Volume 1 – Arco 1
Capítulo 33: Produção das armaduras vivas
Lucca, 1340, interior do casco do Colosso
Dois tanques, três arqueiros, dois especialistas em cura e cinco guerreiros.
Doze aventureiros de ranque equivalente ou abaixo a mestre verdadeiro.
Quatro grão-mestres verdadeiros: Rafun: o mágico não mago, Prilio: o cavaleiro do dragão, Edwin: um que sempre anda com o rosto coberto por um elmo quadrado e Fabry: um usuário de chakram — uma arma em formato de disco, que era uma alternativa para a classe que eu frequentemente escolhia em um RPG online.
Somados a mais dez cavaleiros do ranque mestre verdadeiro e contando comigo, totalizamos uma formidável equipe de vinte e sete pessoas.
A Selena e o Khajilamiv foram excluídos dessa missão, mas o Barão surpreendentemente me permitiu ir.
Sem nenhum plano miraculoso, nos infiltramos aqui com um perfume que anula a presença humana — semelhante ao colar que usei para passar pela seção de caça na prisão — graças as notas de um extenso caderno de observação dos comportamentos do colosso e dos monstros que habitam aqui, escrito por uma colaboração entre a Ampom, familiar com o colosso e uma das escoltas da família Lance, que protegiam a Selena a distância, uma diferente da que foi enviada para espionar o Visconde.
Iniciando a expedição de resgate, em um dos horários registrados pelo caderno, onde a atividade dos monstros e do colosso coincidiam em se cessar ou diminuir consideravelmente.
Escalamos, emprestando as montarias dos outros grão-mestres, mas os enviamos de volta, assim que chegamos perto da entrada.
Ou melhor, uma das entradas. Havia diversas opções de túneis, escolhemos o menor deles.
Começamos rastejando no chão instável de pedregulhos, formados por pedras elementais e artefatos quebrados, mas logo o túnel se conectou com outro, acabando com nossos esforços em sermos discretos.
Lá fora, havíamos identificado e imaginado que apenas 3 espécies de monstros coexistiam aqui dentro: os pássaros, que ajudavam a guiar o colosso em direção as preciosidades; as toupeiras, que construíam túneis para acomodar os monstros e organizar o espaço; e monstros misteriosos, completamente armadurados, ocasionalmente acompanhados de artefatos, que lutavam com quem tentasse invadir.
Mas além dos três grandes monstros, havia uma infestação de morcegos, ratos, insetos, lesmas amplificadas por artefatos que usavam como casa e outros típicos animais de caverna.
Enquanto lutávamos com esses, estávamos tranquilos, no entanto, não demorou muito para que uma das armaduras vivas desse as caras.
Obviamente, nos preparamos para isso e quando os grão-mestres sentiram que estavam prestes a serem descobertos, deram o sinal por meio de um artefato de comunicação e o Barão, do lado de fora, iniciou a entrega do cristal de mana, que acordou o colosso.
Os monstros se desnortearam e foram arremessados contra a parede, pelo movimento fora do programado do colosso.
Esperando isso, fincamos ganchos de escalada nas partes sólidas da parede e os grão-mestres criaram e amarraram cordas de mana, ligadas no coração de cada um, com a dupla função de não sermos destroçados enquanto o colosso se move e identificarmos imediatamente caso algum de nós entre em perigo, para conseguirmos nos separar e procurar pelo Trakov com mais tranquilidade.
Apesar de soar extremamente perigoso, eles prometeram que é seguro. E mesmo com meu problema de mana, consegui conectar a corda, com o custo de sugar quatro vezes mais mana que o normal, um problema inofensivo, já que estávamos rodeados por pedras elementais.
Falando nisso, conforme nos aprofundávamos na carapuça do colosso, mais todos se impressionavam com a quantidade e qualidade das pedras elementais que surgiam.
— Impossível... Como tem tantos prismas de mana!? — gritou um dos guerreiros aventureiros.
— Vendendo para a torre dos magos, ou melhor ainda, aperfeiçoando os prismas com algum ferreiro e vendendo como prismas perfeitos, o lucro seria abismal... — comentou outro aventureiro.
— Queria me impressionar também, mas sinceramente, não vejo a diferença entre os cristais daqui e os que iluminam toda cidade e são usados no dia a dia — comentei com Rafun.
