Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 4: Um Aniversário Diferente

Era um sábado perfeito para San. Sem trabalho pela manhã, teria um encontro à noite e ia ficar dormindo até tarde. Mas, tudo que é bom uma hora acaba, perto do meio-dia, seu relógio tocou um despertador irritante que ele não marcou.

Quando seus olhos se acostumaram à luz, encontrou uma mensagem escrita: “Feliz aniversário, hoje você completa 18 anos, vá até uma das agências do governo para saber se você é um mutante.” Com tudo o que aconteceu, San até se esqueceu, era o seu aniversário.

Levantando-se com desânimo, colocou um tênis velho, uma calça jeans e uma camiseta surrada, trocou o curativo e saiu do apartamento. Durante sua caminhada, decidiu passar no bar, dar um oi.

Ao chegar, o local estava calmo e o dono, que normalmente estaria no seu escritório, tava no balcão. O bar até tinha mais funcionários, entretanto, só apareciam à noite. Vendo seu funcionário, o chefe ficou um pouco surpreso e disse:

— Está de folga e ainda decide vir ao trabalho?

— Hoje vim como cliente. Quero algo forte.

O dono o olhou com uma cara de dúvida e disse:

— Garoto, você sabe que eu não vendo para menores de idade.

Prestes a responder, Sarah apareceu e deu um abraço nele.

— Hoje é o aniversário dele, chefe.

— Nossa, meus parabéns! Venha, eu quero tomar com você a sua primeira bebida de 18 anos.

Pegando dois copos, os encheu de bebida e os dois tomaram silenciosamente. De vez em quando, faziam comentários. Os dois não eram do tipo de ficar falando. Tentando quebrar o gelo, o chefe falou:

— Olha, garoto, eu não sei nada do seu pai, mas conheci a sua mãe. Era uma mulher gentil, energética e ajudava todos que podia. Infelizmente, ela adoeceu e... — Tomando sua bebida, continuou — Sei que você não é nenhum santo, também não é uma pessoa ruim. Estaria orgulhosa.

San permaneceu quieto, eram as poucas vezes que falava da sua mãe. O dono acabou e foi até o seu escritório. Pronto para ir embora, o chefe voltou segurando uma pequena caixa de madeira nas mãos.

— E aqui está seu presente de aniversário. — disse entregando uma caixa.

A pegando e abrindo, revelou um colar completamente preto com uma placa de metal, do tipo que os militares usam. Nele estavam escritas informações básicas de cor branca sobre uma mulher chamada Vitória Lunaris:

Tipo sanguíneo: AB+

Habilidades: Multiplicador físico e sensor de perigo.

Número de identificação: 2172

Suas mãos tremiam enquanto segurava o colar, o reconhecia. Sua mãe usava toda hora no pescoço. Nunca o viu por inteiro, contudo, sabia que era aquele. Pouco antes dela morrer, o objeto sumiu e San nunca soube o que aconteceu.

— Como? — perguntou enquanto mordia para ver se era real.

— A visitei uma vez, por algum motivo me disse para eu guardar, e que deveria te dar ao se tornar um adulto. Tentei recusar, mas ela insistiu, e sabe como era; quando colocava na cabeça, nada podia a parar.

— Obrigado. Naquela época, procurei por isso feito louco, achei que nunca mais o veria.

— Desculpa, garoto. Queria ter contado, porém, fiz uma promessa. Levo isso a sério.

— De boa, tá comigo agora.

— Eu me surpreendi. Não sabia que ela serviu.

— É, nem eu.

Colocando o colar no pescoço, lembrou-se de que na infância, sua mãe vendo reportagens sobre o exército, missões, conquistas e derrotas. “Achei que ela só gostava de ver as notícias, nunca imaginei que já serviu.”

Enquanto tentava se lembrar de outras coisas, tentou pagar as bebidas, que o dono considerou de presente de aniversário. Aceitando, San foi até a agência do governo, o que demorou quase meia hora por causa da perna machucada.

Chegando à agência, um prédio grande com pessoas entrando e saindo, observou os guardas dentro e contou quantos eram. Uma mania.

Concentrando-se à frente, várias filas se espalhavam, todas levando a um caixa diferente. Perguntando a um homem de uniforme onde deveria ir, foi ignorado. Sem muita escolha, aproximou-se de alguém aleatório em uma fila e perguntou:

— Oi, sabe qual é a fila dos despertos?

— Sim, é aqui. — O homem falou, mantendo os olhos no celular.

