Volume 6

Capítulo 304: Uma mudança abrupta

Os monstros foram imediatamente confrontados com uma série de grandes paredes. Alguns momentos de inquietação se seguiram, enquanto eles olhavam um para o outro para determinar seu próximo curso de ação, mas logo voltaram ao trabalho e começaram a inundar a única saída que havíamos construído. Eu estava um pouco preocupado que eles não pudessem encontrá-la, então coloquei uma pequena chama ao lado da entrada do corredor para ajudar a mostrar o caminho.

É claro que fomos além da aplicação de pequenos truques. À espera daqueles que entraram no corredor estava Fran. Evitamos que ela se limpasse para fazê-la parecer mais exausta do que realmente estava. Tinha que parecer que as tropas que avançavam tinham chance de vencer.

Eu não tinha certeza se era porque a viram em seu estado "ferido", mas nossos inimigos atacaram Fran. De forma literal, o corredor de quinze metros de largura que tínhamos montado estava transbordando com monstros, e cada um avançava de forma cega em direção a sua guardiã.

A razão pela qual o termo guardiã permaneceu no singular foi porque eu era apenas um dos equipamentos da gata-negra e seu companheiro, Urushi, não estava presente. Ele estava em uma missão diferente: caçar a unidade de reconhecimento dos monstros. Claro, sua missão repentina não foi algo sem planejamento.

De alguma forma, nossos inimigos conseguiram confirmar que nosso forte de papel machê era apenas um blefe, tudo sem fazer nada além de aguardar. Com base em suas ações, era razoável supor que eles tivessem algum tipo de unidade encarregada do reconhecimento. O exército teria permanecido mais vigilante do forte ou apenas o teria atacado caso não tivesse tropas especializadas em reunir informações.

Era possível para a unidade de reconhecimento determinar o quão longe nossas paredes chegavam enquanto Fran estava ocupada lutando contra seus agressores. Por isso, era necessário que Urushi abatesse seus batedores e, assim, interrompesse suas linhas de comunicação. Claro, também havia a possibilidade de que tal esquadrão não existisse. Mas isso não seria um problema. Ainda era melhor Urushi estar sozinho, pois havia uma chance maior de os monstros atacarem Fran se ele não estivesse presente.

Fran urrou seus gritos de guerra enquanto dizimava as linhas inimigas. Ela era imparável. Os monstros que a enfrentavam eram fracos demais para representar qualquer tipo de ameaça.

A Maestria em Magia havia aumentado a Percepção de Magia, o que por sua vez me permitiu explorar todo o exército e julgar sua força com base em suas leituras mágicas. Eu tinha certeza de que não havia monstros remanescentes classificados como rank C ou superior. Parecia que um ou dois rank D era possível, mas eu duvidava muito disso. Eu suspeitava que tudo o que tínhamos que enfrentar era rank E ou menor.

Ainda assim, a multidão enfurecida era tão grande que isso por si só era uma ameaça. Também havia a chance de haver monstros mais furtivos à espreita, por isso precisávamos permanecer vigilantes, apesar de enfrentarmos inimigos inferiores. E acima de tudo isso, era necessário nos conter. Havia uma boa chance de -eles desistirem de passar por Fran se ela dominasse por completo o campo de batalha. Tínhamos que nos conter ou arriscar encorajar os monstros a procurar outro caminho.

Para esse fim, mantivemos a magia no mínimo. Fran se concentrou na esgrima, enquanto eu me certificava de que não houvesse buracos em nossa defesa do corredor. Os únicos feitiços que lancei foram os absolutamente necessários para acabar com os inimigos que passavam por nós.

— Khhhh! — Fran fez uma careta quando deixou um goblin acertar sua armadura.

"Que diabos, Fran!? Eu sei que você está tentando fazer parecer que eles podem ganhar, mas você não precisa deixá-los te atingirem!"

— Sem problemas! — ela disse. Fran sabia quais ataques ela podia e não podia receber, por isso sempre se certificava de nunca ser atingida por nada fatal. Tudo o que a atingiu aterrissou em sua armadura e os hematomas resultantes poderiam ser curados na mesma hora. Ainda assim, não podia dizer que achava essa uma boa ideia...

Apesar da minha sugestão, a gata-negra continuou a repetir a ação, recebendo golpe após golpe apenas para persuadir seus inimigos a continuarem seguindo para cima dela. Ela não tinha intenção de parar enquanto suas ações continuassem a fornecer à tribo dos gatos-negros o tempo que eles precisavam para escapar.

Por sorte, as habilidades Ladrão de Mana e de Vida eram poderosíssimas. Eles me permitiam absorver a saúde e a energia mágica de todas as criaturas em uma área ao meu redor. Em outras palavras, eles eram as variantes de área de efeito das habilidades de Absorção de Mana e de Vida. Sua única grande desvantagem era que elas atuavam de forma indiscriminada.

