Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 3: Significado de União.

O céu havia se fechado por completo, lotado de nuvens carregadas, mas sem nenhuma gota de água. A aura de Hayakaz continuava a crescer, exalando uma pressão gigantesca. Os outros lordes permaneciam calados, apenas observando.

— Que pressão densa, onde você estava esconden… — Antes que Azazel pudesse terminar, Hayakaz pulou em sua direção e o golpeou no estômago, o arremessando contra uma casa.

— Cale-se — disse Hayakaz, andando lentamente na direção que Azazel foi lançado.

 Azazel se levantou, tocou o local do ferimento e disse:

— HAHAHAHAHA!

— Do que você tá rindo?

— Eu não me divertia assim a muito tempo. — Azazel abriu um sorriso.

— Você ficou bem tagarela, heim. Eu te soquei forte demais? — Hayakaz saltou na direção de Azazel, mas foi recebido por um sorriso macabro.

Ka-Boom! — falou Azazel, antes de abrir os braços e causar uma enorme explosão, jogando Hayakaz para longe. — Haha! Você acha que eu vou apanhar sem revidar? Você é idiota?

— Argh! Você realmente vai explodir a cidade inteira só pra me derrotar? — falou Hayakaz, enquanto se levantava dos escombros.

— Hahahahaha! É lógico. Eu só preciso mandar eles reconstruírem, não é problema meu!

 Ao ouvir Azazel, Hayakaz fechou seus punhos e começou a andar na direção dele. Cada passo que Hayakaz dava gerava um tremor. Seus olhos estavam completamente brancos e sua aura se dissipou. 

 Quando Hayakaz se aproximou, Azazel conjurou novamente sua lança e os dois começaram a trocar golpes. O choque dos golpes era tão forte que gerava tremores nos arredores.

— Você está ficando mais forte… isso seria a sua raiva?

 A cada golpe, Hayakaz batia com mais força, gerando cada vez mais rachaduras na lança de Azazel. Então ela finalmente se partiu.

— Mas co… 

 Hayakaz agarrou o rosto de Azazel e o arrastou em uma parede por quase vinte metros. — Você não passa de um verme que sai por ai matando os outros sem motivos.

 Azazel levantou e disse: — E você acha que fez o que até agora?

Hayakaz parou de pressioná-lo contra a parede e arregalou os olhos.

 — Você não é diferente de mim. Um monstro. — Azazel encostou a mão no peito de Hayakaz e conjurou um encantamento — Ka-boom — lançando Hayakaz para longe.

 Ao ver que Hayakaz foi arremessado para longe, Azazel criou outra lança e tentou conjurar um círculo mágico, aproveitando o tempo obtido, mas um enorme punho atravessou seu círculo de magia, como se não fosse nada.

— Chega! — Hayakaz continuou golpeando Azazel.

 Durante o momento de fúria de Hayakaz, Azazel reparou nas diversas aberturas geradas por Hayakaz e o golpeou com sua lança, perfurando o seu peito.

— Finalmente… Você lutou bem, mas vamos dar um fim nisso… — falou Azazel, enquanto Hayakaz caía de joelhos.

 Quando Azazel foi retirar sua lança, ele notou que Hayakaz estava a segurando.

— Isso… não é nada! — disse Hayakaz, arrancando a lança de Azazel de seu peito.

— O que? V-você deveria ter morrido. Eu perfurei seu coração!

— Haha… — Hayakaz abriu um sorriso, enquanto quebrava a lança de Azazel. — Eu sou o Lorde Demônio das Bestas. Você achou mesmo que ia me matar facil assim? Minha magia é a Metamorfose, eu posso mudar a posição dos meus órgãos o quanto eu quiser.

 Após ouvir isso, Azazel começou a tremer e tentou se afastar um pouco, mas acabou encostando em uma parede de escombros. O punho de Hayakaz rapidamente chegou ao seu lado de seu rosto e a face dele na frente da sua.

— Você não queria lutar? Não queria ver toda a minha força? — falou Hayakaz, com um olhar macabro e uma voz serena. — Você vai pagar pelo que fez com o Elphaseus.

Caia! — disse Azazel, na esperança de obter tempo.

