Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 27: Um Médico Ruim

Terminando de descrever a aparência do alvo, encarou os dois caras à sua frente, tentando analisá-los. Os dois tinham corpos magros e olhares animados no rosto. “Vão servir.”

— Quero deixar algo claro, sem morte.

Finn assentiu com ânimo. Doug estalou a língua em desagrado, mas ficou quieto e concordou.

— Certo. Infelizmente, eu não sei o seu nome. Porém, é um dos doutores, deve ser fácil de achar.

— Eu. — Finn levantou a mão. — E se encontrarmos alguém de descrição parecida e pegarmos o cara errado?

— Por isso, vamos em duplas. Caso o encontrem ao invés de mim, tirem uma foto. Ah, é Finn, né? Esquece isso de levantar a mão, quando quiser falar, é só falar.

Corando levemente, acenou a cabeça e permaneceu quieto. Encostado na parede, Doug perguntou:

— O que acontece se encontrarmos o cara certo?

Levantando uma sobrancelha em dúvida, San perguntou:

— Achei que, de todos, você seria o melhor a saber.

— Ei, sei o que vai acontecer. Tô perguntando para onde o levamos?

— Ah, Leo já deu um jeito nisso, depois ele diz.

— Prontos? — Leonardo falou animado.

— Outra pergunta. — Doug falou de novo. — E quanto à garota?

— Garota?

— A traíra, vai deixar assim?

Sabendo que sua resposta era importante, San falou com a voz cansada:

— Ela vai ver o novo namorado cheio de machucados e perto da morte. Como acha que vai reagir?

— Machucá-la também serve.

— Prefiro o machucado mental. Isso já serve.

Concordando, andaram em grupo até o lugar certo. Enquanto os dois novatos ficavam na frente, Leo perguntou ao amigo:

— Vai deixar ela passar?

— Sarah é desprezível, mesmo assim, a machucar é desnecessário. Sabe me lembro da vez que fui contigo na vingança de um cara. A mulher foi espancada, abusada e morta.

— É, eu lembro, fomos por um antigo amigo meu. Você chegou perto de apanhar, só de ficar questionando.

— Então entende.

Preparados, foram em direção as suas posições. As duplas eram: Leo e Doug na porta da frente e San e Finn no estacionamento.

O hospital tem duas saídas; a mais comum é a da frente. A dos fundos, indo ao estacionamento, era pouco usada, já que poucas pessoas têm carros — era caro manter um.

No entanto, médicos ganhavam bem, especialmente os mutantes capazes de curar.

San sabia pouquíssimo do cara, e por isso, se precaveu, deixando um mutante em cada grupo. Sentados atrás de um dos carros estacionados, esperavam pacientemente.

Os dois estavam em silêncio, esperando. Do seu lado, Finn tava animado, olhando os lados constantemente.

— Primeira vez? — San perguntou, entediado.

— Tá tão na cara?

— Parece nervoso. É amigo do Leo? Por isso veio?

— Isso vai soar maluco, mas sou teu fã.

— Do quê? — perguntou em um sorriso.

— Das suas lutas. Sempre que tenho chance, tento vê-las.

Tentando ver se era brincadeira, ficou incrédulo. Muitos torciam durante as partidas, e ainda assim, nunca os considerou fãs; era estranho achar um.

— Sou só um cara. Tem melhores por aí.

— Verdade, tem o Esmaga Crânios, Bucha de Canhão, o Pinça. Tanto faz, eu te acho legal. E o nome Scar, maneiro as cicatrizes.

— Por quê?

— Resumindo. Eu tinha 15 anos quando te vi pela primeira vez, e você, 14. Naquela época, até a minha sombra me assustava. Aí, no meio da arena, um garoto jovem e repleto de cicatrizes cobrindo várias partes do corpo, lutando sem desistir. Incrível.

— Quatorze? Nessa época eu só apanhava; era praticamente um saco de pancada móvel.

— Sim! Apanhou durante bastante tempo, e continuou entrando na arena, inúmeras vezes, até se tornar um bom lutador.

Abrindo um sorriso, San encostou a cabeça contra a lataria do carro e conversou com Finn.

