Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 8: Um Problema Atrás de Outro

Somente com o desejo de causar dor, Simon se aproximou mancando e quase caindo a cada passo. Era tanta a raiva que até esqueceu a espada no chão.

Sem piedade, usou a perna boa e chutou seu inimigo, que, fraco para resistir, só teve de aceitar.

A condição de San só piorava, seus pensamentos em conflito do que fazer e a forma de fazer.

Usando tudo que tinha, protegia-se dos pontapés com os braços. A dor era constante, a cada segundo, um novo ataque ou insulto. Sua mente, exausta, só preferia fechar os olhos e aceitar o fim.

— Seu pedaço de lixo! Morre!

Antes de desistir, Simon estava realmente o irritando. Em um flash, lembrou-se do porquê de estar fazendo aquilo, da dor vista e das pessoas próximas a ele; queria levantar e dar um jeito no maldito, o chutando.

Como se o ouvisse, houve uma diferença no corpo, uma energia o percorrendo por inteiro, saindo do cérebro e indo ao coração, desesperado por liberdade.

Em um simples pensamento, deixou. Rapidamente sentiu seu corpo energizar; a sensação era boa, a dor dos chutes diminuindo, e seu corpo formou uma aura azul ao seu redor.

Nisso, também sentia algo dentro esgotar a cada segundo. Abrindo os olhos, Simon até se assustou. Poucos segundos atrás, de um preto profundo, seus olhos se tornaram um vermelho brilhante.

O momento em que parou os ataques era a oportunidade perfeita para assegurar a perna ruim e o puxar.

Gritando, caiu de costas no chão de terra. San, mesmo que somente se mexer fosse horrível, se jogou em cima dele e o socou.

Sem deixar assim, Simon também começou a bater. Os dois ficaram se batendo no chão. Rolaram e se debateram, às vezes um tentava levantar, só para ser impedido com um golpe o derrubando de volta.

Alguém vendo de fora podia achar engraçado, igual a uma briga de duas crianças. Mas era verdade, suas vidas corriam risco e só um sairia vivo. San permanecia na vantagem enquanto seus olhos brilhassem, a energia continuava; seus socos eram fortes e sentia que nada o impedia.

Toda vez que Simon dava um soco bem-dado, sentia sua mão doer, como se tivesse acertado pedra. E seu joelho, ainda com uma adaga, doía cada vez mais.

Até que uma hora, San, entorpecido pela energia correndo no corpo, da sensação de invencível, alguma coisa dentro o dizia para o machucar, continuar até transformar seu rosto em polpa. Por conta disso, ignorou a máscara querendo se soltar do rosto, e com um soco em cheio do seu oponente, o objeto voou pra cima.

Simon reconheceu o San só de bater o olho, seu corpo paralisou por um momento, na sua frente, o rosto do seu novo amigo.

Esse foi o seu erro. San, desesperado da luta começar de novo, com um movimento rápido, puxou a adaga do joelho de Simon, o fazendo soltar um grito estridente.

E um pensamento, San cravou violentamente a adaga no peito do jovem. Abaixando a cabeça, Simon tava com os olhos bem abertos, encarando o sangue sair.

— P-por favor! Eu não quero morrer!

Continuando a implorar, sua cabeça subitamente caiu pra trás com força em direção ao chão. San, ao ver aquilo, estranhou e se afastou.

Do lugar onde a faca cravou, marcas negras surgiram, começaram a se espalhar por todo o peito, depois as mãos, e subiram ao pescoço, suas veias se tornando pretas e indo até os olhos.

Desviando o olhar da cena assustadora, San sentia que a cada segundo passando, dentro de si, uma energia crescia, tomando forma.

O corpo de Simon, tomado de marcas negras, teve convulsões fortes e a se debater por completo. Sua boca aberta, desejando gritar, e nenhum som saindo.

Seus olhos foram perdendo o brilho pouco a pouco, tornando-se um branco puro, até finalmente, acabar. O corpo caído no chão, sem vida, pálido igual uma folha e sangue saindo dos olhos, boca e orelhas.

Encarando o corpo caído, San percebeu uma clara diferença no seu interior. Diferente de quando encostou em Leo, era mais forte, permanente. Um tipo de energia indo à cabeça, permanecendo guardada.

Ignorando isso, duvidava ser verdade.

— Parabéns, alvo derrotado. — Sacro disse, com sua voz desprovida de emoção.

— E-eu o matei.

— Sim, por pouco.

