Volume 2
Capítulo 11: 18 de Julho (Sábado)
18 de Julho (Sábado)
Senti uma dor atrás dos olhos ao abri-los devagar. O sol do verão entrava pelas frestas das cortinas. Eu esqueci de fechá-las direito; a luz batia no meu rosto, mesmo com o ar-condicionado mantendo a temperatura amena.
Olhei para o relógio ao lado do travesseiro. Não era à toa que estava tão claro. Enquanto observava, o último dígito mudou. Agora eram 8h33. Em algum canto da minha mente, me perguntei por que os relógios digitais sempre pareciam marcar números repetidos quando eu olhava para eles.
“Hã? Já são oito e… trinta?”
Com certeza não dava para me considerar madrugador a essa altura. Não tinha aula hoje, mas tinha dormido mais do que planejava.
Comecei a me perguntar se o resto da família já tinha tomado café da manhã. No entanto, assim que esse pensamento surgiu, percebi algo. Eu tinha acabado de pensar nelas como minha família. Incluíra Akiko e Ayase (minha madrasta e meia-irmã), e a percepção me surpreendeu um pouco. Nós só estávamos vivendo juntos assim há cerca de um mês, e elas já faziam parte da minha rotina.
Me troquei, fui de fininho até o banheiro, lavei o rosto e abri a porta da sala de jantar.
Meu pai e Akiko estavam lá, tomando um café pós-refeição com elegância.
“Bom dia, Yuuta…” disse meu pai. “Ou melhor, bom dia atrasado.”
“Dormi demais”, admiti. “Ah, mas tudo bem, Akiko. Não precisa se preocupar.” Akiko tinha largado a xícara assim que me viu. Antes que eu pudesse recusar, ela já cobriu um prato de ovos com presunto com filme plástico e colocou no micro-ondas.
“Não precisa se preocupar com isso, Yuuta”, disse ela.
“Não é isso… Quer dizer, obrigado.”
Me sentei na frente do prato requentado. Tinha também uma torrada com manteiga e geleia.
“Ah?”
Foi aí que notei outro prato cheio na mesa. Minha meia-irmã também não estava à vista. Quer dizer que ela também não comeu ainda?
“A Saki ainda está dormindo”, disse Akiko.
“Ah… Isso é raro”, comentei.
“Temos dois dorminhocos hoje de manhã.”
A maneira como Akiko inclinou a cabeça me mostrou que isso não era comum. Pensando bem, não lembrava de Ayase ter acordado depois de mim nenhuma vez. Akiko disse que ela estava dormindo feito uma pedra quando foi ver a Saki mais cedo.
“O ar-condicionado está ligado também. Ela vai ficar resfriada se dormir com a barriga exposta.” Akiko parecia preocupada, mas eu não sabia muito bem como reagir. Se Ayase fosse apenas uma garota da escola, talvez meus pensamentos tivessem seguido um caminho menos apropriado. Seria impossível resistir à imagem de uma das garotas mais bonitas do meu ano dormindo na cama. Mas Ayase era minha meia-irmã. Eu não podia reagir daquele jeito e deixar Akiko preocupada.
“Parece que vamos ter mais um verão quente”, disse, buscando uma resposta neutra. Talvez eu tenha sido cauteloso demais.
“Você também tome cuidado, Yuuta. Colocar o ar-condicionado muito forte é ruim, mas o calor pode ser ainda pior. Liga o ar-condicionado, ok? Dizem que podemos ter insolação até dentro de casa.” Acenei com a cabeça antes de começar a comer. Fazia tempo que eu não comia uma refeição preparada por Akiko. Um pequeno frasco de shoyu estava à minha frente para acompanhar os ovos, um detalhe que mostrava a atenção dela.
Ayase também sempre lembrava das minhas preferências. Será que isso era coisa de família?
Eu tinha assumido que o presunto, os ovos e a torrada eram a refeição completa, mas, enquanto mexia meus hashis, Akiko colocou uma xícara na minha frente.
“Aqui está”, disse ela. “Tem mais se quiser.”
“Obrigado… Isso é potage?” perguntei.
Era uma sopa branca, cremosa e quente.
“É clam chowder. Não precisa comer se não gostar.”
“Não se preocupe.”
Clam chowder era basicamente um ensopado de mariscos com leite, certo? Até eu sabia disso. Já comi a versão congelada superprocessada.
“A Akiko fez do zero”, comentou meu pai.
“Ah, não é tão difícil”, ela protestou.
Eu tinha percebido algo no último mês: quando Ayase ou Akiko diziam que um prato era fácil de fazer, meu pai e eu tínhamos dificuldade em acreditar. Ainda exigia preparo e criatividade… Sempre que eu comentava isso com Ayase, ela se oferecia para me ensinar, e eu tentava aprender. Já que, não custa tentar.
Mas, olhando a xícara, vi vários ingredientes — vermelhos, brancos e alguns quase transparentes. Estavam tão bem picados que seria difícil pegá-los com os hashis.
Mexi levemente a sopa, inclinei a xícara e tomei um gole. A textura granulada dançou na minha língua. Mastiguei um pouco — um consommé engrossado com leite —, esmagando os ingredientes. O sabor rico explodiu na minha boca. O gosto encorpado dos mariscos se misturava com o do bacon, cenoura e outros vegetais.
