Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 9: Testando o Poder

Soldados andavam de um lado a outro, as armas em mãos, observando cada beco e esquina, qualquer lugar onde alguém pudesse se esconder. Seus veículos espalhados nas ruas, bloqueando as passagens, sem permitir nada entrar ou sair.

Na parte mais distante, dois guardas cuidavam de uma das entradas, atentos a todo momento. Ao ouvirem passos atrás, viraram-se imediatamente e apontaram seus rifles de energia.

Percebendo ser um dos seus companheiros, abaixaram as armas. Usava uma armadura semelhante à deles e carregava uma arma de energia. Na cintura, uma espada embainhada. O que o diferenciava do restante é a sacola plástica nas mãos.

Ao se aproximar, tentou passar, antes de conseguir, estenderam a mão impedindo-o. Embora não apontassem as armas, estavam cautelosos.

— Está ferido, soldado? — falou o da direita, percebendo o modo de andar estranho.

Mantendo a cabeça baixa, respondeu:

— Meu grupo encontrou vários moradores de rua. Resistiram, e me machuquei.

— Do que isso importa? A menos que suas pernas estejam quebradas, deve voltar.

— Entendo, senhor, mas a sacola nas minhas mãos tem algo que é do interesse do comandante.

— E o que seria?

— Infelizmente, me proibiram de falar. Somente devo entregar.

Os dois olhavam com suspeita o jovem à sua frente. O da esquerda preparado, o dedo no gatilho, procurando o menor sinal de ações suspeitas.

— Posso ir? É realmente importante.

Mesmo tendo dúvidas, abriram caminho, o jovem passou, e quando achava estar tudo bem, o que ficou quieto desde o início deu um assobio alto e falou:

— Ei, garoto, espere um pouco, quero ver uma coisa.

— Infelizmente, sou proibido de…

— Não é isso — falou o homem, interrompendo-o — olhe nos meus olhos.

Pela primeira vez, o jovem olhou diretamente o soldado. Analisando o olhar do garoto, o homem viu olhos azuis, firmes e uma pequena cicatriz abaixo do olho direito.

— Vai — falou soltando um suspiro — por que fui instruído para cá?

O jovem finalmente saiu. Se afastando dos olhares curiosos, andou até chegar em um bar lotado, passou as pessoas e chegou ao banheiro. Entrando em uma das cabines, encostou-se na parede e soltou um suspiro trêmulo. “Achei que ia ser pego.”

— Deixa de enrolar e se troca logo — disse Sacro do seu pulso.

— Dá pra deixar eu ter o meu momento de paz?

Recuperando a compostura, colocou a cabeça perto do chão para olhar nas cabines ao lado; havia pouca gente. Tirando a armadura com dificuldade, devido aos inúmeros machucados, revelou sua armadura de couro por baixo.

Difícil é um eufemismo para colocar as duas uma em cima da outra, por sorte a que pegou do novato era bem maior que o seu corpo, cabendo de um jeito apertado.

Deixando no chão, saiu do bar e caminhou de volta em casa — Repetindo o modo de anteriormente, evitando locais com câmeras e luzes fortes — chegou já tarde da noite.

Tirando em partes, guardou suas armas, colocando a máscara e o manto de volta no esconderijo e pegando um kit de primeiros socorros, andou até o banheiro e tirou a camiseta com várias manchas de sangue.

Seus braços, barriga e peito cortados. Borrifando nos ferimentos um spray para fechar as feridas, cerrou a mandíbula, aguentando a dor, e colocou um curativo. Finalmente, tendo acabado de conseguir estancar o sangramento, se deitou para dormir.

Mesmo permanecendo deitado por meia hora de olhos fechados, estava repleto de energia, então se sentou na cama. Seus pensamentos corriam soltos, e sem ninguém para conversar, falou a Sacro:

— Por que aconteceu aquilo no Simon, das marcas negras?

— É o sobrenome da sua família, Blackscar.

