterior, Solein abriu espaço para seu convidado entrar. 

Ele prontamente analisou o lado de dentro, desde os cantos que alguém podia se esconder com uma faca até o ambiente inteiro para uma possível luta.

Seus nervos não se acalmaram diante do velho sentado numa poltrona de frente para um fogo azul-claro. O lado de dentro estava inesperadamente mais frio que o de fora.

— Quem é, Solein? — perguntou o senhor, levantando-se da poltrona com uma bengala.

— É o humano que me pediu para chamar, pai. — Ela fez uma reverência respeitosa abaixando a cabeça.

“Então foi ele quem me chamou… Agora, por que eu, de todas as pessoas?”

— Ele já entende a nossa língua? 

Recuperando a expressão de nojo, Solein respondeu relutantemente: — Sim, ele sabe.

Lucas não soube direito como se comportar ali, então seguiu na direção do velho e ficou de frente ao ancião.

A elfa que o acompanhava teve uma vontade subida de beliscar seu braço com muita força por um jeito tão ousado de agir na frente do mais velho da tribo.

— Ela me disse no caminho que precisava de uma ajuda com um elfo corrompido — disse, escondendo suas mãos nos bolsos do moletom. — O que eu não entendo é o motivo de terem justamente me chamado.

— Oh, você é mais interessante de perto… — O senhorzinho arrumou as lentes do óculos e lançou um sorriso caloroso. — Como esperado do Humano Anormal, você de perto é ainda mais assustador do que eu pensava.

— Ah… obrigado pelo elogio, eu acho?

O rapaz coçou a cabeça sem jeito, meio desconcertado pela forma como o senhor desviou tão facilmente da pergunta. 

Após oferecer um lugar para os dois se sentarem, ele se apresentou como Tremwin, o mais velho da tribo dos elfos de gelo.

Tremwin falou que há um tempo tinha recebido queixas de seus companheiros elfos sendo derrotados por uma figura na floresta.

Inicialmente, teve certo medo de que fosse um invasor que pretendia matá-los, mas como seus aliados sempre voltavam somente com hematomas e nada mais, acabou suspeitando de quem era.

Muitos dos elfos que o enfrentaram reclamaram de como aquele sujeito era absurdo, lidando de mãos vazias e acompanhado de um gato monstruoso.

Dias passaram e o ciclo ficou se repetindo, o que fez Tremwin questionar a identidade desse tal sujeito, um dos motivos pelo qual o chamou.

— Um dos motivos? — Lucas ergueu a sobrancelha. — Tem outras?

— Sim, tem muitas outras… Na verdade, sinto muito ter tomado uma atitude tão extrema como implorar por sua ajuda, mas não vi outra chance. 

O velho acariciou a barba e soltou uma risada leve com tosses, o que fez Solein pular de seu assento e pôr as mãos nos ombros do pai.

— Ca-ham, nós, elfos de gelo, não somos nativos deste lugar. Somos de um grande reino no meio da neve, mas de repente fomos transportados para cá sem aviso prévio, e quando percebemos, houve um grande terremoto e então ficamos presos aqui. Não conseguimos atravessar a parede invisível, então o que fizemos foi nos isolar nas profundezas dessa floresta e enviar batedores para explorar.

O velho complementou explicando que os batedores viram um homem em cima de uma gigantesca serpente, com sua espada esverdeada cravada na cabeça do monstro.

Essa mesma pessoa era capaz de levantar uma casa inteira sem nenhum esforço e ainda tinha força de sobra mesmo fazendo isso.

Tais relatórios eram meio insanos para a maioria acreditar, então mais e mais foram enviados, cada um complementava um pouco a história sobre um ser poderosíssimo na parte do lago da floresta.

As coisas pioraram quando dois elfos retornaram feridos, a vila inteira entrou num estado de alerta esperando um ataque iminente daquele ser, mas nunca veio.

Então, desde aquele ocorrido, houve mais contatos com o ser, provando-o como um mero apreciador da violência gratuita.

Lucas se ofendeu com a última parte e revirou os olhos. Ele não gostava disso pra valer, era só que fazia parte de seu treino. 

“Entendo, quer dizer que eles pensaram que eu era um monstro e me atacaram.” Fazia certo sentido a linha de pensamento, mas faltava uma peça no quebra-cabeça. — E o que o elfo corrompido tem a ver com isso?

— Quando elfos são colocados sobre grande pressão e desenvolvem inúmeros sentimentos negativos, pode ocorrer dele se tornar uma subespécie maligna e descontrolada. Foi o que aconteceu com um dos elfos que você enfrentou. A humilhação que ele sentiu se tornou tamanha que a raiva e ódio corromperam seu coração e o transformaram num monstro.

— Que clichê… — murmurou, Solein ao seu lado deu uma cotovelada forte em seu culote e ele teve que se recompor rapidamente. — Certo, e para me chamarem quer dizer que não conseguiram lidar com ele direito, voltando-se a mim para tentar.

— Exatamente. Você é um jovem bastante esperto… Posso saber seu nome?

— É Lucas, seu Tremiin. Prazer.

— É Tremwin… com um som de “u” no meio…

— Tanto faz, tanto faz. Só quer que eu lide com ele, né? Eu aceito, mas preciso que você espere um pouco antes. Vou confirmar umas coisas antes de partir para cima, pode ser?

O velho acenou com a cabeça e Lucas escapou daquele lugar, acompanhado por uma Solein de expressão irritada e extremamente amargurada.

