Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 49: Máscara Amaldiçoada

Seu rosto era pressionado; a máscara se tornava um ao corpo. A todo momento, escutava sussurros:

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Impossíveis de decifrar, como um coral de vozes tocando no seu ouvido, em uma língua completamente desconhecida. San debatia, fazendo o máximo para tirar aquilo da cara.

Aos poucos, sentiu sua mente tornando-se fraca, consumida de sussurros. Por um segundo, até achou ser possível entendê-los. Em um último resquício de consciência, San sabia que poderia nunca mais ser o mesmo; algo estava acontecendo e não podia fazer nada.

Em um movimento, carregou seu dedo de essência, apontando a sua testa, e atirou. Tudo ficou desorientado; os ouvidos carregando um zumbido, a cabeça girando. Pelo menos, os sons irritantes pararam.

San permaneceu jogado no chão, os olhos virados ao céu, olhando as nuvens passando. De pouco em pouco, sua consciência retornou, e a primeira coisa a vir na sua mente foi: “Tirar esse treco de mim.”

Usando toda a força, a máscara desprendia lentamente, doía e era agonizante, partes de pele grudando e impedindo de sair. Em um puxão decisivo, só deu um fim.

Recuperando o fôlego, virou o objeto e viu aqueles dentes pontudos e uma rachadura no meio. San não compreendia o motivo disso ter ocorrido, e nem importava; irritado, jogou longe o objeto, sem ver onde caiu.

Caindo no chão, demorou um tempo até recobrar seus sentidos por completo, o entorpecimento sumindo e lentamente voltando as funções.

Ao sentar, uma dor de cabeça enorme o dominou, quase o forçando a deitar novamente.

— O que acabou de acontecer? — perguntou ao Sacro.

— Boa pergunta, de repente, você gritou e se bateu. Então, deu um tiro na própria cabeça.

— A máscara apertou no meu rosto e ficou falando palavras embaralhadas.

— Falando?

— Sim, era estranho, nem parecia língua humana.

— Bem, pode ter sido a maldição. Quando compramos, a descrição falava.

— A descrição só tinha pontos de interrogação, nem dizia sobre o que era.

— Isso que dá comprar itens baratos no mercado negro.

Levantando com dificuldade, tossiu, passou os escombros atrapalhando a passagem e voltou à rua. Dando apenas uns passos, viu uma pilha de corpos humanos.

Prestes a virar a cabeça da visão grotesca, arrepiou, nervosismo o dominou e a boca secou. Em um dos corpos, ali estava a máscara rachada, virada na sua direção e sorrindo.

“Deve tá brincando. Quais as chances?” pensou enquanto afastava a passos apressados, mudando de ruas e lugares destruídos, avistou uma loja abandonada.

Chegando perto, olhou a janela destruída e torceu estar limpo de bestas, limpando os cacos de vidro, pulou e entrou. Cuidando ao redor, San percebeu ser um mini mercado.

Tentando acalmar a dor de cabeça e descansar, pretendia procurar comida, mas já havia sido saqueado. Encarando a prateleira vazia, viu um saco de doce jogado no chão escondido em um canto.

“Finalmente sorte.” O agarrando e puxando, notou o peso incomum, com a mão tremendo, ergueu e deparou de novo na máscara amaldiçoada.

— É um problema. — Sacro falou — Deve ter se ligado a você.

Assegurando-se ao máximo para evitar jogar de novo aleatoriamente, deixou em cima do balcão e perguntou:

— Explica melhor.

— Objetos amaldiçoados, às vezes escolhem uma pessoa e se prendem, o seguindo onde for e aparecendo inesperadamente.

— E se eu destruir?

— Com esse tipo de item, é complicado. Talvez o quebrando, liberte algo pior.

— Tá e agora? Devo carregar isso aonde eu for?

Como se conseguisse ouvir — e talvez ouvisse — a máscara chacoalhou, tremendo. Na frente dos olhos de San, o objeto mudou para uma pulseira escura.

Dessa vez curioso, encostou de leve, com medo de ter a mão puxada. Ao levantar, analisou de cima a baixo. Era escuro, semelhante a uma obsidiana, e duro ao toque.

— O que acabou de acontecer?

— Interessante, mudou sua forma e adequou a desejo do dono.

— Eu preferia bem longe de mim.

— Afastar dela deve ser impossível nesse momento, recomendo deixar no pulso e ficar por enquanto.

— Ata, de boa. Só tentou me enlouquecer e esmagar meu crânio.

Com uma cara misturada de raiva e medo, pegou e pôs no pulso esquerdo. Ficou uns dois minutos encarando, tendo certeza que consegue tirar.

— Deixa de ser medroso.

— Falar é fácil, relógio idiota. Vou colocar um vírus no teu sistema e vai ver se é bom. — murmurou.

Voltando a caminhar pelas ruas, comendo um saco de doces, andava com uma certa tranquilidade. Ainda incomodava ter a pulseira, porém, iria aguentar, até achar se livrar.