Sentindo nojo e até pena, virou a cabeça, apoiou as mãos nos joelhos e vomitou. A sensação de invencibilidade já sumindo e seus olhos voltando ao normal. San podia ter feito muita coisa errada, roubado, enganado até machucar seriamente. Contudo, nunca matara um humano, até agora.

Erguendo as mãos, pôde ver o sangue recente, teve de se esforçar para conter o vômito na garganta. Na sua mente, repetia: “eu sabia que o mataria, por que dessa reação? Era só um merda qualquer.”

No entanto, o rosto de Simon ficava na sua mente, o momento em que parou, o reconhecendo.

— Se acalma, tenho objetivos importantes a fazer nesse momento. — falou em voz alta, tentando forçar a voltar ao normal.

Fechando os olhos, tentou manter a calma, controlar a respiração. Abrindo-os depois de respirar profundamente, conseguiu manter a mente sã. “Tenho que ser rápido, fizemos muito barulho, tenho medo de um curioso aparecer.”

Pegando sua máscara de volta, passou a mão, limpando o sangue dela, nem sabendo de quem era. Ignorando, colocou-a no rosto, já havia ido longe para cometer o erro de um pedestre passar e ver seu rosto.

Aproximando-se do corpo, evitou olhá-lo nos olhos.

— O que eu faço? — pensou em voz alta.

— Como assim? Deve ter bolado um plano para esconder o corpo. — Pela primeira vez, a voz de Sacro mostrou surpresa, do seu jeito robótico.

— Eu tinha, porém, não sabia que depois de matá-lo aconteceria isso.

— Agora sabe porque o seu pai deixa as marcas nas vítimas. Também é uma forma de tortura, pensando bem.

Seu estômago revirou só de imaginar quantas pessoas passaram por aquilo, quanta dor e sofrimento, e ele fez igual, e teria de fazer de novo se quisesse ficar forte.

Durante seus pensamentos de matar mais gente, de causar dor, prometeu: nunca fazer um inocente passar por isso. Não se tornaria outro devorador de almas.

Concentrando-se no problema à sua frente, falou em voz alta:

— Se eu o deixar jogado aí, vai ser ruim pra mim.

— Vai ter que dar um jeito.

Andando de um lado para o outro, pensava no que fazer.

— E se eu levar o corpo pra minha casa?

— Despercebido, no meio da rua? E se conseguisse, iria feder e chamar atenção.

— Enterrar? Temos os materiais aqui.

— Demoraria e está machucado, ou pior, os seus seguranças virão procurá-lo.

— Queimar?

— Teria que ir atrás de materiais inflamáveis. É pouco provável, porém, uma pessoa poderia passar por aqui e denunciar à polícia. Ou, se estiver voltando, te peguem com a arma do crime e sangue da vítima, sem contar com o que estiver em mãos na hora.

— E se eu pedir pra trazerem?

— Quem? Seu grande amigo Leo? Vai achar super normal.

— Conheço outras pessoas.

— Certo, antes de decidir, dê um jeito nessa cena.

Olhando ao redor, percebeu do que falava, sangue espalhado em vários cantos e facas jogadas.

O primeiro a fazer: arrastar o corpo a um local menos chamativo. Durante o arrastamento, várias vezes sentiu um mal-estar e sensação de culpa. Deixando em um canto isolado, jogou uma lona por cima e juntou suas facas.

Sendo pegas e colocadas de volta no cinto, a adaga, que voou longe e quebrou, foi guardada também. Pegando seu próprio manto, limpou o sangue jogado na terra. Terminado com dificuldade, e atrasado por conta do corpo dolorido, olhou a espada caída.

Mesmo após uma luta dessas, continuava intacta, na mesma aparência bonita. Encantado, hesitou e a pegou, junto à bainha e o cinto prendendo ao redor da cintura. “Roubando de um morto, incrível.”

Já preparado para ligar pro cara trazer o material do fogo, Sacro o interrompeu.

— Espere, veja as roupas dele.

— To precisando de dinheiro, mas não ao ponto de roubar cada parte de um morto.

— Quem disse em roubar, retire a adaga do peito e revista os bolsos.

— Dá pra deixar pra depois.

— Se o que eu acho estiver correto, deve ser feito imediatamente.

— O que acha?

Sacro ficou quieto, recusando-se a falar até San fazer o pedido, e sem muita vontade, fez.

Primeiro, retirou a adaga, presa fundo no peito, precisou de força e saiu, resultando em olhar o rosto morto de novo, sentia os olhos brancos o encarando.

Depois aos bolsos, a maioria vazia, os poucos com algo, só eram preservativos e pílulas suspeitas.

— Veja o relógio.

— Agora quer falar.