— A classificação de pedras elementais é o seguinte: Migalhas que valem menos que uma fração de feito, luminares que valem mais como lamparinas que alimento para os feitiços dos magos, rochas irregulares, que começam a valer algo, rochas perfeitas, pedras imperfeitas e perfeitas, ou naturais e refinadas, dependendo da região, pedras metalizadas, metais elementais, preciosidades e tesouros, cristais, cristais refinados, prismas e prismas perfeitos.Todos esses valem progressivamente mais dinheiro.
— Por isso o espanto? É porque que os prismas estão no topo da raridade das pedras elementais?
— Parei por aqui, já que dificilmente vai ver algo acima dessa raridade, mas depois dos prismas, ainda existem os discos, orbes, globos e assim por diante. Os magos sempre acabam descobrindo uma raridade nova.
— Nessa lista, onde se encaixa o cristal que mantém a nossa barreira?
— Um abaixo desses prismas que vemos aqui.
— Por que o colosso está interessado, quando já tem tantos?
— A ordem do seu raciocínio está errada. Ele só tem tantos, porque adora pedras elementais.
Caminhando, distraídos com o brilho dos cristais e prismas abundantes, um dos aventureiros tropeçou em um novo tipo de monstro e quase foi abocanhado no pescoço.
Ele foi puxado por um companheiro, que caminhava ao lado, mas quando ele tentou revidar o ataque, sua espada cravou no chão.
Os arqueiros dispararam flechas e os cavaleiros desferiram mais golpes, porém, nada parecia funcionar.
— Será que são sombras, pesadelos ou replicadores?
Para os aventureiros, qualquer um desses seria uma sentença de morte, já que esse tipo de monstro era imaterial e todos os ataques disponíveis, sem os magos, eram materiais.
Porém, os grão-mestres puxaram um artefato em formato de ovo, giraram e jogaram no chão, chacoalhando e emitindo uma fumaça que matou instantaneamente os monstros.
— Algumas dezenas de milhares de Kal, desperdiçados sem nem hesitar... — um dos aventureiros guardou a carcaça sem valor do artefato usado, talvez para oferecer como lembrança para um dos amigos, quem sabe.
O clima relaxado foi cortado de vez, quando inevitavelmente, nos deparamos com um pássaro, que chamou reforços e fez as armadilhas, engenhocas estranhas que ignoramos até agora, começarem a se mover.
As armadilhas claramente não se moviam de acordo com o comando do pássaro, visto que alguns aliados dele foram feridos no fogo amigo, e nem eram ativadas pelo som, já que conversávamos em voz alta, muito antes.
Sem tempo para teorizar, tive que me agarrar na corda de mana, já que o chão se abriu bem debaixo dos meus pés, quase me derrubando em uma queda que seria mortal.
Os pássaros foram rapidamente derrotados pelos grão-mestres, mas as armadilhas continuaram surgindo.
Com tantas delas dificultando nosso avanço, começamos a suspeitar que havia mais uma espécie de monstro que fosse capaz de usar mana, vivendo dentro daqui.
— Vamos nos dividir em dois.
Em uma separação injusta, com todos os grão-mestres de um lado e aventureiros do outro, a intenção dessa ordem era clara:
“Se deixarmos esse peso morto para trás, a missão será concluída mais facilmente.”
Tentei ir com o grupo mais forte, mas fui recusado.
Nos separamos definitivamente em uma bifurcação, onde os grão-mestres fizeram a análise de qual lado emitia menos mana, lado supostamente mais seguro, que fomos forçados a ir.
Em relação as armadilhas, nada mudou muito, graças a experiência deles nesse tipo de coisa, mas no combate, a diferença se tornou clara.
Pela primeira vez nessa expedição, tive que empunhar uma arma e batalhar ao lado dos guerreiros na linha de frente.
Eles estavam sincronizados entre si, mas eu confesso que atrapalhei um pouco a formação deles.
Felizmente, como previsto, apenas nos deparamos com os monstros menores e dois dos maiores. Nada fora da nossa capacidade.
Mas na primeira pausa que fizemos, comecei a suspeitar a falta do encontro com as armaduras vivas.
— Talvez eles estão ocupados, carregando aquele cristal gigante do Barão — disse um dos guerreiros.
— Ou a função deles é só proteger a entrada — discordou, o especialista em cura.
— Será que são ilusões? — Vendo os olhares de quem foi espancado forte o suficiente para perceber o contrário, me contive em propor outras sugestões.
Me levantei e sai para dar uma volta.
