Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 4: Sonho Corrompido.

Durante a apresentação do castelo, Dartanham mostrou diversos cômodos para os três, desde uma cozinha extremamente arrumada até uma sala quase vazia, com apenas uma grande mesa redonda rodeada de cadeiras, que era onde eles estavam.

— Bom, agora falta somente nossos quartos. Estou certo, servo? — disse Garrik, sentado em uma das cadeiras.

— Está correto, meu lorde, porém há algo que eu devo fazer para os senhores antes disso — disse Dartanham, com a coluna curvada fora da mesa.

— O que seria? — falou Hexoth.

— É algo simples. Prometo não demorar. — Dartanham levantou sua cabeça. — Eu vou trazer para a realidade o desejo mais forte de cada um dos senhores. Isto foi pedido diretamente pelo Grande Deus Lucifer.

— Ele disse o motivo disso?

— Ele apenas me deu a ordem de fazer isto e disse que fazia parte de seus planos.

— Se é uma ordem direta, vamo nessa — falou Hayakaz, indo na direção de Dartanham.

 Dartanham guiou os três lordes para suas posições respectivas, e ao iniciar o ritual, três coisas começaram a se materializar: Uma enorme espada, tão grande que seria difícil de usar; Um enorme quadro de uma elfa de longos cabelos prateados, pele extremamente branca e olhos dourado; E por fim, um peixe com quase o tamanho da sala.

— Calma! O seu maior desejo é um peixe gigante, Hayakaz?! — perguntou Hexoth, incrédulo.

— Como você sabe que é meu? Eu não disse nada!

— Porque ele não é meu e não tem como ser do Garrik, ele não gosta de peixe!

 Hayakaz parou por um segundo e respondeu: — Droga.

— Bom, o que seria isso, Dartanham? — Garrik apontou para a espada.

— Este é o seu maior desejo, meu lorde.

— Eu não sei o que é isso. De onde veio essa espada?

— Bom, se eu tivesse que chutar, eu diria que ela pode ser de algum dos Sete Pecados.

— E por que eu desejaria algo dos Sete Pecados?

— Entendo… Então o senhor não se lembra.

— Lembrar de que? Diga de uma vez, chega de enigmas.

— O senhor era o responsável pelos Sete Pecados, meu lorde.

— O que está dizendo? Eu sou um dos Sete Pecados?! Eu não me lembro de nada disso!

— Não, meu senhor. O senhor não é um dos Sete Pecados, eles obedecem o senhor, como se fossem seus servos.

— Por que eu não me lembro de nada disso? Eu tenho certeza que lembraria de algo assim!

— Eu não sei, meu senhor, mas creio que possa ser uma amnésia causada por despertar, ou seja, o senhor está com amnésia por ter dormido por tanto tempo.

— Argh! Isso me causou até dor de cabeça. — Garrik se sentou com as mãos na cabeça.

 Quando Dartanham voltou seu olhar para os outros lordes, Hayakaz já havia comido todo o peixe.

— Cuidado para não ter indigestão, Hayakaz — disse Hexoth.

— É que… chomp chomp… isso ta muito… chomp chomp… bom. — Hayakaz cuspiu os ossos do peixe.

— Bom, se o peixe era do senhor Hayakaz, então por eliminação, o quadro deve pertencer ao senhor, senhor Hexoth.

— Você está certo… Não pensei que fosse ver isso de novo, fazem mais de trezentos anos que eu pedi para pintarem ela… — Uma lágrima começou a escorrer dos olhos de Hexoth.

— Então… essa seria ela, meu lorde?

— Ah… Então você sabe sobre ela… a Hen…

 Os quatro ficaram em silêncio, então Hayakaz disse: — O clima ficou meio pesado aqui… melhor mudarmos de assunto?

— Você está certo, meu lorde. Posso lhes dar uma ideia de plano que os senhores poderiam fazer? Eu já tenho um próximo passo planejado, se me permitem dizer.

— Contanto que não seja uma ideia idiota — falou Garrik, desviando o olhar na direção de Hayakaz.

 Após se sentarem, Dartanham colocou um papel com um círculo mágico desenhado no centro da mesa, e logo uma projeção de uma torre surgiu no centro da mesa.

— Certo. Como os senhores estão com poucas de suas memórias, e não temos tantas informações sobre o que aconteceu nesses últimos séculos, eu deduzi que a melhor ideia seria buscar por informações e juntar forças o mais rápido possível. Com isso em mente, eu encontrei essa biblioteca mágica, e creio que dentro dela possa haver informações sobre os exércitos demoníacos e sobre os Sete Pecados. Seriam dois coelhos com uma cajadada só. — Dartanham mostrou a projeção.

— Entendo. Então podemos encontrar informações sobre os Sete Pecados nesta biblioteca? — perguntou Garrik, com uma de suas mãos massageando sua testa.