— Não, isso não vai funcionar agora. — Hayakaz pegou Azazel pelo pescoço e se preparou para dar o golpe final.

 Antes que ele pudesse fazer isso, seus olhos se arregalaram, uma enorme dor começou a percorrer seu corpo. Ele então se ajoelhou e sua pressão desapareceu. Quando Garrik e Hexoth iam interferir, círculos mágicos surgiram abaixo deles, os prendendo em enormes paredes de energia vermelha.

— O que você fez?! Cof cof — perguntou Hayakaz.

— Isso? Se lembra daquele círculo que você socou sem nem se importar? Era um encantamento de paralisia, um tão forte que poderia prender toda a cidade de uma vez, mas como você é bem forte, demorou para fazer efeito. — Azazel chutou o rosto de Hayakaz. — Eu queria continuar brincando com você, mas vou ter que terminar isso.

 Azazel começou a liberar uma névoa roxa, cobrindo todo o seu corpo, o chão começou a tremer, as nuvens de chuva que haviam se juntado começaram a relampejar e os olhos de Azazel começaram a ficar vermelhos.

— A brincadeira acabou… — O corpo de Azazel foi completamente coberto pela névoa roxa. — Coração Angelical!

“Merda. Eu devia ter matado ele de uma vez!”, pensou Hayakaz, sentindo o poder de Azazel aumentar. “O que eu fiz?!”

 O corpo de Azazel começou a se transformar, sua pele ficou avermelhada, uma auréola surgiu em sua cabeça, seus cabelos ficaram loiros, seus olhos ficaram totalmente negros e um par de asas brancas surgiram em suas costas.

— Agora… é a hora do julgamento — disse Azazel, com um sorriso no rosto.

 Hayakaz se esforçou para tentar se levantar, mas não teve sucesso. Azazel se aproveitou da situação e segurou Hayakaz pelo pescoço, desferindo sequências de socos em seu peito. Ao verem isso, Garrik e Hexoth começaram a golpear as barreiras, na esperança de quebrá-las.

 Depois de golpear Hayakaz diversas vezes, Azazel o arremessou no chão, conjurou uma lança totalmente feita de luz e falou: — Você realmente me fez usar todo esse poder. Você é forte, isso é motivo de orgulho, mas você não é forte o suficiente para me vencer… Sucumba à minha benção… Lança do Anjo Caído!

 A lança em suas mãos começou a crescer, ficando maior que seu próprio corpo. Logo após isso, ele a disparou contra Hayakaz, que apenas viu tudo à sua volta ficando completamente branco.

— Eu vou morrer assim? Tsc! Que morte ridícula… Não consegui proteger você… não consegui proteger ninguém… não cumpri nenhuma promessa. Me desculpe, amigo… — disse Hayakaz, fechando seus olhos.

 Um enorme barulho de metal foi soado. Uma enorme sombra surgiu na frente de Hayakaz, tampando a luz gerada pela lança.

— Você acha que não deve viver porque não cumpriu nenhuma promessa? Porque não conseguiu proteger ninguém?

 Hayakaz abriu seus olhos, finalmente vendo o vulto em sua frente, era Hexoth que bloqueava a lança com sua katana.

— Se você acha que não tem mais que viver por causa desse peso nas suas costas… então não carregue ele sozinho! Você é o mais justo de nós três, nunca matou ninguém sem motivo, sempre nos impediu de matar aqueles que eram inocentes. Nós devemos muito a você, mas se acha que não é digno de viver por causa dos seus erros… Então torne-se digno! — falou Hexoth.

 Após ouvir as palavras de Hexoth, Hayakaz arregalou seus olhos, com lágrimas escorrendo, se levantou e abriu um sorriso, colocando a mão no ombro de Hexoth e disse:

— Eu não consigo vencê-lo sozinho. Preciso de ajuda, Hexoth e Garrik… meus amigos!

— Esse é o Hayakaz que eu conheço. Agora vamos dar um fim nisso. — Hexoth redirecionou a lança para o céu.

 “Ele bloqueou a minha benção…”, pensou Azazel.

 Hayakaz invocou suas manoplas, foi até o lado de Hexoth e Garrik e falou:

— Agora… é hora do segundo round.