"Tá muito bom."
Não estava tentando bajular minha madrasta. O sabor era excelente, nem forte demais nem fraco.
Ela sorriu. "Que bom que gostou."
Meu pai parecia tão orgulhoso como se ele mesmo tivesse feito a sopa. Por que ele estava tão satisfeito? Tentando mostrar o quanto a esposa era maravilhosa de novo? Não estava interessado nas demonstrações de afeto dele, então desviei o olhar e me concentrei no café da manhã.
Enquanto isso, meu pai e Akiko começaram a conversar entre si. O assunto era Ayase.
"Parece que ela estudou até tarde", disse Akiko.
Fiquei me perguntando como ela sabia, já que só tinha dado uma espiadinha no quarto da filha. Acontece que ela viu um caderno aberto na mesa de Ayase. Além disso, um fone de ouvido ainda conectado ao celular tinha sido puxado às pressas e jogado em cima do caderno.
Era óbvio que Ayase não gostava que vissem seus cadernos ou ouvissem o vazamento do fone.
Akiko sabia disso e deduziu que a filha tinha estudado até não aguentar mais. Quando finalmente caiu de sono, simplesmente jogou tudo de lado e pulou na cama.
A "detetive Akiko" provavelmente estava certa. Será que Ayase tinha feito progresso nos estudos? Espero que a música lofi hip-hop tenha ajudado ela.
"Ei, Yuuta?"
Meu pai de repente se virou para mim, e eu encarei ele. Não respondi porque ainda estava saboreando um pedaço de presunto. Achei que era melhor não falar de boca cheia.
"Já faz um mês que começamos nossa nova vida juntos. Como você está se saindo? Precisa de alguma coisa?"
"Hmm… Nada em especial," respondi depois de engolir.
Akiko fez a próxima pergunta.
"E como estão as coisas com a Saki?"
"Ah…"
"Antes era só vocês, homens. Imagino que deva estar um pouco estressante."
Estressante, hein?
Isso me lembrou de um mês atrás, quando Ayase se aproximou de mim só de calcinha. Aquilo definitivamente tinha sido estressante.
Eu estava deitado com as luzes apagadas quando Ayase, usando apenas suas roupas íntimas, veio até mim. Seu cabelo claro caía além dos ombros, sobre os seios, repousando no sutiã de tom vibrante enquanto ela me olhava com olhos brilhantes…
…Só de pensar naquela cena, era como abrir uma tampa na memória, e imagens vívidas inundavam minha mente.
"Yuuta? O que foi?"
"N-nada, pai. Estamos nos dando bem."
Acenei para Akiko, garantindo que estava tudo bem, embora me sentisse um pouco culpado.
"Tudo bem," ela disse. "Isso é… bom."
Akiko parecia ter mais a dizer, mas deixou o assunto morrer e perguntou se eu queria uma xícara de café. Eu aceitei, e ela ligou a cafeteira. Ela já tinha colocado os grãos. O aroma maravilhoso do café havaiano Kona, pelo qual meu pai tinha gastado uma fortuna, encheu a sala de jantar.
Deixei-me aproveitar a manhã lenta de verão junto com o cheiro delicioso de café fresco.
Para nós, estudantes do ensino médio, o sábado depois das provas finais e dos resultados era o começo do fim de semana mais relaxante possível. Mas eu, eu passei minha manhã fazendo lição de casa. Quando o relógio marcou onze e meia, comecei a me arrumar para ir à livraria.
Para mim, os fins de semana eram uma chance de trabalhar em horário integral.
Me preparei e estava prestes a sair quando olhei para a porta do quarto de Ayase. Era quase meio-dia, e ela ainda não tinha acordado.
Evitando perturbar ela, me despedi baixinho do meu pai e da Akiko e fechei a porta com cuidado ao sair.
Lá fora, fui atingido pela luz forte do sol. Era tão intensa que a sensação era mais de dor do que de calor. Por um momento eu me perguntei se o Japão tinha deixado de ser uma região temperada e se tornado subtropical.
Depois de subir na bicicleta, comecei a pedalar o mais rápido possível. O vento era refrescante, mas eu suava horrores toda vez que parava.
Olhei para um termômetro na rua. Já passava dos trinta graus Celsius. Ansioso para escapar do calor, entrei correndo no prédio.
"Ufa… Que alívio o ar-condicionado aqui."
Peguei uma toalha da mochila e me enxuguei. Lenços umedecidos não davam conta nesse calor. Toalhas grandes pareciam mais práticas.
Fui até o vestiário, coloquei o uniforme e o crachá. Cumprimentei os colegas do meu turno e fui para o salão de vendas.
"Ah, oi, Asamura," disse meu gerente. "Pode colocar os lançamentos nas prateleiras?"
"Tá bom," respondi, pegando um carrinho cheio de caixas.
Como era sábado, não tínhamos novas entregas. Mas nossa livraria era grande, então nem todas as novidades chegavam às prateleiras imediatamente.
Olhei para as caixas no carrinho.
