Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 13: Dando uma Corridinha

Os monstros corriam na direção de San, um exército inteiro. Nem precisando pensar, seu corpo simplesmente se moveu.

Correndo com tudo, não perdeu um obstáculo sequer na sua frente, fosse pedra, galhos ou buracos, desviava. Chegou a um ponto onde só de bater o olho, conseguia desviar.

Dez metros desde começar a correr, encontrou o homem de segundos atrás, tentava continuar, mas sua perna foi machucada, incapacitada de mover.

Ao avistar uma pessoa passando, implorou na hora, suplicando ser salvo. Mesmo San preferindo o ajudar, sabia ser uma causa perdida, o atrasaria. O ultrapassando, ouviu um último grito de ajuda.

Saindo da floresta, os guardas em cima dos muros já preparados, andavam de um lado a outro, ajeitando suas armas e fechando os portões.

San correu pela grama. Os guardas, ao vê-lo, desaceleraram o fechamento. Faltava pouco, alguns metros estaria a salvo. Na metade do caminho, ainda de longe, pôde ver o rosto deles ficando assustados e os olhos arregalados.

Era óbvio o porquê, dava para ouvir cada vez mais próximo, os monstros estavam chegando, os guardas aceleraram o fechamento sem se importar nas pessoas correndo. Decidido a aumentar sua velocidade reduzindo o peso, soltou a besta das costas e sua bolsa, ajudou.

Gastando grande parte do fôlego, continuou, seus pés e pernas queimavam, seu peito ardia como nunca, os homens já de armas em mãos, só esperando ver se ele sobreviveria.

A centímetros de fechar, San se jogou, derrapou por metros e parou nos pés de um homem usando armadura e arma apontada.

Nem conseguindo sair de perto, tiros voaram em todos os lados. Os monstros já alcançaram os portões, fazendo um som de estrondo enorme, tentando os arrombar.

Estando perto demais, os tiros passavam sua cabeça, tapou os ouvidos e ficou encolhido ali, com medo de levantar e ser fuzilado.

Por sorte, alguém o segurou na parte de trás da armadura de couro e o arrastou. Nessa hora, sentiu seu corpo mover a uma velocidade surpreendente. Os ouvidos zumbindo e uma dor de cabeça o assolando, abriu os olhos, longe do tiroteio, viu seu salvador, Ramon, com seu sobretudo de sempre, independente do calor. Diferente do normal, seus olhos brilhavam amarelo e suas unhas virando garras.

— Eae — falou San no chão. — de boa?

Voltando ao estado normal, pegou um cigarro, acendeu e disse:

— Desde que cheguei nessa cidade, você tá envolvido em coisas bem ruins.

— Ah, sabe, tenho um azar sem limites.

“Como será que conseguiu passar por todos os tiros?” pensou levantando. Encarou os inúmeros soldados, usavam armas, das pesadas principalmente. Infelizmente, se só armas dessem conta de derrotar monstros, a humanidade não se esconderia atrás de muros.

Ao decorrer de anos, armas de fogo foram ficando desnecessárias. Faziam barulho e várias das bestas conseguiam desviar ou resistir. Por conta disso, espadas, lanças e objetos de antigamente ficaram famosos de novo.

Pistolas, rifles, suas balas e outros, tiveram suas produções diminuídas. Ainda serviam em humanos, o ruim era ser caro. Porém, algumas das cidades grandes usam no exército.

Os soldados da frente atiravam gastando o pente das suas armas e torcendo conseguirem tempo.

Como se entendessem o perigo, trabalhando igual a um time de verdade, as bestas fracas foram para trás e deixaram as resistentes na frente.

Por um momento, os soldados pararam, surpresos; era de conhecimento comum, monstros nunca se darem bem, somente os da mesma espécie, e olhe lá. Mas na sua frente, cooperavam perfeitamente.

Recuperando-se do susto, apertaram novamente o gatilho. Durante o constante tiroteio, o principal foco de San eram as armas energizadas. Feitas tanto para soldados quanto a policiais, foram as substitutas criadas, soltavam energia capaz de incapacitar pessoas facilmente e mutantes fracos, também ajudavam um pouco contra monstros.

O motivo de ficar observando com interesse esse tipo era porque teve uma ideia que poderia pôr em prática; claro, precisava sair dali.

A pressão nos portões crescia, os monstros aglomeravam e desesperadamente tentavam derrubar a grade. O metal das pequenas aberturas entortando, as garras já passando.

