Magia Gênesis Brasileira

Autor(a): Rafaela R. Silva


Volume 1

Capítulo 13: O guardião do templo

Seria nesse templo que finalmente encontrariam o tal livro? Uma resposta para os acontecimentos recentes na cúpula de Ancor? Era o que se passava na cabeça daqueles três. Cázhor, mesmo preocupado com o sucesso da missão, demonstrava de sua forma, uma certa preocupação com o bem estar de Lenna. Por mais imparcial que demonstre ser, o fato de a ter ao seu lado desde pequena, cuidando como se fosse sua filha, influenciava e muito no carinho que tem por ela.

Tudo indicava que ali era o ponto final. O pequeno papel no medalhão não reagia mais em nenhuma direção. Ao chegarem mais próximos da construção, se depararam com um enorme despenhadeiro e logo mais abaixo uma galeria. O fundo era incerto, a fraca luz dos poucos cristais ao redor, mal iluminavam as paredes escuras e empoeiradas.

Sem condições de descer direto, Eduardh indicava com a cabeça um possível caminho descendo rente a parede. Aparentemente a trilha os deixaria mais próximos do templo. Seria mais rápido investigar se pudesse ir e voltar com seu teleporte, era o que se passava na mente do elfo. Mas quando se lembrava da dor que sentiu ao tentar usar sua magia, preferiu não arriscar usá-la nesse momento, colocando-se em direção ao caminho que havia indicado.

A dor havia parado, restando apenas a marca onde a criatura havia mordido. Tudo aconteceu a tão pouco tempo que ele ainda tentava entender como sua ferida havia cicatrizado. Os pensamentos de Eduardh nublavam sua mente enquanto andava.

— Cuidado ai rapaz! — disse Ector ao impedir o elfo de prosseguir.

Usando de seu grande machado, o líder do exército geral, barrou a passagem de forma abrupta. Sem entender, Eduardh olhou para Ector com uma expressão estranha, frustrado com tal atitude. Foi então que ele sinalizou em direção à lateral do templo, de onde, até então, não tinham visão quando chegaram.

— Isso é realmente o que estou pensando? — O elfo parecia desacreditado.

Depois de tudo que haviam passado para chegar até ali, se depararam com um enorme cão. Um ser monstruoso de três cabeças, mais conhecido como Cérbero. O intimidador vigilante guardava a entrada do templo subterrâneo. Imponente com sua pelagem negra, medindo aproximadamente sete metros de altura. Cada cabeça possuía uma enorme coleira de metal presa a uma corrente, essas que, chegando a um certo ponto, uniam-se em uma só, fundindo-se ao grande paredão da galeria.

— Mas que merda é essa? Nunca vamos ter uma folga se quer? — Ector estava incrédulo.

— De onde essa criatura veio? — Eduardh compartilhava do mesmo sentimento do guerreiro.

— Creio que o Sr., tanto quanto eu, não gostará de descobrir.

Não havia nenhum local de onde a criatura pudesse ter vindo, logo concluíram que provavelmente sempre esteve ali. Sem muito tempo para pensar, foram surpreendidos com um enorme estrondo. A criatura avançava em algo. Seu pulo fez a caverna tremer e o barulho das correntes era quase ensurdecedor.

Mesmo uma criatura tão grande, era difícil vê-la por completo, onde ela estava, a luz mal era suficiente para mostrar seu contorno. Provavelmente a criatura havia quebrado a maioria dos cristais que traziam a pouca iluminação ao local.

— Isso pode ser, de alguma forma, favorável para nós, pois pode ajudar a não sermos notados. Precisamos ir com cautela. — O elfo parecia preocupado.

Tinham que tomar cuidado pois, os movimentos do cérbero faziam com que pequenos deslizamentos ocorressem com frequência. O caminho indicado por Eduardh, não era um dos mais seguros, mas no momento, o mais viável.

A descida, por si só, era extremamente perigosa, sem contar que haviam várias falhas causadas pelos tremores. A escuridão era mais um agravante, as condições críticas faziam a tensão aumentar a cada instante.

O caminho era vagaroso e sinuoso, qualquer erro seria fatal. Enquanto se aproximavam do seu destino, era possível vislumbrar alguns pontos luminosos. Eles se moviam estranhamente contra a direção do Cérbero. Mesmo com a visão apurada de Eduardh, daquela posição, era impossível ter uma boa visibilidade sem se arriscar a chamar a atenção da criatura.

Tinham que arriscar. Tudo indicava que era o ponto de chegada dessa jornada. Precisavam confirmar e ver o que era guardado ali. Então após alguns minutos quebrando a cabeça com a melhor possibilidade, estavam sem opções, restando-lhes continuar a descer furtivamente e torcer para a criatura não os perceber.

