Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 5: Presente de Aniversário

Tirando o relógio da caixa, não deu muita importância, era igual ao que ele usava, um normal. Chegando à carta, a pegou e começou a vê-la de vários ângulos, parecia igual a qualquer outra. Ao abri-la, quase a amassou e jogou fora, porém, se segurou e leu:

 

 

 

— Para Santiago Blackscar —

 

 

 

Sei que não quer me ver, por isso escrevi esta carta.

Meu querido filho, feliz aniversário. Infelizmente, dadas as circunstâncias, escolhi te escrever e explicar um pouco como as coisas funcionam.

Você acabou de despertar, tornando-se um verdadeiro membro dos Blackscar, sei que está curioso sobre como seu poder funciona. Deve ter percebido, seu corpo continua o mesmo; isso é normal. Nossa habilidade, igual tudo na vida, tem suas regras. Devemos matar para ficarmos fortes, esse é o único jeito.

Só avisando, esqueça de pegar um carro e atropelar alguém; a pessoa deve ser morta usando suas mãos. No entanto, nem tudo está perdido, é difícil matar um mutante, entretanto, temos um jeito.

Sempre acham que só podemos roubar os outros. Na verdade, igual a todo mundo, temos duas habilidades; a outra é: ao tocarmos em algum mutante, nós copiamos uma das suas habilidades. Infelizmente, muitas condições entram em jogo para fazer isso, como: ver o poder antes e só usar uma vez após copiado; é impossível fazer de novo na mesma pessoa. Para piorar, temos de aprender a usar no momento, ou ter tido experiência anteriormente.

Mudando de assunto, se você matar um mutante, deve saber que se deixar de esconder o corpo, chamará atenção, e só conseguirá roubar uma das habilidades, e não é você a escolher é aleatório. Tem mais, se decidir fazer um massacre, nem sonhe conseguir usar todas de uma vez. Vou te dar um exemplo: se matar três mutantes, só escolherá uma das habilidades a ser sua, e só quando estiver familiarizado e com certo controle, conseguirá escolher outra.

Sendo um membro oficial da família Blackscar, merece saber a verdade. Nós já fomos uma das grandes famílias, nos temiam, ninguém ousava discordar. Éramos poderosos e antigos, com isso, as pessoas nos odiavam. Nós ignorávamos, até aquele dia, o dia que deixamos o lobo entrar.

A família Blackscar aceitava outras pessoas, permitíamos nossos membros casarem ou se relacionarem com quem quisessem, diferente dos outros. Acho que esse foi o nosso erro. Um dos membros jovens, ingênuo, ficou encantado por uma mulher. Ela descobriu sobre a nossa base e, o pior, o garoto era filho do líder da família, sabia de muita coisa, incluindo as passagens secretas que pouquíssimos tinham acesso. A mulher descobriu e chamou nossos inimigos.

A situação se resumiu a um extermínio, sangue por todo lado. Tentamos resistir, mas por conta das restrições que tínhamos, mataram os fortes de surpresa e finalizaram o restante; o resto é só história. Eu e você, os últimos sobreviventes, temos uma missão: nos vingar e erguer o que um dia já fomos. Agora, ao despertar, você também tem essa missão.

Destrua esta carta após ler; se as pessoas erradas descobrirem, você será caçado e morto, ou usado de arma, e depois, te matam.

 

***

 

Sem pensar duas vezes, queimou a carta. Ficando parado na cozinha, começou a rir, tanto que lágrimas caíam dos seus olhos.

— Minha missão? Há! Deve tá louco. Acha que depois de anos, aparecendo e dando uma de pai legal, vou perdoá-lo? Não vou me vingar de algo descoberto hoje. Se quer tanto, faça você.

Se acalmando, limpou os olhos e pegou o relógio, igual ao que já tinha, um dos baratos que todos têm. Curioso, tirou o que usava. Nem um segundo depois, soltou um apito dizendo que a conta havia sido desvinculada. Colocando o outro e olhando a tela, demorou bem mais tempo do que o normal para iniciar.

— Santiago Lunaris, identidade confirmada.

San pulou ao ouvir a voz, virando a cabeça para os lados, percebeu ser do relógio. Quando a tela de carregamento concluiu, a voz surgiu novamente.

— Boa tarde.

— Tá legal, isso é estranho.

— Sem pânico, sei que relógios não costumam falar, mas sou diferente.

— Sério? Nem percebi.

— Eu me chamo SACRO, Sistema Autônomo de Conhecimento e Resposta Organizada, sou uma inteligência artificial feita para te servir.

— Legal! E o que pode fazer?

— Sou seu guia, sirvo para tirar suas dúvidas e te ajudar no que precisar.

Com um pouco de medo do relógio ter sido tirado de um morto, perguntou:

— Quem era seu dono anterior?

— Ninguém, o senhor Santiago é o meu primeiro dono, e será o único. Sirvo somente ao seu benefício.

— Me chama de San. Disse que me ajudaria, com o que exatamente?

— No meu banco de dados tem muitas informações sobre monstros, habilidades e informações de diversos tipos.

— Entendi, e se eu fizer algo errado? Contra a lei, vai me denunciar?

