Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 26: Um Dia Ruim

Os três homens estavam acostumados a emboscar e atacar civis; era seu trabalho. Sempre que faziam isso, tinha dois tipos: os lutadores e os que se rendiam.

O jovem à sua frente era diferente. Ao invés de se amedrontar ou preparar de imediato, abriu um sorriso.

Era um dia horrível para San, e o que queria era descontar em algo ou alguém. Por isso, três pessoas aparecendo na sua frente querendo briga, ficou realmente satisfeito.

O beco era estreito, então um de cada vez teria que atacar. O primeiro a avançar sendo o da frente, era alto, e uma fisionomia magra. Deu um soco na direção do rosto, onde San desviou abaixando o corpo.

 Aproveitando a oportunidade, deu um gancho com toda a sua força, acertando em cheio o queixo e o derrubando.

Os dois restantes, percebendo que seria diferente do esperado, atacaram juntos, se apertando. O musculoso foi à frente, dando um soco lateral. Por pouco, San desviou, colocando o rosto para trás na hora.

No entanto, seu parceiro, notando o espaço aberto criado, se jogou na barriga do adversário empurrando contra a parede.

Tentando se soltar, não conseguiu. O cara havia assegurado firmemente contra a barriga e prendia seus braços em volta do corpo. Dando uma ajoelhada, acertou no rosto. Prestes a repetir, o parceiro deu um soco no meio do rosto de San.

O golpe era incrivelmente forte, deixando a cabeça zunindo e desnorteado. Se recuperando, outro veio, dessa vez acertando no lado da boca. Recebeu mais dois, todos focando no rosto e tirando sangue.

Sabendo que logo iria receber um golpe, San nem pensou, só agiu conforme sua mente mandava fazer.

Esticando ao máximo seu pescoço, chegando a doer bastante, deu uma mordida com tudo, diretamente na orelha de quem o assegurava. Um grito enorme espalhou; o cara grande hesitou, se tentasse acertar um soco poderia piorar.

Sangue escorria sem parar, os gritos também só aumentavam. Preferindo não perder a orelha, se soltou imediatamente e forçou se afastar. Mas San continuava o agarrar, igual um animal.

Mesmo recebendo socos fortes e o empurrando, se prendia fortemente; quando achou ser a hora, San soltou. O cara se abaixou no chão, as mãos no ferimento.

O musculoso, vendo que finalmente conseguia atacar, já estava de punho estendido e indo dar um soco.

Porém, antes de poder, San chegou próximo do seu rosto e cuspiu, espalhando um jato de sangue que entrou na boca enquanto mordia o outro.

Cegado temporariamente, San aproveitou e colocou a perna atrás do joelho dele e o empurrou com o seu peso, fazendo-o cair de cabeça no chão.

Só para ter certeza, deu um chute forte na sua cabeça.

Ofegando, olhou os três. O primeiro que havia enfrentado, deitado inconsciente. O segundo, forçando a camisa contra a orelha e o sangue pingando. Por último, o cara musculoso deitado no chão.

— Há! Da próxima vez, tentem assaltar uma pessoa do seu nível.

Saindo dali, deixou os homens mascarados e voltou em casa.

***

Abrindo a porta lentamente do apartamento, deu uma olhada dentro; vazio. “As garotas devem tá na escola. Espera, que dia é hoje?” Ignorando isso, andou até o banheiro e trancou a porta.

Olhando seu reflexo, viu ter feito o certo ao confirmar estar sozinho. A boca cheia de sangue, como se tivesse comido diretamente de um cadáver. E isso nem era o pior, machucados espalhavam pelo rosto inteiro, desde cortes a partes esmagadas.

Passando água, se aguentou de evitar xingar alto. Terminando, deu outra olhada. Melhorou um pouco, sem sangue, entretanto, os machucados ainda eram horríveis; seu olho direito começava a ficar roxo, o nariz sangrava ocasionalmente, e ao mover a boca, sentia dor.

Colocando curativos, tentou ao máximo esconder os ferimentos. Foi complicado, boa parte do rosto tava machucado. Se San quisesse, acabaria com ambos usando sua habilidade, contudo, se fizesse isso, as coisas teriam sido rápido demais.

