Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 77: Correção

Lucas adotou o costume de escrever um diário após a sugestão de seu mestre, e mesmo com seu estado de humor estranho no dia anterior. No entanto, por algum motivo, o treino também se tornou muito mais pesado que antes. 

Com a colaboração dos demônios do vulcão e do ferreiro, o peso dos equipamentos e a dificuldade dos exercícios se tornou completamente mais difícil, além de que, foi arranjado um novo parceiro de treino.

Philomeu tinha uma habilidade bastante útil de copiar as propriedades e atributos de uma pessoa, o que o transformou automaticamente num parceiro de treino perfeito.

Ter alguém que tivesse o mesmo nível de Lucas era necessário. Amora atuar como seu parceiro era uma coisa ruim, pois o nível diferente de ambos causaria frustração por parte de um.

No entanto, por meio de Philomeu, era como um meio de enfrentar uma barreira que havia uma probabilidade de subir, exigindo somente esforço e o uso mais inteligente de suas habilidades para tal.

Os dois, inclusive, lutavam num ringue no centro de uma clareira rodeada pelos demais aparelhos de treino. O demônio copiador enrolou as faixas pretas com força ao redor dos punhos.

— Lorde Lucas, estou mesmo servindo como grande utilidade para você? — perguntou, batendo ambos os punhos depois de apertar as faixas o bastante.

— Sim, está. Sinto que tô evoluindo cada vez mais rápido contigo… Aliás, a sua habilidade é bem roubada, sabia? 

— Hah, todos dizem isso, mas só dura uma hora e eu preciso de tempo para reativá-la de novo, além de que, não cobre a lacuna que os itens criam. Eu imaginei que seu equipamento não era tão bom antes, então lhe subestimei. Peço desculpa pela idiotice de antes.

— Credo, relaxa, cara. O que passou, passou, se atenta ao agora e ao futuro. Você é o meu parceiro de treino, e eu só tenho mais cinco dias até acabar todo esse sofrimento.

— Pare de tagarelar, moleque — disse Amora, sentado numa das pontas do ringue com uma roupinha de juiz. — Aproveite a última semana de treino para se esforçar o triplo do que já fazia antes.

— Mas se eu fizer isso, vou ficar todo quebrado depois!

— Mentiroso de uma figa, é só arranjar algumas poções que você fica novinho em folha! E aliás, mesmo que não conseguisse aqui, poderia voltar ao mundo real e comprar com aquele seu dinheiro, sabia? Ainda tem bastante na sua poupança!

— Aff, só porque eu queria evitar… — Ele terminou de enrolar as faixas azuladas e foi ao meio do ringue.

O juiz se aproximou e sinalizou para começarem, a luta começou com uma troca imediata de dois jabs de cada um. Lucas avançou para encher Philomeu de ataques, mas errou todos.

Talvez por ter aumentado o atributo de Agilidade, seu próprio tempo de reação e formas de esquivar melhoraram consideravelmente, o que em troca impossibilitava de se acertar.

Como resultado, um contra-ataque o atingiu de volta, seguido por mais dois diretos que só faltaram afundar sua cabeça.

O motivo de Philomeu também ser um parceiro de treino perfeito era que ele também entendia e usava aquelas habilidades ao seu potencial máximo.

O demônio entrou em contato com diversas capacidades diferentes de inúmeros inimigos, então estava familiarizado com muitos estilos luta únicos.

Ele não era especialista, seria mais uma pessoa que era boa em tudo, e somado ao seu conhecimento intrínseco nas diversas formas de combate, ele possuía um panorama interessante para agir.

Isso servia para demonstrar muitas das fraquezas de Lucas e como sua forma de lutar poderia ser grandemente melhorada a partir de alguém que parcialmente o imitasse. 

Para começar, seu conjunto de habilidades não eram usados de boa forma quando se era muito ofensivo, as habilidades e artes serviam como uma alavanca para um modo mais defensivo.

A falta de paciência por parte do garoto era o que ocasionava na maioria de seus erros, o que Philomeu abusava sem ter medo de uma futura retaliação.

