Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 12: A Curiosidade Matou o Gato

As garotas estavam desconfortáveis no apartamento, olhavam os lados toda hora e se mexiam inquietamente. San tentou agir o mais acolhedor possível, já passaram por muito.

— Certo, durmam no meu quarto por enquanto.

— A casa é sua — falou Emma — podemos dormir no sofá.

— Foi mal, eu vou dormir no sofá, aquela cama tem me dado dores nas costas horríveis.

Sem ter de ficar discutindo, pegou um travesseiro e se jogou no sofá. As garotas, vendo que não havia nada a fazer, foram ao quarto. Já ouvindo as exclamações de surpresa, as avisou:

— Ignorem a parede, o dono anterior daqui era um cara bem explosivo.

As duas apenas concordaram com a cabeça e foram dormir. Evitaram perguntas nem reclamaram, já sabiam que algum dia isso poderia acontecer.

Na manhã seguinte, San dormia em uma posição estranha no sofá, uma das pernas pro alto, a outra caída, os braços jogados e a boca aberta. Marcando 7 horas da manhã, seu relógio apitou.

Batendo-o contra o chão, tentava desativá-lo.

— Está na hora de acordar, precisa arrumar o café da manhã. — Sacro falou.

— Cinco minutos, tenho tempo.

— Enganado, hoje seu dia será cheio de tarefas.

Ignorando a voz robótica do seu relógio, fechou os olhos e, já voltando ao sono, o aparelho apitou em um som alto e ensurdecedor. Tampando as orelhas com um travesseiro, disse:

— Vai acordar as garotas.

— Ajustei para somente você ouvir.

— Aaah. Ta legal, vou levantar.

Com sono, tomou um banho e mexeu na cozinha. “Isso é um problema” pensou olhando a comida na sua frente: um pedaço de carne, fatias de pão, suco de laranja pela metade, e pra piorar, o café acabou.

Preparando as coisas, fritou a carne e a cortou em partes, pegou os pães e juntou, encheu dois copos de suco, até esmagou exprimindo o restante para um terceiro copo, mas acabou.

A porta do seu quarto abriu lentamente, Emma saiu com os olhos sonolentos e seus cabelos loiros desarrumados.

— O que tá fazendo?

— Como assim? Comida, chama a sua irmã e venham comer.

Demorou um pouco pra acordar Emile. Finalmente os três à mesa comendo, as garotas com seu sanduíche de carne e suco, San, uma fatia de pão e um copo de água.

— Só vai comer isso? — Emile perguntou observando suas mãos.

— Acha realmente que eu iria comer só isso? Preparei um lanche antes de acordarem.

Ao acabar, foram trocar de roupa. Vestindo uma calça e camiseta, ambos na cor azul e um TF estampado no peito, o uniforme da sua escola.

— Vamos?

As garotas assentiram e os três saíram de casa. As ruas continuavam as mesmas, poucas pessoas e a maioria das lojas fechadas.

— Por que as escolas de vocês continuam abertas? Soube que suspenderam as aulas na maioria.

— Nossa escola é chata. — A mais nova respondeu.

— É considerada a melhor da cidade, raramente fecham, por outro lado, muitos alunos estão faltando às aulas.

Chegaram na frente dos portões, San deu uma olhada nos prédios. Grandes, janelas espalhadas e apesar dos acontecimentos na cidade, dava para ver alunos de uniforme indo pra sala de aula.

Olhando pras duas garotas, San falou:

— Venho buscá-las à tarde, me esperem na frente.

Emile o encarou, segurando para dizer algo. O único pensamento de San era: “Tomara que não tenha ficado com fome.”

— Quando o mano vai voltar?

Preferindo ter falado de comida, abaixou na altura dos olhos delas e disse:

— Eu também queria saber, talvez dias ou semanas, mas vai voltar.

Emma foi à frente e segurou a mão de Emile. As duas entraram no prédio, San continuou olhando, até depois de já terem ido longe, ficou vendo os alunos, sorrindo e se divertindo.

“Será que a escola é legal?” San sempre se perguntava. Nunca conseguiu ir a uma, sua mãe tinha medo de por algum motivo, percebessem sua origem, e nisso, aprendeu de casa.

***

Na fila do mercado, refazia as contas de qual era o preço de cada comida. Chegando a sua vez, a moça do caixa passou item por item, e calculava mentalmente até os centavos.

Na hora de pagar, seu coração doeu. Voltando em casa, contava seu dinheiro, “considerando a comida que vou ter de preparar agora e meu trabalho deu uma parada, devo ter o suficiente pra duas semanas.”

Enquanto andava, lembrou-se que esqueceu de considerar a dívida. Dando um tapa na testa, pensou: “o tempo tá passando e o dinheiro tá acabando, isso vai ser um problema.”

Em casa, pôs os alimentos nos armários e geladeira. Sacro mesmo disse, o dia ia ser cheio.

Vestiu sua armadura de couro meio rasgada, pegou seu cinto com facas e sua besta. Deu uma olhada em sua adaga, considerando levá-la, porém, escolheu deixá-la, toda vez que a via, se sentia mal.