— Está correto, meu lorde, mas além disso, poderíamos encontrar informações sobre todas as coisas que aconteceram com o mundo nesses últimos anos.

— Espera. O Grande Mestre Lúcifer não possui nenhum informante no mundo humano? — perguntou Hayakaz.

— Creio que possui, mas com todos os preparativos para o despertar dos senhores, ele não tem entrado em contato com os seus informantes.

— Saquei.

— Certo. Basta enviarem tropas para reunir informações, afinal, é para isto que temos servos — falou Garrik.

— Infelizmente, ainda não nos foi disponibilizada nenhuma tropa de análise, meu lorde.

— Então o seu plano seria: Irmos até lá e “pedir educadamente” para eles cederem informações? — Garrik fez sinais de aspas com as mãos.

— Felizmente, não há mais nenhum ser vivo nesta biblioteca. Isto deve facilitar a situação.

— Entendo. Então creio que está tudo resolvido. Vamos para lá.

— Vou preparar o portal imediatamente, meus senhores.

— Adoro quando eu não preciso dizer nada e as coisas se resolvem, não é, Hexoth? — Hayakaz abriu um sorriso.

— O Garrik é o nosso estrategista de guerra, afinal de contas — respondeu Hexoth.

 Após se organizarem, os quatro se reuniram em frente a um grande círculo de pedras com símbolos desenhados.

— Supere os limites do espaço, distorcendo a realidade ao meu redor, e realize meu desejo de conhecer todo o mundo, Fenda Espacial. — Dartanham preparou o ritual.

— Vocês sabem que agora os quatro reinos sabem que estamos vivos, então a segurança dos reinos vai ser muito maior — disse Hexoth.

— Se não tivesse um desafio, não ia ter graça nenhuma — falou Hayakaz.

 Após alguns segundos, os símbolos desenhados nas rochas começaram a brilhar em vermelho, e então, um enorme rasgo surgiu em frente a eles.

— Está feito, meus senhores. Infelizmente não consigo os mandar diretamente para dentro da biblioteca, parece ter alguma barreira, então os mandarei para a frente dela. Vou reabrir a fenda assim que os senhores assim desejarem.

 Hayakaz ignorou Dartanham e pulou para dentro da fenda. Ao ver isso, Hexoth disse: — Não liga pra ele. Ele só precisa de um tempo para digerir tudo que aconteceu com o Elphaseus. Não foi sua culpa.

 Os outros dois logo pularam para dentro da fenda, e do outro lado, encontraram uma enorme floresta. Depois de andarem um pouco pela mata, eles encontraram uma grande torre feita de tijolos soltos e desgastados.

— É aqui? Parece meio pequeno para uma “Grande Biblioteca” — Hayakaz coçou a cabeça.

— O Dartanham disse que era aqui, então deve ser mesmo, apesar dos pesares — respondeu Hexoth.

— Vamos entrar de uma vez! — Garrik acelerou o passo.

 Quando estavam prestes a entrar na torre, um enorme peso caiu sobre os três, deixando os três com dificuldade de se mexer, era uma presença absurdamente poderosa.

— Mas o que?! — Hayakaz procurou a origem da presença, e logo se deparou com um enorme lobo negro os observando de dentro da floresta.

 “Faz muitos anos, Lorde Garrik…” Uma voz ecoou no local.

 Quando olhou para o lobo, Garrik arregalou os olhos, um sentimento de familiaridade tomou seu corpo, mesmo ele não sabendo quem ou o que era aquele lobo. Após cruzar os olhares com Garrik, o lobo se virou e pulou floresta adentro, levando a pressão junto.

— O que foi isso?! — Hayakaz sentou no chão.

— Aquela coisa não era normal — falou Hexoth.

— Se ta bem, Garrik? — perguntou Hayakaz.

— Não é nada… só vamos entrar logo.

 Ao entrarem na biblioteca, os lordes entenderam por que Dartanham recomendou esta biblioteca. Por dentro, ela era quase cinco vezes maior do que por fora, permitindo que centenas de livros fossem guardados em suas prateleiras.

— Uou! Isso sim me surpreendeu — disse Hayakaz.

— Vamos nos separar, assim poderemos reunir mais informações em menos tempo. — Garrik chamou a atenção dos outros dois.

 Os outros dois concordaram com a cabeça e, logo depois, se separaram. Conforme ia olhando o conteúdo dos livros, Garrik jogava os livros lidos no chão.

“Quanta coisa inútil. Não há nada que realmente possa me ajudar aqui” pensou Garrik, tateando os livros.

 Após jogar muitos livros no chão, Garrik encontrou uma capa que lhe interessou: “Os 7 Pecados Capitais”.

