Gimai Seikatsu Japonesa

Tradução: LadyMomoi

Revisão: LadyMomoi


Volume 2

Capítulo 12: 19 de Julho (Domingo)

19 de Julho (Domingo)

Assim que acordei, conferi o relógio de cabeceira.

Eram 7h30. Fiquei um pouco aliviado — era cedo o suficiente para um domingo. Decidi levantar. Embora tivesse dormido tarde na noite passada, parecia ter tido um sono profundo e estava com a cabeça fresca.

Fui até a sala e vi que meu pai e Akiko ainda não estavam acordados. Mas, como eu esperava, Ayase já estava de pé. Impecável como sempre, sem um fio de cabelo fora do lugar. Ela usava uma blusa tomara-que-caia sob um cardigan transparente.

"Bom dia, Ayase."

"Bom dia, Asamura," ela respondeu, levantando-se. O cardigan solto estava amarrado na cintura com um laço do mesmo tecido. Um short vermelho completava o visual.

"Ah, eu me viro sozinho. Você já tomou café, né?"

Ela estava tomando seu café pós-café da manhã, e eu não queria incomodá-la. Fiz um gesto para que ela se sentasse novamente.

"Acabei de terminar. Isso é seu," ela disse, apontando para a comida na mesa.

"Tá bom. Vou esquentar."

Peguei o prato que ela indicou, fui até o micro-ondas e parei. Eu deveria esquentar isso? Ou comer frio? A tigela de sopa estava gelada ao toque, e agora eu não tinha certeza.

"Nem esquenta. É melhor comer frio," Ayase explicou. "Na verdade, acabei de tirar da geladeira."

Ela deve ter me ouvido levantar e trouxe para a mesa para mim. Ayase era sempre tão atenciosa.

Olhei para a sopa. Era grossa e amarela.

"Que tipo de sopa é essa?" perguntei.

"Abóbora."

"...Abóboras não são colhidas do verão até o outono? Não sabia que dava para comer tão cedo na temporada."

"Ah, é mesmo?"

"Lembro de ler em algum lugar que abóboras são colhidas no verão e comidas no outono. Algo sobre não serem boas quando recém-colhidas, então são deixadas para amadurecer. Você monta aquelas lanternas de abóbora no Halloween e espera o Grande Abóbora chegar, né?"

"Do que você está falando?"

"Você não conhece o Snoopy? E o 'Charlie Brown'?"

"Ah. Aquele com o cobertor do Linus."

"É disso que você se lembra...?"

O melhor amigo de Charlie Brown, Linus, nunca solta seu cobertor favorito. Esse comportamento às vezes é chamado de "Síndrome de Linus". É verdade que todo mundo tem seus tesouros, mesmo que pareçam lixo para os outros. Aposto que Ayase também tinha algo assim.

Um adulto pode olhar para o objeto querido de uma criança e achar que é sujo e tentar jogar fora, mas isso só faz o item ficar mais precioso para o dono. Inesperadamente, o rosto zangado da minha mãe veio à mente. Balancei a cabeça para tirar a imagem da cabeça.

"...Bem, hoje em dia os vegetais estão disponíveis o ano todo, então acho que não é tão estranho," eu disse. "Mas não sabia que dava para fazer uma sopa tão bonita de abóbora."

Parecia o vinho sagrado turvo usado em oferendas xintoístas, mas com um toque de cor.

"É só cozinhar abóbora e cebola, adicionar leite e creme e bater no liquidificador," Ayase disse, percebendo meu interesse.

As pessoas não começam a amar cozinhar só por se interessarem um pouco por um prato. Mas mesmo que minha vida de comida pronta não mude, esse conhecimento pode ser útil algum dia. Mentalizei a receita e coloquei uma torrada na torradeira.

"Duas fatias num domingo de manhã? Isso é incomum para você... Me desculpa se estou sendo intrometida."

"Você sempre lembra das minhas preferências, então não considero perguntas assim entrometidas."

Ayase olhou para mim com um ar envergonhado.

Eu a conhecia como alguém que sempre lembrava como eu gostava da minha comida, mas ela provavelmente não era assim com todo mundo. Isso era evidente no pequeno círculo de pessoas próximas a ela. Ela realmente se importava com seus amigos e não tinha desejo de ser popular com todos.

Talvez eu só fosse importante para ela porque era o filho do novo marido de sua mãe. Mas me senti honrado por ser alguém de quem ela gostava, e nunca pensaria nisso como um incômodo.

"Eu só estava curiosa," ela acrescentou, falando tão baixo que mal pude ouvir. Era impressão minha, ou ela parecia um pouco envergonhada?