— Achei que fosse só um nome inventado.

— Nem um nome das grandes famílias é por acaso. Aproveitando que está falante, qual é a sensação de usar uma habilidade?

— Como assim?

— Quando tava deitado no chão, você brilhou em azul e resistiu aos ataques.

— Aquilo foi um poder? Sei lá, achei ser a adrenalina me impedindo de sentir dor.

— Não, e considerando que só pegou o do seu amigo, deve ser esse.

— Legal, mas ativou sozinho.

— Deve ter sido instintivo, igual ao reflexo de se defender.

— Nunca ouvi falar disso, habilidades se ativando sozinhas.

— É porque mutantes odeiam admitir que se descontrolam. Muitos fatores interferem ao usar uma habilidade. Por exemplo, o indivíduo está irritado, dependendo do tipo, fica mais destrutivo e perigoso, tanto para o adversário quanto o portador.

— Tendi, eu… matei o Simon, tenho os poderes dele.

— Sim.

— Tem uma dica?

— Primeiramente, deve escolher.

— Legal, é só dizer em voz alta?

— Seria bom ser assim. Digamos que você tenha dois poderes guardados, deve escolher um para tornar seu. Só depois de o dominar até um certo ponto poderá escolher um segundo.

— Sim! A carta que li mencionou essa informação, já tinha até esquecido. Como sabe?

— Recebi um conjunto básico de informações necessárias, só por garantia.

— Tá, e escolho de que jeito?

— Infelizmente, você terá de descobrir sozinho.

Sem alternativa, sentou na cama e fechou os olhos. Limpando a mente, concentrando-se apenas em achar a habilidade.

Sentado por uma hora, seu ânimo até diminuiu e sentiu sono. Pego de surpresa, prestes a desistir, sentiu uma diferença dentro da sua cabeça, uma pequena esfera de energia.

— Achei, e agora? — falou deixando os olhos fechados.

— Vamos ter que usar a teoria. Lembre da luta, da sensação de poder, do caminho. Os repita.

Focando, tentou mover, a questão era, como? Primeiro imaginou ela mudando de posição, mas tava na mesma. Depois falou em voz alta para se mexer, continuou parado. Até balançou a cabeça, com esperança de alguma diferença.

“É só se concentrar, me ferrei pra ganhar isso.” Respirando fundo e soltando o ar, notou uma diferença. Nessa hora, conseguiu mover a esfera, e por isso, teve sua reserva sendo esgotada. “Isso também aconteceu quando ativei a habilidade, deve ser a minha essência.”

Querendo evitar perder tempo, começou lentamente, passou a esfera no pescoço e o peito. Em alguns momentos, resistia e movia de um lado a outro, com esforço e gasto de essência, ia cada vez mais perto.

Era a primeira vez fazendo isso, San podia sentir sua mente cansando e esgotada. Felizmente, terminou e levou ao objetivo.

Chegando, a esfera se juntou ao coração, se ligando. Seu corpo aqueceu, não como na vez que despertou; era reconfortante, lembrava ficar na frente de uma lareira.

Abrindo os olhos, achou normal, nada de estranho aconteceu.

— Devo ter feito errado.

— Pelo contrário, está correto. O analisei, e há uma clara diferença. Por enquanto, seu corpo deve se adaptar. Durma e amanhã veremos.

San queria questionar, testar e ver se estava certo, porém, depois de tudo que aconteceu, suas energias acabaram. Ao deitar-se novamente, adormeceu facilmente.

Acordando de manhã, sentia ter sido atropelado. O corpo doía de respirar, até levantar da cama era difícil. Ignorando isso, perguntou o que o deixava curioso.

— Sacro, tenho uma habilidade?

— Sim, durante seu sono, cuidei de qualquer alteração. Suas mãos e veias mudaram, adaptando para usar a habilidade.

— Legal — falou se esticando, mas parando pelas dores — vou testar.

— Boa sorte.