Ela andou por perto como precaução dos demais elfos atacarem o rapaz inesperadamente, mas será que ele realmente seria capaz de lidar com o elfo corrompido?

“Nem nossos melhores guerreiros e eu junta conseguimos. Como um único humano poderia conseguir?”

— Ei, Solein, dá pra parar de quase me encoxar? — comentou o rapaz, com um olhar de nojo voltado para ela. 

A mulher deu uma esquiva rápida e segurou o gritinho fino ao perceber o quão perto estava. 

Lucas, por outro lado, se sentia mais triste e incomodado com ela por perto. 

— Hah, sério… sai de perto de mim logo. Não vou demorar, em breve eu volto e resolvo esse problema, então dá um passeio, vai fofocar, sei lá, só não fica perto de mim!

Ele escapuliu do raio de visão de Solein antes que pudesse ser repreendido ou escutar mais alguma coisa, deixando-a para trás e se escondendo nos muros de madeira do lado de fora.

Com a cabeça esticada em direção ao céu nublado, passou a mão no rosto suavemente. Os olhares lá dentro eram um pior que o outro.

Odiou cada segundo, só não comentou nada por respeito às pessoas boas lá dentro, se é que havia a possibilidade de existir alguém assim.

“Sendo sincero, só faltavam me comer com os olhos… Eu tô realmente puto com essa merda, deveria só ter recusado e me mantido longe mesmo.”

Para desestressar, abriu rapidamente as telas de skills e as de artes. 

Seu dedo deslizou e escreveu no teclado digital numa velocidade assombrosa, fruto de anos jogando num computador.

 

Dois pontos de skill foram investidos em Contra-ataque

Se o usuário contra-atacar um golpe, ele recebe significativamente menos. Se feito no tempo certo, você dá o dobro de dano no seu próximo ataque.

 

Um Dois Potencializado

Requisito: Maestria em Boxe acima de 25

Uma combinação de jab+direto, desferido numa velocidade maior e com uma força aumentada. Toda vez que a combinação é usada, os atributos de força e velocidade aumentam em 40%

 

≈ Atinja o inimigo antes mesmo dele saber o que o atingiu. ≈

 

Sua inspiração foi consumida.

 

Postura de Contra-Ataque

Requisito: Maestria em boxe acima de 30

O usuário entra numa base com os braços abaixados, enquanto nessa postura, a sua percepção do tempo é desacelerada e seu corpo ganha um impulso ao realizar contra-ataques.

 

 ≈ O golpe mais mortifero é aquele que não pode ser visto. ≈

 

Sua inspiração foi consumida.

 

— O que há com essas frases sempre tão cafonas que aparecem no sistema? — questionou, fechando as telas e reparando que não era ele quem cobria essas caixas. — Bom, hora de testar.

Lucas se afastou da vila por um momento, seus pesos ainda acoplados aos braços e a cabeça dele mais leve agora que não possuía mais nada para gastar. 

Depois de ter certeza de que ninguém estaria por perto, ele se colocou de frente para um tronco. Seus braços se ergueram em dois socos, um jab e direto.

No entanto, ele sentiu como se tudo se movesse de forma automática, os punhos afundaram parte do tronco e fez a árvore bambear.

Ele olhou para suas mãos. Nenhum sinal de machucado, numa velocidade pouco superior a sua normal antes dos treinos.

Isso era absurdo… Lucas abriu um largo sorriso, era isso que ele mais queria! Pena ter que gastar seus pontos tão cedo, pretendia usá-los depois do treino.

Ele também queria muito guardar os pontos de habilidade por mais tempo, já que usaria todos em caso de emergência. 

O Leviatã de antes não foi considerado uma emergência, pois com a espada e seus atributos muito maiores, unidos ao Fluxo, imaginou derrotá-lo com facilidade.

No entanto, seus instintos diziam outra coisa a respeito do elfo de gelo corrompido. Não sabia apontar direito, era somente uma voz alta falando dentro de seu cérebro para fazer aquilo.

Por precaução, abriu a Loja dos Heróis. Suas 3.000 unidades pairavam no canto da janela, do jeito que gostava.

Ele scrollou a lista de itens e apanhou um em que seus olhos haviam prestado atenção há um tempo, mas que não havia comprado pela falta de coragem.

 

Poção de Cura Maior

Custo: 1.000 unidades

Permite grande recuperação de ferimentos, podendo relocar membros de volta no lugar.

 

Comprou somente uma. Dor veio ao seu coração quando os 3.000 em cima despencaram para 2.000, seu precioso dinheirinho estava indo embora.

O frasco de líquido vermelho se materializou em suas mãos, e Lucas o escondeu dentro do moletom de treino.

Olhou para cima, a neve ainda caía bastante como sempre, precisava voltar antes que alguém suspeitasse de seu sumiço.

Seus passos marcaram a neve, não demorou para identificar a trilha rumo a vila dos elfos e ver na distância os muros escuros.

Na entrada, com a cabeça rodopiando de um lado para o outro, especialmente admirada com o aro de ferro, estava Solein.

A aliciadora o esperava logo ali, que desprezível. Com um suspiro, deu um peteleco na sua orelha fina, chamando a atenção e causando o maior susto da vida da mulher.

— AI! Por que fez isso comigo?! Minhas orelhas são sensíveis, sabia?!?

— E eu com isso? Tu ficou parada no meio do nada feito uma doente, sem contar nos seus crimes cometidos comigo a só uns momentos atrás. — Ele balançou a cabeça de um lado para o outro, ainda agoniado. — Me mostra onde tá esse elfo. Vamos lá resolver o problema.



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