Volume 6

Capítulo 334: A história de Murellia

Graças à Matriz do Fantasma dos Sonhos de Kuina, Johan estava hipnotizado. No entanto, este efeito não parecia que duraria muito tempo, o que significava que precisávamos descobrir logo o que queríamos saber.

— Qual é a sua afiliação? — Kuina perguntou.

— Johan! Saia dessa!

— Vice-capitão! Seu lixo!

— Liberte-nos seus malditos! — Com vozes altas, os outros cavaleiros tentaram perturbar Kuina.

Kuina tentou interrogar Johan, mas os outros cavaleiros interferiram. Do ponto de vista deles, eles podiam entender que Johan estava sendo manipulado.

— Calados.

— ...!

— ...!

Com a Magia do Vento de Fran, todos os sons dos cavaleiros foram cortados. Não importava o quanto suas bocas se movessem, suas vozes eram incapazes de nos alcançar. Com isso, poderíamos obter informações de Johan de modo confortável.

— Vou perguntar de novo. Com que nação você está afiliado?

— O Reino de Bashar.

— Qual é a relação entre você e Murellia?

— A Senhorita Murellia é a benfeitora do meu país, assim como de minha casa.

— Conte-me mais sobre isso. Diga-me o que você sabe sobre Murellia.

Johan então começou a nos contar sobre a relação de Murellia com eles. Era uma história sobre Murellia de 500 anos atrás, que era completamente diferente daquelas contadas no Império dos Homens-Fera.

Naquela época, há 500 anos, Murellia acumulava fama enquanto atuava como aventureira. Ela possuía sua honra como um membro da família real, e embora fosse orgulhosa, não parecia ter um caráter distorcido. Na verdade, ela estava preocupada com os homens-fera supremacistas e sua rejeição aos seres humanos, que era a ideologia dominante no país na época, e ela até desejava regular esse comportamento discriminatório em relação aos seres humanos.

No entanto, apesar de seu status como realeza, Murellia tinha pouca influência real devido a ser uma aventureira. Assim, ela começou a formar equipes com humanos para melhorar mais sua imagem pública.

Pouco depois disso, ela teve um encontro fatídico, e, de todas as coisas, apaixonou-se por um humano do mesmo grupo. Infelizmente, o amor entre a princesa dos homens-fera e um humano, que eram tratados como escravos ou pior na nação dos homens-fera na época, não poderia ser tolerado.

Murellia, que se recusou a desistir apesar desses sentimentos, em vez disso, decidiu mudar a própria natureza das pessoas ao seu redor e seu próprio país. Aposentando-se como aventureira, ela retornou ao Palácio Real para ganhar status e voz entre seu povo.

Contudo, devido ao seu amante humano, a reação em relação a Murellia foi severa. Ela tinha se tornado uma afronta ao orgulho e honra dos homens-fera. Uma tola que tinha enlouquecida por um mero humano. Pior, ela se abriu para ser exposta a rumores ainda piores, como ser chamada de prostituta, uma princesa caída, ou como escória até mesmo para os humanos. Para dizer isso de forma gentil, não havia nenhum homem-fera que ficaria do lado dela.

No fim, Murellia e seu amante foram separados pelo Rei, como a vergonha da tribo dos homens-fera dominante. E isso não era tudo. A fim de cortar quaisquer apegos persistentes que Murellia tinha com o humano, o Rei arranjou uma escrava humana para seu amante e os forçou a procriarem. Na frente de Murellia.

Parecia que o amante foi ameaçado usando a vida de Murellia como motivação, e o homem não teve escolha a não ser obedecer...

Para começar, Murellia só estava enfurecida com os homens-fera que estavam conduzindo atos irracionais contra os humanos, mas depois de ser privada de seu amado, isso tornou-se um profundo e terrível ódio. Chegava a tal ponto que se poderia dizer que nada mais neste mundo possuía valor para ela.

Logo depois disso, Murellia fez contato com o Deus Maligno. Naquela época, a família real estava administrando o selo, mas Murellia o quebrou para destruir a nação dos homens-fera. No entanto, por causa dos muitos anos em cativeiro, ela não conseguiu ressuscitar o Deus Maligno na mesma hora. Em vez disso, o Deus Maligno deu poder a ela e a ordenou que reunisse almas para ele.

Parecia que Murellia tinha a capacidade de resistir à Magia Maligna, e mesmo com o poder do Deus Maligno, ela não perdeu sua razão e ficou fora de controle. Murellia continuou com o plano de ressuscitar o Deus Maligno e se vingar. A primeira coisa que ela fez foi assumir o controle da família real. Ela fez isso ao manipulá-los com o poder do Deus Maligno.

