Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 50: Chegando no Hospital

Cada uma das garotas segurava um lado de Leo; Emile, por ser menor, chegava perto de cair em breves passos, enquanto Emma, por ser a mais velha, fazia quase tudo sozinha.

San ia à frente, a espada desembainhada e virando a cabeça toda hora, atento aos mínimos barulhos. Era difícil dizer o quão distantes estavam do hospital, as ruas mudaram completamente, prédios caíram e escombros taparam lugares antes conhecidos.

Passando por uma rua destruída, ouviu o som de um zunido no ar, indo na sua direção. San virou a cabeça na hora; à sua direita, um dardo ia a Emma.

Forçando as pernas cansadas, correu e esticou-se o máximo possível. Por pouco, colocou a lâmina de frente contra o projétil, o impedindo de acertar. Na mesma hora, olhou ao redor, procurando a localização do culpado.

Só via uma cidade arruinada. Pedras jogadas por aí, barracas quebradas, casas aos pedaços.

— O que foi isso? — Emma perguntou tremendo de medo.

— Aconteceu alguma coisa? — Emile, do outro lado, nem viu.

Ainda procurando e tendo certeza de estar bem por enquanto, respondeu:

— Nada, só um inseto tentou pegar a sua irmã. Algo do seu lado?

— Humm, só uns vultos.

— …Se os ver de novo, me avisa.

Desconfiado, San caminhava. No percurso, evitava olhar para trás, encarar o amigo daquele jeito acabava com sua mente, só precisava focar em frente, um passo de cada vez, uma preocupação de cada vez.

Um tempo depois, San sentiu de Garmir um sinal de perigo, o problema era descobrir onde. Respirando fundo, prestando atenção na audição, teve uma ideia vaga; o inimigo os seguia e tinha de fingir tá bem. No primeiro beco livre de obstáculos, entrou.

O tamanho por pouco não cabia os três lado a lado, por sorte a mais nova era pequena. Em uns passos, San deu uma olhada rápida nas suas costas.

Um dardo veio, dessa vez preparado, passou pelas garotas e refletiu facilmente, apontando o dedo indo disparar um tiro, outros quatro vieram.

Mudando de um dedo levantado, estendeu a palma da mão, concentrando, usou a telecinese e os parou no ar. Irritado, os fez voltar em alta velocidade.

Correndo até a entrada, só avistou pingos de sangue escuro no chão. Podia ter veneno, e o monstro desmaiou a alguns passos de distância, poderia ir e encontrar o culpado ou os culpados.

O problema era deixar seu amigo e as irmãs dele só com a proteção de Garmir, talvez desse conta de um inimigo aparecendo de repente, nunca se sabe o que tá por aí.

Considerando as possibilidades, deu uma olhada em Leo, os olhos fechados e coberto de sangue. Sem precisar pensar duas vezes, continuou rumo ao hospital.

Meia hora depois, tiveram de mudar o caminho inúmeras vezes; monstros iam em direções diferentes a toda hora. Mesmo assim, os atiradores de dardos permaneciam nos alvos de sempre, o grupo machucado.

“Quando eu pegar esses bichos, vou matar da pior forma”, pensava enquanto analisava o projétil na sua mão. A ponta vermelha e afiada, era difícil dizer se havia veneno, escolheu não arriscar pôr o dedo.

“Tá estranho, no início focaram nas garotas. Vendo que eu era um problema, foram atrás de mim. Por que só me consideraram como perigo em seguida? O cara segurando uma espada devia ser o primeiro alvo.”

Tentando pensar em um monstro batendo nessa descrição, nem uma ideia veio à mente. Nisso, Emma, ofegante e pingando suor, falou:

— Podemos descansar? Tá ficando complicado andar.

Ao encará-la, queria insistir. No entanto, sabia que se forçasse, ia dar errado. As duas chegaram no seu limite; o esforço pedido tornou demais.

Por um momento, pensou em colocar Leo nas suas costas e continuar. Porém, com esses ataques, decidiu procurar um lugar e descansar.

— Garmir, veja se acha um local seguro.

Latindo, partiu longe, usando seus sentidos monstruosos e energia. Decidindo ficarem parados, aproximou-se do amigo encostado na parede, verificando os panos e sua condição.

Mal era apelido, sangue ainda pingava, independente de tudo feito para impedir. Sua pele tão pálida quanto uma folha de papel, tremia ocasionalmente. Prestes a levantar, agarraram seu braço.

Tomando um susto, quase se afastou num pulo. Leo abriu um dos olhos, onde a esclera foi tingida de vermelho.

— S-San, vamos nos a-atrasar, acorda.

Virou a cabeça as suas irmãs. Elas o viam com um olhar de esperança e alegria.

— Nada aconteceu aqui, voltem a dormir, e fiquem no quarto.