"Capa brochura, hein?"
Verifiquei as etiquetas enquanto empurrava o carrinho pelo labirinto de estantes. Esses livros de bolso ficavam mais afastados das revistas e lançamentos, perto dos mangás.
No horário de almoço nos fins de semana, os clientes começavam a sair para comer. Era quando aproveitávamos para repor as prateleiras. Claro, também fazíamos isso de manhã antes de abrir, então essa seria a segunda rodada do dia.
"Ei. Você também está começando o turno agora?"
Uma mulher arrumando livros nas prateleiras se virou para mim. Um instante depois, seus longos cabelos negros se acomodaram de cada lado do rosto.
"Isso mesmo."
"Então estamos no mesmo turno de novo."
A mulher que falava era a imagem da elegância feminina. Qualquer um diria que ela combinava mais com um quimono do que com o uniforme da livraria. Era Shiori Yomiuri.
"Reorganizando as prateleiras?" perguntei.
"Isso. Ei, essas são as novidades? Maravilha. Será que está aqui?"
"O quê?"
"É desse lugar aqui," ela apontou para a prateleira à frente. "Chama-se Gap in the Blue Night."
Olhei dentro de uma das caixas.
"É esse?"
"Ah, é esse mesmo!"
O livro em questão era o que se poderia chamar de light novel. A capa trazia uma ilustração de um artista popular, um pouco mais realista do que o habitual em mangás. Mostrava um casal de adolescentes de costas um para o outro, sob um céu noturno iluminado pela lua. Seus dedos estavam entrelaçados, então provavelmente era uma história de romance.
"Quantos chegaram?" ela perguntou.
"Ah… dois."
"Só isso? Eu pedi vinte!"
"Isso é… bastante."
"Eles sempre enviam menos do que pedimos mesmo."
"Verdade."
"Mas não dá pra montar uma pilha na área de exposição com só dois exemplares!"
Em nossa livraria, havia uma mesa baixa, na altura dos joelhos, em frente às prateleiras. Em vez de colocar os livros na estante, onde apenas a lombada ficava visível, exibi-los na mesa permitia mostrar a capa.
"Esse não foi lançado há um mês?" eu disse. "Esta é a versão brochura. Ainda está vendendo?"
Uma brochura era uma edição mais barata, lançada após a edição original. Muita gente já devia ter comprado o livro, então seria impressionante se ainda estivesse vendendo bem um mês depois. Eu me lembrava de ter ouvido falar dele antes.
"É tão bom assim?" perguntei.
"Deve ser. Acho que o filme está ajudando."
"Ah… é verdade."
O título me pareceu familiar. Tinha um filme em cartaz baseado no livro. Ajustei o livro na mão para olhar melhor a capa. Um adesivo em volta trazia fotos e uma frase de efeito do filme.
Era um livro que me deixou interessado antes da minha nova vida com Ayase e antes que provas finais me distraíssem. Eu tinha me esquecido completamente dele.
"Ainda está vendendo," disse Yomiuri. "Mas só temos um exemplar na prateleira."
"Mais esses dois que chegaram… Mas você tem razão. Não dá pra montar uma pilha com só três."
Precisávamos deixar pelo menos um exemplar na seção organizada por autor, o que significava que só dois estariam disponíveis para exibição. Não daria para formar uma torre, e se vendêssemos um deles, a pilha desapareceria. Ficaria estranho cercado por pilhas de outros títulos. Nesses casos, geralmente colocávamos todos na prateleira, mostrando apenas as lombadas.
"Mas eu não quero fazer isso," disse Yomiuri.
Ela estava pensando tanto nesse livro. Devia gostar muito mesmo.
Trabalhando como meio-período, eu aprendi que era essencial exibir bem os best-sellers. Até quem não lia muito comprava livros populares, então era melhor deixá-los em um local visível.
Leitores iniciantes não costumavam vasculhar a livraria atrás do que queriam, então, se os livros ficassem muito escondidos, eles poderiam não encontrar. Por outro lado, livros que não vendiam em grandes quantidades, mas eram procurados por leitores dedicados, seriam encontrados não importa onde os colocássemos.
"Em outras palavras, pessoas como você," disse Yomiuri.
"Eu não leio só livros obscuros, sabia…"
Era verdade que, se você lesse muito, acabaria com livros mais nichados, mas será que Yomiuri pensava que eu era algum tipo de conhecedor do excêntrico?
"Então o que vamos fazer?" ela perguntou.
"Podemos colocar uma exibição com a capa para frente na prateleira? Já que esses não são lançamentos."
"Acho que sim."
Remanejamos alguns livros na prateleira e abrimos espaço, depois colocamos os três livros com a capa virada para frente. Para evitar que escorregassem, colocamos um suporte embaixo. Como só tínhamos três exemplares, mas, era possível que esgotassem no fim de semana.
Tirei as brochuras das caixas e os arrumei na prateleira e na mesa, ajudando Yomiuri a exibir suas recomendações.
"Pronto!" ela anunciou.
"O filme já está saindo dos cinemas, não é?"
