Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 7: Indo ao Ataque

San correu até o vaso segurando o vômito. Durante todos os anos, já havia visto coisas horríveis, no entanto, nunca um homem ter seu corpo perfurado em inúmeros lugares. “Sai antes de ver o que Simon faria com o velho. Será que o matou?”

— Devo admitir, ele é bom em dividir sua vida pessoal dos prazeres. — Disse Sacro de seu pulso.

— Ele é um lunático!

— Sim, te enganou por um dia inteiro.

— Fui ingênuo, recebi pistas nas suas falas e ações, só não percebi por idiotice.

Descartando qualquer indício de dúvida, decidiu seu alvo.

***

Limpando as mesas no fundo do bar, San ouvia atentamente Sacro.

— De acordo com Sarah, uma das habilidades de Simon são os sentidos aguçados. Está na classificação incomum por ser somente um dos sentidos melhorados. Podendo ser audição, visão, olfato, paladar e tato. Também está nessa classificação por ser difícil de controlar.

— Tem como eu saber qual é o sentido melhorado?

— Somente se você perguntar ou perceber enquanto é ativado.

— E quanto ao outro?

— Disparar energia. Esse está na classificação rara por ser forte e ter muitas formas de o utilizar.

— Pode dar detalhes?

— Usuários dessa habilidade soltam um tipo de energia por diferentes partes do corpo. Tem os que soltam pela boca ou as mãos. Muda dependendo de cada pessoa.

— Deve machucar bastante se for acertado por isso. Acha que já sabe usar?

— Pouco provável. Quanto maior a classificação de uma habilidade, a dificuldade aumenta de a controlar.

Ao terminar seu turno, pensava em todos os jeitos de ganhar uma batalha e seu humor piorava. Suas habilidades físicas eram de uma pessoa normal; as de Simon eram muitas vezes superiores, e era treinado. “Se eu pretendo derrotá-lo, tenho de descobrir suas fraquezas primeiro.”

Durante vários questionamentos sobre suas opções, recebeu uma mensagem. Abrindo um holograma na sua frente, era de Simon dizendo se encontrarem de novo. “Eu realmente não queria ir. Merda! Preciso descobrir mais.”

Concordando, vestiu-se novamente com roupas boas e foi encontrá-lo. Sentado em uma cadeira fora de uma lanchonete, comendo um pão e tomando café. Batendo o olhar, San lembrou-se da noite anterior, da dor daquele homem. O primeiro pensamento a passar na sua cabeça era dar um soco na sua cara esnobe, mas se assegurou e abriu um sorriso. Sentando-se de frente, tentou agir normalmente.

— Boa tarde, como está?

— Max! Chegou cedo.

— Já tava por perto. Então, me chamo por quê?

— Nada preocupante, tem sido divertido conversar e pensei em repetir.

Toda vez que olhava seu rosto sorridente, lembrava-se do homem no chão, dificultando um pouco o encarar. Conversaram por um bom tempo; na maioria das vezes, Simon reclamava de problemas banais: o pai se negar a pagar a mesada, os empregados queimarem a comida, e por isso almoçava em restaurantes. Isso continuou por horas. “Esse cara quer me matar de tédio, só pode.”

O lado bom é que durante a conversa, conseguiu pegar pequenas pistas sobre sua rotina, de onde ia com frequência e o que gostava de fazer. Se despedindo, San pensou em métodos de atraí-lo em um lugar isolado. Logo descobriu ser praticamente impossível; os seguranças andavam sempre na sua cola.

Ao voltar em casa, andou em círculos enquanto roía as unhas, pensando em cada plano maluco e considerando sua eficácia. Demorando uma hora, decidiu deixar isso para depois, falou na direção de Sacro:

— Se pretendo matá-lo, tenho de fazer isso escondido e dar um jeito de eu ficar irreconhecível.

— Concordo, deveria comprar uma máscara no mercado negro.

— Boa ideia, mas fazer isso nesta cidade seria ruim. A outra opção é a internet. Só não sei entrar.

— Bem, posso ajudar nisso.

— É claro, nem tô surpreso. Me coloca no site.

Abrindo um holograma na sua frente, os sites comuns sumiram e abriram espaço a páginas diferentes. Os links eram indecifráveis e produtos de diversos tipos apareciam.

— É mais fácil do que eu esperava.

— Nem tanto. Se usasse os métodos normais, custaria trezentos créditos para se cadastrar. Por sorte, achei um erro no código e te pus dentro.

Ficando animado, navegou de site em site, a cada momento seus olhos ficando animados. Tinha de tudo: armas bestiais especificando os detalhes do que faziam, familiares à venda, armaduras com efeitos especiais e diversos itens diferentes.

Sem conseguir achar o que queria sozinho, pediu a Sacro fazer uma busca geral. Quando os resultados apareceram, ficou triste a cada novo surgindo, nenhuma era barata. Depois de quase uma hora procurando, achou.

