Volume 5

Capítulo 187: Na sala de espera

Hoje era o dia em que iríamos lutar em nossa segunda partida preliminar.

Sua localização, um enorme estádio, era o exato oposto do campo de treinamento insignificante em que lutamos na primeira rodada.

Os mais de mil participantes da primeira rodada foram reduzidos para míseros 240. Em breve, esses 240 seriam reduzidos ainda mais e chegariam a 48.

Os participantes foram divididos em 2 grupos de 120, cada um designado para um dos dois enormes estádios em que o evento seria realizado. Ambos os estádios eram conhecidos por ficarem cheios, visto que a segunda rodada preliminar não só funcionava como a primeira rodada aberta ao público, mas também a única rodada pública que contava com partidas no estilo battle royal. O formato cada um por si com cinco competidores era bastante popular, pois as pessoas o consideravam novo em comparação com o formato padrão um contra um usado no resto do torneio.

Outra razão pela qual os espectadores gostavam de ir para esta rodada e para o torneio como um todo era o fato de que você podia apostar. Todos, exceto os participantes da partida, poderiam apostar o quanto quisessem. Os participantes foram proibidos de fazer apostas, a fim de desencorajá-los a combinar os resultados de suas lutas. A manipulação de resultados era considerada um crime grave e qualquer pessoa que fosse considerada culpada seria condenada à morte.

No meu mundo, apostar era um ato frequentemente associado ao crime organizado e ao submundo como um todo, mas, ao que parecia, isso não era algo com o que devíamos nos preocupar. Dias era bastante rigoroso, ele era conhecido por reprimir e impedir esse crime. Grandes organizações criminosas sempre seriam destruídas no momento em que eram descobertas. As organizações de menor porte às vezes conseguiam ficar fora do radar, mas nenhuma delas possuía força suficiente para conseguir aumentar sua influência.

Além disso, a Guilda dos Aventureiros era a entidade responsável por toda a contabilidade. Eles possuíam o poder, a autoridade e o talento necessários para garantir que nada acontecesse, então não havia muito com o que se preocupar.

“Certo, vamos nessa.”

— Nn.

Ainda tínhamos uma boa quantidade de tempo antes do início da partida de Fran, mas, pelo visto, todos os participantes precisavam chegar mais cedo do que o previsto. Por isso, planejamos passar cerca de 30 minutos na sala de espera do local.

Fran não parecia nervosa. Ela ainda estava em seu eu taciturno habitual, apesar da iminente segunda fase preliminar. Como tínhamos um pouco mais de tempo hoje, ela acabou comprando e comendo um monte de coisas a caminho do estádio.

“Puxa, esse lugar é enorme.”

— Nn.

O local era um enorme edifício cilíndrico que parecia quase um coliseu. Hoje foi a primeira vez que o vimos de perto, mas pude sentir a emoção contida nele. A enorme quantidade de expectativa que preenchia a arena foi evidenciada pelos aplausos altos que ouvimos surgindo de seu interior.

Fran seguiu pela entrada dos combatentes nos fundos do prédio. A recepcionista de hoje parecia ser do tipo organizada e eficiente. E assim, conseguimos entrar na sala de espera sem que ninguém nos parasse. Todos os outros participantes na mesma hora se voltaram para Fran quando ela entrou na sala de espera. Muitos a olhavam com surpresa, desprezo ou uma sensação de perplexidade, mas ela os ignorou e seguiu para um assento.

Para ela, isso era normal.

Havia um total de cinco salas de espera diferentes. Os organizadores do torneio fizeram dessa forma para que as pessoas não encontrassem seus oponentes antes de realmente entrarem na arena, a fim de minimizar a quantidade de conflitos em potencial. Eles também chegaram ao ponto de estabelecer uma regra declarando que o combate era proibido dentro dos limites das salas de espera.

— Que merda uma pirralha como você está fazendo aqui? Se manda!

Infelizmente, pessoas são pessoas e as regras nem sempre são respeitadas.

Um dos participantes da segunda rodada começou a balbuciar para Fran, apesar do fato de que ele teria percebido que ela não era apenas uma criança aleatória se tivesse usado seu cérebro. Um mero momento de reflexão teria permitido que ele percebesse que ela tinha que ter pelo menos alguma habilidade, uma vez que a garota havia passado pela primeira rodada preliminar.

O homem em questão, um cara com uma expressão vulgar no rosto, chegou até a se levantar para se aproximar de Fran. O fato de o combate ser contra as regras me deixou perplexo. Eu não tinha muita certeza de como lidar com a situação, uma vez que não tínhamos permissão para fazer a coisa que sempre fazíamos e apenas bater nele para calá-lo.

Acontece que Fran não compartilhava meus sentimentos. Ela sabia bem o que fazer, como evidenciado pelo fato de ter ativado todas as suas habilidades relacionadas a intimidação sem um momento de hesitação. Ou seja, ela na mesma hora encheu toda a sala com uma quantidade incrível de pressão.

“Ei, Fran, você está exagerando um pouco.”

— Nn?

A aura de Fran fez com que muitos dos outros participantes se levantassem com os rostos pálidos e as armas sacadas por puro instinto — e eles só foram atingidos pelos efeitos colaterais.

O homem que Fran estava mirando sua sede de sangue perdeu o controle das pernas e caiu de bunda no chão. Ele estava tremendo de medo e estava quase a ponto de desmaiar.