As férias de verão começariam na semana seguinte, e isso significava uma nova temporada de filmes. Essa seria minha última chance de o assistir. Infelizmente, eu havia pedido para trabalhar em tempo integral neste fim de semana. Um sorriso irônico surgiu nos meus lábios.
Eu deveria ter planejado melhor.
Enquanto voltava para o escritório com Yomiuri, fiquei cheio de arrependimento. Ela deve ter percebido minha expressão.
"Ei, se você ainda não viu, que tal irmos a uma sessão norutna depois do trabalho?"
"Uma sessão noturna? Você quer dizer bem tarde?"
Eu não tinha pensado nisso. Mas se começasse às nove, terminaria à meia-noite.
"Meu turno acaba às nove hoje," ela disse. "O seu também, né?"
"Bem, sim."
Yomiuri parecia sugerir que, como sairíamos no mesmo horário e ela não trabalharia no dia seguinte, não se importaria de ir ao cinema comigo.
"Se for pra enlouquecer, sábado à noite é o melhor dia!" ela disse.
"Não me faça parecer um delinquente!"
"Hã? Só estou falando de ir ao cinema."
Yomiuri era realmente única. Ela dizia essas coisas como se não fosse nada, mas eu sabia que era de propósito. Tinha certeza de que ela se esforçava para fazer tudo soar o mais incriminador possível.
"Vamos só ver o filme, certo?" perguntei.
"Claro!"
Ela sorriu largamente. Estava me provocando? Mesmo assim, eu queria assistir.
"Tá bom. Eu estava querendo ver mesmo," eu disse. "Vou ligar pros meus pais depois e avisar."
"Você vai ligar pros seus pais?! Nossa, que estudante comportado!"
"Não faz tanto tempo assim que você estava no ensino médio."
"Mas agora sou uma adulta na faculdade! ♪"
"Então quer dizer que você não é mais comportada, é?"
"Não me faça parecer uma delinquente!" Ela riu. "Mas sabe de uma coisa, Yuuta?"
"O quê?"
"Não tem alguém mais importante para você avisar?"
"Hã…? De quem você está falando?"
"Sua irmã mais nova. Ela não vai se preocupar com você?"
"Acho que ela não… se importaria," respondi com honestidade. Não conseguia imaginar Ayase preocupada comigo chegando tarde.
"É mesmo?"
Decidi não pensar muito nisso. Além do mais, se os papéis fossem invertidos, eu consideraria rude me preocupar com Ayase, já que ela também estava no ensino médio. Tinha certeza de que ela pensava igual. Afinal, ela nunca faria nada para preocupar a mãe.
…Então me lembrei da loucura que ela tinha feito um mês atrás. Balançei a cabeça e afastei o pensamento. Aquilo tinha sido uma exceção.
Liguei para meu pai durante o intervalo e avisei que iria a uma sessão noturna com uma colega antes de voltar para casa.
"Está saindo em um encontro com uma garota?" ele perguntou, animado.
"Só vamos ver um filme."
"Então você finalmente está se tornando um homem."
Eu não achava que fosse preciso mostrar tanta emoção. Além do mais, eu já não era homem?
"Mas ei, você ainda está no ensino médio, então não exagere."
"Não é nada disso," respondi secamente antes de desligar.
Meu pai não me repreendeu nem tentou me impedir, mas não era porque não se importava— era porque confiava em mim. E eu não podia trair essa confiança. Não gostava de ter que corresponder às expectativas dos outros, mas não queria decepcionar o homem que me criou.
Depois de desligar, olhei para a tela do celular e me perguntei se deveria mandar uma mensagem para Ayase.
Não, não precisa, pensei. Ayase, meu pai e Akiko estavam todos em casa hoje, então só precisava avisar um deles.
Ayase e eu não éramos tão próximos a ponto de eu contar se fosse ao cinema com uma colega ou ficar atualizando ela sobre tudo que fazia. Além do mais, e se ela estivesse estudando? Eu poderia atrapalhar sua concentração. Era mais importante não atrapalhar.
O tempo passou, meu turno terminou e eu troquei de roupa. Quando terminei, Yomiuri praticamente me arrastou para fora.
O vento ainda estava quente, e eu comecei a suar assim que saí. Aquela noite prometia ser mais uma viagem aos trópicos.
O céu, ou o que eu conseguia ver entre os prédios, já estava escuro. Mas as luzes de Shibuya ainda não se apagavam. Era uma cidade que permanecia acordada e movimentada a noite toda. Para alguém tímido como eu, a vida noturna animada só me deixava desconfortável.
Normalmente, eu estaria pedalando para casa. Quem diria que eu estaria caminhando pela cidade à noite com uma mulher bonita e mais velha?
Era a primeira vez que via Yomiuri de perto em trajes casuais. Ela usava uma blusa de cores vivas e um vestido plissado que balançava suavemente, com pernas elegantes envoltas em meias-calças pretas.
Seu estilo era mais discreto do que o de uma frequentadora das baladas de Shibuya. Desde que mantivesse a boca fechada, Yomiuri parecia uma beleza tradicional japonesa. Suas roupas não eram chamativas, mas dava para ver que ela tinha bom gosto, o que combinava com sua personalidade. E, acima de tudo, ela era madura—uma universitária. Da minha perspectiva, era uma mulher adulta.