Por algum motivo, as ruas tavam menos perigosas, menos monstros apareciam e o som do caos diminuía gradualmente. Enquanto observava as casas pegando fogo, sentiu estranho.

Não era como quando via um mutante e sabia sua localização, ou quase teve a mente tomada. Dessa vez foi um tipo de sentimento, raiva e nervosismo, e seu pulso direito começou a coçar.

Na hora, lembrou de Garmir. Os dois compartilhavam um elo, sabiam um do outro, incluindo emoções. Naquela hora, tinha certeza, algo deu errado.

Correndo, ignorou as dores e perseguiu a sensação. Seu familiar havia ficado junto a Leo e as garotas. Se aconteceu qualquer coisa, precisava ir rápido.

Igual ao vento, passou por obstáculos facilmente, seja monstro ou humano, ignorava e seguia em frente. Só desacelerou avistando o cão.

Parado em um beco, sangue escuro e vermelho pintava seu pelo. Lambendo uma das patas, suas garras prontas ao combate. San aproximou, permitindo os tênis fazerem barulho.

Garmir levantou a cabeça imediatamente, revelando os dentes e rosnando. Vendo quem era, acalmou um pouco, no entanto, tava alerta.

— Amigão, o que ouve? Tá ferido? Cadê o Leo e as garotas?

Abaixando a cabeça, seus olhos tornavam-se cada vez mais irritados. Na sua mente, ouviu:

— Monstros… Emboscada… Perdemos…

Sentindo um frio na barriga, tentou manter-se controlado, em vão, seu pé batia compulsivamente.

— Eles… Morreram? — Sua voz era fraca e frouxa.

— Não… Saber… Pedras cair…

“Pedras cair, então, devem ter sido soterrados. É o Leo, com certeza tá vivo, o conheço bem, quando suas irmãs estão em jogo, derrota quem quiser.” Recuperando a confiança, falou:

— Me mostra onde.

— Ainda… Perigoso…

— Vamos dar um jeito, só me diz a localização.

Com a pata machucada, andava lentamente. Passando os becos por um tempo, encontraram.

Uma rua em círculo, com escombros e casas demolidas. O pior foi um exército de monstros estar em cima, comendo os restos humanos e destruindo o restante.

Estava uma bagunça completa, espécies diversas trabalhavam em conjunto, mesmo os inimigos naturais. San mordia a unha, tentando ter esperança, mas nos segundos vendo a cena, ficava pior.

Voltando ao beco, caminhou de um lado ao outro, pensando em maneiras de dispersar a multidão.

— Sacro, por que tem tantos aqui?

— Imagino ser pela alta concentração de humanos. Vão onde tem um grande número.

— Se tiver certo, devem ter vários na base dos mercenários e no hospital.

— É provável.

— Qual a melhor forma de os atrair? Irem atrás de mim.

Sacro ficou quieto, San estranhou e perguntou:

— O tempo tá acabando, fala se sabe.

— Leonardo está enterrado, e pretende salvá-lo?

— Sim.

— Recomendo desistir dessa ideia, tem muitos aí, a melhor opção seria afastar e ir para os bairros pobres, o lugar de menos gente. Nessa situação, as chances de seu amigo viver são…

Os olhos brilhando tão vermelhos como nunca, San encarou o relógio em puro ódio e punhos cerrados. Controlando para controlar a voz, falou:

— Eu juro, se alguma vez disser para eu abandonar alguém importante de novo, não tô nem aí o tempo que ficamos juntos ou o quão útil pode ser. Te jogo fora.

Quieto por segundos, respondeu:

— Entendido, vou procurar dispersar o exército.

***

Na frente da base dos mercenários, corpos de monstros caídos, Pequenos, grandes, voadores e terrestres. Vários de membros e cortados ao meio. Mercer, o chefe dos mercenários, continuava no lugar de antes, sua armadura encharcada de sangue e suando.

A respiração acelerada e seus olhos afiados, numa ferocidade contra o inimigo na sua frente.

Mark, revelando bastante do rosto coberto de escamas reptilianas, permanecia de pé no chão, sua montaria jazia morta com o estômago aberto. Infelizmente, era rodeado por outras bestas, todas preparadas.

Estufando o peito, Mercer gritou:

— É só isso que pode fazer?! Eu sozinho ganhei de todos.

Mercer podia ter matado inúmeros e ter tido ferimentos superficiais, contudo, sabia de seus limites. “Esse maldito. Mandou aquela coisa ao hospital, tive de enviar os melhores para proteger o local.”

Seu plano era ganhar tempo, o melhor seria assustar tanto Mark que fugisse. O líder dos monstros mostrando fraqueza assim, poderia ser considerado uma vitória.

Subitamente, sentiu perigo vindo de trás. Virando na hora, brandiu o bastão cheio de espinhos para baixo e acertou no meio do rosto de um monstro tigre enorme.

Seu corpo cansado, essência abaixo da metade e rodeado por bestas, mesmo assim, ergueu sua arma bem alto com as duas mãos. Nessa hora, a ferramenta começou a brilhar dourado.