— Faça logo isso.

Mexendo no aparelho, era caro e de cor verde. Retirando do corpo, um bipe de aviso soou por segundos.

— Rasgue a parte de trás.

Dando um suspiro, fez. Considerando o quão caro era, se quebrou facilmente e um pedaço de metal caiu. Pegando na mão, era um dispositivo pequeno, plano, e uma luz vermelha piscava de vez em quando.

Sam sabia exatamente o que era aquilo, apesar disso, Sacro falou.

— É um rastreador — mostrando a alteração no tom de voz para urgência e a tela ficando vermelha.

— Será que já sabem dele?

— Sim! Está parado há muito tempo. Devem estar vindo nesse instante.

Esquecendo tudo, largou no chão e começou a correr. O primeiro lugar a ir foi nos becos. Ainda que doesse só respirar, continuou, parar um pouco resultaria na morte.

Correu se batendo com obstáculos à frente, passou por mendigos, latas de lixo e postes de luz apagados. Seu corpo doía a toda hora, principalmente o peito; sentia os olhos pesarem e preferindo dormir. Prestes a sair na rua, um carro passou rasgando o vento.

Ele paralisou; logo, veio um em seguida, e vários atrás em alta velocidade e grandes. Por trás da máscara, o rosto de San revelava uma expressão assustada, com os olhos arregalados.

— Estão aqui.

Voltando aos becos, continuou sua corrida. Os carros foram até a área de construção, mas voltaram rapidamente, e de dentro, homens equipados com armaduras de corpo e rifles de energia na mão, usados normalmente em pessoas problemáticas. As armaduras usadas eram as mesmas dos guardas dos muros.

Os guardas se espalharam por todos os becos, em cada saída e entrada. Andaram em formação; qualquer um que viam, jogavam no chão e prendiam. Se tentasse fugir, tomava um tiro do rifle de energia. Cada tiro tinha tanta energia elétrica capaz de matar.

Escondido dentro de uma lixeira, San via pelos furos pessoas sendo presas depois de apanhar, outros tomando um tiro e parando de respirar, sendo deixados ali.

Tentando de algum jeito pensar no que fazer pra fugir, nem se importou em tentar descobrir o motivo dos guardas fazerem isso.

— Recomendo evitar correr exageradamente. Fazendo uma análise rápida, presumo que esteja com duas costelas trincadas.

Ouvindo Sacro, San se surpreendeu. Achou que teria sido bem pior, no entanto, ignorou; se tivesse que correr, correria. Esperou um guarda passar e saiu.

Andou sorrateiramente, evitando os mínimos barulhos, por mais baixo que fosse, sempre visando ir em lugares que um já passou, contudo, a cada alguns minutos passavam de novo.

Avistando uma saída com a defesa baixa, dois homens mantinham guarda. Se escondendo de novo em uma lixeira, Sacro falou:

— As formas de fugirmos são poucas. Então, temos duas opções: a primeira, nos escondemos em lixeiras e torcemos que ninguém o ache. A segunda, você luta.

— Se eu lutar, quais as minhas chances?

— Estão vestindo armaduras, reduzindo a quantidade de danos que podem sofrer. Suas armas energéticas te derrubam em um único tiro, e está mal. Por conta disso, 20%.

“Merda, pensa, tem que haver um jeito.” Em seus inúmeros questionamentos, teve uma ideia, arriscada, talvez funcionasse.

***

Um guarda inexperiente patrulhava os becos. No menor som detectado, apontava sua arma. Não havia pego nem um mendigo e a frustração crescia. Ao passar por uma das várias intersecções, encontrou algo estranho.

Um manto cobria completamente o corpo de uma pessoa deitada. O guarda, aliviado por pelo menos ter encontrado alguém, soltou um suspiro de alívio e mostrou sua cara de brabo. Ao se aproximar, nem apontou a arma.

Deu um chute no pé da pessoa e disse com voz autoritária:

— Levante. Você está sob custódia da guarda dos muros.

O caído no chão nem reagiu, permanecendo na mesma posição. Irritado, deu um chute forte nele e disse:

— Levante! Ou levará um tiro por desobedecer à guarda dos muros.

Apontando sua arma, e prestes a puxar o gatilho, ouviu uma voz:

— Aqui não é os muros.

Virando-se rapidamente, tentou apontar a arma, mas o indivíduo agiu em uma velocidade surpreendente. Com o cabo de uma espada, acertou diretamente no rosto. A última coisa vista antes de desmaiar foi uma máscara preta com um sorriso grande, cheio de dentes pontiagudos, e dois buracos escuros.



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