Custava 200 créditos, ainda caro, porém, os efeitos eram interessantes: mudar a voz da pessoa, uma aparência sinistra e detalhes extras na descrição. O que o deixou hesitante é o nome do site: “Itens amaldiçoados.”

Lendo a descrição da maldição, estava em ponto de interrogação. Maldições preocupam todos; objetos desse tipo têm a capacidade de dar poderes incríveis e consequências horríveis.

“Será? É tão tentador.” Tentando decidir se arriscava, Sacro deu uma ajuda.

— Recomendo comprar. É barato e quanto à maldição, talvez seja só uma mentira.

— E se for verdade?

— Damos um jeito.

— Se eu comprar, vai todo meu dinheiro embora.

— Daqui a uns dias irá receber do bar, desse jeito ficará bem.

— Sabe que só trabalho meio período, né?

Sem ânimo, comprou, sentindo uma dor no coração. A data de entrega era em poucos dias; nesse tempo, iria ficar próximo do alvo.

Uma semana, demorou uma semana inteira para San implantar ideias na mente mimada e preguiçosa de Simon, sobre como era fácil fugir dos seguranças, de que se quisesse fazer algo sem ser visto, havia pontos isolados na cidade.

No quinto dia, fez a sua primeira fuga; obviamente, o pegaram facilmente. Com dicas e a boa tutoria de San, melhorou. Por sorte, Simon aprendia rápido.

Nesse tempo, seu trabalho era prejudicado; não saía para caçar e seu dinheiro tornou-se escasso.

***

San e Sarah, deitados no sofá, assistindo a um programa de TV cheio de drama. O céu escureceu, e seu relógio soltou um apito.

Independente de odiar levantar, deu um tapinha na cabeça de Sarah e disse:

— Desculpa, tenho que ir trabalhar.

— Quê! Agora? Já é noite.

— Desculpa, eu preciso.

— Tá bem, amanhã a gente vai fazer sair. — Afirmou enquanto pegava suas coisas.

— Beleza, até amanhã.

Ela saiu, deixando San na sua sala, e somente a vendo da janela indo longe, se preparou.

Chegando até o baú embaixo da sua cama e, abrindo-o, revelou seus equipamentos: uma armadura simples de couro pega emprestada, suas facas de arremesso e duas adagas. Guardado em um frasco de vidro, um líquido transparente fechado com uma tampa. Era o veneno encomendado do Leo.

Tirando suas facas, derramou o líquido em cada uma, incluindo as adagas; isso acabou com o frasco inteiro. Tudo coberto, guardou cada uma perfeitamente. Por fim, chegando no roupeiro, afastando suas roupas presas no cabide, empurrou a parede de madeira, se soltando e revelando um espaço com itens guardados.

Primeiro, tirou um manto, vestindo-o, cobria o corpo todo. Depois, uma máscara.



Deixando dentro do manto, saiu às ruas, sendo discreto, evitando lugares com possíveis chances de ter câmeras de segurança ou fontes de luz fortes. No meio dos mendigos, andava livremente; qualquer um o avistando, achava ser uma pessoa poderosa e evitava o olhar.

Sozinho no escuro, colou a máscara pela primeira vez. Na hora ao tocar o rosto, prendeu firme e ajustou-se perfeitamente; também fechou a boca, ainda em um sorriso. Olhando os lados, percebeu conseguir ver no escuro. Era na cor cinza, contudo, via bem o suficiente.

Andando lentamente por becos, sentia um frio na barriga; uma parte torcia que nada acontecesse naquela noite, apesar disso, aconteceu. Simon andava sorrateiramente no beco instruído por San. Embora coberto por um manto, dava para perceber quem era. Seu jeito de andar continuava inalterado e, facilitando, o manto usado era caro, com enfeites e bordados.

San o seguiu, nem tentando agir discretamente. Simon percebeu um homem de máscara atrás facilmente. Fingindo não tê-lo visto, andou normalmente. Depois de várias voltas, entrou em uma área de construção, a mesma recomendada caso precisasse levar alguém sem ser interrompido.

Esperando um pouco, entrou também. Por vários lados, pilhas de areia e brita se espalhavam, ligas de metal empilhadas em um canto e tijolos amontoados; espalhado aleatoriamente, dava para ver grandes máquinas de construção. Poucos pedestres passavam e a iluminação é péssima.

No meio, Simon, parado com um olhar confiante, iluminado somente por causa da lua no céu.

— Senhor mascarado, está me seguindo já faz um tempo, e dada a sua aparência, pretende mais que só me roubar.

San o observou cautelosamente. A única arma a carregar era sua espada embainhada à cintura; por baixo do manto, vestia suas roupas de sempre, caras.

O impedindo de sacar sua arma, pegou do cinto duas facas em cada mão e as arremessou, mirando nele, que, facilmente, desviou para o lado.

Ainda assim, permaneceu lançando seus projéteis, independentemente se acertaria. Isso fez Simon ficar em constante movimento, o impossibilitando se aproximar.

Numa hora, dentro das sombras, desviou novamente, com um rosto de tédio. Só não esperava que ao fazer isso, outra estava a poucos centímetros do seu peito.

