Malkiur Brasileira

Autor(a): Kamonohashi


Volume 1

Capítulo 2: Ainda um fraco.

— Muito bem, pirralho! Pensei numa técnica que pode te ajudar a lutar!

Ouvindo aquilo o garoto saltou de animação. Finalmente conseguiria se meter numa briga real.

— EI, EI!! Sem muita animação, é apenas uma teoria minha. Isso pode dar errado, é um risco. Mas sem riscos, sem ganhos. AHAHAHA!

Ela riu alto. Parecia não estar muito preocupada com isso. Já o garoto ficou receoso.

— O que pode dar errado?

— Pode morrer.

Roy desviou de outro ataque da serpente. Sua velocidade tinha aumentado consideravelmente. Porém usou essa agilidade apenas para se esquivar do animal.

Ele ficou rapidamente exausto. Diminuiu um pouco o ritmo para poder recuperar o fôlego. Foi o bastante para o réptil alcançar o garoto e lançar uma mordida.

“MERDA!”

O garoto saltou para trás pegando impulsão num tronco para ir para um galho mais acima. Ao chegar ali, sentiu um aperto no pulmão e começou a tossir violentamente.

— Tem que ter um ótimo controle do que eu vou te ensinar. — Yuki fez o número três com os dedos. — Essa técnica consiste em quatro aberturas, mas você vai aprender apenas três. É chamada de Fluxo de Quatro Aberturas. Ela consiste em controlar os batimentos do coração para que o fluxo de sangue chegue em áreas importantes do corpo, potencializando força, agilidade, percepção ou até resistência.

A confusão predominou no semblante de Roy. Yuki coçou a nuca e lembrou-se que estava lidando com uma criança.

 — Você vai treinar o controle da sua respiração, para assim ter o controle das três aberturas.

— Por que só três? São quatro, não?

Um soco golpeou a cabeça do garoto.

— Não cogite usar a quarta abertura. Ela sim vai te matar. As três aberturas já vão te deixar exausto. Seu pulmão vai demorar para se acostumar. A quarta vai te debilitar muito mais.

A serpente localizou o garoto, abocanhando o galho.

A árvore onde estava desabou com a força da mordida da criatura. Além disso, a madeira derretia por causa do veneno que escorria das presas dela.

Roy se esquivou e tentou saltar para outra árvore, porém, a cauda do réptil o golpeou. O garoto chocou-se com o chão com brutalidade. Tentou se levantar, porém não conseguia respirar. Ele se desesperou.

“Preciso recuperar o fôlego.”

O animal se aproximou devagar. Roy usou toda a força que restava para rolar seu corpo barranco abaixo. Precisava ganhar tempo para respirar.

“Como eu derroto essa merda?”

O garoto percebeu que ela girava seu pescoço fungando sem parar. Ela localizava Roy pelo cheiro, isso fez ele ter uma ideia.

Ela novamente procurou por sua presa. O cheiro do pequeno tinha sido marcado em seu faro e rastejou até ele velozmente. Então ela deu o bote.

 — ERGH!

A serpente berrou de dor . Ela mordera uma pedra pontuda que cortou o céu da sua boca. Esse tipo de serpente é guiado pelo cheiro da presa, por sua visão não ser boa. O menino pensou nessa teoria, passando o sangue de suas feridas nas pedras e confundir o animal.

“Deu certo!”

Isso deu tempo para que ele recuperasse o ar, tossindo um pouco saiu de onde estava escondido

— Primeira abertura! — Após dizer isso prendeu o ar em seu corpo e soltou enquanto se movimentou.

O garoto veio de cima. Sentiu o êxtase de finalmente atacar. Não podia morrer ali, por isso que mesmo tremendo de medo acertou a adaga no olho esquerdo da serpente rasgando a carne até os lábios do animal. Uma quantidade grande de sangue jorrou da ferida.

— ARGH!

A criatura começou a se debater de dor.

Soltando o ar que tinha segurado, Roy voltou a atacar, pegando impulsão em outra árvore. A vapor de seu corpo aumentou, deixando evidente a alta temperatura interna, juntamente com sua velocidade e força.

“Será? Será que eu consigo?”

O menino aproveitou o momento de desconcentração do animal e cravou a adaga no queixo da criatura.

Lembrou de que seu mestre tinha dito que ao pegar um oponente desprevenido era para finalizar rapidamente. Se não fizesse isso o inimigo ficaria em fúria e todo o plano seria em vão.

Roy se lembrou disso tarde demais. Ao tirar a arma da cabeça do animal, o chocalho flamejante tentou acertá-lo. Foi obrigado a recuar.

Ela não ficou nada feliz em ser ferida gravemente duas vezes. Em um ato de fúria acendeu chamas por todo seu corpo, para que dificultasse que seu oponente ferisse sua pele. O animal ainda tinha cartas na manga. Já o garoto usou tudo que tinha no ataque. Um erro de principiante!

Ele se cansou rapidamente. Tentou recuperar o ar, mas a serpente não deu trégua...