Antes de poder prosseguir falando, San tampou sua boca. Nessa hora, sentiu um puxão na sua mente, imaginando ser Garmir, disse:

— Ele precisa de descanso, sua mente tá confusa, vamos.

Ficando desanimadas, assentiram e ficaram de pé. Pegando-o de volta nos ombros, seguiram San.

Parando na frente de um prédio, pensou estar no errado, até o cão do inferno aparecer na porta.

Hesitante, entrou. Por dentro, completamente desolado e velho, as paredes com a tinta caindo e o chão sujo. Ficou apreensivo pelo tamanho ser grande, três andares e quartos para todos os lados; o perigo podia os esperar.

Garmir, percebendo o estado do seu parceiro, falou na sua mente:

— Monstros… fugiram… nada aqui.

— Fugiram do quê?

— Chamado… dono.

Compreendendo um pouco, foram até um canto e sentaram. Emma e Emile caíram no chão, recuperando o fôlego e limpando o rosto com as costas da mão.

— Tem água? — Emile perguntou, sua voz fraca.

— Foi mal, tô vazio. — falou sentindo sua garganta extremamente seca.

Descansando, Emile mal teve tempo de recuperar o fôlego e foi ao lado do irmão, utilizando sua roupa para limpar o suor e sujeira de terra e pó. Enquanto isso, Emma, perto de San falou:

— O que eram aquelas palavras do Leo?

— Ah, uns anos atrás, a gente trabalhou junto, o patrão odiava atrasos e eu sempre dormia demais. Por isso, Leo me buscava em casa toda manhã.

Ao observá-lo, tentou ver se estava brincando com ela. Então falou:

— Não, a outra coisa.

Demorando pra responder, só deixava suspeito.

— Eu sei lá, pode ser só uma lembrança.

— Vocês dois contam tudo um pro outro, é assim por anos, até na vez em que arrumei um namorado e vocês “verificaram.”

Pensando em histórias inventadas, desculpas ruins, só queria a despistar. Por fim, suspirou em derrota e falou:

— Uma vez, um cara foi até a sua casa, fazendo uma oferta por você. Era um dos grandes, criminoso barra pesada; recusar era… difícil. Chegando no dia limite da resposta do Leo, nós dois demos uma surra nele, você viu e se assustou. Por sorte, as duas tavam engripadas, esqueceram fácil, achando ser a febre.

Cuidando, Emma procurou qualquer sinal de mentira. Após alguns minutos, soltou um suspiro, concordou com a cabeça e juntou a Emile.

San, parado, as olhou por um tempo. As melhores mentiras são aquelas com um traço de verdade.

O criminoso só queria a Emma, por um motivo: a mãe prostituta disse ser o pagamento por uma dívida, e ao tentar pegá-la, os dois o espancaram, dando uma lição.

No entanto, Leo continuou, sabia que se o deixasse ir, um dia voltaria trazendo reforços, devido a isso, decidiu dar um fim nele. Suas mãos e rosto encharcados de sangue, e as garotas apareceram, doentes e jovens.

Simon pode ter sido a primeira vítima de San, contudo, não o primeiro a ter de esconder o corpo.

Fechando os olhos por um momento, descansou, acidentalmente dormindo.

Com um baque no chão, acordou. Tentando entender, olhou o lado e viu Emma caída e um dardo no braço, Garmir também e Emile sumiu. Levantando na hora, virava a cabeça freneticamente, desesperado e nervoso, apertando tanto o cabo da espada que os nós dos dedos esbranquiçaram.

Prestes a pirar, Sacro disse:

— Subiram as escadas há poucos segundos.

Em um movimento, correu até os degraus de cimento e subiu em uma velocidade assustadora, cuidando os sons. De repente, ouviu uma risada estranha perto. Teve certeza, estavam no último andar.

Subindo até o final, parou de frente a uma porta de metal enferrujada. Ao tentar abrir, algo tampava a passagem. Usando o corpo, a empurrava, chutava e até socava.

Nada, imóvel. Estendendo a mão, forçou a porta a abrir. Sentia o poder dentro de si mudar, o forçar aos limites, o metal começou a soltar rangidos altos, explodindo no ar, abriu, revelando um lugar só restando os pilares construídos, livre de teto ou paredes.

No meio, monstros iguais a macacos pulavam alegres, segurando suas zarabatanas de madeira em mãos.

Emile, caída e desacordada, dormia tranquilamente e rodeada.

Mesmo as bestas o vendo, continuavam alegres. Atingindo um novo nível de raiva, San foi em frente a passos pesados. Ao passar a porta, um dardo vinha da direita.

Já esperando, desviou abaixando e correu ao máximo, indo na direção do atirador. Em questão de segundos, o encontrou em um rosto surpreso.