Era uma cena que, isolada e fora de contexto, poderia aparecer em um light novel ou anime, mas a vida real não era tão fofa ou doce. Ações gentis e expressões envergonhadas muitas vezes eram resultado de simples boa vontade ou de um coração gentil, e interpretar mal isso poderia resultar em sentimentos unilaterais ou na rejeição de uma amizade sincera.

Eu tomava cuidado para não interpretar mal as ações de Ayase. Estava sempre atento, então tendia a não cometer erros, mas entenderia se alguém o fizesse. A vida real não é como anime ou mangá. Ainda assim, é fácil ter ideias erradas quando encontramos situações similares.

Erros assim são da natureza humana. Minha mente tinha ficado em branco na noite anterior quando Yomiuri disse que não tinha muito tempo de vida. Nem mesmo eu conseguia lidar com surpresas.

"Então, sobre essas duas fatias de pão," eu disse brincando enquanto me sentava, "fico com fome depois de um turno integral. Cometi um erro grave ontem quando comi uma única fatia de manhã e pulei o almoço. Meu estômago ficou roncando o tempo todo até o intervalo."

"Você é trabalhador," Ayase observou.

"Não é nada demais."

Graças ao nosso exagero, o clima entre nós voltou ao seu estado neutro habitual. Era como realizar um ritual para eliminar o constrangimento.

Além das duas torradas e da sopa, uma enorme tigela de salada de alface e frango ficava no centro da mesa. A tigela de vidro verde brilhava sob a luz do sol que entrava pela janela.

"Use o molho que preferir," disse Ayase.

"Tá bom. Obrigado."

Ela voltou para seu café, olhando para o celular na outra mão. Ela não estava usando fones.

Talvez estivesse pesquisando algo.

Tudo bem, pensei. Talvez eu comece com a sopa de abóbora.

Peguei uma colherada e levei à boca. Senti um aroma suave quando o líquido passou sob meu nariz, mas assim que tocou minha língua, o sabor da abóbora ficou claro. Abóboras maduras já são macias e tenras, mas depois de batidas no liquidificador, ficaram com a consistência de um smoothie. Apesar de doce, descia suavemente. Ayase estava certa; essa sopa era melhor servida fria. Era uma sopa que eu realmente poderia querer nos meses quentes, independentemente da temporada de abóboras.

"Ei," Ayase disse enquanto eu enfiava um pedaço de frango na boca. Olhei para ela Intrigado.

"Foi você quem me cobriu com o cobertor ontem à noite, né?"

"Ah, hã, sim."

Eu não queria admitir, pois isso significaria dizer que eu vi ela dormindo. Mas também sabia que esconder a verdade seria ruim. Fazia apenas um mês que eu tinha suado frio depois de acidentalmente ver sua calcinha pendurada no quarto. Não que meu "Ah, hã, sim" fosse a melhor resposta. Estava claro que eu não queria responder.

"Imaginei," ela disse.

"Sei que você está estudando muito porque não quer ter aulas extras na escola, mas não queria que você ficasse doente com a prova de recuperação chegando."

"Certo. É... Obrigada."

"Não precisa me agradecer por algo assim."

No fim das contas, eu é que deveria agradecer a ela por cuidar de todas as nossas refeições.

Nesse caso, por que eu não a ajudava? Mas eu já tinha chegado a essa conclusão um mês atrás, e Ayase tinha recusado casualmente minha ajuda.

As coisas eram simples se ambos ajudássemos ou se nenhum ajudasse, mas em situações assim, eu não sabia como equilibrar a equação.

Dar e receber com ênfase no dar — era fácil na teoria, mas difícil na prática. Eu me perguntava se tinha algo mais que eu pudesse dar a ela além de música para melhorar sua eficiência nos estudos.

"Então," Ayase disse, "você foi ao cinema ontem à noite, hein?"

Engasguei com a pergunta inesperada.

"Ah... sim. Fui a uma sessão noturna porque tinha um filme que queria ver e que saía dos cinemas neste fim de semana. Como você ficou sabendo?"

"Taichi disse que era a primeira vez que você passava a noite fora. Ele parecia super feliz com isso. Disse que você sempre foi tão sério, um garoto muito certinho, e que estava preocupado com você. Ficou feliz em saber que você finalmente estava amadurecendo. Ele só falou de você durante o jantar..."

"Você está me fazendo parecer um perdedor!"

Na verdade, a memória de Ayase para detalhes não era incrível?

"Você foi com sua colega de trabalho, né?"

"Sim, mas não foi exatamente uma 'noite fora' — isso é exagero. Acontece que ambos queríamos ver o mesmo filme. Ou melhor, eu nem tinha pensado em ver uma sessão noturna até ela mencionar."

"Hmm."

"Você já ouviu falar de um romance chamado Gap in the Blue Night?"

"Ah," ela disse, acenando. "Sim, já ouvi. Acho que vi um trailer do filme."