Um pouco antes e distante dali, após uma longa caminhada, passando por becos apertados, se esgueirando entre um caminho e outro, Vladmyr e Lenna seguiam seu percurso. Era impossível ignorar o barulho ensurdecedor da corrente. Os tremores ficavam cada vez mais em evidência

Por mais que tentasse desviar, era impossível evitar o encontro. Aquelas almas passavam por eles como vento, o que gerava um grande desconforto, algo inexplicável, como se sentissem de alguma forma, a agonia dessas almas que vagavam por ali. Lenna por ter mais afinidade com o aspecto mágico chegava ao ponto de se sentir mal com a energia que eles deixavam ao passarem por ela. Ela agarrava o braço de Vladmyr na tentativa de evitá-los. A essa altura, ele já não se importava mais em impedi-la, pois percebeu que realmente essa situação a deixava, de certa forma, angustiada.

O cenário parecia estranhamente mais seco, agora as poucas poças d’água e o barro davam lugar a grandes pedras claras em formato quadrangular. Esse novo cenário se espalhava por toda a galeria até a entrada do que parecia ser um enorme templo.

Ainda não conseguiam ver maiores detalhes, o lugar parecia embaçado. Estava mais escuro do que os lugares que já haviam passado. As várias estalagmites à frente, atrapalhavam a visão e obstruíam o caminho. Em vários momentos precisavam se esgueirar entre uma passagem e outra ou pular por escombros que caíram com os tremores.

Lenna, sem perceber, ainda usava Vladmyr como escudo na tentativa de evitar contato com essas criaturas. Estava tão apavorada que mal percebeu quando finalmente chegaram próximos da origem daquele som.

— Impressionante como tudo isso está debaixo da terra. O quão longe estamos da entrada? — A essa hora, Vladmyr já tinha perdido qualquer senso de direção que ainda podia ter.

Sem aviso, Vladmyr parou bruscamente. Sem entender o que havia acontecido, Lenna estranhou a parada repentina. Ela se apoiou nas pontas dos pés, para tentar ver o que tinha à frente, enquanto isso, ele lentamente sacou sua espada, sinalizando para que ela não avançasse. Indicando com a cabeça, ele olhou em direção à aquela enorme criatura que guardava os portões do templo, o Cérbero.

Engolindo seco, chegaram ao ponto de segurar a respiração na expectativa de passarem despercebidos pelo cérbero. Na tentativa de evitar o confronto, começaram a voltar o caminho do qual haviam vindo. Sempre mantendo o foco na criatura e observando qualquer reação diferente. Porém, as coisas não saíram tanto quanto esperavam. Vladmyr acabou trombando de costas com a maga e sem entender o motivo que ela havia parado, bem irritado, questionou o motivo pelo qual ela havia parado.

— Sumiu! —

— Como assim? — ele retrucou — O que sumiu?

Ele não conseguia entender o que ela dizia. Foi quando voltou sua cabeça para trás e para seu espanto, a entrada simplesmente havia desaparecido sem nenhuma explicação. Não parecia nenhum tipo de ilusão ou projeção. Apenas desapareceu. A passagem pela qual vieram a pouco, agora era uma continuação maciça do grande paredão que circundava toda a galeria.

— Parece que ele ainda não notou nossa presença — sussurrou Vladmyr — ele parece estar entretido com alguma outra coisa.

— Está comendo... comendo as almas?! — Lenna estava incrédula.

Uma cena totalmente bizarra. Dificilmente acreditariam se não estivessem vendo com os próprios olhos.

O que viram anteriormente, agora fazia sentido, apesar de parecerem perdidas, as almas ainda tinham como um último instinto, fugir da criatura. Pareciam velas sendo apagadas. O estranho brilho azul que até então se desfazia com o contato, transpassando por eles, se tornava algo sólido na boca da criatura, que triturava, esmagava e engolia como um corpo qualquer.

“Ele sabe que tem intrusos, a explosão de antes provavelmente já nos denunciou”. Era só o que se passava na mente de Vladmyr.

Em uma tentativa inútil e desesperada, Lenna prendia a respiração com receio de que a criatura a ouvisse, soltando o ar levemente enquanto observava toda a cena.

— O que vamos fazer? — disse Lenna.

— Só nos resta ir para o templo.

— Mas aquilo tá na frente.

— E você tem outra sugestão?

— Bem ... não, mas... — A frase de Lenna foi interrompida por mais um tremor que sacudiu a caverna.

Vladmyr segurava firmemente sua espada, observando o caminho que teriam de fazer, concluiu que o combate era inevitável.

— Você é a maga aqui, faz feitiço aí e deixa a gente invisível ou algo do tipo. — Nem ele acreditava nas palavras que saiam de sua boca.

A clara e cética expressão de Lenna não deixava dúvidas de o quão isso soava de forma idiota. Mesmo que tivesse conhecimento para fazer isso, lhe faltava recursos e tempo para bolar uma magia mais avançada. Sem uma resposta, Vladmyr concluiu que, de fato, estavam sem opções.

O silêncio repentino tomou o lugar, a criatura levantou suas orelhas e direcionou o focinho para cima, como se estivesse farejando alguma coisa que lhe interessasse mais que as almas. Com um longo rosnado e o forte bater de suas enormes patas contra o chão, o cérbero indicava ter localizado um novo inimigo.



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