Com o poder político que ganhou com isso, tendo obtido o poder do Deus Maligno e da Tribo dos Gatos-Negros como ferramentas, Murellia começou a expurgar quaisquer facções que discriminassem e oprimissem a humanidade. Era uma estratégia que exterminaria as raças de homens-fera que ela desprezava e ofereceria as almas deles ao Deus Maligno. Infelizmente, isso não significava que a discriminação contra a humanidade desapareceria do país. Em vez disso, a resistência à Murellia, que pressionou à força a proteção humana, tornou-se ainda mais crítica a cada dia.

Naquela época, assassinos eram enviados com frequência para matar Murellia, assim como seu amado, que muitos acreditavam ser um demônio que havia levado Murellia à loucura. Assim, a Imperatriz do Trovão manteve seu amado, a escrava, e a criança recém-nascida dos dois humanos ao seu lado onde ela poderia protegê-los.

Contudo, à medida que a pressão dos assassinos aumentava a cada dia que passava, chegou um ponto em que Murellia enfim resolveu deixar seu amado e sua família escaparem. O destino era o Reino de Bashar, seu vizinho, um país fundado por humanos. Dito isto, eles não tinham certeza se seriam aceitos por serem oficiais da família real dos homens-fera. Por esta razão, Murellia lhes deu informações confidenciais sobre o plano dos nobres do sul de uma invasão no Reino de Bashar.

O Reino de Bashar da época não tinha nem metade do tamanho de atualmente. Além disso, eles tinham que lidar com a nação dos homens-fera, que era muito agressiva com eles. Além disso, eles tinham sido derrotados na guerra do ano anterior, dificultando a prevenção de outra invasão de homens-fera em suas terras.

Foi para este reino que eles levaram a inteligência militar que Murellia lhes deu. Embora estivessem em dúvida no começo, eles agiram de acordo com a informação e conseguiram defender com sucesso seu país. Ao mesmo tempo, um dos outros fatores decisivos que levaram à sua vitória foi Murellia, que liderou a Tribo dos Gatos-Negros e atacou o exército invasor por trás.

Graças a isso, Murellia acreditava que poderia oferecer um grande número de almas para reviver o Deus Maligno, exterminar os homens-fera, e recuperar seu amado. Contudo, não foi isso o que aconteceu.

No final, seu amado, a escrava e a criança nascida entre os dois passaram o resto de suas vidas no Reino de Bashar. O homem reviveu a família Magnolia com a criança nascida da escrava como herdeira, enquanto a mulher se tornou amante do rei daquela época.

Em outras palavras, o príncipe da família real de Bashar e o herdeiro da família Magnolia tornaram-se meios-irmãos. A família Magnolia, sob a proteção da família real, continuou a manter seu nome desde então, e agora era conhecida como uma família de mestres guerreiros.

— Que história ridícula... nunca ouvi nada a respeito disso. — Depois de ouvir a história de Johan, Mare falou com uma expressão conturbada. Claro, o fato era que Murellia era uma pecadora tentando reviver o Deus Maligno, mas esta história implicava que sua personalidade não foi quebrada. É claro que isso dependia do fato de a história de Johan ser verdadeira.

— Murellia ainda pretende reviver o Deus Maligno?

— Eu não sei.

— Murellia disse que criaria um paraíso para a Tribo dos Gatos-Negros, mas, por quê? Pelo que ouvi da sua história, ela deveria ter desprezo pelos Gatos-Negros...

— Usando o poder do Deus Maligno, parece que ela pretende trazer de volta as almas da Tribo dos Gatos-Negros de 500 anos atrás e conceder-lhes tormento eterno. Ela disse que usaria seu poder para destruir as outras tribos de homens-fera. — Johan respondeu ao resmungo de Mare com uma voz sem emoções.

Ao que tudo indicava, a história sobre Murellia foi transmitida através da família Magnolia e da família real de Bashar. Por isso, ele acompanhou Murellia, para pagar a dívida de seu antepassado com ela. Além disso, o rei decidiu se aliar a Rynford e Murellia também. Tudo isso fazia com que a probabilidade de a história ser verdade aumentasse.

Não era apenas isso, mas a invasão da nação dos homens-fera era, de fato, mais significativa para Bashar do que a aquisição territorial.

Nos últimos anos, uma grande lacuna se formou entre o poder militar dos homens-fera e outros países, tornando impossível até mesmo conflitos menores. Como resultado, muitos se equivocaram e pensaram que "a paz estava chegando", mas a verdade era o oposto. Dentro do país, grupos clandestinos de discriminação de homens-fera estavam se formando, com muitos nobres entre seus números.