"Mas você nem assiste TV."

"Vi na internet."

Dessa vez, eu que acenei. Anúncios eram colocados onde havia clientes. Nossa geração pode ter parado de assistir TV, mas acessamos a internet, e os anúncios inevitavelmente nos seguem.

"Como foi?" Ayase perguntou. Ela devia estar falando do filme.

"O quê?! Hmm... não foi ruim."

Contei a Ayase o que lembrava do filme.

Era baseado em um light novel — um romance sobre dois estudantes do ensino médio que se conhecem por acaso. Era uma história engraçada, com muitas risadas, que gradualmente ficava séria, e o final me pegou de surpresa.

"Tem uma garota que o garoto só pode ver uma vez por semana à meia-noite no parque. Ela estuda na mesma escola, mas finge não conhecer ele durante o dia. Eles só são próximos quando se encontram à meia-noite, e ela age como uma pessoa diferente. Conforme continuam a se encontrar, gradualmente se apaixonam. Então, uma noite, ela diz a ele..." — fiz uma pausa para efeito — "'Eu só tenho seis meses de vida.'"

Ayase engoliu em seco. É, é chocante quando alguém diz isso do nada. Eu também fiquei chocado quando Yomiuri me disse.

"Depois vem o clímax, mas não vou contar como termina para não estragar."

Eu posso não ser como Maru, mas comecei a falar rápido sem perceber. Parece que não só achei tudo bem; na verdade, achei bem emocionante. Embora, suponho que isso devia ser óbvio, já que estava pensando em comprar o livro.

"Obrigada pelo resumo," disse Ayase. "Parece interessante. Isso me dá uma ideia geral do filme."

"Que bom. Eu teria sugerido assistir, já que hoje é o último dia em cartaz, mas sua prova está chegando."

"Vou ter que esperar até terminar meu exame."

"Certo."

"Já que é baseado em um livro, talvez eu leia. Preciso começar a ler direito ficar melhor em Japonês Moderno."

"Duvido que um light novel caia na sua prova."

"Mas eu nunca li muito — nem mangás nem livros. Não melhoraria se lesse mais?"

"Faz sentido."

Mas, para ser preciso, Ayase não tinha problemas para entender textos modernos. O problema era com textos escritos por pessoas que pensavam diferente dela. Por exemplo, um personagem chamando alguém de quem gosta de idiota ou dizendo que iria matá-lo em vez de declarar seu amor.

Quando eu disse isso, ela pareceu um pouco infeliz.

"As pessoas deveriam só dizer o que pensam," ela disse.

"Existem tantas maneiras de as pessoas se comportarem quanto as pessoas. É isso que cria drama."

Muitas vezes, se duas pessoas apaixonadas dissessem como se sentiam logo no começo, seria o fim da história. Há muitos romances, mangás e animes assim. Mal-entendidos acontecem porque os personagens não discutem e coordenam seus pensamentos. Isso, por sua vez, pode resultar em comédia ou tragédia. Histórias de amor dramáticas são muitas vezes uma série de mal-entendidos e conexões perdidas.

"Eu simplesmente não entendo essas coisas," Ayase disse.

"Bem, é por isso que sua estratégia para a prova é tratar tudo como uma caixa preta que você não pode entender e tentar descobrir as respostas pegando informações periféricas. Então, como está indo? Acha que está pronta?"

"Estou fazendo simulados e tenho notas melhores que antes. Acho que você estava certo. Há muitas explicações de obras literárias por aí, e memorizar o contexto histórico me ajuda a eliminar respostas."

"Bom, é uma prova," eu disse. Queria deixar isso claro.

"O que você quer dizer?" ela perguntou.

"Estou dizendo que nossas provas não têm perguntas que não podem ser respondidas. Você conhece o termo em inglês open-ended?"

"Bem, open é o oposto de closed, e end é o oposto de beginning, então..."

"Você está só traduzindo cada palavra."

Ela provavelmente estava falando sério, o que tornava tudo ainda mais engraçado.

"Às vezes, um filme termina sem nos dizer o que acontece com o protagonista," expliquei.

"Open-ended se refere a finais que não são claros, que deixam coisas para a imaginação do público."

"Eu não gosto desse tipo de história. Me estressa."

"Imaginei que você diria isso. Mas esses não aparecem nas nossas provas."

Não eram só os finais. Muitas coisas podem ser deixadas para a imaginação do leitor, e ainda há debates sobre como interpretar muitas obras-primas. Mas não somos testados nisso, porque cada leitor tem uma resposta diferente; seria impossível corrigir.

"Acho que você está certo," ela disse.

"Então faz sentido que sejamos testados em coisas que não estão abertas à interpretação — ou pelo menos, coisas com interpretações limitadas. Um professor famoso de um cursinho uma vez disse: 'Quando uma prova é de múltipla escolha, você sempre pode escolher a resposta certa.'"