De repente, pensei em Ayase em casa, usando suas roupas casuais. Seu cabelo ainda chamava atenção, mas ela tirava as joias e a maquiagem. Mesmo assim, tinha uma certa política pessoal—mesmo relaxando em casa, nunca ficava de moletom, com aquela descontração fofa que se vê em animes e mangás.
Ela mantinha a mesma atmosfera de sempre. O vestido vermelho-escuro com detalhes brancos que a vi usando em casa no dia anterior era elegante o suficiente para sair.
Para Ayase, as roupas eram sua armadura. Ela devia querer manter suas defesas.
"Ei," disse Yomiuri, parando de repente e se virando. "Você não deve ficar pensando em outras coisas quando está caminhando com uma mulher."
"Não devia?"
Ela ficou séria por um momento, depois soltou um sorriso. "Gosto da sua reação. Típica de um garoto do ensino médio."
"Não sei o que dizer a isso."
Eu não fazia ideia do que ela queria dizer.
"Estou dizendo que, mesmo sendo um príncipe, você não reage como sua princesa gostaria."
"...Por acaso devo um pedido de desculpas?"
"Não, tá tudo bem. É seu estilo ser neutro. Além do mais, assim posso relaxar—não preciso fingir."
Não sabia o que responder. Era verdade que eu não queria ter que me preocupar com o que os outros pensavam, nem que eles fizessem o mesmo por mim. Mas ninguém nunca tinha apontado isso diretamente.
Na verdade, pera. Ayase tinha, não tinha?
"Vamos, estamos atrasados," Yomiuri disse, voltando a caminhar.
Passamos pelas ruas movimentadas por alguns minutos até chegar ao cinema.
"Yuuta, vou comprar os ingressos. Pode pegar as bebidas?"
"Claro. A gente acerta os valores depois. O que você quer?"
"Uma Coca Zero… Por que está rindo?"
"Você sempre come pipoca e toma Coca Zero no cinema?"
"Acho importante ter um ritual padrão."
"Entendido. Alguma preferência no sabor da pipoca?"
"Tem que ser de caramelo!"
Ela inflou as bochechas quando sorriu, depois foi em direção às máquinas de ingressos. Não esperava que ela fosse fã de doces. Talvez algo tivesse influenciado ela.
Depois de ver ela indo embora, fui ao balcão de lanches. Eles me deram uma bandeja com pipoca e refrigerantes. Quando me virei, Yomiuri estava voltando correndo com um aceno.
"Nossa sessão é na sala quatro," ela disse.
"Beleza."
"Quer que eu leve isso?"
"Tudo bem. Pode ficar com o meu ingresso."
"Claro! ♪"
Passamos pela catraca e procuramos a sala quatro, observando os casais passando.
"Tem muita gente em encontro aqui," Yomiuri comentou.
"Bom, é um romance."
Entramos na sala escura, onde o som abafado criava uma atmosfera noturna. Ficamos em silêncio por um momento. Era uma sensação estranha. Essa mudança de clima era o motivo pelo qual as pessoas iam ao cinema. Dali em diante, só falamos em sussurros.
Procuramos nossos assentos e os encontramos mais ou menos no meio, sem ninguém na frente. Eram os primeiros lugares de um bloco traseiro, um degrau acima da seção seguinte.
Poderíamos entrar e sair sem nos preocupar em esbarrar nas pernas dos outros.
"Espero que esses assentos estejam bons," disse Yomiuri. "Não queria me preocupar em acidentalmente chutar quem estivesse na nossa frente."
"Não, não. Estão ótimos."
"Que bom."
Coloquei os refrigerantes nos porta-copos e passei a pipoca para Yomiuri.
"Nossa, uma caixa inteira!" ela exclamou. "Você realmente sabe o que está fazendo!"
"É muito?"
"Você também vai comer, né?"
"Pode comer à vontade. Não preciso comer enquanto vejo o filme. Depois eu termino o que sobrar."
"Ah, qual é, vamos comer juntos," ela insistiu, empurrando a caixa na minha direção. Com isso, acabei olhando para a pipoca e, no processo, avistei suas coxas sob o vestido plissado.
"Tá bom," eu disse. "Vamos lá."
Não que isso fizesse diferença para mim. Eu simplesmente me concentraria na pipoca. Na vida real, coisas assim acontecem, e a gente segue em frente.
Peguei um punhado da pipoca caramelizada e joguei um pouco na boca. Não estava tão doce.
Normalmente eu não como no cinema, mas essa pipoca tava boa. Dava para entender por que as pessoas gostavam desse tipo de coisa durante o filme. A ideia estava começando a me conquistar.
As luzes se apagaram, e rapidamente concentrei minha atenção na tela. Yomiuri e eu paramos de conversar. Afinal, estávamos ali para ver um filme.
Um trailer começou a passar. Parecia ser um live-action de robôs lutando contra ninjas.
"Parece interessante…," murmurei. Yomiuri respondeu em voz baixa.
"É… É o quarto filme de uma trilogia…"
"O quarto… de uma trilogia? …Como assim?"