— Vocês realmente querem continuar? Eu já disse. Vocês pode ser fortes, mas não são o suficiente para me matar.

— Se você soubesse o quanto de pessoas com essa mesma aparência e esse mesmo pensamento nós já matamos, você não estaria tão confiante — Hexoth abriu um sorriso.

— Você fala disso? — Azazel apontou para suas asas. — Eu não costumo usar essa forma, ela me deixa muito cansado, mas se eu estiver com ela, você não vai me matar. Foi o próprio Papa que me ensinou a usá-la.

— Então foi o Papa que te ensinou isso. Agora eu to com ainda mais vontade de te matar — falou Hexoth.

— Eu nunca concordei tanto com você quanto agora, Hexoth — disse Hayakaz.

— Chega de conversa fiada. Temos um “anjo” para matar. — Garrik preparou seu arco.

 Azazel conjurou espadas de luz ao seu redor e as arremessou no grupo.

 Os três se separaram para conseguirem desviar das espadas. Hexoth correu na direção de Azazel, golpeando as espadas que eram lançadas nele e pulou na direção de Azazel tentando golpeá-lo diretamente, mas acabou sendo bloqueado por diversas espadas, que o empurraram para trás. 

 Ao ver isso, Garrik disparou contra Azazel, mas teve suas flechas bloqueadas por mais espadas de luz, que logo foram disparadas contra ele, que se afastou para desviar. Ao longe, Hayakaz observava atentamente os golpes de Azazel, pensando uma estratégia. 

“Droga! Isso também não vai funcionar. Esse cara é intocável?”, pensou Hayakaz

 Hayakaz teve uma ideia e tomou a frente, passando por Hexoth e Garrik, enquanto rapidamente sussurrava algo para eles, e indo na direção de Azazel, desviando das espadas que eram lançadas nele, para pular na direção dele, no ar, e tentar golpeá-lo, mas acabou sendo bloqueado por duas espadas, cruzadas, que o fizeram recuar.

— Trocar! — Hayakaz recuou e deu lugar para Hexoth, que golpeou as espadas cruzadas, as destruindo e abrindo caminho para Hayakaz seguir em frente.

— Trocar! Corte Sombrio! — Hexoth se afastou e jogou sua katana, imbuída em sombras, para Hayakaz que a pegou no ar.

 Hayakaz aproveitou a oportunidade e partiu na direção de Azazel que, de olhos arregalados, esticou seu braço para o lado, onde uma ponta de lança surgia.

— Morra!!! Lança do… — disse Azazel, não conseguindo mais controlar sua raiva.

 Ao tentar conjurar sua magia, Azazel acabou baixando sua guarda, o que permitiu que Garrik acertasse uma flecha em seu braço e o mandasse para longe. Azazel foi impedido de sacar sua lança, gerando uma abertura para Hayakaz.

— Você mata todos aqueles que discordam de você. Eu nunca perderia pra alguém que despreza o significado de união! Técnica Combinada, Lobo de Guerra! — Hayakaz acertou um corte no peito de Azazel, o fazendo despencar pelos ares.

 “Eu perdi?”, pensou Azazel, enquanto caia. “Como… isso aconteceu? Eu era invencível… Ele me disse que eu não perderia para ninguém… Onde eu errei… Talvez se eu não tivesse desistido de você… Talvez se eu não tivesse aceitado… Se eu não tivesse te traído…”

 Após bater contra o chão, todas as espadas de Azazel desapareceram. Hayakaz caiu no chão ao lado de Azazel. Ele começou a ir embora, quando Azazel disse: 

— Espere… cof cof… Hayakaz — Azazel se tornava poeira aos poucos.

— Você ainda tá vivo? Não tenho nada pra ouvir de vo…

 Antes que Hayakaz pudesse terminar, Azazel sussurrou algo que fez Hayakaz arregalar os olhos, e por fim virou poeira. Após isso, Hayakaz levantou sua cabeça, fechou seus olhos e começou a chorar. Hexoth se aproximou com uma expressão confusa no rosto. Hayakaz disse:

— Maldito… Você podia ter evitado tudo isso…

 Hexoth reparou que a cidade toda estava reunida ao redor da cratera. Olhares de medo cobriam o lugar. Depois de alguns segundos, eles se aproximaram para pensar em alguma estratégia para saírem daquele lugar.