Questões que exigem respostas mais longas e escritas e que testam sua criatividade, individualidade ou capacidade de análise são outra história, é claro.

"É uma forma direta de colocar," disse Ayase, "mas sim, faz sentido."

"Viu?"

Ainda assim, a ambiguidade também é uma das alegrias da leitura. Deixar coisas em aberto estimula a criatividade do leitor.

Eu sou do tipo que gosta de manter as coisas neutras e evitar especular ou fazer suposições sobre os outros. Mas ler, ler me proporciona mais do que conhecimento; me dá entendimento de diferentes perspectivas. Não só me impede de estreitar minha visão de mundo, mas também aprofunda meu pensamento e me encoraja a ser mais criativo. Quando lia, tinha a sensação de que meus horizontes estavam se ampliando.

Por isso eu não queria que Ayase lesse só para ganhar conhecimento. Dito isso, não pretendia forçá-la a pensar como eu.

"Então você e Yomiuri estão namorando?"

Quase cuspi meu café. O que ela quis dizer com "Então"?

Percebi que ela estava me encarando e me sentei direito. Me senti como um réu sendo interrogado por um promotor e estranhamente me vi compelido a responder com a verdade.

"Yomiuri e eu não somos assim."

"Não são?"

"Não. Só trabalhamos juntos."

"Hmm."

"Ela gosta de ler, e nos damos bem."

"Você realmente lê muito. Acho que essa é a diferença. É... eu deveria ler mais... Talvez eu saia para comprar alguns livros." Depois de dizer isso, sua expressão subitamente ficou constrangida, e ela começou a resmungar: "Bem, talvez."

"Eu adoraria te receber no maravilhoso mundo da leitura. Mas primeiro, acho que você deveria focar na sua prova."

"Hã? Ah, ah... sim."

Depois de me dar uma resposta vaga, Ayase voltou sua atenção para o celular. Colocou os fones e abriu o caderno. Aparentemente, estava de volta ao modo estudo.

Quanto a mim, levei os pratos para a cozinha, coloquei na lava-louças e voltei para o meu quarto.

Tinha outro turno integral começando à tarde. Como fui direto para a cama depois de chegar em casa na noite passada, tinha que fazer minha lição de casa agora, enquanto tinha tempo.

A tarefa era para o amanhã, e eu estava ficando um pouco desesperado. Fiquei tão focado que não percebi que já estava quase na hora de sair para o trabalho até o alarme do meu celular tocar.

Eu perdi de novo o almoço.

Saí do apartamento com ar-condicionado e mergulhei de volta no calor do verão.

O sol forte me fez piscar. Senti o cheiro de asfalto queimando. Ainda não era meio-dia, mas a temperatura já passava dos trinta graus Celsius — o terceiro dia seguido assim.

Era outro domingo movimentado em frente à Estação Shibuya. Cheguei na livraria, dei a volta pelos fundos, me troquei e voltei para o salão de vendas.

Estava trabalhando do meio-dia às nove de novo.

"Ei, Yuuta."

Yomiuri me cumprimentou assim que cheguei. Ela não mostrou nada que indicasse que tínhamos ido a uma sessão noturna juntos no dia anterior, o que facilitou as coisas para mim.

Ela era realmente excepcional em relações interpessoais.

"Ei, Yomiuri. Está repondo?"

"Sim. Quer ajudar?"

"Claro."

Ela estava empurrando um carrinho cheio de caixas de livros. Olhei para as caixas e vi que estavam cheias de revistas pesadas.

Mais uma vez, consegui evitar trabalhar no caixa. Minha tarefa do dia consistia principalmente em repor e organizar os livros nas prateleiras. Quando terminei, dobrei as capas de papel dos livros que vendíamos e coloquei o que seria devolvido ao atacadista em caixas. Eu podia só trabalhar meio período, mas as tarefas em uma livraria eram infinitas.

Eu não tinha permissão para preencher formulários de pedidos, mas se ganhasse confiança suficiente, poderia sugerir livros para repor, como Yomiuri fazia.

"Essas são todas revistas femininas," eu disse. "...Parece outro dia cheio para você."

"Exatamente. Essas coisas estão definitivamente no meu top três mais temidas."

"Especialmente com aqueles brindes enormes que vêm com as revistas."

Nos últimos anos, revistas femininas frequentemente incluíam brindes grandes. Dava para saber quais revistas eram para mulheres pelos logos angulares e pelas modelos na capa, cuja idade ou estilo geralmente combinava com o público-alvo. Revistas assim tendiam a ser grandes, grossas e pesadas por si só, e como se não bastasse, ainda incluíam brindes grandes — algo como uma ecobag, amostras de cosméticos ou um estojo de maquiagem chique.