***

Do outro lado do prédio, Leo e Doug olhavam vigilantes à porta, cuidando quem entrava e saia. Aproveitando isso, Doug falou:

— Seu amigo gosta da garota?

Ficando em silêncio, considerou sua resposta.

— Até onde sei, não.

— Há, é um frouxo; vai deixar a traíra sem sofrer nada.

Tendo uma ideia rápida, fingiu hesitar em falar, agindo com medo, no fim, respondeu:

— San prefere agir sozinho, o cara é meio paranoico, e violento.

Acreditando na mentira, concordou acenando a cabeça.

Após quarenta minutos, já sendo madrugada, encontraram o homem, sozinho. Caminhava sorrindo e, se prestasse bem atenção, veria que por baixo da sua gola, havia uma marca de batom.

— Bate na descrição. Vamos tirar uma foto e o seguir; se San confirmar, o pegamos. — Leo foi em frente na rua.

Andando igual um simples pedestre, os dois tavam em uma distância razoável, nem longe, nem perto.

Um minuto depois, Leonardo recebeu uma mensagem confirmando. Tudo certo, os dois se aproximaram cada vez mais, até esbarrar “sem querer” nele.

— Opa, desculpa. — Leo disse.

— Cuidado aí. — Se afastou e limpou a roupa, como se tivesse suja, murmurou — O que um lixo daquele bairro faz aqui?

Mesmo não dizendo de onde era, o doutor sabia de onde veio. Para ele era fácil, convivia com pessoas constantemente, e conseguia diferenciar os de dinheiro e sem, cuidando o modo de falar, agir e principalmente, vestir.

Indo na direção do médico de novo, Leo disse:

— Licença, poderia me dizer um endereço?

— Sem tempo, quero ir pra casa.

— Levará só um minuto, por favor.

— O seu merdinha, pede esmola lá no teu bairro lixo; vai embora e vê…

Pretendendo continuar o insultando, algo acertou contra a sua cabeça, o derrubando no chão.

— Há, fácil. — gritou Doug.

— Cala a boca e anda logo.

Precisavam ser rápidos; uma gente o viu fazerem isso e se afastaram; era questão de minutos até ligarem a polícia. Seguraram no ombro e seguiram andando.

***

Caminhando de cabeça baixa, San olhava ocasionalmente Finn; claramente nervoso. E não é por menos, em minutos, dois policiais passaram.

Andando por mansões e casas bonitas, avistaram a casa certa. Grande, janelas e luzes apagadas. O portão feito de metal e espinhos nas pontas.

Girando a maçaneta, abriu. Fecharam silenciosamente, passando pelo gramado bem cuidado e alcançaram a porta de madeira, deram uma batida.

Enquanto esperavam, ouviram passos na calçada, passos pesados de botas e a luz de uma lanterna; era um policial. Podiam se jogar nas gramas e ficarem escondidos, mas e quando a porta fosse aberta? O homem iria dar de cara com um jovem que claramente não era o dono da casa e a porta aberta. Então, fazendo uma aposta, ficaram parados, bem à vista.

Os passos foram chegando e continuava fechada. Suando frio, San se preparava caso tivesse de usar seu poder. Seria arriscado, porém, as suas escolhas eram poucas.

Há apenas alguns segundos de serem descobertos, a porta abriu; os dois entraram apressados e fecharam silenciosamente.

O policial passou na frente do portão e olhou a casa.

— Achei ter escutado um barulho. — Murmurou.

Dando de ombros, deixou quieto; já trabalhava por horas e só se mantinha acordado devido ao café.

Dentro da casa, os dois acalmaram os corações gradualmente.

— Alguém viu vocês? — Leo perguntou cuidando o lado de fora.

— Por pouco, na hora perfeita.

San observou de canto, Finn, suas mãos tremiam e suava, “acho que, na verdade, esse é o seu primeiro crime.”

Respirando fundo, virou-se ao amigo e disse:

— Cadê ele?

Sinalizando aos seguirem, passaram da sala grande e uma cozinha cheia de utensílios caros de metal. A casa era de uma família rica que passava viajando, Leo invadiu e se apropriou temporariamente.