Após muitas guerras, finalmente juntamos as informações necessárias para escrever este livro. Para quem o ler, os chamados “7 Pecados Capitais” são monstruosidades com o poder para destruir uma nação inteira sem dificuldades — leu garrik em voz alta — eles são demônios de alto escalão, no exército demoníaco. Como os pecados da Luxúria, Inveja e Ganância desapareceram a centenas de anos, antes de conseguirmos informações, falaremos apenas dos outros quatro, por hora. — Garrik parou por um segundo. — Vocês dois. Encontrei algo importante. Venham aqui.

— Ótimo! Esse era o quinto livro sobre tomates que eu encontrei. Pra que tantos livros sobre tomates?! — Hayakaz saiu de uma pilha de livros.

 Após se juntarem, Garrik voltou a ler: — Comecemos pelo Pecado do Orgulho: Conhecido como O Demônio Anarquista, ele possuía uma repulsa enorme a reinos humanos, e somando isso ao seu enorme poder, ele foi capaz de destruir dezenas de reinos sem deixar rastros, além de ser o responsável pela destruição de Camelot. Sua magia consistia em uma enorme manipulação de lâminas de energia, capazes de cortar até mesmo o mithril. Sobre o Pecado da Ira e o Pecado da Gula: Conhecidos como Os Irmãos da Catástrofe, os dois, além de serem irmãos, estavam sempre juntos, o que tornava quase impossível um combate vitorioso para nós, humanos. As magias dos Pecados da Ira e da Gula consistiam em, respectivamente, criação de Shikigamis, seres feitos puramente de mana, e transformação. Sobre o Pecado da Preguiça: Conhecido como O Demônio Angelical, o Pecado da Preguiça desapareceu na mesma época em que os Três Grandes lordes surgiram, então acreditamos que ele deve ter morrido em um combate com eles, porém descobrimos que sua magia consistia em manipulação do sono.

— Então, os que temos mais chance de encontrar são o Orgulho, Ira e Gula — disse Hayakaz.

— Basicamente isso. Mas não acho que será tão fácil quanto estamos pensando. — Hexoth coçou o queixo.

— No começo fala que juntaram bastante informação, mas não tem muita coisa.

— Eu nunca vou entender os humanos. Bom, agora precisamos continuar procurando, não é como se a gente tivesse outra coisa para fazer.

 Os três novamente se separaram, mas dessa vez não durou tanto: — Ei! Tem uma coisa aqui — disse Hexoth tocando em um enorme cristal laranja. Após tocar o cristal, Hexoth arregalou os olhos, de repente ele se viu em uma cidade, aparentemente na periferia.

— Mas o q… — Antes que ele pudesse terminar, uma fumaça negra tomou o ar, seguida de um cheiro podre. — Não… não, não. Isso só pode ser um sonho. Com certeza é um sonho. É UM SONHO! — Hexoth colocou as mão na cabeça.

 “Hexoth…” Uma voz ecoou na mente de Hexoth.

— Essa voz… não… — Hexoth levantou a cabeça e reparou em uma enorme fogueira, com alguém dentro. — Eu já entendi… Eu sei que foi minha culpa… Por favor, façam isso parar… por favor. — Hexoth caiu de joelhos, com os olhos cheios de lágrimas. De repente, tudo foi coberto por uma escuridão.

 “Aquilo foi sua culpa?” Uma voz novamente ecoou no meio das sombras, mas Hexoth continuava em silêncio.

 “Você ainda não está pronto, Hexoth” Quando a voz terminou, a escuridão começou a se desfazer, voltando para biblioteca.

— Hexoth! O que aconteceu, cara. Por quê você tá chorando? — Hayakaz ajudou Hexoth a se levantar.

— Esse cristal… ele não é algo bom…

 Após ouvir o amigo, Garrik se aproximou do cristal, lentamente aproximando sua mão.

— Garrik? O que você vai fazer? — perguntou Hayakaz.

— Ele parece estar chamando o meu nome… Mesmo parecendo uma ideia muito idiota, eu quero muito encostar nele…

 Garrik então encostou no cristal. Seus olhos se arregalaram, logo ele se viu em uma enorme floresta, cercado por pessoas encapuzadas.

— O que? — Garrik deu um passo para trás.

— Renda-se, aberração! — disse um dos encapuzados.

— Aberra… ção? Aberração?! — A aura de Garrik começou a transbordar. — Eu sou a aberração?!

— Preparem-se para atacar. — Os encapuzados começaram a se aproximar.

 Ao ver que eles se aproximavam, Garrik liberou toda a sua aura, criando enormes tentáculos de água que atacaram os encapuzados. Alguns foram prensados contra árvores, revelando seus cabelos loiros e orelhas pontudas, outros perfurados, cortados, mas no final, o último elfo de pé era Garrik.