— Então, o que a gente faz? — perguntou Hexoth.

 Hayakaz se afastou dos outros dois lordes, limpou suas lágrimas. Olhou para os moradores na lateral da cratera e disse:

— Nós, os Três Grandes Lordes Demoníacos, finalmente despertamos do nosso sono. Caso duvidem que somos os Lordes, nós matamos o Grande Mago Azazel, que possuía um enorme poder. Espalhem minhas palavras: Nós declaramos o início da Segunda Grande Guerra Demoníaca!

 Após alguns segundos, Hexoth olhou para Hayakaz e perguntou:

— Será que isso não vai causar um problema ainda maior?

— Uma hora ou outra eles iam descobrir mesmo, não é como se tivéssemos muitas opções — respondeu Garrik.

— Se o Hayakaz e o Garrik, os extremos opostos, estão concordando, não sou eu que vou discordar.

 Enquanto os lordes conversavam, um enorme círculo de magia começava a se formar no céu. Seus símbolos eram completamente vermelhos e tinham o formato de um hexagrama.

— Ei! Vocês dois! O que é aquilo lá no alto? — perguntou Garrik.

 Ao olharem para o alto, os outros lordes perceberam o enorme círculo desenhado no céu, que começou a brilhar. Então eles se viram no outro lado do círculo, em uma câmara de pedras rodeada de estátuas.

— Sejam bem-vindos, meus lordes — falou uma voz, no meio das sombras, que foi se aproximando dos lordes e, aos poucos, revelando sua aparência. Era um humanoide semelhante a um humano, porém com um par de chifres pretos como carvão, olhos dourados e um terno roxo.

— E você, quem é? — perguntou Hayakaz.

— Oh, que erro o meu. Mil perdões. Eu sou Dartanham, vosso Gran-Servo — Respondeu o homem.

— Desculpa. Gran-Servo?

— Exato, meu lorde. Eu sou o servo que está acima de todos os outros.

— Acima… dos outros? — Hayakaz abaixou a cabeça.

— O senhor está certo.

— Então… você devia protegê-los. Esse é o dever de um líder — disse Hayakaz indo na direção de Dartanham. — Então me responde: Por que você não protegeu o Elphaseus? Por que deixou ele morrer?! — gritou Hayakaz, segurando o servo pela gola do terno.

— Hayakaz, ele não teve culpa. Se acalme — falou Garrik, com um olhar severo na direção do amigo.

— Não. Ele está certo, meu lorde — disse Dartanham, retirando a mão de Hayakaz de sua gola. — Eu deveria ter o protegido, ele era minha responsabilidade, porém eu não posso interferir, em larga escala, no mundo humano. Graças a essa regra, não pude protegê-lo.

— Ele deu a vida dele pela minha. Se você realmente quisesse salvá-lo, você não ligaria para essa regra e daria até a sua vida, igual a ele. Eu só não te mato aqui e agora porque preciso de você vivo, senão sua cabeça já não estaria no corpo a muito tempo — Hayakaz soltou o servo e voltou ao lado dos outros lordes.

— Bem. Onde estamos, Dartanham? — perguntou Garrik, olhando para as paredes da câmara.

— Oh, sim. Os senhores estão no castelo cedido pelo mestre Lucifer. Neste local os senhores terão toda a mordomia que lhes é de direito. Este local é como se fosse uma base temporária. 

— Entendi. Então? Onde ficam nossos quartos? — perguntou Hexoth.

— Sigam-me, meus senhores — falou Dartanham, os guiando a um enorme castelo de pedras.

 Enquanto isso, em um lugar completamente vazio, um homem com um manto branco flutuava em uma enorme escuridão. Várias vozes começaram a soar, ecoando no local, e logo se tornando inaudíveis. O homem então abriu  seus olhos, e ao fazer isso, diversas imagens começaram a surgir ao redor de seu corpo, lotando o local.

— Eu me esqueci disso? — falou o homem. — Eu tenho que pôr um fim nisso.

 Após dizer isso, o homem estendeu seus braços, invocou uma lança de magma e disse:

— Pelo bem dos meus irmãos…



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