Como resultado, o número de jovens instigando o ódio contra os homens-fera das sombras estava aumentando, e o movimento para rejeitar a outra raça estava se espalhando silenciosamente no país. Nesse ritmo, era possível que guerras civis ou motins pudessem irromper. Entretanto, se uma guerra fosse iniciada com o país dos homens-fera para deixar escapar seu estresse, havia o medo de que eles pudessem ser destruídos também. Embora o atual rei dos homens-fera fosse moderado, os líderes de Bashar eram incapazes de confiar nos homens-fera.

Com isso em mente, e se eles aceitassem o convite de Rynford? Com seu poder combinado, podia até ser possível vencer a guerra e alcançar seu desejo profundo de colonizar o país dos homens-fera. Mesmo que perdessem, ainda poderiam enviar os extremistas pertencentes às organizações clandestinas de radicais para serem eliminados.

Eles também poderiam dar a desculpa de que a mulher-fera Murellia tinha usado o poder do Deus Maligno para manipulá-los. Mesmo que fossem forçados a fazer reparações, sua nação não seria destruída. E, acima de tudo, aquela que propôs isso era ninguém menos que a própria Murellia.

— Se colocarmos toda a responsabilidade em nós mesmos, a nação dos homens-fera não deverá ser capaz de trazer toda a sua força, é o que estávamos pensando.

— Esse é o benefício de ter salvo o país duas vezes...?

— Isso está correto.

Os cavaleiros presentes faziam parte dos membros da família Magnolia que eram particularmente patrióticos, e que também pareciam ter grande obrigação e adoração por Murellia. Sua nação lhes deu o papel de cães de guarda, mas, na realidade, eles eram mais a escolta de Murellia.

— Mesmo que sejamos perversos, não esqueceremos nossa dívida com ela.

Ainda assim, isso era bastante problemático. Eu não me importava com coisas como justiça ou circunstâncias de outras pessoas. Em primeiro lugar, cada um tinha sua própria forma de justiça. Até os inimigos que abatemos até agora tinham suas próprias razões para lutar contra nossa justiça. Ela apenas era incompatível com a nossa. Se houvesse alguém se preocupando com coisas assim neste momento, ele não deveria ter começado a lutar.

De qualquer forma, eu não sabia o quão verdadeira era essa história. Não era de se admirar que a história do Reino de Bashar, que favorecia Murellia, fosse diferente da nação dos homens-fera. Ambas as histórias deviam ser consideradas com desconfiança. No entanto, eu achava que era mais provável que o Reino de Bashar, onde a informação permaneceu intacta, tinha a história mais precisa.

O que eu achei ser a parte mais estranha de tudo isso eram os motivos de Murellia. Isso era algo que eu acreditava pelas experiências da minha vida anterior, mas não havia nada mais aterrorizante do que o rancor do amor de uma mulher. "O que este virgem de 30 anos está dizendo?", você deve estar perguntando. Sim, eu pessoalmente não tenho muita experiência romântica, mas já vi o suficiente no trabalho e na escola.

Uma garota que lincha uma amiga só porque o garoto por quem ela estava apaixonada gostava desta amiga. Ou, uma certa funcionária sênior que viu seu interesse amoroso mostrar bondade a uma nova funcionária, e, sentindo-se traída, amaldiçoa-a por ressentimento e faz tentativas de suicídio na frente dos dois. Ou, uma colega que começou a perseguir a pessoa com quem seu namorado estava tendo um caso, e assassinou seu gato de estimação. Que aterrorizante. E todas elas têm em comum que, mesmo depois de fazerem tantas coisas ilógicas, elas ainda estavam sorrindo e agindo como de costume.

Assim como eles, Murellia também parecia calma na superfície. No entanto, ela era uma pessoa que ninguém poderia dizer que ações destrutivas poderia tomar. Mulheres comuns poderiam balançar suas facas de cozinha, mas e se fosse Murellia? Ela era alguém que poderia fazer dungeons ficarem fora de controle ou até mesmo reviver o Deus Maligno.

Para piorar, aqueles com emoções como delírios e rancores não sabiam como desistir, mesmo que o fim estivesse próximo. Alimentados por emoções negativas, eles poderiam continuar para sempre. E agora, ela era a Sacerdotisa do Deus Maligno. Não fazia ideia de quão distorcido e insano o espírito dela poderia ter se tornado... nessa questão, Murellia era muito problemática.



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