Esperando na fila por meia hora, comemorou ao chegar a sua vez, só para descobrir estar na errada, uma fila nada a ver. Querendo achar quem deu a informação errada, por pouco sai a procurar. Vendo ser em vão, caminhou até a fila correta.

Nessa fila, havia pouca gente, crianças e adolescentes. Aguardando por 20 minutos, finalmente chegou a sua vez. Passando por uma porta, foi levado a uma sala separada.

Uma jovem mulher, usando uniforme militar preto e óculos, permanecia sentada do outro lado da mesa de metal com um computador. No seu lado, um orbe completamente escuro ficava.

Sentando-se à sua frente, a sessão de perguntas iniciou, e San sabia que suas respostas deveriam ser perfeitas.

— Nome completo. — perguntou a mulher olhando o computador.

— Santiago Lunaris.

— Nome dos pais.

— Dean Fergus e Vitória Lunaris.

— Irmãos?

— Sim, uma irmã.

— Tem membros da família mutantes?

— Minha mãe era.

— Se despertar, planeja seguir carreira militar?

— Não.

— Certo, coloque a mão na esfera.

— Só tendo certeza, o que isso faz? — perguntou relutante.

Finalmente tirando os olhos do computador e o encarando, respondeu:

— Esse é um verificador de energia. Não sei se sabe, os mutantes têm uma energia que usam em suas habilidades, nós chamamos isso de essência. Esse dispositivo verifica se você tem. Saberia se tivesse vindo nos anos anteriores.

As pessoas despertam ao atingirem 10, 15 ou 18 anos, nas duas primeiras é opcional ir à agência, mas quando completam 18 anos é obrigatório, também significa que é a última chance para despertar.

San não queria tocar na esfera, com medo de conseguirem descobrir algo dele, mesmo assim o fez. Em segundos, uma esfera escura tornou-se branca.

Ela digitou no computador rapidamente e falou, tentando fingir alegria:

— Parabéns, você é oficialmente um mutante. O seu despertar acontecerá na hora em que nasceu, por isso ainda tem 23 minutos.

“Eu tava certo. Se sabem até os minutos que nasci, devem ter feito aquilo para ver se eu ia errar.”

— Tem um jeito de saber o poder que irei ter?

— Você pode se basear no que a sua mãe tinha, mas não é confirmado. Outra opção seria conhecer alguém com a habilidade de ler as habilidades das pessoas, só que é difícil achar essas pessoas e, principalmente, porque está na classe épica.

— Sobre isso, dá pra me dizer mais sobre as classes?

O rosto desanimado, falou com uma voz cansada, acostumada a ter de dizer isso:

— Ao se tornar um mutante, desperta dois poderes. Estará entre os comuns, incomuns, raros ou épicos. Cada classificação aumenta a raridade e o quão forte o poder será. Um aviso: Não é porque a pessoa tem a habilidade classificada como épica que sempre será superior às outras abaixo. Depende de muitos fatores: controle, experiência e a quantidade de essência.

— Entendi. Nas pesquisas que fiz, parecia errado.

— Tudo bem, talvez você tenha se confundido pelos únicos.

— Como assim?

— Esse é o nome que damos aos poderes das grandes famílias, ou como alguns chamam, “os grandes”. Essas famílias são antigas e poderosas. Elas não deixam nem seus membros terem filhos com qualquer um; até o jeito de despertar é diferente.

— Sério? O quão diferente?

— Cada família despertando passa por um evento relacionado ao seu poder. Por exemplo, os Cor Glaciale, o redor congela e a pele fica extremamente fria.

Ficando preocupado com isso, San perguntou, tentando esconder o nervosismo:

— Houve casos de mortes entre as famílias?

— Poucos, era quando não havia ninguém da família para ajudar a despertar. Então a pessoa suportava a dor sozinha, e dependendo da família, pode ser bem doloroso.

— Entendi. Você sabe do despertar de outra família? Agora estou meio curioso.

— Até conheço, infelizmente não posso. Tem gente lá fora e nosso tempo acabou.

— Nossa, nem percebi o tempo passar, me desculpe.

San saiu do prédio calmamente, olhou os lados e viu ninguém o olhando, apressou o passo. Vendo a hora, ficou preocupado e, tendo que suportar a dor na perna que só piorava a cada passo, começou a correr.

“Não sei nada da família do meu pai, no entanto, de uma coisa tenho certeza. Os Blackscar já foram um dos grandes; se eu tiver azar, vou ter as habilidades dele.”

