Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 16: Principio do Fim.

Dezenas de metros abaixo da terra, em um calabouço moldado de tijolos, Garrik era escoltado por outros elfos até uma cela. Seu braços e pernas estavam acorrentados uns aos outros, seu pescoço possuía uma coleira semelhante aos tijolos ao redor.

 — Fique aqui. Logo sua pena será decidida. — Sebastian empurrou Garrik para dentro da cela, o derrubando no chão.

— Seu… — Garrik rapidamente se levantou e tentou golpeá-lo, mas foi impedido pelas grades da cela se fechando diante dele. Sua força estava sendo drenada aos poucos pelo local ao seu redor, o impedindo de usar sua força total. — Maldito! Me solte imediatamente!

— Se não, o que? — disse Sebastian, direcionando um olhar frio e seco em direção a ele.

 Ao entender as palavras de Sebastian, Garrik ficou de joelhos e tapou o rosto, lembrando do massacre que viu na biblioteca mágica, a sombra da morte o rodeava constantemente.

— Tsc… — Sebastian deu as costas a Garrik, deixando alguns guardas para vigiá-lo e abandonando o calabouço.

 Enquanto Sebastian e Garrik tinham sua conversa, Hayakaz e Hexoth saltavam do outro lado da fenda, se deparando com uma enorme e densa floresta. As árvores cobriam quase todo o céu, deixando poucas frestas de luz atingirem o chão, tornando-a em uma mata extremamente escura e tenebrosa.

— Eu tava esperando algo mais convidativo — falou Hayakaz, olhando ao redor em busca de informações.

— Eles são conhecidos do Garrik, isso é bem a cara dele…

— Alto! Identifiquem-se! — De repente, dúzias de elfos arqueiros surgiram nas árvores com arcos em punho e mirados nos dois.

— Parece que começou… — sussurrou Hexoth, soltando sua katana. — Acalmem-se, nós viemos para uma audiência com os líderes de sua aldeia.

 Os elfos se entreolharam, desconfiados e alarmados com os dois. Hexoth e Hayakaz logo perceberam a situação e invocaram suas armas.

— Bom, eu tentei. Hora do genocidio! — Um sorriso perturbador surgiu no rosto de Hexoth, que não exitou em liberar sua mana intimidadora, fazendo vários elfos caírem inconscientes no chão.

 Hexoth desembainhou sua katana, revelando uma aura sombria imensa ao seu redor, e logo iniciou seu corte, mas antes que seu corte fosse completo, uma voz ressoou pela mata densa:

— Acalmem-se, meus jovens. — De repente, um elfo surgiu no centro do embate. Ele possuía uma pele levemente mais clara que a de Garrik, mas ainda muito escurecida, seus cabelos eram completamente brancos e longos, diferente dos outros elfos que eram loiros de cabelos curtos ou amarrados, portava vestes refinadas e de alta qualidade, estampando sua nobreza ao olhar de todos.

— Ancião! Afaste-se, por favor! — implorou um dos elfos, lutando para se manter de pé.

— Fique tranquilo, pequeno. Eles são nossos convidados, eu mesmo tratarei disso. E também, quero evitar mortes desnecessárias, vocês sabem. — respondeu ele, amenizando a situação. — Me sigam, senhores.

 Logo após isso, o ancião acompanhou os dois até a aldeia, um local constituído apenas de elfos. Todos eles tinham muitas características em comum, desde seus cabelos loiros e pele enegrecida, às suas vestes semelhantes a armaduras e roupas de gala, mas a principal característica era o respeito que todos tinham pelo ancião, sempre o comprimentando assim que o viam.

 Hayakaz e Hexoth ficaram impressionados com a enorme quantidade de magos de fogo que viam ao seu redor, eles nunca tinham visto tantos juntos antes. Enquanto caminhavam pela aldeia, Hayakaz e Hexoth notaram que a maioria das casas tinha chaminés altas e largas, indicando que a magia de fogo era usada para aquecer as casas. Eles também viram muitas pessoas trabalhando em forjas, moldando metal com a ajuda de suas magias.

— Vocês tem muitos piromantes, né não? — disse Hayakaz, abismado com a visão.

— Oh… sim, sim. Em nossa aldeia, desde milhares de anos atrás, nós usamos apenas magia de fogo, é nosso orgulho e determinação…

 “Magia de fogo? Então ele…”, pensou Hexoth, apenas ouvindo a conversa.

— Mas não se preocupem, meus jovens senhores, afinal, sempre tomamos muito cuidado para não machucarmos alguém com esse poder — falou o ancião, levando os dois em direção a um grande casarão no centro da vila.

— Parece que chegamos. Está tudo pronto? — perguntou Hexoth.

— Só um momento, meus jovens. Eu vou anunciar para os governantes que os senhores chegaram, me deem apenas um minuto.