“Ele é um bom homem, não deve se preocupar direito em como estou ajudando… mas não consigo entender o porquê de tanta teimosia. A combinação da habilidade Contra-Ataque com as artes Um Dois Potencializado e Postura de Contra-Ataque são capazes de danos avassaladores, se ele as usasse com mais frequência teria como ser um forte lutador desarmado, então por que ele insiste em usar aquela espada?”

Na cabeça do demônio soava muito redundante não abusar de suas vantagens e de habilidades que corroboravam para o aumento grandioso de poder.

Aquela espada, mesmo tendo efeitos muito interessantes, era cheia de desvantagens quando comparado ao arsenal de capacidades disponível.

Apenas Sequência Mortal e Fio da Navalha eram úteis com a espada, mas fora isso, todas as outras coisas recebiam mais propriedades positivas se misturados com os punhos.

Amora, que assistia atentamente a luta, reparou há bastante tempo a falha em Lucas de querer usar mais coisas do que deveria, como se quisesse funcionar como uma pessoa multiespecializada.

Mesmo tendo entendido que os poderes de seu pupilo consistiam em se melhorar com a prática constante, também significava que quando se gastava tempo e esforço em outras, menos as demais se desenvolviam.

— Tempo!

Os dois pararam, Philomeu ofegava e seus punhos doíam um pouco, quanto a Lucas, seu rosto ficou com hematomas e sangue escorria pelo canto da boca. 

Ele não aparentava sentir dor, mas quando se sentou no banco, seu corpo desabou sozinho. O cansaço tomou por um momento, seus ataques mal chegaram perto direito do oponente.

— Sabe o que isso quer dizer? — perguntou o gatinho, fazendo-o engolir uma poção de cura goela abaixo. — Que você teria como superar seus oponentes se fosse por outra aproximação. A sua pressa em causar dano e derrotá-los o mais rápido possível mais te atrapalha do que qualquer outra coisa.

— Eu sei, eu sei, só que minha mente age por conta própria!

— Se você sabe, trate de arrumar esse problema, idiota. — Amora estapeou a orelha do rapaz. — Levante a cabeça e se concentre para entender qual estratégia é necessária para vencer. Assim que você cai no chão, a luta pode já ter acabado, você precisa parar de pensar em só “Atacar, haha, atacar” e ser mais lógico!

Lucas acenou enquanto escutava as dicas. Philomeu também bebeu uma poção, assim os dois poderiam retornar ao “Round 1” e repetir o processo.

O gatinho foi para o centro, chamando os dois para se aproximarem, e iniciou uma nova rodada. Ambos se separaram, e os olhos do garoto caíram sobre o oponente.

Lucas diminuiu a distância dos dois num instante, atacando com um cruzado, mas que Philomeu desviou passando por baixo e retribuindo com um direto.

O rapaz, no entanto, virou o rosto e tentou lançar um jab, apenas para se ver frustrado pela rota que o direto de seu inimigo tomou, tornando-se um cruzado que bateu bem em cima da orelha.

A força era grande, fazendo-o ficar tonto, apenas para ser finalizado com um gancho e cair de costas no piso. Amora fez uma contagem até 10, mas ao ver os olhos esquisitos de Lucas, declarou K.O na hora.

Necessitou de alguns baldes de água gelada para acordá-lo, além de alguns tapas de gato para trazê-lo a pela consciência e não ficar grogue de sono.

— Viu só? Eu te falei pra ser paciente. Se tivesse colocado seu cotovelo para se proteger daquele golpe, não teria sido nocauteado.

— De novo, que merda… — O rapaz esticou o pescoço e bateu nas bochechas diversas vezes. — Por que isso é tão difícil?

— Lorde, é uma questão de prática — falou Philomeu, desatando as faixas por pedido do gatinho roxo. — Imagine o seguinte: eu tive diversas batalhas contra pessoas diferentes e sempre tive que adaptar ao meu oponente, sendo assim, quais seriam as coisas necessárias de se identificaria para vencer?

— Não sei? Sei lá… os padrões do cara?

— Pode ser. Toda pessoa costuma ter seus padrões que ganharam ao longo da vida ou do treino. É muito comum encontrar indivíduos fortes, mas que batalham de forma simples. Eu acredito que esse é o caso do lorde, pois o jeito que deseja lutar não se alinha ao que você sabe e tem como fazer. 