Um golpe com a calda foi desferido no garoto. E enquanto ele permaneceu no ar, ela jogou sua cabeça no corpo de Roy.

Ele foi jogado para mais abaixo na floresta. Rolou pelas folhas e se chocou com uma pedra.

“Droga!”

Sentiu algo queimar o ombro direito. Tinha fogo queimando seu casaco, desesperado apagou o fogo. Seu corpo ficou mais pesado, seu pulmão ardia e sentia o sangue escorrer pelo seu braço. O menino não tinha o controle total das duas primeiras aberturas que foram ensinadas a ele.

Observou a serpente se aproximando, percebeu que não restava muito o que fazer. O seu limite chegara. Caiu de joelhos na terra.

“Perdão, velho. Seu neto é um fraco.”

O animal usou um barranco de terra para sair do chão e ir de encontro com Roy. Antes que chegasse ao seu destino, algo agarrou o pescoço da criatura.

— RHAAR!

Um urso gigantesco de pelugem negra usou as garras de sua pata para atravessar a garganta da serpente. Muito sangue foi derramado. Ela tentou se debater, o fogo não queimou o outro animal. E como último recurso esguichou seu veneno no rosto do urso.

O ácido queimou no olho do outro. Em um ato de raiva, rasgou em dois a serpente.

Roy assistindo aquilo viu que se não conseguiu lidar com a serpente, não chegaria nem perto de derrotar esse urso. Usou o que restava de energia para correr para longe do caçador peludo.

O garoto se afastou bastante. Viu que tinha uma enorme rocha onde podia ser usada como abrigo. Quase arrastando o corpo conseguiu entrar debaixo dela. Ao ver que aquele buraco era seguro, desabou no chão e em alguns segundos perdeu a consciência por causa da exaustão.

 **

Roy viu algumas crianças brincando em um pasto. Elas brincavam usando suas magias, se divertiam muito com o que podiam fazer. Uns usavam magia de vento para fazer tornados de folhas, outros brincaram de guerra de água. Até mesmo faziam pequenas rampas com terra para seus carrinhos de madeira.

O garoto se sentia triste por não ter nenhum tipo de magia para poder brincar com os outros. Então apenas assistia abraçado aos seus joelhos.

Um soco foi desferido na cabeça do menino que ficou furioso. Rapidamente se virou para seu agressor.

— ROY! — Disse um velho de cabelo e barba grisalhos. Seu corpo musculoso dava um ar intimidador, como se fosse um soldado e o que mais se destacava era uma cicatriz em sua bochecha direita indo até seus lábios. — Por que essa cara?

— Não enche, velho.

Roy virou para o lado oposto onde estava seu avô. O velho percebeu que seu neto tinha problemas, sentou-se ao lado dele.

 — Por que não vai brincar?

— Brincar? Eles não vão querer brincar comigo.

— E por que eles não iam querer brincar com você?

— Porque eu não uso magia, já me falaram que não vou servir pra nada. Que eu sou um inútil.

 Roy com aquela frase melancólica de si mesmo achou que teria algum apoio emocional de seu avô, mas não esperava a reação que teve. O velho gargalhou alto.

— Por não usar magia?

O garoto assentiu com a cabeça, tentando entrar em seus pensamentos depressivos, no entanto, um golpe acertou sua cabeça, o que fez a voltar para realidade.

— EI! — o menino pôs a mão na cabeça.

— Pare com isso, seu merda! Neto meu não fica assim de cabeça baixa!

O velho disse enfurecido, mas logo desfez o semblante de raiva, voltando a gargalhar.

— Por um acaso tem problema de cabeça? Estava bravo há um segundo atrás...

Thomas ignorou seu neto, voltando ao seu discurso.

— Não fique assim porque disseram algo que te deixou triste, na próxima vez que falarem alguma coisa... Acerte um soco no meio da fuça! — disse isso simulando socar alguém.

— Mas não sou forte. Eu queria ser igual o herói, ou como o senhor no passado, ser forte para me defender e defender a todos.

Ouvindo aquilo seu avô olhou para o céu, suspirou com um sorriso e disse:

— Você está parecendo muito com seu pai.

— Meu pai?

— Ele tinha esse mesmo espírito teimoso. Ele queria ser o mais forte, querendo me superar o tempo todo e sempre priorizava proteger todo mundo. Mas era um idiota igual você.

— Achou que eu ia ficar melhor? Me chamando de idiota? — questionou cruzando os braços e olhou para o velho.

Roy percebeu que seu avô não tinha tirado os olhos do céu. Como se tentasse encontrar alguém, mesmo que fosse uma criança, não tivesse tanta maturidade no assunto. Ele sabia que Thomas se lembrou de seu pai.

— E meu pai era mais o que?

— Ele era bem imprudente e isso era o ponto forte dele.

— A vovó disse que ele foi para a guerra, então ele era forte. Será que eu consigo entrar também para algum esquadrão?

O velho solta algumas risadas ao ouvir aquilo.