 O ancião adentrou o casarão e rapidamente fechou a porta, com sua voz sendo ouvida como nada mais que um sussurro do lado de fora, e então retornou para a entrada, sinalizando para que os lordes entrassem no local.

 Os portões majestosos da casa principal se abriram para receber os imponentes lordes, que sabiam que estavam entrando ainda mais em território inimigo. O ancião, com sua barba longa e branca, os cumprimentou solenemente, enquanto diversos nobres aguardavam em seus tronos de ébano.

— Sejam bem-vindos, nobres senhores. Mais uma vez, é uma honra tê-los em nossa humilde morada — proclamou o ancião, sua voz ecoando como um murmúrio sábio.

— É uma honra para nós estarmos diante dos maiores líderes de Flammendorf. — Hexoth então se curvou diante deles, com Hayakaz o fazendo logo em seguida. 

 Um calafrio atravessou o corpo dos dois quando Sebastian, culpado do sequestro de Garrik, surgiu diante deles realizando uma reverência graciosamente calculada. Seus olhos penetrantes analisavam cada detalhe, dando aos lordes a mais clara certeza de que ele sabia sobre suas intenções.

— Muito prazer. Sou Sebastian, o líder da guarda demoníaca. Estamos aqui para discutir a possibilidade de uma aliança entre vosso exército e a resplandecente aldeia de Flammendorf — anunciou Sebastian, acentuando cada palavra com uma determinação que ecoava como trovões distantes.

— Espero que não se importem de termos nosso grande líder da guarda em nossa reunião — falou um dos nobres, com um sorriso malicioso no rosto.

 Os lordes acenaram com a cabeça e logo eles e os governantes se sentaram ao redor de uma mesa ornada com runas antigas, símbolos de poder e alianças. Os lordes guiaram as negociações como se realmente tivessem a intenção de se aliarem a eles, sempre com os olhos em Sebastian, que permaneceu em silêncio durante a reunião inteira, e após algumas horas de discussão, um dos nobres sussurrou algo para o ancião, que disse:

— Agradeço pela paciência, nobres senhores. Confiem em mim, tomaremos uma decisão sábia para o bem de ambas as partes, mas meus senhores desejam um tempo para tomarmos nossa decisão, se possível.

— Não temos objeção nenhuma sobre isso, caros líderes. Faremos assim, partiremos hoje e retornaremos em três dias, temos um acordo? — propôs Hexoth.

— Claro, senhor Hexoth. Três dias é muito mais que o suficiente.

— Certo. Então partiremos agora…

 Os lordes, respeitosamente, se retiraram da casa principal, marchando em direção a mata densa ao redor da floresta. Quando tiveram certeza de que não estavam sendo observados ou seguidos, Hayakaz disse:

— Parece que não vai ser facil…

— Sim… Teremos que agir ao anoitecer, e temos que ser rápidos.

— Do nosso jeito? — Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Hayakaz.

— Do nosso jeito!

 O som dos passos ecoava pelos corredores sombrios da prisão, reverberando pelas paredes frias e úmidas. Dartanham, sentado em sua cela, percebeu a presença antes mesmo de ver Adão surgir com sua máscara metálica, seu sorriso sarcástico revelando uma intenção obscura.

— Não deveria estar aqui… O que você quer? — Dartanham murmurou, seu olhar fixo no intruso.

— Eu só queria uma conversa, velho amigo. Há muito tempo não nos encontramos. — Adão, com sua aura sinistra, cruzou os braços, observando Dartanham com um brilho desafiador nos olhos. 

Dartanham permaneceu em silêncio, sua desconfiança pairando no ar como um trovão prestes a desferir seu golpe. De repente, Adão quebrou o silêncio da sala.

— Eu realmente não acreditei quando descobri que você tinha traído aqueles três. Eu sabia que você era bom nisso, mas até aqueles três?

— Diga o que quiser, eu sei o que estou fazendo. Não pense que eu vou deixar o seu plano ridículo funcionar sem nem lutar.

— “Plano ridículo”? Essas são palavras muito fortes. Eu diria que é uma missão de vida de um messias.

— Messias? Não me faça rir, você sabe que o passado não pode ser mudado… e a vingança não vai te levar a lugar nenhum, Adão.

— Eu não vou saber por ele em prática, não é mesmo? E agora, tem uma pequena pedra no caminho desse plano…

— Ainda há tempo para…

 De repente, Adão lançou-se para frente, atacando Dartanham com uma velocidade surpreendente. — Cale-se! Você é o pior tipo de lixo deste mundo! — Os golpes ressoavam, ecoando pelos corredores desolados, para no fim revelarem que os golpes apenas libertaram Dartanham de seu selo.

— Agradeço pela ajuda, essas amarras já estavam desconfortáveis — falou Dartanham, alongando suas juntas.