"Não pergunte… Você tem que manter a mente aberta com essas coisas… Ah, tá começando."
Ela levou um dedo aos lábios, pedindo silêncio, e nós dois calamos a boca.
O filme estava começando.
Um pôster que eu tinha visto antes da sessão dizia que o filme deixaria o público em lágrimas.
O início, porém, estava cheio de momentos engraçados. Mas, justo quando eu comecei a acreditar que na verdade estava vendo uma comédia, o clima do filme deu uma reviravolta em menos de cinco minutos. Fiquei completamente envolvido.
Depois do primeiro clímax do filme, uma cena curta e engraçada deu um certo alívio. Soltei o ar e olhei para Yomiuri. Ela estava encarando a tela com uma expressão séria, sem mostrar a menor mudança de emoção. A luz da tela iluminava seu perfil, e eu podia ver que ela não estava rindo, chorando ou assustada. Ela apenas ficava ali, olhando atentamente. Claramente não estava mentindo quando disse que só queria ver o filme. Tinha certeza de que todos os pensamentos sobre mim já haviam sumido da mente dela.
Isso me impressionou nela.
E, mais uma vez, me peguei pensando que estava ali, assistindo a um filme com uma mulher bonita. Coisas assim não aconteciam com garotos do ensino médio tímidos como eu na vida real. Sou eu mesmo aqui? Incapaz de acreditar totalmente, voltei minha atenção para o filme.
Eu precisava prestar atenção. Era por isso que tinha concordado em vir.
A campainha tocou, e as luzes se acenderam novamente.
Pisquei, relaxei e respirei fundo.
O filme tinha sido muito bom. A última parte foi tão surpreendente que eu quase chorei.
Talvez eu realmente precise comprar o livro original.
"Talvez eu não coma amanhã," disse Yomiuri.
"Hã?"
Olhei para ela e a vi segurando a caixa de pipoca na minha direção, inclinada. Estava vazia. Ela tinha comido tudo.
"Quando você fica realmente imerso em algo, não acha que suas mãos se movem automaticamente?" ela comentou.
"É, acho que sim. Mas não tenho certeza se teria comido tudo isso."
"Eu devia ter deixado você segurar."
"Duvido que até eu teria conseguido terminar tanta pipoca. Aqui, eu levo."
Enquanto ela pegava a bolsa, eu pendurei minha mochila no ombro e peguei a caixa vazia. Não podíamos deixar sujeira para trás.
"Obrigada," ela agradeceu.
"Vou levar esse copo também."
Ela me entregou o copo, e eu o coloquei na caixa antes de jogar ambos no lixo do lado de fora da sala. De lá, seguimos para a saída, passamos pela catraca e deixamos o cinema.
Caminhamos lado a lado até a estação de trem, discutindo o filme. As ruas ainda estavam lotadas, e me peguei pensando se essa cidade dormia alguma hora do dia.
Peguei minha bicicleta de onde tinha estacionado no caminho e continuei em direção à estação com Yomiuri, que esperou por mim.
"Está ficando tarde," comecei a dizer, prestes a me despedir dela, quando ela me interrompeu no meio da frase.
"Fica comigo mais um pouco," ela disse, antes de começar a andar novamente em silêncio.
Apesar de estarum pouco confuso, empurrei minha bicicleta e a segui. Contornamos a estação de trem, passamos por uma estátua famosa à nossa esquerda e continuamos caminhando.
"Tem algum lugar onde você quer ir?" perguntei.
"Meu carro está estacionado por aqui."
"Ah."
Yomiuri já tinha me dito antes que dirigia até a livraria. Um carro, hein? Era preciso ter dezoito anos para tirar carteira de motorista. Ela estava na faculdade, então não era tão estranho ela ter uma. Mas, embora ela certamente tivesse mais de dezoito, eu não sabia se já tinha vinte — a maioridade no Japão.
Percebi que eu também poderia tirar carteira depois do meu próximo aniversário. Nunca tinha pensado nisso antes.
"Você acha que vai começar a dirigir, Yuuta?"
"Hmm. Não sei."
"Os jovens de hoje não estão muito interessados em carros, né?"
"'Jovens de hoje'…? Quantos anos você tem, exatamente?"
"Dito isso, ouvi dizer que metade dos homens já tem carteira aos vinte anos. Ainda quer passar?"
"Se um em cada dois caras tem carteira, então eu poderia só pagar alguém da outra metade para me levar."
Yomiuri ficou boquiaberta. Fiquei surpreso com o quanto ela parecia um personagem de mangá chocado.
"Bem, minha peruca e meus bigodes!" ela exclamou.
Eu não conseguia acreditar que estava ouvindo uma frase dessas da boca de uma universitária.
Até eu, que lia bastante, mal entendi o que ela quis dizer. Onde diabos ela aprendeu esses termos?
"É tão estranho assim?" perguntei. "Acho que só estou sendo racional."
"Existe uma coisa chamada 'racional demais'."
"Você acha…? Digo, acho que eu teria que pagar o suficiente para não parecer rude."
"Pagar o suficiente…? Não é isso que eu quis dizer. Pra começar, você não acha que seria conveniente ter um carro para levar sua namorada para casa?"