Terminado os curativos e independente dos machucados, deu uma risada genuína. No caminho até em casa, qualquer um que o via desviava o olhar e apressava o passo. Parando em uma esquina descansando, nem notou a pessoa ao seu lado. Quando o viu, a mulher tremeu toda achando ser um assalto.

Roubar dinheiro ficou difícil devido aos relógios; mesmo assim, só era preciso um pouco de violência e ameaça, então conseguiria o que quisesse.

Sentando no chão, encostou a cabeça na porta, deixando o cansaço tomar conta.

***

Um tempo depois de San sair, um homem apareceu no beco. Tinha uma constituição forte, usava um terno e a cabeça raspada.

Se aproximando dos homens, checou seu estado. Dois ficaram desmaiados, e uma pequena poça de sangue em um canto; o dono do líquido, desaparecido. Pegando o celular, discou um número que tanto conhecia.

Esperando ser entendido, pensou: “O garoto é violento; me pergunto se usou algum poder.”

Uma voz do aparelho o chamou, o tirando dos pensamentos.

— Qual a novidade?

— Os três foram derrotados.

— Estão vivos?

— Sim, machucados e vivos.

— Bom, pegue-os e traga até mim. Quero saber da luta.

Com a chamada sendo desligada, soltou um suspiro. “Agora tenho de achar o cara ferido.”

***

Após horas, San acordou com uma batida leve. Abrindo os olhos, virou-se para os lados, só pra lembrar que tava no banheiro.

— San? Tá bem? — Emma perguntou de fora.

— Tô. Na verdade, é complicado. Comi um sanduíche estragado. — deu uma resposta rápida e improvisada.

— Ah, tá bem.

“Respostas de: ‘comi algo ruim.’ Sempre funciona.”  Levantando, olhou de novo no espelho; os machucados continuavam ruins, e alguns dos curativos tavam ensanguentados. 

Não querendo assustar as garotas, decidiu ficar no banheiro. Uma hora depois, o sol se pondo, uma batida na porta o tirou do tédio.

— Quem é?

— Sou eu. — Leo respondeu do outro lado.

— Finalmente. — murmurou.

— Tenho uns remédios de barriga se quiser, precisa tomar cuidado na comida e…

Antes de terminar de falar, a porta abriu, e uma mão o puxou dentro.

— Ei, ei, ei!

Essa é a última coisa que as garotas viram, e o irmão foi puxado.

Quando Leo percebeu o cheiro normal, e seu amigo machucado, soltou um suspiro de alívio.

Percebendo isso, San levantou os braços e disse:

— Qual é?

— A gente é amigo há anos, te considero um irmão. Mas tudo tem limite.

Se imaginando no lugar do amigo, San concordou.

— O que aconteceu contigo? — Leo perguntou, o encarando.

— Fui emboscado.

— Puts, e os caras, como tão?

— Vivos.

— Que bom.

Sem querer sentar no vaso, os dois permaneceram no chão, em silêncio.

— Cê tá bem? Parece meio triste — Leonardo falou.

Soltando um suspiro profundo, San olhou o amigo incrédulo.

— Qual o teu problema? Deve tá passando pelo pior momento da sua vida e tá perguntando se tô bem.

— Ficar remoendo isso é inútil, quero saber de ti.

Olhando o rosto do amigo, San lembrou do seu passado. De uma época simples, onde os dois se metiam em confusão, atraídos igual um ímã.

Sempre que brigavam, San tomava uma surra, entretanto, Leo intervia e recebia os ataques. Acabando, o amigo, cheio de ferimentos e mal conseguindo andar, se aproximava e perguntava: “Você tá bem?”

Abrindo um sorriso, encarou o amigo na sua frente e respondeu:

— Tá sendo um dia complicado.

— Nem me fale, nós dois estamos na pior.

— Olha só, mais uma coisa em comum.

— Verdade, mas pra mim tá se mantendo discreto, pra ti tá pior.

— São só uns machucados, em dias tô normal de novo.

— Não tô falando disso. Tem rolado uns boatos.

— Boatos?

Ficando quieto, tentou formular uma resposta que tentasse soar menos pior.