Era nosso trabalho combinar a revista e o brinde para que não se separassem. Nós usávamos duas formas diferentes. A primeira era amarrar com barbante ou fita, e a segunda era prender com elásticos. Claro, cada método tinha seus prós e contras. Barbante ou fita eram mais estáveis, mas se amarrados muito apertados, podiam danificar a revista. Elásticos eram fáceis, mas tendiam a se soltar. E se vendêssemos uma revista sem perceber que o brinde estava faltando, os clientes reclamariam. O problema seria resolvido se embrulhássemos tudo junto, mas poucas lojas faziam isso com revistas e brindes com mais de alguns centímetros de largura. Deve ser muito caro fazer isso.

"É ótimo que as editoras façam os brindes do mesmo tamanho das revistas para serem fáceis de amarrar," disse Yomiuri, "mas elas nunca consideram o equilíbrio de peso. Aqui, segura isso."

"Ei! Me avisa antes... Ugh, esse aqui está torto."

"Exatamente."

O brinde em questão estava em uma caixa de papelão fina, e a maior parte do peso estava na frente.

"O que tem dentro?" perguntei.

"Acho que é uma caixa de joias."

"O quê?"

Examinei a capa, e de fato, o brinde era um estojo para guardar acessórios. Você realmente guardaria joias em uma caixa que veio de graça com uma revista? O texto na capa fazia parecer extravagante, mas eu tinha certeza de que era algo minúsculo, só para pequenos itens.

"Isso não é um pouco enganoso?" perguntei.

"Provavelmente está tudo bem. Olha, aqui diz que é só 'tipo' uma caixa de joias."

"Ah, qual é."

Que tipo de piada era essa?

"A caixa externa pode ser grande," ela disse, "mas o brinde só ocupa cerca de um terço da parte da frente. Por isso não está equilibrado."

"Por que não colocaram no meio?"

"Talvez tenham feito a caixa externa primeiro e depois descoberto que o item era mais pesado do que pensavam."

"Ah..."

Não tinha certeza, mas a hipótese de Yomiuri era convincente.

"A revista já é pesada por si só, e esse brinde só piora," ela disse.

"São um pesadelo para empilhar."

"Mas ainda temos que fazer porque vendem muito."

"Tá bom, vamos lá."

Quando chegamos à mesa de exibição, eu gelei. Era exatamente como esperávamos.

Tiramos as revistas da caixa e as empilhamos uma por uma. Só podíamos fazer uma pilha cerca de dois terços da altura da próxima revista. Mais do que isso, e as revistas escorregariam para a frente. Consegui pegar algumas logo antes de caírem. As capas eram de papel liso e duro, então a pilha desabava facilmente quando não estava muito bem equilibrado.

"Isso não está funcionando," disse Yomiuri.

"É impossível," concordei. "Talvez funcione se alternarmos colocando algumas para cima e outras para baixo."

"Nem pensar. Se fizermos isso, as pessoas não verão o texto na capa."

"Acho que você tem razão."

Por isso que eram tão chatas.

Depois de pensar um pouco, colocamos uma cópia virada para baixo no meio da pilha para equilibrar, e depois empilhamos mais revistas em cima. Assim, poderíamos repor assim que algumas cópias fossem vendidas, evitando que a virada para baixo ficasse no topo. E quando o estoque começasse a acabar, poderíamos reconstruir a parte de baixo da pilha. Dava mais trabalho, mas era a única forma de deixar bonito e combinar com as outras revistas na mesa.

Em seguida, começamos a repor as outras pilhas que estavam acabando.

"Pronto, acho que por enquanto está bom," eu disse, depois de terminar uma pilha. Yomiuri não respondeu, então me virei para ela.

Ela não estava olhando para mim. Estava encarando o canto de um expositor de revistas.

"Aquela garota está procurando algo," ela disse. "Vou ajudá-la."

Segui seu olhar e vi que ela estava olhando para uma prateleira mais atrás do que eu pensava.

Lá, uma garota andava para frente e para trás com a cabeça inclinada.

Ela tinha cabelo colorido e brincos que brilhavam na luz. Enquanto me perguntava onde poderia tê-la visto antes, Yomiuri se aproximou da garota em modo trabalho total, voz clara e alta.

"Posso ajudar?" ela perguntou.

As costas da garota se arrepiaram, e ela se virou.

"Ah, hã, estou procurando um livro..."

"Hã? Ayase!"

Yomiuri se virou quando eu soltei o nome da minha irmã, assim como Ayase, que estava mais atrás. Por um momento, ela pareceu não me reconhecer. Não a culpei. Ela nunca me viu no meu uniforme de trabalho antes.

Sua boca ficou aberta, e Yomiuri já estava se lançando em sua direção como uma fera faminta atacando sua presa. Minha colega nunca perdia a chance de morder algo interessante.