Eu não tinha pensado nisso.
"Mas primeiro, eu precisaria arrumar uma namorada," eu disse. "Para um cara tímido como eu, isso pode ser um desafio."
"Elas podem começar a fazer fila se você tiver um carro."
"Acho que não quero namorar uma garota que se interesse por mim por causa do meu carro."
Yomiuri começou a rir.
"Ha-ha-ha. Bem, você não está errado!"
Enquanto conversávamos, vi uma pequena floresta à frente — ou melhor, um parque.
"Tem um estacionamento perto dessa área verde," ela disse. "É onde deixei meu carro."
"Isso é bem longe da livraria."
"Shibuya nunca tem estacionamentos onde a gente quer. Além disso, já é quase meia-noite.
Por que ainda está tão quente?" ela comentou, abanando a mão na frente do rosto como um leque.
As árvores do parque estavam cobertas por folhagem densa, mas sua cor verde parecia preta no escuro, como um vazio contra o fundo das luzes de néon da cidade.
Havia menos pessoas conforme nos aproximávamos do parque, e eu entendi por que Yomiuri tinha me trazido até ali. Dizendo que era mais rápido cortar por ali, ela passou entre dois carros estacionados e entrou entre as árvores.
Algumas luzes solitárias de poste iluminavam um caminho estreito e pavimentado. Seus cones de luz continuavam ininterruptos, mal iluminando nossos pés enquanto caminhávamos pelo parque deserto.
De repente, Yomiuri parou.
"Espera aqui um instante," ela disse.
"Claro."
Fiz como ela pediu.
"Preciso te retribuir por ter me acompanhado até aqui."
"Ah, tudo bem. Não precisa."
"Só aceita o agradecimento," ela respondeu, indo até uma máquina de venda automática ao lado do caminho.
Uma luz acendeu na tela vertical, e uma voz mecânica disse: "Bem-vindo." Yomiuri enfiou a mão na bolsa, pendurada no ombro esquerdo, e pegou o celular. Apertou o botão de uma bebida e encostou o celular na máquina. Com um clunk, uma lata de suco caiu no compartimento. Ela repetiu o processo antes de pegar as duas bebidas e me oferecer uma.
"Aqui," ela disse.
"Obrigado."
Segurando a bicicleta com uma mão, peguei a lata com a outra. Estava gelada. Parecia que a função de resfriamento da máquina ainda estava funcionando bem.
"Ah, desculpa, agora suas mãos estão cheias. Quer que eu segure enquanto você coloca o suporte da bicicleta?"
"Dou conta."
Abri a lata da bebida gelada com a mesma mão que a segurava, girei até a metade, levei à boca e tomei um gole. Senti o líquido gelado e efervescente escorrer até o estômago. Parei de suar por um momento e suspirei. Era bom.
"Nossa, que habilidade," ela comentou.
"Tenho bastante prática."
Eu costumava comprar bebidas em máquinas automáticas sem descer da bicicleta, porque parar e colocar o suporte era muito trabalhoso.
"Caramba. Devia ter filmado isso agora," ela disse.
"E o que você faria com um vídeo desses?"
"Postar para o mundo inteiro ver."
"Eu gostaria que você respeitasse minha privacidade, por favor. E não é um truque de circo."
"Tem certeza? Você poderia ganhar muitas visualizações." Yomiuri sorriu, mas depois ficou em silêncio. "Você é engraçado e gentil," ela disse finalmente.
"O que deu em você de repente?"
"Bem, veja bem…," ela murmurou hesitante enquanto eu esperava.
A luz da máquina de venda automática diminuiu, e o rosto de Yomiuri ficou na sombra. Nós dois paramos de falar, e o silêncio tomou conta do parque à meia-noite. Atrás dela, vi prédios se erguendo como lápides negras.
"Ei, Yuuta. Tem uma coisa que preciso te contar…"
"…Algo que precisa me contar?"
"Sim. Algo que quero que você saiba."
Tudo o que pude fazer foi esperar ela falar. Ela parecia tão diferente de sua versão alegre e descontraída. O ar parecia pesado e sufocante.
"Yuuta… Eu só tenho seis meses de vida…"
Eu congelei por um momento, sem saber como responder.
Simulei várias respostas possíveis no meu cérebro: "Você só pode estar brincando." "Por quê?"
"O que aconteceu?" As palavras de Yomiuri tinham cortado meus pensamentos, me distraindo do que ela realmente disse.
Fiquei parado, sem reação, olhando para ela.
Ela me encarou como se estivesse me testando, mas o constrangimento começou a aparecer em seu rosto conforme os segundos passavam.
"Ah… desculpe, eu só estava brincando. Foi uma piada. Não fique tão deprimido."
"Eu pareci deprimido?"
"Sim, como se tivesse perdido anos de vida. Eu estava fingindo que estávamos em uma cena do filme, mas acho que foi de mau gosto."
Eu dei um suspiro. Finalmente tinha ligado os pontos e entendido o que ela estava fazendo. Eu já não tinha ouvido exatamente essa frase em algum lugar antes?
"Ah… o filme," eu disse.
"É. Eu estava pensando que esse lugar parecia exatamente com aquela cena do filme."