Parando na frente do lugar, ouviram Doug falando ao doutor:

— Sabe, essa mancha apareceu aqui embaixo há uns dias, vai precisar de remédio?

— Ta-Talvez seja por causa do piercing que está aí, essa é uma área sensível e dependendo do jeito colocado.

Antes de continuar, a porta abriu. Doug se afastou e fez uma cara de inocente. O comodo era uma biblioteca, prateleiras enchiam as paredes, duas cadeiras de couro de frente a uma lareira de tijolo, iluminado somente da lua no céu.

O médico, amarrado a uma cadeira de madeira. Seus cabelos bagunçados e seus olhos vagando pela sala.

Quando três homens entraram, o médico ficou com um rosto em um novo nível de assustado. Leo quem se aproximou e disse:

— Infelizmente, o senhor cometeu um erro, ir à mulher de outro. Não sei se sabia que era comprometida, tanto faz, pelo menos, vai ter uma história para contar.

— Espera, Por favor. De quem está falando?

— Como assim?

— Qual o nome?

Lembrando da irmã de Sarah dizendo sobre a reputação do doutor, San foi em frente e disse:

— Façamos assim, se me fala o nome dela, e acerta. Te deixamos ir embora.

Todos surpreenderam, ninguém esperava que deixassem o cara sair depois do trabalho. O médico, vendo a oportunidade, mesmo se fosse uma mentira, revelou um sorriso.

Concentrado, permaneceu quieto. Doug falou baixo:

— Qual é, vamo realmente fazer isso?

— Confia em mim, se eu estiver certo, vai ser interessante.

Depois de uns minutos, com Doug batendo o pé ansiosamente, o homem falou:

— Isabele.

Leo se surpreendeu, aproximando do ouvido do amigo, sussurrou:

— Achei que o nome fosse Sarah.

— Ou ela mentiu seu nome, ou é outra mulher. Chuto ser a segunda opção.

Compreendendo o que acontecia, Leonardo foi em frente.

— Errado, passou longe, tenta de novo.

— Camila.

— Puts, mais um, vai.

Suando, o médico queimava os neurônios tentando adivinhar certo.

— Camile.

— Pera. Pegou duas mulheres de nomes parecidos? No mesmo hospital? — Doug falou sorrindo. — Na base da intimidação ou o charme?

— C-claro que eu as conquistei.

O grupo inteiro olharam com clara dúvida. Toda hora ele gaguejava e tremia. Podia ser o medo devido à situação, no entanto, tava muito estranho. Os três se entreolharam e sacaram.

— Puts. — Leo coçou a cabeça.

— Tá um pouco melhor agora. — San sentiu o peso dos ombros diminuir.

— Haha, tu é um merda. — Doug ria da sua cara.

Finn era o único quieto, queimando o cérebro confuso.

— Dá pra explicar?

San foi em frente e falou:

— Sendo um médico, usou da sua posição para intimidar as enfermeiras e as obrigarem a dormir com ele.

Finalmente entendendo, arregalou os olhos e disse:

— Isso é horrível!

— Sem dúvida, e só torna as coisas fáceis. Afinal de contas, esse merda merece uma lição.

Tremendo de medo, o médico formulou uma resposta rápida.

— A-aquelas mulheres precisavam do emprego, são na maioria dos bairros pobres, as recomendei. E tem os pacientes, sim! Os bolsos tavam vazios, então aceitei outra forma de pagamento.

As palavras saiam sem parar, e pior se tornava. Os quatro juntaram ao redor e o encararam. Como era regra, San parou à sua frente. Enquanto seus ouvidos eram enchidos de súplicas, puxou o punho para trás com tudo e acertou em cheio um dos seus olhos.

O soco acertou perfeitamente; a cadeira iria cair se Doug não estivesse atrás segurando.

— Minha vez! Deixa eu ir.

Revezando na hora de socar, faziam sem dó; na vez de Finn, hesitou. Estava em dúvida. Leo caminhou até o seu ouvido e falou baixo:

— Esquece a piedade, imagine quantas mulheres sofreram nas suas mãos. Imagine se ele tivesse feito isso com alguém que conhece.