— Ontem senti uma energia estranha, deve ser a minha essência, tem informações adicionais? Sabe, quero saber o máximo.

— Mutantes têm quantidades diferentes. Usam para ativar suas habilidades. Os avançados conseguem usar fortalecendo seus corpos.

— Espera, fortalecer? Tem que me dizer a forma.

— Acredite, eu adoraria saber, no entanto, só lugares especializados sabem.

Indo até a cozinha, pegou um copo de plástico, voltou no quarto e deixou em cima de um banquinho de madeira em frente a cama.

Estendendo as mãos, permanecia o mesmo da noite anterior. Ao estendê-las em direção ao copo, concentrou-se na essência. Diferente da hora que ativou a resistência aumentada, que percorreu no corpo. Desta vez, concentrou-se na palma da mão.

Com um sorriso animado, da sua mão, a mesma luz azul da noite passada se materializou, o cegando e os olhos de San se tornaram um vermelho vivo.

— Recomendo fazer isso longe de casa. — falou Sacro, tarde demais.

A luz saiu forte igual a uma granada, cobrindo o quarto inteiro. Sendo arremessado de volta na cama, um estrondo abafou seus ouvidos.

Levantando a cabeça animado, — seus olhos voltando à cor original — viu restos do copo, pedaços da cadeira de madeira e metade da sua parede cheio de rachaduras, se assemelhando a uma teia de aranha.

Tentando se levantar, San caiu de cara no chão, e sua cabeça doía como se tivessem batido com um martelo.

— Eu avisei. — falou Sacro, sua voz faltando emoção.

— No último minuto! Quando já tava pronto!

— Admito, demorei, achei que iria falhar; é normal na primeira vez. O que pensou que fosse acontecer? Você já sentiu na pele.

— Bem, pelo meu controle ser ruim, ia vir uma versão fraca — tentou se levantar de novo, só para ficar ajoelhado e as mãos na cabeça — o que é essa dor de cabeça infernal me impedindo de ficar em pé?

— Esqueci de falar; mutantes sem essência, ficam zonzos e fracos. Bom que ganhou um pouco ontem, do contrário, teria desmaiado.

Sentando-se no chão, esperou até sua cabeça permitir levantar. Assegurando a cama e dando um passo, quase caiu; sua caminhada era desengonçada e lenta.

Encarando a parede, só pensava uma coisa: “Preciso arrumar uma forma de explicar isso para Sarah. E pior, para o senhorio.”

Vendo no relógio que se continuasse a enrolar, chegaria atrasado no trabalho, vestiu uma calça jeans velha, camiseta longa cobrindo os machucados, e um tênis preto com listras brancas.

Descendo as escadas, ouviu por um tempo, garantindo estar sozinho. Tudo limpo, saiu andando nas ruas, cambaleando a cada passo.

— O que quis dizer com “ganhei um pouco na noite passada”? — falou pretendendo soar discreto, para ninguém achar que falava sozinho.

— Ao roubar a habilidade de Simon, também roubou uma parte da sua essência.

— Interessante, isso vai acontecer sempre que eu pegar uma nova?

— Sim, imagine ter vários poderes e só conseguir usar um ou dois e ficar esgotado.

Abrindo um sorriso, foi ao trabalho. O estranho é que San era o único alegre naquele dia; poucas pessoas andavam nas ruas e tinham rostos nervosos.

Chegando, Sarah pôs os olhos, e ficou espantada, se aproximando imediatamente.

— O que houve por ficar andando assim? — perguntou enquanto tentava tocá-lo.

— São só uns machucadinhos; daqui a uns dias some.

“Bom que a máscara protegeu o meu rosto.” Ela desconfiava; por sorte de San, um cliente a chamou em uma mesa, e ele correu se trocar.

***

Trabalhando calmamente atrás do balcão, sua dor de cabeça já melhorando, e San pensava no que fazer na rachadura na parede. “Se eu tapar com um lençol, talvez dê para esconder.”