— Nn.

— Hii…

Ele chegou ao ponto de recuar no instante em que Fran colocou seus olhos nele.

Ééé. Deixar tudo calmo foi bom, mas me senti um pouco mal pelo que fizemos com todos os outros concorrentes.

Eles só conseguiram relaxar depois que Fran cancelou as habilidades e curvou a cabeça pedindo desculpas. Mesmo assim, suas expressões acabaram ficando severas; a maioria parecia ter entendido sua própria fraqueza.

Hã-hã, ela com certeza exagerou.

Todos os presentes permaneceram em silêncio, o que fez os gritos vindos da arena do coliseu parecerem estranhamente distantes. Fran, contudo, não dava a mínima. Ela só se sentou, pegou um copo de suco de seu armazenamento dimensional e começou a beber com um olhar inocente no rosto, como se não fosse da conta de ninguém.

A atmosfera acabou permanecendo assim até que outra competidora acabou entrando na sala.

— Ó, ei, se não é a Garota da Espada Mágica.

— Nn? Lydia?

— Ei, há quanto tempo. Então você também está participando do torneio?

A garota que entrou na sala cheia de tensão era Lydia, uma aventureira que encontramos em Barbola e integrante das Donzelas Escarlate. Ela era bastante fácil de se reconhecer, pois seu rosto estava decorado com sua máscara usual sem expressão.

O fato de ela estar aqui me levou a supor que as outras duas integrantes de seu grupo também estavam participando.

— Judith e Maia aqui também?

— Sim, elas também se inscreveram no torneio. Judith está em uma das outras salas. Maia teve que ir para o outro local. Mas sério, ufa.

— Nn?

— Bem, se você está aqui, isto significa que não precisarei me preocupar em lutar com você.

Lydia tinha visto a extensão da força de Fran em Barbola, então descobrir que ela não precisaria lutar contra a gata-negra fez com que a garota mais velha desse um suspiro de alívio.

— Nosso objetivo é superar as preliminares.

— Não vencer?

— Isso não é algo que vai acontecer. Ambos Colbert e Forrund vão participar, e não há nenhuma maneira de nos imaginarmos lutando de igual para igual com eles. Para ser sincera, estamos apenas entrando para nos tornarmos mais conhecidas, para que as pessoas não nos desprezem. Nossa equipe só tem garotas, então é uma medida necessária.

O motivo pelo qual as Donzelas Escarlate haviam decidido participar do torneio parecia um dos mais comuns. Mas fazia sentido. Passar pelo filtro das preliminares, apesar da escala do torneio, realmente serviria para evidenciar a habilidade de alguém até certo ponto. Quer dizer, isso foi interessante e tudo mais, mas me importei muito menos com as razões pelas quais ela estava participando do que com os outros participantes que ela acabara de mencionar.

— Colbert e Forrund também estão participando?

Afinal, parecia que dois oponentes mais poderosos haviam se juntado à briga.

— Uhmmmm… você poderia não sorrir assim? É meio assustador!

Ouvir que Colbert e Forrund haviam chegado pareceu iluminar o espírito de Fran e inflamou seu desejo de lutar, pois ela sorriu na mesma hora de forma beligerante.

— Ó, é verdade! Parabéns pelo aumento de ranking! O fato de você já ser uma rank C é mesmo impressionante.

— Obrigada.

— Por favor, pegue leve comigo se acabarmos lutando após o término das preliminares. Por favor, tente não me machucar, tá?

— Nn.

— Eu vou te cobrar isso! Eu juro que ficarei muito brava se você me machucar demais!

Sendo sincero, não sabia dizer se Lydia era fraca ou forte do ponto de vista psicológico. De qualquer forma, Fran acabou sendo chamada logo depois que as duas começaram a conversar.

O funcionário que nos chamou nos conduziu por uma passagem estreita. A luz ofuscante do Sol nos banhou quando seguimos o nosso caminho; isso quase parecia enfatizar que a arena estava no além.

“Você está pronta Fran?”

— Nn.

“Esta é sua última chance de evitar chamar a atenção do Lorde das Feras, então, se você quiser desistir, é agora ou nunca.”

— Não desistirei.

“Tem certeza? Mesmo que o Lorde das Feras possa acabar te notando?”

— Nn!

O Lorde das Feras quebrou o espírito de Fran e a deixou tremendo apenas por ficar diante dela.

Mas isso não importava.

Fran não se importava que as ações que ela estava prestes a tomar fossem aquelas que poderiam atrair a atenção dele. O momento em que soube do destino de Kiara foi o momento em que ela descartou a possibilidade de recuar. Fazer isso, fugir com o rabo entre as pernas, tornou-se o equivalente a descartar o orgulho de sua tribo.

E isso, ela se recusava a fazer.

“Vá com tudo, faça o que quiser. Não se preocupe com o Lorde das Feras. Sempre podemos nos teletransportar para bem longe, encontrar um navio e navegar para outro continente, se isso for mesmo necessário. Mas isso não é algo com que você terá que se preocupar, eu cuidarei de tudo se o pior acontecer, por isso não deixe seus medos impedi-la.”

— Obrigada.

“Tudo bem, isso é tudo que eu tinha para dizer.”

Não havia motivo para pensar demais nas possibilidades. Tudo o que precisávamos fazer no momento era focar e conquistar a segunda rodada preliminar.

“Vamos lá!”

— Nn!



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