Substituindo a dúvida por raiva, deu um soco usando sua forço total, e um som alto de estalo ecoou; Doug soltou um assobio e levantou o polegar em aprovação.

Já que todos deram um soco sozinho, era hora de acabarem logo. Se juntaram e começaram a atacar o cara. Socos e chutes acertados em inúmeras as partes do corpo.

Distraídos no objetivo à sua frente, demorou para perceber uma sirene perto. Parando na hora, focaram na audição.

O veículo chegava em alta velocidade. Arregalaram os olhos e a ansiedade cresceu, suando frio, se preparavam para fugir.

De repente, o doutor deu um grito enorme, espalhando na casa inteira. Respirando fundo e abrindo a boca e para gritar novamente, nem teve tempo de fazer isso, Finn deu um chute no meio das suas pernas, tirando o ar.

Segundos depois, a sirene passou da casa em direção a outro lugar, a cada momento o som diminuindo e se afastando.

Todos deram suspiros aliviados. Querendo apressar, continuaram, só pararam quando Leo falou. Ele, melhor do grupo inteiro ali, sabia o limite. Aproximando o rosto da boca, ouviu a respiração lenta e fraca.

— Tá feito. Vão embora, eu cuido do resto. — Enquanto saíam, falou alto — Se roubarem um talher dessa casa, vou saber.

Doug estalou a língua e vazou. San ficou imóvel, encarando as mãos ensanguentadas. Independente de que tudo estivesse acontecendo por sua causa, fez pouco; Leonardo quem cuidou dos problemas e bolou o plano, acostumado a isso.

— Pode ir, cara.

Se recuperando, balançou a cabeça, afastando os pensamentos da cabeça e falou:

— Vou ajudar. — A sua voz firme, esquecendo a fraqueza.

Conhecendo San o suficiente, sabia que tirar o amigo dali iria ser impossível, e só concordou. Por estarem cansados e preferindo esperar até terem certeza da rua estar vazia, sentaram na poltrona no escuro.

— Por que os proibiu de roubarem?

— Os donos viajam bastante, e uso essa casa pra esse tipo de evento. Se descobrisse que foram assaltados, iriam reforçar a segurança.

A adrenalina ainda percorria seu ser. Com dificuldade de ficar sentado, San levantou e analisou as prateleiras. Livros de vários os tipos ficavam organizados: história, geografia, aventuras, ficção, etc.

Lendo os títulos, encontrou alguns interessantes. Não podendo pegá-los, se contentou em decorar e procurar na biblioteca pública depois.

— Ei, Leo, vamo explorar?

— Já fiz. Tem uns móveis caros e talheres bons, nada que valha a pena arriscar.

— Isso é da última vez, talvez algo tenha mudado.

— E o cara?

— Fazemos depois, e tá amarrado. Bem, se estivesse livre, duvido que iria ter força pra levantar.

— Aah, tá legal.

Os dois andaram explorando calmamente, usando a luz da lua para ver. A casa era grande, muitos quartos e itens caros.

San achou divertido. São poucas às vezes que tem a chance de explorar uma casa dessas, e ao surgir uma oportunidade, tava em perigo por algum motivo, ou a trabalho.

Dentro de um quarto, numa cama grande arrumada, armários vazios e nada pessoal do dono, Leo falava toda hora que continuava igual das outras vezes. Quando San olhou a parede, viu o quadro grande.

Tinha o desenho de uma paisagem: um campo verde estendendo a quilômetros, ilustrando uma plantação de trigo ao vento. O motivo por ter chamado a atenção: o quadro dava uma impressão de deslocado.

No resto da casa inteira, nem um quadro visto, independente do quarto ou lugar. Se aproximando, San o puxou. Estava preso, com força o tirou.

Era pesado, e precisou tomar cuidado ao abaixar sem derrubar. Leo, distraído olhando pela janela, nem percebeu. Se virando, arregalou os olhos e andou apressadamente, falando com urgência:

— Ei, pra que mexer nisso? Então solta e…

Antes de terminar a frase, o quadro foi ao chão, e San com uma expressão surpresa no rosto. Preso à parede, um cofre.



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