"Você tem razão… Foi em um parque à noite…"
Por que eu não tinha percebido? Era igualzinho ao filme.
"Ah, bem," ela disse. "Não é como se eu pudesse recriar a cena que vem depois."
"E eu não consigo voltar no tempo."
Yomiuri riu.
"Eu estava começando a me perguntar se você estava esperando que eu desse em cima de você como a garota do filme," ela disse. "Mas, pelo seu jeito, acho que não."
"Do que você está falando?"
"Você ficou me olhando no cinema."
"O quê?!"
"O que você estava olhando? Meu rosto? Meus peitos? Ou talvez outra coisa…? Fala logo!"
"Eu, hã."
Fiquei sem palavras. Era verdade que, por um momento, eu tinha me esquecido do filme e olhado para ela.
"Ah. Então você estava me olhando."
"Ei!"
Ela me enganou?!
Pensando bem, seus olhos nunca tinham saído da tela.
"Não sei se aprovo você ficar encarando uma jovem delicada assim."
"Umh… Eu, hã… Desculpe," eu disse, curvando a cabeça.
"Ha-ha-ha. Não precisa se desculpar. Só estou brincando."
"Mas…"
Eu estava me desculpando porque achei que poderia ter feito algo rude, mas Yomiuri abanou a mão, ignorando. Então, deliberadamente, estendeu a palma da mão.
"Ah, o-obrigado," eu disse, entregando a minha lata de suco vazia.
"Você cuidou das coisas no cinema, então agora é a minha vez."
Enquanto falava, Yomiuri jogou as duas latas em uma lixeira ao lado da máquina. A máquina acendeu novamente quando ela ficou perto, cumprimentando-a com a mesma voz robótica.
Dessa vez, soou um pouco boba.
Tive a sensação de que Yomiuri tinha se controlado, e não disse o que realmente queria me dizer. Mas não tinha certeza se devia tocar no assunto…
Enquanto isso, ela começou a andar novamente, e eu a segui, empurrando minha bicicleta.
Nenhum de nós disse uma palavra até chegarmos ao estacionamento. Eu ficava procurando coisas para falar, mas me segurava antes de dizer. Isso continuou até Yomiuri dizer: "Acho que já chega."
No final, só consegui dizer algo quando estávamos nos separando.
"Ah, sobre a música que você me mostrou outro dia — obrigado. A Ayase adorou."
Ela riu. "Isso foi tudo que você conseguiu pensar?"
"Hã?"
"Deixa pra lá. Dá um oi pra sua irmã fofa por mim."
Com isso, minha colega de trabalho desapareceu no estacionamento. Eu a observei por um momento, depois virei a bicicleta e comecei a voltar para casa.
Enquanto pedalava, pensei na nossa conversa. Eu não tinha ideia do que deveria ter feito ou dito…
As luzes ainda estavam acesas na sala quando cheguei em casa.
Ayase estava deitada de bruços sobre a mesa da sala. Ela estava em um sono profundo, com uma das bochechas colada em uma página do caderno aberto. Eu conseguia ouvir o som fraco de sua respiração por cima do barulho do ar-condicionado.
Por que ela está aqui na sala em vez do quarto? eu me perguntei. E o ar-condicionado está no máximo. E se ela pegar um resfriado? Pensei em acordá-la, mas ela provavelmente não gostaria se soubesse que eu a peguei dormindo no meio dos estudos. Peguei um cobertor leve e o coloquei sobre seus ombros. Quando fiz isso, vi que um de seus fones tinha caído e ouvi lofi hip-hop saindo do alto-falante.
Então ela realmente está usando isso para estudar. Mesmo que eu não tenha certeza se isso está realmente ajudando na concentração.
Eu não gostava de impor meus pensamentos e valores aos outros, mas fiquei bem feliz que ela tinha gostado da minha recomendação. Pela primeira vez, eu estava percebendo como isso me deixava contente. Esperava ter sido útil para ela, embora ainda estivesse longe de retribuir aquela delicioso torrada francesa que ela tinha feito.
Ajustei o ar-condicionado, aumentando um pouco a temperatura, e comecei a me preparar para dormir. Tomei banho, escovei os dentes, bebi água e fui ao banheiro. Antes de me recolher ao meu quarto, dei uma olhada na sala e vi que Ayase ainda estava dormindo.
Fiquei em dúvida se deveria acordá-la, já que o ar-condicionado poderia deixá-la com sede, mas decidi não fazer nada. Afinal, era a Ayase. Ela não ficaria dormindo assim até de manhã.
Além disso, ela já tinha dormido até tarde no dia anterior.
Assim que entrei no meu quarto, ouvi o som do despertador do celular dela tocando.
Ao escutar seus movimentos na sala, me apressei para deitar. Não queria que ela descobrisse que eu tinha visto seu rosto dormindo.
Embora no começo eu só estivesse fingindo, o trabalho e o filme pareciam ter me cansado mais do que eu esperava, e logo estava num sono profundo.
Em meus sonhos, eu continuava ouvindo uma música antiga misturada com os sons da natureza.
Tradução: Thomasmasg
Revisão: Momoi
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