San queria sair de perto rapidamente, contudo, vendo Ramon calmo e fumando, escolheu esperar. Se algo acontecesse, ficaria atrás do agente e fugiria. Subitamente, um arrepio estranho passou pelo corpo, lembrando de onde já se sentiu assim, olhou ao redor.

Em segundos, os tiros foram diminuindo, e o que se assemelhava a civis foram em frente. Um total de dez, usavam roupas do cotidiano. Uns de constituição forte, magros ou normais.

Quando os tiros cessaram, o grupo se separou; cinco ficaram atrás, erguendo os braços. E de cada mão, soltaram todo tipo de poder; alguns, chamas, outros controlaram a terra criando espinhos pontudos e havia aqueles utilizando o vento, criando lâminas de ar.

O restante dos cinco foi à frente. Usando o próprio corpo, espadas, lanças, arco e flecha, se aproximaram e mataram de perto os resistentes, demonstrando habilidades físicas surpreendentes.

San via aquilo admirado. Eram tantas habilidades, tantas pessoas, e o melhor, era que, se quisesse, um dia poderia ter esses poderes.

Enquanto olhava o rosto das pessoas, de novo, viu medo nos seus olhos, e uma pergunta surgiu na sua mente.

“E se a essência deles acabarem? Se não tiver tempo até chegarem e a cidade for invadida? Inúmeras pessoas iriam morrer.”

Demorando, os monstros foram sendo mortos, um por um. Vários mutantes ficaram sem essência, mas foram substituídos na hora.

Tendo uma ideia, tentou chegar aos cansados. Seu objetivo era conversar e apertar suas mãos. Infelizmente, ninguém concordava em trocar papo, muito menos apertar as mãos.

Desistindo temporariamente, voltou à sua antiga localização. Virando-se e encarando Ramon, encostado no muro fumando, perguntou:

— Não devia ter ido ajudá-los?

— Meu trabalho é caçar mutantes.

— Caso um monstro entre, vai ficar simplesmente parado?

— Só interfiro se eu ver que não aguentam.

— Então se morrerem, tudo bem?

— Do que adianta salvar um inútil? Sendo que no dia seguinte outra besta ou pessoa aparece e o mata.

— Seguindo essa lógica, se a sua parceira estivesse em perigo, iria deixá-la?

— Mais ou menos, esperaria até ela estar bastante machucada, e aí a salvaria.

— A sua atitude é horrível, qual a diferença entre a sua parceira e essas pessoas?

— Recebi uma ordem.

— Entendi, é cada um por si.

Soltando a fumaça, nem precisou pensar e respondeu:

— Tá pegando o jeito, a vida é assim: Tenha força e conseguirá o que quiser; seja fraco, e é um inútil.

— Acho que tô entendendo. — falou, estendendo a mão — Valeu por ter me ajudado.

Ramon olhou a mão estendida e a apertou.

— Não há de quê.

Uma energia entrou no seu corpo e armazenou-se no cérebro. Saindo de perto, deu uma última olhada pra trás e pensou: “Ele tá errado; pessoas se ajudam toda hora. O que tá falando, basicamente, é pra não confiar em ninguém e dar seu jeito.”

Indo embora, observou até os bairros pobres ficarem vazios de mendigos. A maioria se escondeu ou procurou ajuda em bunkers.

Nas cidades, bunkers se espalham por áreas determinadas. São feitos para proteger as pessoas caso bestas entrem na cidade. Poucos são públicos; e os que são, muitas pessoas tentam entrar, só para serem impedidas de entrar pelos de dentro, se achando superiores e querendo ficar com tudo para elas ou medo.

San andou pelas ruas irritado por ter perdido a besta e novamente sua mochila. Prestes a subir as escadas para chegar em casa, ouviu o barulho de passos apressados, se virando. Deu de cara em um senhor de idade; seus finos fios de cabelo eram brancos. Usava óculos finos e vestia sapatos, colete e uma calça de pano. “Aí, merda”, era o único pensamento ao ver o homem.

— Santiago, bom te achar, tava te procurando.

— Senhor Antônio, posso ajudar?

— Esses dias, ouvi um barulho estranho vindo de cima, parecia uma explosão. Aconteceu algo?

— Me desculpe, deve ter sido a TV. Tava assistindo uns filmes e me descuidei no som.