"Você deve estar procurando um livro," ela disse. "Me deixa te ajudar."

"Ah, sim," respondeu Ayase. "Obrigada."

"Deixa comigo!"

A garota de roupa chamativa era incrivelmente educada, enquanto a voz da atendente séria e estudiosa vibrava de curiosidade.

Yomiuri, sua verdadeira natureza está aparecendo...

Empurrando o carrinho agora vazio, corri para a cena.

"Ei, você é a irmãzinha dele, né?" Yomiuri perguntou, apontando para mim.

"Ah, sim. Eu sou, eu acho. E, hã, você é...?"

"Meu nome é Shiori Yomiuri. Prazer em conhecê-la."

"Ah, então você é Yomiuri," disse Ayase.

"Nossa! Você é realmente bonita, como ele disse! Tão fofa!"

"Yomiuri, você parece um velho num bar...", eu disse.

"Oh-ho. Está dizendo que já foi a um bar? Você não é menor de idade?"

Quando me aproximei das duas, Yomiuri começou a brincar comigo. Se eu cedesse, perderia, então ignorei, dizendo que só estava me referindo a um estereótipo.

"Ayase, o que você está fazendo aqui?" perguntei.

Ela não estava fazendo nada estranho, mas eu me senti confuso, já que assumi que ela estaria ocupada estudando o dia todo.

"Vim comprar um livro," ela disse.

"Yuuta. Por que você não leva isso para os fundos primeiro?" Yomiuri apontou para o carrinho, e eu dei um suspiro.

Ah, é. Eu estava trabalhando. Tinha que priorizar minhas tarefas. Apesar da relutância em sair, empurrei o carrinho para os fundos. Assim que terminei, voltei para o salão de vendas na maior velocidade. Ayase e Yomiuri ainda estavam lá conversando.

"...Tão grande assim?" Yomiuri estava dizendo.

"Isso não é normal?" Ayase respondeu.

"Pessoas que dizem que são normais geralmente não são..."

O que elas estavam discutindo?

"Ah, Yuuta. Que rápido," disse Yomiuri. "Você voltou em exatos dois minutos!"

"V-você estava me cronometrando?" eu disse, ainda ofegante. Ela não tinha nada melhor para fazer?

"Foi só uma estimativa."

"Isso não conta. E ei, não foi você quem trouxe o carrinho?"

"Odeio jovens com bons instintos como você."

"Diga isso para Edward Elric... Então. Já perguntou à Ayase o que ela está procurando?"

"Ainda não."

Vamos trabalhar!

"Hmm, Asamura, eu vim procurar um livro de referência", explicou Ayase.

"Preciso para minha prova de recuperação. E aquele filme que você me contou - pensei em comprar o romance enquanto estivesse aqui..."

Parecia uma razão boa o suficiente para parar de estudar e ir a uma livraria - ou pelo menos, era assim que um protagonista denso de algum anime ou mangá pensaria. Mas humanos não são tão simples que um único motivo os levaria à ação. A vida real não funcionava assim. Ayase provavelmente não estava mentindo, mas neste caso... talvez ela também estivesse curiosa sobre meu local de trabalho. Ela parecia ter ficado interessada em Yomiuri também.

"Ah, você também está interessada nesse filme?", perguntou Yomiuri. "Hoje é o último dia.

Quer que eu vá com você a uma sessão tarde?"

"Ah, hmm, não precisa", disse Ayase.

"Ela tem que estudar", eu disse. "Por favor, não leve ela pro mal caminho."

"As flores do mal são belas porque se alimentam de sangue humano..."

"Isso simplesmente não é eficiente", retruquei. "Flores normais que só precisam de luz e água são claramente superiores."

"Ah, isso dói! Ok, chega de brincadeiras."

"Você é a única que está brincando."

"Como atendentes de livraria, temos um trabalho a fazer."

"E você foi a primeira a parar de trabalhar."

"Yuuta. Não temos tempo para conversa fiada durante o expediente. Precisamos ajudar esta cliente o mais rápido possível!"

"...Sem objeções aqui."

Ela percebeu que outros clientes estavam ouvindo nossa conversa e rindo? Eu estava louco para sair dali o mais rápido possível.

"Então, querida irmã do Yuuta", Yomiuri começou, "sobre aquele livro que você está procurando..."

"Meu nome é Saki."

"Hmm?"

"Saki Ayase."

"Ayase?"

"Saki Asamura também está bom. Mas aí você pode me confundir com meu irmão, então fique à vontade para me chamar de Ayase."

Tenho quase certeza que era a primeira vez que ela se chamava de Saki Asamura. O som disso certamente era estranho e novo para meus ouvidos. Mas pensando bem, pode ser que alguém me chame de Yuuta Ayase. E se eu me apresentasse assim? Ayase se sentiria como eu me sentia agora?