Mark sabia o motivo, na verdade, até os monstros sabiam, muitos dos seus companheiros morrerem. Tentando se afastar, jogavam os companheiros e corriam.

Quando Mercer desceu o bastão, a luz seguiu em linha reta, cortando sem discriminação, estraçalhando corpos em um toque. Só parou acertando um prédio de três andares, o derrubando.

Encarando a carnificina na sua frente, viu Mark, dessa vez não conseguiu sair ileso. Ajoelhado, gritava a plenos pulmões, sua perna direita arrancada.

***

San pulava animado; o plano era maluco. Se morresse, nem ficaria surpreso; praticamente se jogaria aos leões. Fechando os olhos, reuniu ar nos pulmões e, prestes a gritar, o som de estrondo foi ouvido.

Olhando ao longe, uma nuvem de poeira voava no ar. “Tenho certeza, havia um prédio ali.” Quando ouviram o som, os monstros pararam imediatamente.

Grunhindo entre si, comunicavam entre si. Em um debate longo, incluindo mortes, o grupo marchou, indo em direção ao estrondo.

San olhou incrédulo, nem palavras tinha para descrever. Balançando a cabeça, recobrou os sentidos e alcançou o centro. Nenhuma das bestas continuou.

— Garmir, usa o olfato e descobre onde estão. Sacro, usa aquilo de detectar o som e tenta achá-los.

Seu cão abaixou a cabeça e cheirou, procurando qualquer rastro, ainda com a pata machucada. O relógio levava tempo, então San andava de um lado para o outro, revirando cada canto e torcendo descobrir a localização.

Após minutos, escutou um latido. Tropeçando em pedras, chegou a uma pilha. Utilizando as próprias mãos, cavou, tirando pedra por pedra e gritando:

— Estamos aqui!

Em alguns minutos, sabia tá no lugar certo, um arrepio percorreu o corpo; havia um mutante perto. Só faltava um pedaço grande, talvez já tenha sido uma parede ou teto.

Dando tudo de si, forçou-se ao máximo, nem se moveu. Ofegante, começava a ficar desesperado. Seu objetivo na sua frente, e um pedaço de pedra o atrapalhava.

Pondo-se de pé, seus olhos brilharam vermelho; concentrando-se apenas à sua frente, usou a telecinese.

O pedregulho tremeu, como se um terremoto acontecesse. Em questão de segundos, subiu ao ar, jogado. Desequilibrando-se por um segundo, recuperou e foi ao buraco.

Quando olhou, suas pernas fraquejarem e uma vontade de gritar o tomou. Leo de costas e levantado, uma aura azul o cobria, seu poder de resistência. Usando os dedos nas rachaduras ao redor, sustentava os pedregulhos, impedindo-o de cair. Na sua frente, Emma e Emile se abraçavam, a poeira nos cabelos e sangue nos rostos, mas não delas.

No primeiro passo, o amigo caiu pra trás, San foi a tempo de o agarrar e viu direito. Cortes em todos os lugares, cerrados, irregulares, limpos e mordidas. O sangue caia constantemente, pingando.

A pior parte sua mão, a machucada devido a arma. O membro quase saindo, segurando por um pedaço de pele. Uma vontade de vomitar espalhou; seu corpo fraco, e a mente demorava para processar.

Tossindo fortemente, o amigo abriu os olhos. Um deles retirado; o outro o encarava fracamente.

— M-meu irmão, bem na hora; as garotas têm que ir para a escola, as leva? — Sua voz era um sussurro, fraca e debilitada.

Emile foi a primeira a abrir os olhos; San na hora falou:

— Fiquem com os olhos fechados… Tem muitas pedras aqui. — Sua voz soou mais fraca do que o esperado.

Suas mãos tremiam, e a respiração era rápida. O mundo girava e poderia perder a consciência a qualquer momento.

— Deixe sua mente voltar ao normal, estanque os ferimentos, agora.

A voz robótica de Sacro o pôs de volta à realidade. San respirou fundo e rasgou a camiseta até o ponto de estar com o peito nu, enrolou nos piores ferimentos.

Arrastando-o para fora do buraco abafado, o deixou deitado enquanto murmurava palavras confusas.

Indo ao lado das garotas, falou tentando manter a calma:

— Garotas, o Leo tá mal, preciso da ajuda de vocês; vamos levá-lo daqui.

Abrindo os olhos, as duas choravam, suas pernas fraquejavam e tremiam.

— É ruim? — Emma perguntou.

San ficou em silêncio; não queria falar em voz alta, sentia que se falasse, seria a realidade.

— O mano vai ficar bom? — Emile, com um pouco de esperança, o encarava.

Uma dor no peito horrível o tomou, como se fosse explodir, balançou a cabeça e disse:

— Óbvio, é do Leo que estamos falando; sua teimosia vai o levar até os cem anos.

Segurando a espada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, estava decidido; iria salvar o amigo.


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