O demônio limpou o rosto com uma toalha, e aquelas palavras atraíram a atenção de Amora, que ergueu uma sobrancelha, curioso quanto a inteligência daquele indivíduo.

Depois de tomar um refresco entregue por um de seus serviçais demônios, Philomeu continuou:

— Minha teoria é que de tanto matar monstros mais fracos na busca de “acumular” seu poder, você acabou desenvolvendo costumes de não ficar muito atento quanto sua guarda ou quanto a dar danos contínuos, ao invés disso desenvolveu instintos afiados para reconhecer o que está ao seu redor e achou alguns jeitos de infligir ferimentos instantaneamente.

— Se pensarmos por esse lado, tem bastante sentido — concordou o gato, alisando seu queixinho peludo. — Você também está agindo como uma redundância ambulante. Ao invés de focar em uma coisa, foca em várias simultaneamente, o que te impossibilita de aperfeiçoar algo em específico. Mesmo que “ser bom em tudo” soe como algo positivo, é também um equívoco, porque não há como se exceder em nada nos momentos mais necessários.

Lucas ouviu atentamente a parte de ambos com os braços e pernas cruzados, absorvendo o conhecimento direto para o cérebro e imaginando como resolveria o problema.

O tempo restante era curto. Passaram-se 23 dias desde que entrou para sua rotina de treino, equivalente a 11,5 dias no mundo real.

Muitos frutos vieram de sua rotina de treino, no entanto, os problemas de manter-se nos mesmos costumes surgiam de um em um.

Era verdade ambos os pontos apresentados por Philomeu e Amora, ele até concordava, pois quando enfrentou as Centopeias de Fogo, achava melhor acabar com cada uma em um único golpe.

Essa coisa mais tarde acarretou em cansaço e puxou seu corpo além do limite, forçando-o a liberar mais potencial de seu corpo em momentos necessários.

Ao mesmo tempo, uma abordagem diferente, como simplesmente fugir, teria sido muito mais efetiva e custaria menos para obter a vitória.

“Porra, é muita coisa pra pensar!” Seu cérebro já estava fritando de tantas teorias ao mesmo tempo. — Queria que os dias fossem mais longos, daria pra lidar com o problema se possuíssemos pelo menos mais uma semana…

— Lucas, esse tipo de coisa não se resolve em uma semana — repreendeu Amora, arranhando a nuca dele para chamá-lo atenção. — Assim como se desfaz de um costume antigo que uma pessoa repetiu por meses ou anos, não tem como fazer o corpo desaprender algo que sempre fez.

— Au, por que tu me machuca assim? — Lucas alisou a nuca, sentindo aquela ardência maldita. — Hah, se a parada é assim, então o que eu faço?

— Forjamos um novo costume em cima — sugeriu Philomeu. — Eu repeti inúmeras sessões de combate com Aegis, Krevo e o Rei Demônio Igibris para melhorar minha adaptação e criar mecanismos de me acostumar rapidamente a uma instância nova. Levando em conta o talento do lorde, não deve ser impossível.

Mestre e pupilo ponderaram na sugestão. Se Lucas se condicionasse a um novo estilo de luta e o usasse como uma forma de gatilho para evitar seus erros, quem sabe funcionaria.

Amora, o mais interessado na ideia, acenou com a cabeça em concordância.

— Já sei. Lucas, você deverá somente esquivar dos ataques de Philomeu, nunca podendo atacar ou sair do seu lugar original. Para cada vez que errar, você ganha uma hora a mais de treino.

— Como é o papo?! 

— Você não é surdo. Para cada erro: mais uma hora.

— Uff, hahaha… — riu o demônio copiador, tendo que segurar sua risada. — Eu gosto da ideia.

— Philomeu, cala a boca antes do mestre comprar a ideia!

— Eu já comprei, tarde demais. Agora, de volta ao ringue!

Os dois subiram novamente, tendo que atar as faixas novamente e se encararem. Amora deu o sinal, as pernas de Lucas queriam seguir em frente, mas não podiam.

Ao invés disso, Philomeu quem atacou, o que fez os instintos do rapaz agirem e ele se mover para longe do ponto que estava parado.

— Mais uma hora adicionada!

“Puta merda, eu tô muito fodido…”



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