"Hmm. Acho que é por isso que o Yuuta te chama de Ayase. Então vou te chamar de Saki.

Agora, sobre o livro de referência. Deve estar ali na seção acadêmica, então por que não começamos encontrando seu romance?"

"Ok. E... Asamura?" Ayase se virou para mim. "Quero que você me fale sobre recomendações suas - qualquer coisa que ache que possa ser divertido ler."

"Eu?", perguntei, e ela acenou com a cabeça.

"Confio em você, já que lê muito. Filmes são caros demais, mas posso comprar alguns livros de bolso, e posso usá-los para melhorar minha compreensão de leitura."

"Exatamente!", entrou Yomiuri. "Uma das melhores coisas sobre romances é o custobenefício! Você realmente entende do assunto, Saki!"

"Você também pode assistir filmes com assinatura de streaming hoje em dia, sabe", eu acrescentei.

Mas isso me fez perceber algo. A maioria das pessoas decide comprar um livro baseado no custo. Como eu tinha um emprego de meio período, tinha dinheiro para gastar no meu hobby, e o custo era a última coisa com que me preocupava. Tirando livros acadêmicos, o preço nunca passaria de dez mil ienes.

Claro, eu pensava assim porque era um grande amante de livros. Maru já tinha me dito no passado como ficou chocado com minha falta de interesse em qualquer outra coisa. Eu não era ligado em moda como Ayase, e como resultado, considerava roupas de marca caras. Em outras palavras, o que constitui um preço razoável varia de pessoa para pessoa. Mesmo assim, Maru não era exatamente quem deveria falar, já que comprava um box de Blu-ray de anime caríssimo atrás do outro.

"Não sei se tenho algo para recomendar de imediato", eu disse. "Também não sei que tipo de coisa você gosta."

"Se 'Gap in the Blue Night' parece interessante para ela, por que não recomenda algo similar?", sugeriu Yomiuri. "Ela pode considerar o que ler depois baseado em quanto gostar desse."

Ela era uma funcionária experiente da livraria. "Ok, vou escolher alguns títulos da nossa coleção de light novels. Vou tentar pegar coisas não muito fantasiosas... mas primeiro, precisamos encontrar o romance que você quer. Será que ainda temos um exemplar?"

"Você fez um ótimo trabalho organizando ontem, mas já vendemos muitos para manter a exibição com a capa para frente", disse Yomiuri. "Você terá que procurar pela lombada. Muitos clientes não veem se só temos um exemplar, então ainda há uma chance."

Foi quando nosso gerente assistente chamou Yomiuri. Ela entrou em modo trabalho e recebeu uma ordem implacável para ajudar no caixa. Com um olhar de resignação, respondeu: "Estou indo."

Ela nos deixou com um aceno educado. Seja forte, Yomiuri. Não esquecerei o que você me ensinou.

"É difícil trabalhar no caixa?", perguntou Ayase.

"Na minha opinião, sim. É uma sequência interminável de interações curtas sem esperança de entendimento mútuo."

Ayase fez uma careta e cruzou os braços, esfregando-os. Ok, não é tão assustador assim.

De lá, levei ela até a seção de light novels e procurei por 'Gap in the Blue Night'. Não sabia se deveria ficar feliz ou triste que o livro não tava destacado na prateleira, mas o último exemplar ainda estava lá. Aparentemente, ninguém tinha conseguido encontrar ele.

"Você pode dar uma olhada nestes livros depois...", sugeri.

"Ah, eu li um mangá com este título", disse Ayase. "Não sabia que era baseado em um romance..."

"Eu esperava que fosse mais fácil para você pegar se fosse uma obra famosa com algumas adaptações diferentes."

Claro, nem todo mundo gosta do mesmo livro, mesmo que fosse popular. Você tinha que se identificar com a história.

"Os livros acadêmicos estão naquela seção. Você vê o pilar com o anúncio de vagas para meio período? Pode ser difícil ler o texto nesta iluminação, mas é só ir pra prateleira à direita."

"Ah, ok. Entendi... acho."

"Pergunte a um de nossos funcionários se não encontrar, ou pode voltar aqui, e eu mostro onde fica."

"Tudo bem. Sei que você está ocupado."

"Então vou voltar ao trabalho."

"Trabalho, hein? Esse uniforme fica bem em você."

"Ah, hmm... obrigado."

Mais do que feliz, seu elogio repentino me deixou um pouco confuso. Queria levá-la até a seção acadêmica eu mesmo, mas já tinha passado muito tempo conversando com ela, e realmente precisava voltar ao trabalho.