— Não deve se preocupar com isso por agora, nem consegue usar magia. Vai acabar sendo mais imprudente que ele.

A triste realidade voltou à tona, Roy sentiu a melancolia subir novamente. Não se conformava com a injustiça do destino. Esse choque de realidade fez ele cair com a cara na grama.

— Eu quero usar magia... Vou morrer sem saber usar... — era o que ele resmungava com a cara no chão.

— Roy! Levante-se, tá parecendo um imbecil.

Thomas golpeou novamente seu neto, que rapidamente ficou em pé declamando ofensas para Deus e o mundo.

— Não usar magia, não significa que é fraco, Roy.

Aquela frase ecoou pela mente de Roy, acendendo um sentimento em seu corpo. O sentimento de coragem.

— Mas como faço isso?

— Cada um acha um jeito de ser forte. Descobriremos qual é o seu, beleza?

Thomas estendeu seu punho para seu neto, que completou com um “soquinho” na mão do velho. O garoto não sentia mais aquela tristeza, naquele instante sentiu que poderia fazer qualquer coisa.

— Estão aí, Thomas e Roy! Estava procurando vocês. — Uma voz feminina ecoou pelo local.

Os dois se viraram para onde estava vindo a voz. Quem falava era uma senhora de cabelos grisalhos, corpo magro, olhos verdes que pareciam esmeraldas, usando um vestido verde claro, rasgados nas pontas e tendo uma aura amigável que era mostrado com seu sorriso.

— Mary! — berrou alegre o velho.

Thomas parecia feliz em ver sua esposa. Sem pensar correu até ela, para abraçá-la. Porém a aura amigável de Mary sumiu e um gancho de direita acertou o queixo do velho.

— Seu velho retardado! Não faça isso! Sabe que eu não gosto de que você fique gritando.

Mary reclamava enquanto pisoteava seu marido. O garoto vendo aquilo não se segurou e começou a gargalhar. Thomas ao ver o largo sorriso de seu neto, correu até ele.

— Ah é, seu pirralho! — Colocou seu neto sobre seus ombros — Você vai ver!

A tristeza que Roy estava sentindo, naquele momento tinha sumido. Ele pensava em apenas brincar com seu avô. A mulher assistindo aquilo sorria igual boba.

— Vamos vocês, temos que ajudar as pessoas novas que chegaram.

— Já vou. — respondeu Thomas indo até sua mulher. — Ei, Roy. Neto meu não é fraco, entendeu? Agora, vá brincar.

Roy com um sorriso estampado em seu rosto, correu para longe de seus avós para brincar. Quando a criança tomou uma certa distância, o sorriso de Thomas desapareceu. Sua esposa estranhou aquela reação.

Mas enquanto corria percebeu que as crianças não estavam mais ali. Não tinha ninguém brincando mais no local. A luz do sol começou a ser apagada, como se a noite estivesse caindo em poucos segundos.

— Velho! Vovó!

O garoto com medo voltou para onde tinha se despedido de seus avós. Ao chegar lá eles não estavam mais ali.

— HAHAHAHAHAHAHA!

— Encontramos nossa refeição!

— Venha pequeno humano!

Ele ouviu vozes monstruosas. De repente foi cercado por figuras negras gigantescas. Eles gargalhavam vendo o menino e sem hesitar pularam em cima do garoto.

 — Por favor... NÃO!

Roy gritou de desespero enquanto mergulhou na escuridão.

Desesperado, acordou ofegante. Seu coração estava acelerado. Olhou ao redor e viu o abrigo que tinha achado ao fugir do urso. O dia já tinha raiado pela floresta. Seria melhor para se locomover.

— ...?

Suspirou ao tentar se acalmar. Ainda atordoado olhou para o lado de fora.

— Quanto tempo eu fiquei apagado...

Algo pegajoso acertou a bochecha de Roy.

O garoto saltou de susto, não sabia se era algo venenoso ou artimanha de alguma criatura para matálo.

— Mas que merd...

Ele visualizou o que tinha o acertado. Era um sapo, de pele amarela e algumas manchas de cor verde. Não era tão grande, mais ou menos do tamanho da mão de Roy.

— Você não quer me matar né? — Questionou limpando a bochecha.

Encarou os olhos esbugalhados e amarelos do anfíbio.

— Fro-udo! — Coaxou.

Roy fez uma expressão mal-humorada.

— Ahhh. Como se fosse me responder.

— Fro-udo... GASP! — Logo após de coaxar, cuspiu um rolo de ataduras de sua barriga.

O menino cerrou os olho com desconfiança. Era muito coincidência ele cuspir ataduras, justamente quando Roy tinha se machucado contra a serpente. Ainda mais, estava completamente ensopada de baba.

— Não podia babar menos...AI!

O sapo golpeou o olho esquerdo de Roy com a língua.

— Fro-udo!.

— É, parece eu não melhorei nada não é mesmo?

Sem o garoto percebesse, alguém estava observando, sentado em um galho numa árvore próxima.

 

 



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