Na sua arrumação, deu uma olhada na máscara escondida. Pensava inúmeras vezes sobre o sentimento naquela noite, uma raiva e desejo de violência estranhos.

Considerava destruí-la, entretanto, fora caro conseguir, e suas economias estavam indo para o brejo. “Deixa, eu possa usá-la de novo, ainda não falaram de ninguém mascarado na TV.”

Colocando a mão na maçaneta pra abrir a porta, alguém abria de fora. Pegando uma das suas facas no cinto, afastou e se preparou.

Quando abriram, os dois tomaram um susto. Era uma garota loira de olhos castanhos. Trocou o uniforme da escola por uma camiseta branca curta e calça jeans rasgados.

— Por que tá aqui, Emma? — perguntou já abaixando a faca.

— Há, sabe, tô meio mal da barriga e decidi vir cedo pra casa.

— É? E essas roupas?

— Se as pessoas vissem um estudante saindo da escola com o uniforme iam achar que tô matando aula, por isso me troquei.

— Tinha um conjunto de roupa convenientemente?

— Coisa de mulher, não vai entender.

Ele a encarou, ela com as mãos pra trás, levantando a cabeça, tentando soar normal.

— Aham, realmente achou que eu ia cair nessa?

Um rosto derrotado, disse:

— Achei que estivesse trabalhando, ia vir me trocar e sair.

— Ia pra onde?

Hesitando se deveria contar, até considerou usar uma mentira. No entanto, já havia dado errado de primeira, então escolheu a verdade.

— Arrumei um trampo.

— Legal, seu irmão sabe?

— Sabe, claro, óbvio — De novo levou as mãos pras costas e olhou para cima.

— Vai ter que melhorar pra me enganar. Qual o seu trabalho?

— Chato. Comecei há duas semanas em um restaurante chamado The Blues.

Vagando na memória, lembrou-se de já ouvir o nome.

— Fica no bairro rico. Por que contratariam uma garota de 16 anos?

— Só, talvez, eu tenha dito uma idade diferente.

Pressionando os olhos com a ponta dos dedos, respondeu:

— Devia ter me dito. E se acontecesse uma emergência? Eu iria procurar que nem doido na cidade inteira.

— Desculpa, arrumei o trabalho porque meu irmão tava exagerando, só queria ajuda. Conhece o Leo, acha que a escola é tudo.

— Olha, entendo o desejo de querer o ajudar, porém, enganá-lo assim é errado.

— Tá legal. Da próxima vez falo, por enquanto, vou continuar trabalhando, beleza?

“Bem, ia ser bom a Emma ter dinheiro e experiência. Fica no bairro rico também, a segurança é boa.”

— Tá, se acontecer algo, me diz tá bem?

— Feito.

Arrumando os equipamentos, San saiu de casa. Entendia Leo proibir Emma de trabalhar e focar na escola; os dois nunca puderam nem pisar em uma. Todos diziam que só se formando teriam empregos de verdade.

Caminhando na direção dos portões, deu uma olhada pra trás e a viu saindo, usava uma camisa branca, gravata e calça social.

Assim, os dois foram para caminhos diferentes: ela dentro da cidade, ele para fora.

Os portões estavam agitados, pessoas saindo e tendo de ser revistadas. San entrou na fila e esperou, demorou vinte minutos; muita gente recusava a ter seus itens vistos e passar, o que resultava em discussões e às vezes brigas.

Finalmente sendo sua vez, só deixou; os guardas até pegaram leve por o conhecer.

Caminhando um pouco através da floresta, deu uma olhada no relógio, só para ter certeza de estar no caminho certo.

Alcançando uma clareira, deu batidas nos troncos. Todas eram normais, até que, dando uma batida em um, percebeu o som oco; em um movimento, empurrou em várias partes.

Em poucas tentativas, uma parte foi solta, dando espaço a um buraco pra dentro. Pondo a mão sem medo, puxou a primeira coisa a encostar.

Saindo com facilidade, revelou sua nova espada, enrolada e atada ao pano. Desamarrando, deu pra ver a bainha escura.

Prendendo a espada no cinto, andou por um tempo na floresta até alcançar outra clareira, maior e envolta de mato e arbustos. San já planejou a clareira antecipadamente para os seus treinamentos.

Era espaçoso e afastado da cidade. Devido a um rumor espalhado por San, caçadores acreditam que um monstro rondava a área.

Desembainhando a espada, revelando a lâmina afiada, decidiu ser hora de iniciar seu treinamento. Imitando ao máximo os movimentos de Simon, repetiu os mesmos gestos.

Esforçando seu corpo cansado e ferido, cansou rapidamente, a ponto de ficar ofegante, o suficiente para sentir seus braços enfraquecidos.

Cravando a espada no chão — tão fácil que o surpreendeu — dirigiu-se ao centro da clareira, estendeu a mão e concentrou-se.

Não notou anteriormente, entretanto, a essência percorria o seu corpo inteiro, movendo-se pelos nervos e veias. Começava no cérebro, seguia o caminho e era armazenada no coração. Tentando mover para a palma da mão, formou uma esfera azul.