— Bem, as pessoas das ruas descobrem facinho fofocas. E tão falando que te deram chifre.

— Quê!

— É mentira?

San ficou quieto, já era uma resposta. Leo só balançou a cabeça.

— Sabe o que tem de fazer.

— Parei de me envolver nisso há tempos.

— Tanto faz, seu nome é conhecido, pelos negócios que faz, ou das lutas. Por sinal, tá bem-parado ultimamente. E tem a tatuagem do corvo.

— Deixa falarem, tô cagando e andando.

— O que vai acontecer quando o seu nome ficar manchado? Vão te ridicularizar, aumentar os preços de produtos por achar que vai ficar quieto. Talvez até tentem te extorquir.

— Podem tentar, vou mostrar o que acontece.

— San, entenda, tudo vai ficar difícil, só aceita, eu te ajudo.

Pensando, considerou muito. O que Leo sugeria era se vingar. Normal entre os criminosos se for traído, principalmente aos com a tatuagem de corvo no corpo.

O principal objetivo dela é simbolizar que é um criminoso de verdade. San fez novo ao começar a trabalhar para Eugene. Apesar disso, não é todo mundo que pode ter a tatuagem; tem certas marcas deixadas, onde somente os desenhistas conhecem.

E somente aqueles que são reconhecidos sendo bons no que fazem ganham uma. Leo tem, por ser um lutador incrível. San tem, porque ainda jovem, era o melhor soldado de Eugene, realizando inúmeros trabalhos com perfeição.

— Odeio isso.

— Eu sei, mas que escolha tem? O porco vai descobrir, achará que amoleceu.

Isso era o pior para San. Sempre ao encontrar Eugene, precisava mostrar ser forte e firme. Mesmo tentando pensar em outra solução, só via essa forma.

— Vamo então.

— Deixa que eu ligo pra uns caras. Ah, eu vou distrair as garotas para ti sair. — Antes de passar pela porta, Leo parou e lembrou de algo. — Que tal agente ir em uma festa?

— Por quê?

— Das últimas vezes, as garotas deram em cima de você, agora elas vão focar em mim.

As meninas vendo a porta abrindo, ficaram curiosas e prestaram atenção. Depois de segundos, o irmão foi mandado pra fora a chutes.

Ele se aproximou das duas dando carinho no Garmir, e prestes a falar, Emile disse:

— O que cê fazia no banheiro por tanto tempo?

Parando com o boca-aberta, Leo tentou pensar em uma resposta, porém, os minutos quieto só gerou suspeitas adicionais.

— Ah, é que ele tava realmente mal.

— E ficou dentro do banheiro pra? — Emma perguntou dessa vez.

— …Apoio emocional.

Preferindo evitar perguntas, falou:

— Querem tomar sorvete?

Esquecendo qualquer pergunta, Emile correu alegre, Emma ainda com a cara desconfiada o encarava.

***

Tarde da noite, San se escondia nas sombras de um beco, olhando a hora sem parar.

— O que vai fazer? — Sacro perguntou curioso.

— Dar uma lição.

— Por quê?

— Do contrário, vou ser taxado de fraco.

— Interessante, humanos machucando outros pela reputação.

— Não é só isso. Se acharem que sou fraco, podem tentar se aproveitar de mim.

— Então, o mais forte é o que reina.

— Sim.

— Me lembra um pouco o que aquele caçador de mutantes disse.

Antes de contestar, Leo apareceu. Ao seu lado, dois caras o seguiam. Um era magro, cabelo castanho grande e piercings. Usava jeans rasgadas e camiseta de uma caveira. O segundo era alto, cabelo curto e se vestia de preto igual a San.

Já Leo, usava calças de pano e uma camiseta vermelha, seu cabelo loiro penteado para trás e um sorriso no rosto.

— San, tá aqui os caras. Esse — falou apontando ao alto. — é Finn. O outro é o Doug.

— Eae. — falou o alto.

— Opa. — falou o de piercings.

— Feitas as apresentações, vamo pro plano. San, me dê uma descrição.

Todos se concentraram em ouvir, e abriram um sorriso, animados com a chance de machucar alguém.

— Tem uns trinta e quatro anos, cabelo escuro, baixo, pele bronzeada…



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