Com apenas um movimento violento, cortou sua cabeça. Sangue escuro voou no seu rosto e arma. Quando os monstros o viram, olhos brilhando vermelho e ódio, pararam de graça e ficaram sérios.

Apontando suas zarabatanas, dispararam imediatamente. A velocidade era alta, se um o acertasse, iria dormir em segundos. Erguendo a espada, cortou os primeiros vindo, mas eram muitos, o acertariam uma hora ou outra.

O gasto de essência é diferente para cada uso dos poderes. Mover objetos é simples e gasta uma pequena parcela, dar um tiro é uma história pior. Querendo gastar o mínimo possível, concentrou sua mente em todos e os fez parar em pleno ar.

Antes de terem tempo de recarregar, avançou, acertando a garganta do primeiro.

Aproveitando a curta distância do próximo, cortou-lhe o braço, impedindo qualquer ataque e o fazendo agonizar. Uns metros à frente, um monstro ergueu sua arma e, prestes a atirar, San sacou a faca da bota e a lançou em sua cabeça, matando-o instantaneamente. 

Sobrando apenas um, tremendo de medo e incapaz de recarregar, San o mataria rapidamente. Os anteriores foram fáceis, um golpe só.

Infelizmente, o monstro pensou rápido e agarrou Emile, ainda desacordada, forçando a ponta de um dardo em seu pescoço. San parou na hora.

Vendo isso, o monstrinho ficou animado novamente, dando passos para longe, levando-a consigo. Porém, durou pouco. San estendeu a mão, e usou grande parte de sua essência e paralisou o corpo do inimigo. Fraco, deixou a pequena voltar ao chão.

San aproximou calmamente e encarou aqueles olhos medrosos; podia notar o monstro implorando pela vida. Sem poder explicar, algo dentro de si dizia ao invés de matá-lo normalmente, inovasse. Virando a mão, o pescoço da besta foi junto, e um som de crack ecoou alto.

Caindo no chão, San aguentava a dor de cabeça, nem pensando no que acabara de fazer sendo errado, apenas um monstro inútil.

Pegando Emile no colo, a carregou até o seu grupo e a deixou ao lado de Emma. Tirando os dardos de todos, acordou Garmir. Quando este levantou, abaixou a cabeça envergonhado.

— Eu… cometer… erro…

— De boa, resolvemos.

Desanimado, foi até o lado de fora e esperou. Sozinho, San fechou os olhos e concentrou-se no interior do seu corpo, sentindo os poderes armazenados.

Ao chegar no de Gus, o levou até o coração. Com dificuldade, colocou ao órgão. Em alguns segundos, uma dor horrível no peito o incomodou; os batimentos aceleraram e sua respiração também. Ao ajoelhar no chão, tentou entender o que acontecia. Minutos depois, a dor diminuiu e o poder voltou ao cérebro. Finalmente acabando, voltou ao normal.

Balançando o cabelo e suado, pensou: “Acho que é um sinal, falta dominar a habilidade atual.”

— Deve ter tentado absorver uma nova habilidade. — falou Sacro.

— Isso, vai demorar um pouco.

— Era o esperado, faz semanas que está com essa.

— Eu sei, no entanto, sinto estar perto. Só precisei fazer igual a quando quis mover o tiro de energia; a sensação é parecida.

Deixando-os descansar, acordou o restante dos dorminhocos. Coçando os olhos, Emma falou:

— To com uma dor de cabeça.

— Deve ter dormido de mal jeito.

Pegando Leonardo no ombro, continuaram o caminho. Ocasionalmente, San enfrentava perigos e acumulou machucados por sua essência baixa.

Apunhalando a barriga de um goblin, pegando sua faca feita de pedra e jogando em outro, ouviu um rugido, forte, alto, ao ponto de ecoar por seu corpo. Ao abaixar na hora, olhou para os lados, até pra cima.

Emma, as pernas já fracas de tanto andar, falou:

— Que monstro é esse?

Ainda o procurando, San respondeu:

— Boa pergunta.

Cautelosos, foram até a esquina e viram seu objetivo. O hospital completamente inteiro e pacientes visíveis pelas janelas. Ao seu redor, um domo azul cobria o local, protegendo de qualquer perigo. O impressionante era os prédios perto também estarem normais, mesmo sem a energia azul os protegendo.

Prestes a dar o primeiro passo, viu um grupo de pessoas em rua direção indo até as portas. San escolheu esperar, apenas para ter certeza.

No minuto seguinte, dois mutantes saíram das portas giratórias do prédio e começaram a gritar:

— Voltem! Fugam!

Ficaram repetindo isso. As pessoas não entenderam, então continuaram. Em questão de segundos, um lobo do tamanho de uma casa apareceu. Em um passo, chegou ao lado deles, antes de sequer demonstrarem medo, o grupo foi engolido em uma única mordida.



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