— Não vá muito longe!
— Eu sei, eu sei...
Minha contínua e repetitiva incapacidade e fraqueza, com essas últimas lutas, finalmente começou a me incomodar.
Na verdade, já sentia isso faz um bom tempo, mas só agora isso se tornou forte o suficiente para eu ter que verbalizar o quão inútil eu estava sendo.
Em minhas mãos, a única arma secreta que possuía era minha imunidade a magias, mas sempre me provava medroso demais para conseguir utilizar isso efetivamente, com a terrível imaginação de que, no caso específico que estava me deparando, essa imunidade falharia.
Idealmente, eu serviria como um escudo mágico, mas por medo de me colocar na frente dos ataques, só atrapalhava, em uma função que requeria mais proficiência na espada do que possuía.
Ou ao menos, que poderia mostrar.
Claro, nesse meio tempo, tentei aplicar minha inata inúmeras vezes, para criar um ambiente desfavorável para o colosso, porém, minha habilidade realmente era apenas previsão e não controle do tempo.
Fora o espaço enorme entre o meu palpite e a confirmação de se acertei ou errei.
Vendo uma lesma passar diante de mim, tive uma ideia.
“Talvez minha falta de itens bons seja o problema!”
Comecei a escavar as paredes e o chão, vasculhando por artefatos úteis em combate, testando de cinco em cinco achados.
Mas quando fui provar uma armadura, que verifiquei três vezes para ter certeza de que não estava habitada por monstro, nem espírito algum.
Senti algo de errado.
“Será que é uma armadura amaldiçoada que ficou presa no meu corpo?”, retirei com facilidade.
— O que será que está errado?
Esperei para ver se era veneno, armadilha ou algum tesouro secreto, mas não percebi mais nada.
— Será que... — Ao fechar meus olhos e me concentrar por vários minutos, comecei a perceber a mana e vi que a corda sumiu. — Droga.
Para não me perder, tentei voltar pelo mesmo caminho que a linha percorria, de acordo com a minha memória, mas como tudo parecia igual nessa caverna, só me enfiei em um lugar mais esquisito ainda.
Lutei contra algumas ratazanas e monstros menores no caminho, até que eventualmente me deparei com uma sala cheia de armaduras, o que me congelou de susto, por alguns segundos, mas suspirei tranquilo ao ver que eram apenas armaduras comuns.
Entrando na sala, ouvi um barulho de passos apressados, baixos e que pareciam ter garras, então me escondi debaixo de um monte de tralha.
Torcendo para não ser pego, vi um grupo de toupeiras arrastar quatro corpos humanos para dentro da sala, se curvarem diante de uma armadura gigante e diferente das outras, fundida com diversos outros artefatos e claramente modificada, criando um aglomerado bizarro de metal, que soltava vapor a cada menor movimento que seja.
“Uma máquina? Será que esse é um dos híbridos do laboratório central?”
De um dos seus muitos dedos, a máquina produziu uma linha de mana, semelhante a que os grão-mestres criaram, porém bem mais fina e imperceptível.
Então manuseou os corpos com cuidado, escolhendo calmamente uma das armaduras que servisse e fazendo um processo longo de encaixe preciso, lacrando as partes removíveis com fogo.
Verificando, ao mover seu próprio braço, como a armadura reagiria.
Com alguns minutos de prática, essa máquina viu que a armadura respondia perfeitamente aos seus comandos, então foi para a próxima pessoa e fez o mesmo.
Um azarado, acordou no processo e foi espancado até que desmaiasse.
As toupeiras começaram a tremer de medo e uma delas foi escolhida para ser punida.
A armadura segurou a toupeira e com um aperto mecânico, a esmagou.
Então continuou com o processo.
“Todos aqueles, também eram humanos?”, eu tinha o dever de compartilhar essa descoberta com os outros.
Talvez alguns ainda estivessem vivos, talvez alguns poderiam ser poupados.
Com um sinal de aprovação, o restante das toupeiras carregou as armaduras para outra sala. E a armadura gigante saiu por último.
Cogitei seguir as toupeiras, para ver o resto do processo, mas percebendo que a semelhança nas cordas de mana poderiam ser uma fraqueza significativa nas batalhas, vendo que a armadura parecia ser capaz de controlar os fios de mana livremente, parti pelo caminho contrário, na esperança de encontrar com um dos grupos, na sorte.
Mas o que encontrei foi a máquina.
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