— Fui programado para te ajudar em tudo. Se autoridades competentes me analisarem e perguntarem, responderei a seu favor sempre.

“Interessante, isso vai me ajudar bastante.”

Mesmo San odiando aceitar presentes daquele homem, sabia ser útil, por isso deixou.

— Me diz, sei que os relógios para pessoas da classe média têm funções diferentes, e os que têm bastante dinheiro também. Quanto pode fazer?

— Refere-se sobre utilidades do cotidiano? Se sim, tenho habilidades iguais às dos caros. Como: Sincronizar contatos, fazer ligações, acessar a internet, mensagens, etc.

Correndo até a cama, pegou o celular velho guardado. Pessoas com pouco dinheiro só podiam usar telefones ruins. Quem tava na média já tinha as opções de fazer ligações e trocar mensagens.

Esperando um tempo até copiar todas as informações, disse em voz alta:

— Me mostra a lista de contatos.

Ficando de olho na tela pequena, já preparado para focar o olhar em letras minúsculas. Só não esperava um holograma sair e ficar na sua frente.

Admirado pela primeira vez vendo aquilo, vagou por tudo que podia, acessando a internet e realizando pesquisas bobas, mandando mensagem e, por fim, chegou a um contato e clicou.

— San! Qual a boa?

Surpreso pelo áudio ser bom, respondeu:

— Está livre hoje? Queria conversar.

— To em casa. Pode vir.

Assegurando a animação, tomou um banho tirando o cheiro de suor, vestiu suas roupas e saiu.

Demorou um tempo e chegou nos bairros pobres novamente. Durante o dia, a única diferença em comparação com a noite é as pessoas nas ruas deixarem as fogueiras apagadas.

Passando por um beco, alguém tentou agarrá-lo por trás. San, já esperando por isso, saiu do caminho facilmente, fazendo a pessoa cair para frente.

Olhando bem o cara, dava para ver que fazia tempo desde a sua última refeição. Suas roupas, tão rasgadas que era mais normal ver a pele do que o pano. Na sua mão direita, segurava uma faca velha e enferrujada com uma ponta afiada.

O homem, sem hesitar, correu para San tentando esfaqueá-lo na barriga, mas era lento. O impedindo, a mão foi segurada e recebeu uma joelhada no seu antebraço, isso o fez soltar a faca com um grito e cair no chão.

Pegando a faca no chão e com um movimento rápido, San esfaqueou a coxa dele, onde soltou um grito para ouvirem.

— Tente de novo, e eu te mato. — falou alto o suficiente para os amigos criminosos se aproximando.

O único jeito de o deixarem ir sem problemas é mostrando não ser uma presa. San sempre fazia algo assim ao visitar o amigo.

Se afastando dos olhares curiosos, andou até chegar em uma das melhores casas do bairro, feita de tijolos pintada de marrom, algumas rachaduras espalhadas nas paredes, no entanto, o gramado — uma coisa rara nesse bairro — era bem cuidado. Tinha até um portãozinho branco separando a rua do quintal.

Chegando na porta, bateu levemente. Logo uma garotinha baixa, com seus seis anos, cabelo loiro e usando um vestido com girassóis, abriu. O vendo, abriu um sorriso e gritou.

— Leo, o seu amigo tá aqui!

Enquanto esperavam Leo aparecer, ficaram conversando. Ela era bem curiosa e gostava de saber como é fora dos muros, então San contou um pouco. Após um tempo, Leonardo surgiu. Comparado aos outros moradores do bairro, estava muito melhor. Seu corpo era grande e forte, um cabelo loiro escuro, roupas simples e limpas.

— San, entra, vamo conversar.

Ultrapassando a sala, com vasos de plantas espalhados, se sentou em um sofá macio. Os dois preparados para conversar. Mas antes.

— Emile, nos deixe conversar por um tempo.

— Quê! Eu também quero conversar, ele tava me contando uma história de quando derrotou um monstro grandão.

— Aposto que te conta outra hora. Agora vamos falar de assuntos de adulto.

Indo embora emburrada, até tentou se esconder em um canto para observá-los, porém, Leo conhecia bem a irmã e a mandou ao quarto.

— Como consegue fazer as minhas irmãs gostarem de você? — perguntou, pondo os pés em cima de uma mesa de centro.

— Me dou bem com as crianças.

— Uma reconhece a outra.

— Ei! Já tenho 18 anos.

— É verdade! Hoje é seu aniversário.

— Isso aí, e adivinha, tem um novo mutante na área.

— Espera, sério?! Isso é incrível, parabéns. Ideias de qual é seu poder?

— Tenho uma ideia, ainda tenho que o achar.

— Uma hora vem, demorei 2 meses pra descobrir quais eram os meus, lembra?

— Dá pra esquecer? Fizemos experiências legais, foi divertido.

— Mais pra ti que pra mim, várias que você dizia doía ou envolvia perigo.

— Bons tempos. Como vão as garotas?

— Bem, a Emma tá meio estranha, lance de adolescente. A pequena tá aprendendo a tabuada.

— Não. Viu, ainda trabalha, “naquele” mercado?