Perdido em pensamentos de ideias estranhas que poderia fazer, Sarah apareceu atrás do balcão.

— Vi como tem trabalhado hoje.

— Isso é um tipo de cantada? Tipo, tá de olho em mim.

— Quê? Não — Corava desviando o olhar — To falando da forma de andar; parece que tá com dores. Sem se inclinar muito. Andando lento.

— Me machuquei no trabalho.

— Imaginei que fosse isso, no entanto, ontem as lutas fecharam.

“Eita porra, ela sabe?”

— Onde fui abriram.

— Sério? Porque “Scar” não esteve em nenhuma luta ontem.

“Ta legal, to começando a ficar assustado.” Antes de continuar o interrogatório, uma pessoa entrou apressado no bar.

Era um homem velho, com uma constituição forte. Seu rosto sujo de terra e poeira, usando um macacão laranja de pedreiro, com manchas tão escuras que San considerou serem a cor natural da roupa.

O homem estava assustado, virando a cabeça para os lados. San saiu de trás do balcão e ficou próximo de Sarah. Chamando atenção de todos, o chefe, saiu do seu escritório.

Vendo o dono, se aproximou rapidamente, e San já se preparava caso algo acontecesse.

— Pedro, o que houve? — o chefe perguntou.

— Ligue a TV agora!

— Do que está falando? Se acalme, homem.

— Eric, liga a TV, é importante.

Sem surpresa, olhavam Pedro, se assegurando do chefe.

— Santiago, ligue-a.

Mantendo o olhar cravado no visitante, pegou o controle de trás do balcão e ligou uma TV pequena, presa ao teto.

Trocando até Pedro dizer deu. Parou em um canal de notícias; uma mulher de cabelo ondulado solto, vestindo uma camisa e a expressão no rosto séria. San a havia visto uns dias atrás em uma reportagem do seu pai. Analisando o cenário atrás, reconheceu facilmente.

— Devorador de almas ataca novamente. Estamos na cidade de Veridiam, em que, infelizmente, dessa vez, um jovem recém conquistando suas habilidades morreu em uma área de construção.

A menção ao assassinato fazia seu estômago revirar, e pior, ser comparado ao pai o deixava irritado.

— O nome da vítima é Simon Cardoso, filho do chefe dos guardas da cidade. Um jovem bom, saindo à noite com os amigos, e o atacaram.

San fechou os punhos fortemente, irritado por ter cometido um erro e por dizerem que Simon era uma pessoa boa. “Pelo menos, sei porque os guardas dos muros estarem lá, que opção boa eu escolhi.”

— As autoridades têm pistas de que uma pessoa o atraiu pra cá e fugiu após o crime. Ainda por cima, agrediu um dos guardas e roubou sua armadura; está sendo investigado, as autoridades dizem que logo encontrarão o culpado. Sou Jessica Mayers, finalizando a transmissão.

A mulher terminou a reportagem, deixando os clientes no bar agitados. Conversas baixas eram ouvidas nos cantos. Pedro abatido, preocupação e medo no ar, o chefe, percebendo aquilo, falou em voz alta:

— O bar está fechado temporariamente, sem previsão de retorno; peço que saiam.

Os clientes foram embora, assustados. O dono se virou para os seus dois funcionários e falou.

— Vocês também, vão pra casa e tomem cuidado.

Mal tiveram tempo de se trocar, e o bar fechou. Os dois ficaram do lado de fora, vendo a proteção de metal ser abaixada.

San olhou Sarah, que estava com medo; suas mãos tremiam, e olhava ao redor. “Duvido que tenha algum perigo por aí, mas é culpa minha tudo ter ficado assim.”

— Ei, se quiser, posso te levar pra casa.

Seu nervosismo diminuiu um pouco; olhando nos olhos de San, falou:

— Sério? E pra voltar depois? É um caminho longo.

— Qual é, já fiz caminhadas mais longas; fica tranquila. O que de ruim pode acontecer?



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