O senhor Antônio tinha uma cara de dúvida. Desde que San se mudou pra o prédio, ele tem tentado investigar e se intrometer na sua vida.

— Se não tiver mais nada, vou nessa.

— Espere! Eu quase ia me esquecendo, o aluguel vai subir.

Assegurando no corrimão das escadas, a expressão de San era de pura raiva. Tentando agir calmamente, manteve a voz normal e disse:

— Senhor Antônio, já é a terceira vez que o aluguel sobe, e já tá bem alto.

— Pois discordo, considerando estarmos em um bairro bom e longe dos muros, é bem justo.

Mesmo preferindo discordar, falar que o bairro era um lixo e que ele é um velho irritante, San se segurou. Achar uma casa diferente seria caro, e se saísse, ia ser descoberto a parede quebrada, resultando em ter de pagar para consertar. Sua única opção era ficar de cabeça baixa e concordar.

— No final do mês, me manda a conta.

San subiu amaldiçoando o velho. Chegando em casa, viu as duas garotas sentadas no sofá, levantando ao vê-lo. Correram animadas e o abraçaram.

Confuso sobre o motivo daquilo, perguntou:

— Cês tão bem?

— Antes de eu sair, te vi preparado para caçar, achei que tinha ficado lá fora.

— Ah, tá. Tô bem. O que tão fazendo em casa tão cedo?

— Quando os bichos tentam entrar, a escola nos deixa sair. — Emile falou, abraçada à sua cintura.

Olhando com um rosto de dúvida para Emma, ela explicou de uma forma melhor:

— As escolas liberam os alunos quando acontecem ataques.

— Achei que todas as escolas tivessem um Bunker nessas situações.

— Tem, mas chegando lá, me impediram de entrar por eu faltar à aula, então peguei a Emile e viemos pra cá.

— Te proibiram de entrar?

— As regras deles são um lixo! — Emile gritou.

— Beleza, depois converso com a escola sobre isso. Por enquanto, tão com fome? Comprei uns lanches bons.

Enquanto as duas iam felizes pra cozinha, San pensou: “Se eu demorasse alguns segundos, o portão ia ser fechado e eu morreria; aí elas teriam de viver em um lugar de merda. Leo sempre teve de pensar nisso? Escolher evitar riscos e voltar?”

Tentando deixar de lado esse pensamento, disse que iria deitar e foi para o quarto, trancando a porta.

— Escolhi seguir a sua dica. Tô começando a criar o hábito de aperto de mão, esse lance de encostar. Fiz isso no Ramon. Como sei o poder copiado? — disse na direção do relógio.

— Só tem quatro jeitos de descobrir o poder de um mutante. O primeiro é, por sorte, descobrir algo na internet sobre a pessoa. O segundo é: alguém ou ele te contar. O terceiro é vê-lo em ação. E o quarto é reconhecer a sensação da energia entrando no seu corpo. Senão, terá de usar a habilidade e torcer pela sorte de conseguir controlá-la ou usá-la.

— Vi os olhos dele brilharem amarelos e garras nas mãos. Alguma ideia?

— Muitas, na verdade. Essa descrição encaixa em inúmeras habilidades. Na noite passada, fiz umas pesquisas. Deseja saber sobre o Ramon?

— Óbvio.

Abrindo um holograma na sua frente, mostrou imagens, reportagens e canais de notícias. A mais antiga tinha o título: “Agente caçador de mutantes mata quatro em uma missão.” A foto mostrava um jovem, seus cabelos completamente escuros e um sorriso animado.

Indo adiante, revelava contribuições feitas na proteção do povo. A surpreendente, na opinião de San, era uma reportagem dizendo sobre ele entrar em uma casa em chamas e salvar todas as pessoas, se machucando seriamente.

“Interessante, disse aquilo e já salvou várias vidas, o que mudou?” As últimas diziam sobre ter sido encarregado de seguir as pistas do devorador de almas.

— Nada sobre o poder dele.

— Deseja continuar as pesquisas?

San coçava o queixo, pensando no que fazer. Da sala, ouvia as garotas rindo. Se divertiam, tudo de ruim acontecia ao seu redor e conseguiam rir.

“Posso resolver isso amanhã. Por hoje, quero comemorar minha sobrevivência.” Em um sorriso enorme, saiu do quarto e se juntou às garotas, que olhavam um filme de comédia comendo sorvete.



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