Com 'Gap in the Blue Night' e outros dois livros de bolso que recomendei sob o braço, Ayase foi para a seção acadêmica. Depois de ver o anúncio que mencionei, ela desapareceu atrás da prateleira à direita. Assim que a vi partir, voltei a organizar.

Me perdi no trabalho por um tempo, até que Ayase se aproximou de mim por trás. Me virei e a vi segurando um livro de referência grosso.

"Vou comprar isso e ir para casa. Obrigada por me ajudar apesar de estar tão ocupado."

"De nada."

Vi ela indo até o caixa e estava prestes a voltar ao trabalho quando alguém se aproximou de mim, desta vez pelo lado.

"Com licença. Pode me dizer onde fica o caixa?"

Me virei e vi uma senhora mais velha segurando uma revista grossa. Seu braço tremia com o peso. Ela puxava uma mala de rodinhas, mas devia ter pensado que deveria pagar pela revista antes de guardá-la. Fiquei me perguntando se ela conseguiria.

"O caixa é reto por este corredor e à sua esquerda. Hmm... quer que eu carregue sua revista?"

"Oh... não quero incomodar... Tem certeza que não se importa?"

"Sem problemas."

A senhora segurava uma cópia da revista feminina com o brinde de caixa de joias. Não é à toa que estava pesada. Carreguei a revista até o caixa e então me despedi dela.

"Obrigada, jovem", ela disse.

"De nada. Obrigado pela compra!"

A senhora colocou a revista na bolsa, fez uma rápida reverência e saiu da loja.

"Um momento, por favor."

Ouvi uma voz familiar do próximo caixa e olhei naquela direção. Era Yomiuri registrando a compra de Ayase. Ela já tinha pago, e Yomiuri deslizava uma bandeja com o troco em sua direção. Então começou a colocar capas de papel em cada um dos romances que Ayase tinha comprado.

"Você é rápida", disse Ayase, parecendo impressionada. Nenhuma delas parecia ter percebido a minha presença.

"Hmm, você se acostuma. Yuuta também é bem rápido, sabia."

"Yuuta... Ah, é, Asamura."

"Aqui estão seus três livros de bolso. Quer uma capa no seu livro de referência também?"

Num momento, Yomiuri conversava como uma amiga, e no seguinte, era uma funcionária educadamente atendendo sua cliente.

"Ah, não precisa", disse Ayase.

"Ok, senhora. Yuuta é a única adição nova desde que comecei a trabalhar aqui, sabia. Isso faz dele meu único novato. Bem, obrigada pela paciência, senhora", disse, colocando todos os quatro livros em uma sacola plástica e entregando a Ayase.

"Obrigada."

"Obrigada! Volte logo se quiser ver o Yuuta trabalhando!"

"Não é por isso que estou aqui."

"Meus sorrisos são gratuitos para você, Saki!"

Ela planejava cobrar dos outros clientes? Sem responder à conversa fiada de Yomiuri, Ayase saiu da loja. O próximo cliente já estava na fila, então voltei às prateleiras sem comentar.

Mais tarde, na hora de sair, Yomiuri veio até mim.

"Sua irmã é fofa."

"Ainda está falando disso?"

"Na minha idade, tenho que encontrar garotas jovens para sugar a essência, ou vou secar e virar uma casca."

O que ela é, um vampiro?

"Você não é muito mais velha que ela", eu disse.

"Você não entende, né? Há uma diferença entre estudantes do ensino médio e da faculdade.

Uma diferença enorme."

"Talvez eu nunca entenda."

"Mas ela era realmente fofa. Suas reações eram tão desprotegidas - toda vez que você aparecia, ela fazia essa expressão adorável... Yuuta, isso pode ser sério."

"Sério?"

"Sim."

Por um minuto, não tinha ideia do que ela estava dizendo. Mas quando vi o olhar brincalhão em seus olhos, caiu a ficha.

"Você não quer dizer... Impossível."

"Ah é? Tem certeza?"

"Eu continuo te dizendo - ela é minha irmã."

Eu não devia olhar para ela daquele jeito, e tinha certeza que Ayase também não me via assim.

Impossível.

Fui direto para casa naquele dia. Meus pais ainda estavam acordados, e jantamos juntos. Era um jantar tarde - quase dez horas -, mas eles tinham comido lanches e esperado por mim.

Fazia tempo que Akiko não cozinhava, e ela exibiu suas habilidades culinárias fazendo frango frito. Meu pai não parava de falar sobre como estava delicioso. Era incrível para mim que um cara da idade dele pudesse continuar agindo como um recém-casado por mais de um mês.

Ayase não estava no jantar. Meu pai e Akiko me disseram que ela já tinha comido e estava estudando em seu quarto. Fui dormir sem nem ao menos conseguir dar uma olhada nela.

Tradução: Thomasmasg
Revisão: Momoi

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