Assustado, tentou desviar utilizando sua velocidade, ainda assim, a distância era curta. No máximo, conseguiu mudar o alvo do seu peito ao ombro.

Sendo atingido, arrastou os pés no chão e levantou o corpo. O sangue pingava formando uma poça, e encarava o mascarado com raiva e dor.

— Bom golpe. Se aproveitou da pouca luz. Porém, sou forte, isso é pouco para mim.

— Fala demais. — Sendo a primeira vez a dizer uma palavra, a voz era diferente de um humano, sombria, ecoando por inteiro.

Sem trégua, os ataques seguiam. Diferente de antes, Simon exibia um rosto sério; conseguiu desembainhar sua espada e, por sorte, o braço usado foi o ombro machucado.

Usando a espada para desviar as facas, se aproximou em uma velocidade assustadora. San forçava o corpo a manter a calma; e o nervosismo aumentava a cada passo do inimigo.

Tendo passado a barragem de ataques, Simon se aproximou, dando uma estocada direto na barriga. O mascarado pretendia desviar; ainda estava distante o suficiente, mas a velocidade de um mutante era desumana.

Passando do lado esquerdo da barriga, cortou bastante. Aproveitando a oportunidade, San usou uma das facas e cortou seu peito, o forçando a se afastar alguns passos.

Olhando para baixo, ficou preocupado; nem a armadura de couro conseguiu retardar o ataque. Rasgando uma parte do manto, atou ao redor do machucado.

Se acalmando, atirou duas vezes; indo pegar a próxima, sua mão passou, todas já foram disparadas. Simon, percebendo isso, abriu um sorriso; finalmente, havia chegado o que esperava.

Sacando as duas adagas, se preparou; seja em velocidade ou força, perdia. Tinha de usar o que sabia.

Escolhendo atacar primeiro, surpreendendo Simon, foi direto no pescoço, preferindo acabar aquilo na hora. Sendo repelido pela espada, continuou sem descanso.

Os dois consequentemente se enfrentaram, San visando acertar partes críticas: axila, olhos, boca, articulações, etc. Simon em barriga, braços e rosto.

Mesmo tendo o corpo superior, tinha uma clara diferença entre a experiência de cada um. Um dos lados já lutou arriscando a vida inúmeras vezes, e o outro, briga com pessoas fracas. Juntando isso, o veneno e ombro ruim, só assim a luta demorava tanto.

Numa hora, a espada conseguiu passar ao lado do peito, bem no local de algumas costelas.

San usou o cabo da sua adaga e acertou o machucado no ombro, fazendo-o estremecer de dor.

Dando um passo atrás, fez um corte vertical direto na barriga, fazendo sair sangue incessantemente. Por estarem perto, recebeu um chute no peito, jogando-o para trás e ficando de joelhos.

Se encarando, os dois ficaram imóveis, sabendo já estar no fim; as adagas por um fio, cheias de rachaduras causadas por uma arma bestial.

Ainda de joelhos, San aproveitou e pegou uma faca no chão, jogando-a direto no rosto dele. Direcionando a lâmina da espada para a repelir, correu ao ataque, chegando bem perto. Simon estava preparado, uma boa defesa que conseguiria repelir o que viesse.

Inesperadamente, ao invés de seu rosto ou outra parte ser atacada, San abaixou a adaga indo direto no joelho.

Realizando o que muitos considerariam idiotice, Simon soltou a espada e estendeu a mão. Não há tempo de ter o joelho perfurado, ultrapassando o membro. Prestes a comemorar, uma luz azul saiu da palma da mão, iluminando ao redor e chegando bem perto do peito de San.

Apenas poucos centímetros os separando, foi atingido por uma força enorme, silenciosa, como se um caminhão o atingisse. Voou longe, derrapando no chão e atingindo em cheio uma pilha de areia, onde se machucou, tossindo incessantemente, e a máscara só tornava pior.

Pelo menos, a situação de Simon era mal; soltando um grito ecoando. Seu rosto adquiriu um tom pálido, e cambaleava ameaçando cair a qualquer momento; a faca tinha ido fundo, e sangue escorria da ferida.

Agonizando de dor, ajoelhado no chão, escolheu deixar a adaga, sabendo que se a tirasse, o sangue só iria sair em uma velocidade pior.

Recuperando um pouco de autocontrole, olhou na direção de San, ainda no chão, tossindo. A armadura de couro protegeu pouco; uma grande marca preta de queimadura era vista, e fumaça saía.

Vendo quem o fez se machucar tanto, uma mistura de adrenalina e raiva entorpeceu o machucado de Simon; queria vingança, causar dor de todos os jeitos. Começou a se aproximar, mancando, determinado.

“Merda, tá vindo,” San pensava, forçando sua mente a bolar um plano. A tosse havia acalmado, mas seu peito doía toda vez que respirava. Uma das suas adagas no joelho de Simon; a segunda fora separada durante o arremesso, e pior, sentia o seu corpo extremamente fraco, sem força nem para levantar um dedo.



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