Chegando no lado de fora do prédio, abriu um sorriso, achando estar tudo bem. Nesse momento, sentia algo estranho no seu corpo, como se as entranhas estivessem se movendo.

San tentou ignorar isso, mesmo piorando e ficando extremamente desconfortável. Subindo as escadas para sua casa, a cada degrau insultava o dono do lugar por não ter elevador.

Chegando, trancou a porta desesperado, sentindo sua mente zonza. Antes de conseguir deixar a chave em algum lugar, o processo teve início.

Suando descontroladamente, tirou a camisa, só para ver as veias do seu corpo se tornarem escuras e saltarem da pele. Sua respiração acelerou e sentiu como se o seu sangue tivesse se tornado lava, queimando, em uma dor horrível.

Com isso, uma sensação de fraqueza também surgiu, o fazendo cair no chão, mal conseguindo se mexer. Com o corpo queimando, a temperatura mudou do nada, indo de muito quente a muito frio. Tremendo por completo, a dor mudou para se agulhas de gelo o perfurassem.

Isso continuou por uma hora, a temperatura mudando aleatoriamente, seu cérebro se recusando a desmaiar, independentemente da dor. Houve momentos em que só preferia que acabasse, mas aguentou; voltando ao normal, seu corpo se acalmou e finalmente, deitado no chão, adormeceu.

Durante seu sono, o ar mudou. A tecnologia do bairro inteiro acabou. A chave no chão levitou sozinha e foi para a porta; um clique pode ser ouvido e a madeira rangeu. Um homem alto, vestindo um sobretudo e com cabelos bagunçados, entrou. Uma cicatriz grande podia ser vista passando por um dos seus olhos escuros.

Aproximando-se de San, encarou seu rosto por um tempo. Hesitante, tocou em sua cabeça, bagunçando seu cabelo curto. Em seguida, segurando a placa de identificação no pescoço, a pegou com todo o cuidado, como se tivesse medo de quebrá-la.

Forçando-se a se afastar, explorou a casa. Ao acabar, seu rosto não demonstrava satisfação. Encontrou roupas manchadas de sangue, facas escondidas em cada cômodo e nos armários; só comidas baratas e ruins.

Olhando o mapa na parede, analisou por um tempo, surpreso pelo tanto de detalhes e informações que tinha.

Por fim, foi até um balcão da cozinha e deixou uma caixa de presente com um laço vermelho em cima. Prestes a sair, olhou por um tempo San, suas cicatrizes e rosto machucado. Colocando sua mão sobre o peito nu, uma luz verde saiu, fazendo os machucados sumirem, sua pele recuperando um pouco da cor, e a perna curada.

Um pouco satisfeito, foi até a porta e disse:

— Feliz aniversário. — Sua voz era rouca e cansada.

Indo embora como se nada tivesse acontecido, as tecnologias voltaram ao normal.

Depois de um bom tempo, San se mexeu, coçando os olhos; quase havia esquecido o acontecido, porém, ao se ver deitado no chão, sabia que tudo foi real.

Levantando-se animado, correu até o banheiro e se viu no espelho. Analisando cada parte. Era normal que se tornando um mutante, sua aparência mudaria, nem que fosse ligeiramente, mas estava igual a sempre; a única diferença era as olheiras por baixo dos olhos que ficaram maiores.

Decepcionado com isso, se surpreendeu com um assunto diferente: sua perna melhorou. “Ninguém me disse que o processo fosse me curar, pelo menos veio em boa hora.”

Após ter certeza de que nada mudou, se alongou e fez exercícios. Flexões, agachamentos, uns golpes e deu uma corridinha pela casa.

 Acabando, ficou aborrecido novamente; seu corpo não mudou. Era conhecimento comum que os mutantes, além de terem poderes incríveis, tinham corpos melhores que pessoas normais; até os de habilidades nada a ver têm o corpo superior a pessoas.

“Será que tem algo errado comigo?” pensou enquanto ia beber água.

Considerando ter dado errado, notou que no balcão havia uma caixa preta com um laço vermelho. A primeira coisa a fazer foi pegar uma faca e explorar a casa.

Olhou em todos os lugares, mas não achou diferença. Indo até a porta, viu estar trancado, igual tinha sido deixado; porém, a chave estava na fechadura. “Tenho certeza que deixei cair. Tá estranho.” 

Aproximando-se da caixa, ainda com a faca em mãos, desamarrou o laço e viu que na caixa tinha um relógio comum como o dele, e embaixo uma carta com o símbolo de uma adaga pingando sangue.



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