— Sim, por enquanto.

— Certo, preciso de um produto.

— Depende de qual. O que você precisa?

— Veneno de lagarto verde.

— Caramba, veneno forte de paralisação. Para até mutantes.

— É, eu quero usar em alguns monstros.

— Achei que não lutasse contra monstros.

— É por precaução. Recentemente, tive de passar uma noite fora. Vou evitar que isso se repita.

— Eu soube, ia te dar os parabéns e me esqueci. Te consigo pra 1 semana, eu espero.

— Que bom, o que quer?

— Depende, o que me dá?

— O de sempre, é claro.

— Feito, eu quero uma área boa dessa vez, da última você me usou para acabar com monstros.

— Eram fracos, e já pedi desculpa.

— Aham. Te mando uma mensagem quando conseguir.

Com os negócios decididos, ficaram conversando por um bom tempo, discutindo sobre o que acontecia na cidade. Pela primeira vez, San falou sobre passar a noite fora dos muros.

Acabando e indo até a porta para ir embora, Emile voltou correndo e dá um abraço nele. Sendo baixa, só conseguiu segurar as pernas.

No fim, San apertou a mão de Leo. Fazendo isso, uma energia passou pelo seu corpo e indo até a cabeça. Poderiam ter discutido sobre o veneno por ligação, mas precisava fazer algo, testar o poder de copiar. Leonardo era um mutante com duas habilidades comuns, um de velocidade aumentada, e outro de resistência aumentada.

“Já vi seus poderes inúmeras vezes, o curioso seria se eu precisava o ver antes de eu despertar ou depois. Acho que confirmei.”

Os dois se conheciam há anos. A mãe de Leo trabalha em cabarés, vendo que seu filho é um mutante e vivia bem, mandou suas filhas aos seus cuidados. Sendo um bom irmão, as aceitou. Os dois se conheceram nas ruas, não tinham mães e lutavam para sobreviver, com isso se tornaram grandes amigos.

Chegando em casa e vendo já ser 17 horas, testou a câmera do relógio, tirou uma foto de uma pequena parte do seu mapa e enviou a Leo com uma mensagem dizendo: “Cuidado, monstros fortes têm aparecido na região.” Para ter mais dinheiro, Leo caçava às vezes, e San enviava bons lugares como pagamento.

Com isso feito, começou a se arrumar para seu encontro, limpou o tênis, colocou a melhor calça preta — uma da poucas a não ter furos — e pôs uma camisa branca. Finalizando, penteou o cabelo chegando no meio da testa, “vou cortar o cabelo, prefiro evitar ficar grande de novo.”

Chegando à hora, foram ao restaurante. Um lugar bom, nem caro, nem barato. San era inexperiente em encontros, e seu maior medo era ter de pagar toda a conta.

Sarah chegou usando um vestido vermelho, seu cabelo escuro solto. Um pouco de maquiagem, um batom vermelho fraco e perfume leve. Ao vê-lo, abriu um sorriso e disse:

— Roupa bonita.

— Obrigado, a sua também.

— O que aconteceu com o rosto e a perna? Estão ótimos.

— Ao despertar, acabei me curando.

— Sério? Isso é legal, talvez seja um dos seus poderes!

— Pois é, tomara. A mesa já está pronta, vamos?

Concordando com a cabeça, entraram e se sentaram ao fundo. Durante o jantar, comeram, beberam e riram, nada diferente do que já faziam no trabalho.

Chegando a hora de pagar, ficou aliviado por dividirem a conta. Se arrumando para ir embora, San parou e sentiu algo estranho. Os pelos do seu corpo se arrepiaram, não por medo e sim um alerta. Instintivamente, sua visão foi em direção a outra mesa, uma com todo tipo de comida e decorações caras.

Nela, um jovem com 19 anos no máximo sentado comendo uma porção enorme de comida. Vestia-se com roupas caras e chiques para o lugar. Ao seu lado, havia dois seguranças vestindo terno, olhando os lados e evitando bebida alcoólica.

Sarah, percebendo o olhar de San, olhou na direção. Forçando a mente, falou:

— Se eu não me engano, o nome é Simon. É um mimado que despertou recentemente e gasta o dinheiro da família em bobagens, e o pai deixa. O pior é que tem um poder bom.

— Sério? Qual?

— Espera… Ah! Um incomum de sentidos aguçados e outro raro de disparar energia.

— E você sabe disso por quê?

— De vez em quando trabalho à noite, um antigo guarda-costas bebia esses dias. Ficava reclamando como havia sido demitido porque não fazia o trabalho direito, que o garoto era ruim e ia nos bairros perigosos brigar com gente fraca.

— Interessante.

— O quê?

— Ah, bem, de você trabalhar à noite, achei que sua irmã era médica, está bem de dinheiro?

— Mais ou menos, eu quero ser independente, então trabalho à noite pra juntar dinheiro.

— Legal, soube que os bêbados da noite dão uma boa gorjeta.

— Você nem imagina.

Os dois saíram do restaurante juntos e San deu uma última olhada ao mimado.

“Acho que encontrei o meu primeiro poder.”



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