Tudo dentro de sua área de efeito estaria sujeito a seus efeitos, independentemente de ser amigo ou inimigo, exceto Fran. Ela não contava como um alvo em potencial porque eu era, em termos técnicos, um dos seus equipamentos. Felizmente, estávamos em uma posição em que isso não causava muita preocupação.

Seus efeitos eram mais fracos que seus antecessores, mas provaram ser eficazes desde que houvesse três ou mais inimigos em seus raios de atuação. Na realidade, manter o Ladrão de Mana ativo me permitiu restaurar toda a mana que gastei na construção do muro. Cada inimigo forneceria 30 pontos de MP no máximo, mas o raio era grande o suficiente para que houvesse 30 inimigos em seu alcance efetivo por vez.

Continuamos estraçalhando os monstros por cerca de uma hora. Eu esperava que eles se separassem e procurassem alternativas, mas eles nunca fizeram isso. Eles continuaram disparando contra nós até o amanhecer.

Somente após o nascer do sol eles enfim pararam de forma abrupta. Restava apenas metade deles; matamos tantos que quase acumulei pontos suficientes para subir de nível.

"E agora?" Apartei meus olhos imaginários de forma suspeita, mas permiti que Fran continuasse avançando mesmo assim. Espere!

Um arrepio percorreu minha lâmina, então eu usei o Pequeno Salto e nos teletransportei a alguns metros de distância.

Houve um rugido alto; várias flechas haviam se cravado no lugar que Fran estava parada apenas alguns momentos atrás.

— Obrigada, Mestre.

"De nada.", respondi. "Mais importante, devemos nos concentrar em rastrear nossos agressores."

A única coisa que eu tinha certeza era que os ataques vieram de algum lugar atrás dos monstros que estávamos enfrentando. Mas não poderia ter sido algum tipo de unidade de suporte. Isso simplesmente não fazia sentido. As flechas tinham muito poder. Nenhum arqueiro goblin seria capaz de lançar algo com tanta força. Não havia dúvida de que eles iriam quebrar nossas barreiras e causar sérios danos se não tivéssemos nos movido.

E assim, procurei as presenças de nossos agressores...

... só para ficar pasmo com o choque.

Eu não tinha ideia de quando ou como eles chegaram lá, mas havia uma nova divisão de monstros por trás das forças restantes. Seus corpos estavam irradiando com mana. Até o mais fraco deles era um nível de ameaça E. Mais da metade era rank D ou superior.

E havia mil. Todos alinhados e prontos para a batalha.

Era um verdadeiro exército, um exército bem disciplinado e bem equipado. Suas impecáveis armaduras prateadas brilhavam ao sol da manhã. Aumentando esse efeito estava o modo como eles estavam em linhas perfeitamente retas. Uma olhada na extensão da organização foi suficiente para me dizer que havia problemas. Não havia maneira concebível de permanecerem tão organizados quanto estavam sem um comandante, e o fato de estarem todos usando o mesmo equipamento tornou óbvio que pertenciam à mesma unidade.

Esse novo exército envergonhava o anterior. Comparados às tropas bem organizadas diante de mim, os monstros que derrotamos não eram nada além de uma milícia desorganizada. Se seus membros não fossem seres malignos, lançar meus olhos sobre eles provavelmente teria me feito suspirar de admiração e deslumbramento.

E isso também era um problema. Todos os membros do exército eram seres malignos. Havia hobgoblins, altos-orcs e minotauros entre suas fileiras, mas cada um deles usava um conjunto idêntico de equipamentos.

"Você só pode estar brincando comigo... qual é... isso tem que acontecer justo quando removemos o suficiente de nossos inimigos para que eu pensasse que acabar com o resto era uma tarefa viável."

— Muitos inimigos.

"É… espere. Tudo que enfrentamos até agora era apenas uma parte da vanguarda? A força principal real é...?"

— Muitos inimigos fortes.

"Pode apostar que sim. Você ainda está preparada para fazer isso?"

Chegamos tão longe, apenas para descobrir que nosso progresso havia sido uma ilusão. Uma parte de mim estava preocupado com a possibilidade do espírito de Fran se quebrar. Mas, mais de mim esperava que ela respondesse da exata maneira que ela fez. Afinal, estávamos falando de Fran.

"Entendido."

— Nn!

Não podemos falhar. Pelo bem da Tribo dos Gatos-Negros.

"Vamos…"

— Vencer!

Com nossas vontades em sincronia, nós dois começamos a enfrentar nossos inimigos mais uma vez.



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