 Adão novamente saltou na direção de Dartanham, iniciando uma coreografia caótica de movimentos ágeis. No entanto, ele percebeu que a força bruta de Dartanham era esmagadora, o forçando a empregar círculos mágicos como meio de ataque. No entanto, para a surpresa de Adão, essas defesas mágicas provaram-se frágeis diante dos punhos formidáveis de Dartanham, sendo desmanteladas e desfeitas com uma facilidade que revelava a discrepância de poder entre os dois adversários.

 Desesperado, Adão recuou, concentrando-se em sua magia negra. Palavras inaudíveis caíram de seus lábios, e um feitiço sombrio se materializou no ar. O feitiço serpenteano contornou o antigo guerreiro, mas Dartanham, como uma sombra ágil, esquivou-se dos primeiros ataques mágicos. O confronto tornou-se uma dança perigosa entre o físico e o místico.

— Você não mudou nada, Adão. Ainda é impulsivo e previsível — desdenhou Dartanham, arremessando blocos de terra na direção de Adão.

 Enquanto Adão desviava dos blocos de terra, a prisão era completamente destruída, não deixando nada além de uma zona de guerra para trás.

 Dartanham, agora diante do brilho da lua no céu, estava decidido a terminar essa luta de uma vez por todas.

Maldição Desperta, Luar Absoluto! — As palavras ressoaram pelo ambiente, como se fossem um antigo chamado ecoando através do tempo. O encantamento percorreu o espaço, vibrando na atmosfera e convocando à existência sombras há muito adormecidas. A magia, assemelhando-se a fios invisíveis, começou a tecer sua influência ao redor de Dartanham, dando início a uma transformação de natureza sinistra. A escuridão, distante de ser um vazio inexpressivo, adquiriu profundidade e riqueza, envolvendo Dartanham em um manto que transcendia a obscuridade usual. Era como se a própria essência do luar tivesse sido corrompida.

Quando as sombras finalmente se dissiparam, Dartanham emergiu revestido por uma armadura completamente negra. Um imponente par de asas, também enegrecidas, se desdobraram majestosamente em suas costas, enquanto a silhueta de uma lua cheia se projetava acima de sua cabeça, como se estivesse eternamente ligada ao seu ser transformado.

reataram sua dança mortal, entrelaçando-se em uma troca frenética de golpes e feitiços. Apesar do considerável arsenal de poder mágico à disposição de Adão, viu-se recuando incessantemente diante dos implacáveis ataques de Dartanham. Este último, sem hesitação, persistia em encurtar a distância entre eles, conduzindo Adão a uma posição cada vez mais apertada, onde as opções de defesa e contra-ataque começavam a se dissipar como fumaça.

— Eu não vou cair aqui! Eu sou o messias que trará a vingança! — falou Adão, conjurando lanças de magma e as arremessando na direção de Dartanham, que apenas as destruía com os punhos.

 Inicialmente, Adão exercia um domínio incontestável, mantendo Dartanham sob controle e gradualmente ganhando vantagem. Contudo, o cenário alterou-se abruptamente, e ele se viu em uma posição desfavorável. O braço de Dartanham perfurou implacavelmente o seu peito, causando uma perfuração devastadora que comprometia seus órgãos vitais de forma gradual e inexorável. O que antes era um domínio seguro tornou-se uma reviravolta impactante, invertendo o curso da batalha de maneira irreversível.

— Está acabado… Adão.

— Hahaha…

 De repente, os olhos de Dartanham se encheram de preocupação, rapidamente virando seu corpo para a direção oposta, mas, inevitavelmente, sendo acertado por um feitiço, envolvendo seu corpo em uma explosão de energia sombria.

Lança do Anjo Caído!

 Enquanto Dartanham estava imerso em lutar, Adão cuidadosamente colocou círculos mágicos em pontos estratégicos, gerando uma explosão de energia que apagou todo o local em segundos, deixando apenas uma enorme cratera para trás.

 O antigo guerreiro, agora enfraquecido, permaneceu de pé, sua expressão imperturbável. Adão, triunfante, sorriu com uma satisfação maligna enquanto seu clone se desfazia em sombras.

— Esta é a era da mudança. Uma nova era em que o poder verdadeiro prevalecerá. Você é apenas um vestígio do passado que precisa ser apagado.

 Dartanham, apesar da derrota iminente, manteve a dignidade em seu olhar. Enquanto sua forma se desfazia, ele sussurrou palavras que ecoaram como um eco sombrio na mente de Adão.

— A verdadeira força não é medida pela magia ou pela força bruta, Adão. Veremos quem terá a última risada nesta nova era que você tanto proclama.

 E assim, Dartanham se desfez em sombras, enquanto Adão contemplava o resultado de sua vitória sombria, sem perceber que estas mesmas palavras haviam plantado sementes de dúvida em sua mente. O palco agora estava pronto, sem a presença de coadjuvantes.



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