— Sua aberração… Você será amaldiçoado por toda a raça élfica… Você é o maior erro da nossa mãe, seu monstro… — disse o último encapuzado, antes de morrer.

 Quando Garrik voltou a si, arregalou os olhos, colocou as mão na cabeça e caiu de joelhos.

— Não… — Garrik socou o chão. — Eu fiz de novo… Por que isso tem que acontecer de novo?! POR QUE?!

 “Garrik…” Uma voz ecoou na cabeça de Garrik.

— Quem disse isso?! — gritou Garrik, olhando ao redor.

 “Aquilo foi sua culpa?”

— Do que você tá falando?

 “Aquilo foi sua culpa?”

— Cale-se! Me deixe em paz!

 “Aquilo foi sua culpa?”

— CALE-SE!!! — Garrik golpeou o chão novamente, dessa vez criando uma cratera.

“Você também não está pronto, Garrik.” Quando a voz terminou de falar, a escuridão novamente se desfez, voltando para a biblioteca.

— Garrik? Se ta vivo? — perguntou Hayakaz, colocando o corpo de Garrik do lado de Hexoth, que ainda estava se recuperando.

— Estou bem. Não preciso da sua preocupação, bola de pelos.

— Calma ai, só to tentando ajudar, orelhudo. Enfim, o que você viu quando tocou o cristal?

— Algo que eu queria esquecer, mas não é da sua conta.

— Vocês vão continuar gritando? Isso enche o saco! — Hexoth se levantou, já recuperado.

— Você já tá melhor, Hexoth?

— Sim, sim. Fique tranquilo, foi apenas um pequeno choque emocional.

— Uff… bom, eu diria que entendo você, mas não entendo, porque o cristal parou de brilhar e não funcionou mais.

— Como assim? — perguntou Hexoth.

— Olha ali. — Hayakaz apontou para o cristal, já sem cor.

— Isso é bem estr… — Antes que Garrik pudesse terminar de falar, um enorme estrondo foi soado de trás da biblioteca.

 Para encurtar caminho, Garrik destruiu a parede. Ao chegarem no local do estrondo, os três viram diversos guardas ao redor do enorme lobo que eles haviam visto antes, alguns mortos no chão, tentando o puxar com enormes correntes brilhantes para um portal.

— O que vocês estão fazendo, malditos?! — gritou Garrik, armando seu arco.

 Após verem os três, alguns guardas foram em direção dos três.

— Saiam daqui, é perigoso, estamos tentando conter esse lobo demo… — Garrik disparou na cabeça do guarda que falava.

— Se quiserem levar ele… vão ter que passar por mim.

— Eles atacaram um de nós, eles são inimigos, ao ata… — Antes que o guarda pudesse terminar, uma lâmina de luz roxa saiu do portal, quase acertando Garrik.

 Após isso, um homem saiu do portal, uma armadura branca cobria seu corpo, mas seus cabelos e olhos azuis ficavam à vista, igual a sua uma enorme espada, tão grande que se assemelhava a um martelo. A guarda de sua espada se destacava, com uma esfera azul em seu interior, do tamanho de um palmo.

— Olha só, você desviou do meu Corte Luminoso, surpreendente. — O homem se aproximou do lobo, mas olhando para Garrik.

— Aquele Corte Luminoso gerou um fantasma de lâmina. Esse cara deve ter uma quantidade incrível de mana para fazer isso — disse Garrik.

— Oh! Você parece entender bastante sobre magias de lâminas, Elfo. Quem seria você?

— Por quê eu diria quem sou para um humano imundo como você?

— Essa doeu! Enfim, não tenho tempo a perder com vocês. — O homem foi em direção ao portal.

— Quem disse que você podia sair desse local? — falou Garrik, atirando uma flecha na direção do humano, que a destruiu com um único golpe. 

— Eu disse que não tenho tempo a perder com vocês — disse o homem, entrando no portal e levando o lobo demoníaco. 

 Quando o portal se fechou, Garrik caiu de joelhos, dando socos no chão.

— Droga!

 Após falar isso, Garrik se levantou e andou na direção da floresta.

— Garrik, espe… — disse Hayakaz, antes de ser interrompido.

— Deixa ele, Hayakaz. Eu também não sei o que aconteceu com ele, mas ele precisa esfriar a cabeça. — Hexoth colocou o braço na frente do amigo.

 No meio da floresta, Garrik socou uma árvore.

— Porcaria! Eu não consegui proteger você, igual da outra vez. 

 Alguns segundos depois, uma mulher surgiu, era uma mulher de aparência jovem, mas com cabelos longos e brancos, como o manto que usava, olhos dourados e uma enorme tatuagem de um dragão em seu pescoço. Sua presença era esmagadora, Garrik mal conseguia se manter de pé.

— Parece que eu cheguei tarde demais — disse a mulher.



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