Enquanto ativava sua habilidade, seus olhos tornaram-se um vermelho vivo.

Iniciou pequena, à medida que mais energia ia a sua mão, a esfera crescia. Desta vez, tentou limitar a quantidade de sua essência a ser usada e teve noção do reservatório em seu coração esvaziando.

Utilizando metade da energia da última vez, deixou a esfera ser solta. Como a do seu apartamento, uma luz azul forte espalhou, e sem nenhum barulho, em uma velocidade alta, seguiu mata adentro.

Percorrendo 5 metros, prestes a atingir uma das árvores, dissipou no ar, deixando fagulhas no ar.

Sua mente ficou zonza, nem perto da última vez, mas ruim. Sentando-se no chão para evitar cair, pensou: “Por algum motivo, sinto que tá errado, gasta muita essência, e a distância é curta demais, deve ter uma forma de melhorar.”

Enquanto esperava sua cabeça parar de girar, Sacro falou em voz alta:

— Posso dar uma sugestão?

— A vontade.

— O que você tá fazendo? Desde o primeiro dia, tenho cuidado dos seus movimentos, cada ação e reação, tudo. Posso dizer, me surpreendi às vezes, mas não chega nem perto das ruins.

— Ei, tenho me virado bem.

— Bem? Conseguiu ganhar daquele mimadinho por sorte, só porque seu rosto foi descoberto e o paralisou de surpresa, quase morreu.

— O cara tinha uma habilidade, e eu, normal, o que esperava? Uma vitória fácil? — falou irritado pro relógio.

— Sabia do seu poder, cometeu o erro de considerar que só por ser iniciante, o impediria de usar.

— Tá legal, cometi um errinho.

— Errinho, tá difícil de entender? — a tela mudou para vermelho. — Muito do que tem feito até agora é sorte. E o seu maior erro é usar o seu poder feito um idiota.

— Idiota? Tô dia e noite pensando em jeitos de o usar direito.

— San. Ignorando o recém-adquirido, parece ter esquecido da sua outra habilidade. Só de encostar em um mutante, copia seu poder.

— Esqueceu da parte de ver antes o poder, com Leo, já havia visto muitas vezes.

— Não posso esquecer, me lembro desses detalhes perfeitamente. Tem lugares onde podemos resolver isso. A arena de lutas, mutantes lutando e exibindo os poderes, lembra?

Pensando um pouco, suspirou. Precisava acostumar a usar sua habilidade de verdade.

— Talvez, eu possa ter cometido alguns erros. — O vermelho piorando, mudando para preto. — Tá, vacilei, aceito sugestões.

— Que bom! Pra começar, os mutantes que ver, aperte a mão ou dê um abraço, tanto faz, só o encoste. Depois, treine todos os dias suas habilidades, a esgrima e soltar energia.

— Minha esgrima tá ruim?

— Movimentos errados, lentos, usando muita força. Posso continuar.

Levantando, pegou a espada de novo e falou:

— Me diz o que fazer, e farei.

Durante as horas seguintes, treinou esgrima enquanto seu corpo aguentava e disparava energia da mão até mal poder se manter de pé. No uso da espada, melhorou praticamente nada, faltava muito, e um relógio de pulso o treinando, dificultou o entendimento.

Na sua habilidade, Sacro disse que estava aprendendo em um bom ritmo, já conseguia usar menos energia para criar uma esfera, o problema era a distância curta.

Pelo menos a força destrutiva, mesmo o uso menor de essência, ainda fazia um estrago grande nas árvores.

Já fora da clareira, a espada guardada de volta no buraco da árvore, caçou. Sua pontaria na besta nunca tendo progresso, sempre acertando em partes ruins e às vezes errando.

Mirando em um pássaro gordo pendurado no galho, ficou preparado, tinha certeza que acertaria. Na hora de apertar o gatilho, um grito ecoou, afastando o animal para longe.

— Se eu achar esse cara, vou matar.

Olhando de onde veio o grito, esperou; pouco depois, deu para ouvir passos apressados. Um homem, vestindo uma armadura de metal e desarmado, corria rápido, seu rosto completamente suado e pálido.

Curioso com aquilo, San falou alto:

— Por que tá correndo?

O homem ignorou e só passou. Sem demorar um minuto, ouviu o bater de asas, levantando a cabeça, inúmeros pássaros voavam o mais alto que podiam.

Estranhando aquilo, decidiu ir atrás do cara e perguntar. Quando deu um passo em frente, um som alto de vários outros passos foi ouvido, como se um exército estivesse marchando na sua direção.

Os instintos diziam pra correr. Até Sacro falou, contudo, só conseguia focar no som dos passos.

Algo dentro de si queria ver a origem do som, de querer saber do que o ameaçava. O barulho se aproximava, e pôde ver a origem.

Inúmeros monstros corriam na sua direção, destruindo tudo na sua frente, bestas que só apareceriam à noite, de espécies inimigas, que se matariam a qualquer hora, marchavam na sua direção.



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