Volume 7

Capítulo 378: O desaparecimento de Romeu

Laurentia? Você acabou de dizer Laurentia?

Ei, o que essa pessoa tem a ver com Rynford?”

— Rynford? Se bem me lembro, ele era o feiticeiro maligno que invocou Murellia...

Hmm. Rynford Laurentia.

— Entendi... você disse que seu sobrenome é Laurentia?

“É, ele era um velho monstruoso com mais de cem anos de idade.”

— Cem anos de idade? Acredito que Lysius deve ter mais de 40 anos. Então, Lysius provavelmente não é seu filho.

Então, talvez, um neto?

“Esse tal de Lysius não é um feiticeiro maligno, é?”

— Claro que não.

— Em vez disso, ouvi dizer que Lysius odeia feiticeiros malignos.

Em primeiro lugar, nem sabíamos se era uma relação sanguínea direta. Era possível que a família Laurentia tenha se dividido ao longo dos anos, e nem todos os descendentes de feiticeiros malignos seguiriam os passos de seus pais. Se a história sobre Lysius odiar Rynford fosse verdade, era mais provável que Rynford tenha feito algo com ele.

Era improvável que o Rei das Feras aceitasse um feiticeiro maligno, e não parecia haver problemas com esse cara chamado Lysius.

— A magia da terra de Lysius é inigualável em batalhas de cerco. Com ele, não importa quantos fortes haja, tudo será inútil.

— Quer dizer que ataca o forte com Magia da Terra?

— Bem, isso é possível, mas a maneira mais segura que de fazer isso é cavar um buraco para uma maneira de avançar. Normalmente, eles ficariam fortificados com ferramentas mágicas e outros equipamentos para guardar o porão, mas os soldados estavam confusos na hora. Lysius, que estava cavando no subsolo, não foi notado ou sofreu interferências pelos inimigos.

Entendi, então eles construiriam um túnel subterrâneo e enviariam soldados através dele. Tinha certeza que houve algo chamado guerra de túneis no Japão1. Não sabia quanto disso era genuíno e o quanto era ficção, mas estava certo de que o método de ir para o subsolo e cruzar as muralhas era muito eficaz.

— Graças a Lysius e aos outros, foi fácil chegar à casa Magnolia.

— Não havia soldados em patrulha para lidar com os exércitos dos Homens-fera, e era seguro dizer que não havia guardas no território Magnolia.

— Então, vocês conseguiram trazer Romeu sob sua proteção?

— Não, não conseguimos.

Mare balançou a cabeça, sua expressão escurecendo um pouco.

O que você quer dizer? Você esteve na casa Magnolia, não esteve? Ele resistiu? Ou nunca houve uma criança como a que foi descrita? Também era possível que eles evacuaram quando a guerra começou.

Mas a resposta de Mare não foi nenhuma dessas.

— Ele já tinha sido levado por outra pessoa.

“Outra pessoa?”

— Sim, ao que tudo indica, um homem que tinha mais de dois metros de altura, com cicatrizes por todo o corpo, e era tão feroz quanto um ogro o levou.

Só tinha duas pessoas em mente. Não, Asura estava conosco o tempo todo. E ele não estava coberto de cicatrizes por toda parte.

Assim sendo, só havia um candidato.

— Zerrosreed?

— Será que Fran pensou nisso também? Ao que parece, Zerrosreed atacou a família Magnolia e sequestrou Romeu.

Zerrosreed era o parceiro de Murellia, mas ele deveria tê-la traído em seus últimos momentos, não é? Por que ele sequestrou Romeu? Ele estava fazendo isso por despeito contra Murellia? Ou era por uma razão diferente?

“Qual é o motivo...?”

— Não sei.

“Imaginei que não.”

— Você não pode segui-lo com o nariz de Urushi?

Au.

Como esperado, nem Urushi poderia fazer isso. Mesmo se você tentasse rastreá-lo a partir da casa Magnolia, Zerrosreed iria se mover, e depois de alguns dias, o cheiro desapareceria.

— Entendo... temo que é um beco sem saída.

— Muito bem, vamos confiar no valor da recompensa. Já foi preparado, mas se anunciarmos de novo, isso só irá irritar as outras pessoas.

— Você tem razão.

Seria melhor deixar isso para Mare e os outros para cuidar do valor da recompensa. Parecia que realmente não tínhamos escolha. Era muito decepcionante, mas a história do garoto chamado Romeu terminava aqui.

Hmm

Tinha certeza que Fran estava se perguntando sobre o que fazer. Mas eu sabia que não havia mais nada que pudéssemos fazer sobre isso.

“Bem, não há o que fazer. Se encontrarmos Zerrosreed no futuro, vamos obrigá-lo a falar. Bem, não acho que ele falará com honestidade.”

Nn!

Não queria encontrar um monstro como esse mais uma vez. Mas já o encontramos duas vezes. Barbola, e agora isso... dizem que o que acontece duas vezes pode acontecer três vezes também, então não poderíamos baixar a guarda.

— Espancá-lo e obter a história completa.

Parecia que não haveria margem para negociações. Bem, não achava que negociações funcionariam com Zerrosreed, então isso acabaria se tornando uma batalha.

“Temos que ficar mais fortes para nos prepararmos para isso.”

Nn.

Fran assentiu com uma expressão de determinação no rosto.

— Agora, Mestre, estou aqui para cuidar da Mestra Kiara.

“Sim.”

Terminado o nosso encontro ao ar livre, Mare e nós entramos na capital. Embora estivesse preocupado que teríamos que entrar na fila de novo, havia uma pessoa de sangue real conosco. Aproveitando seus privilégios, entramos na cidade sem demora.

Fomos recebidos por Mianoa, que era a serva pessoal de Kiara. Ela voltou para a capital antes de qualquer um, aparentemente para relatar a triste notícia. Na mesma época, ela começou a se preparar para o funeral de Kiara.

Coloquei o corpo morto da velha gata-negra, que eu tinha escondido no Armazenamento Dimensional, em um caixão preparado por Mia. Fran e Mare, olhando para ela mais uma vez, as duas não conseguiram conter as lágrimas.

Mas nem um único músculo se contraiu nos rostos de Mia e Kuina. Mas não era porque as duas não estavam sofrendo. As camareiras da corte apenas não deviam mostrar a sua tristeza. Profissionais reais em seu campo.

O plano do funeral que ouvi mais tarde era muito diferente do que imaginei. Quer dizer, é claro que imaginei algo como um funeral budista, ou um funeral europeu que vi no cinema.

Mas a visão local de vida e morte era completamente diferente do mundo de onde vim. Então, a cerimônia do funeral foi diferente de tudo que vi. Além disso, este era o funeral dos homens-fera.

Para começar, parecia haver uma ênfase no próprio momento da morte. Afinal, este era o momento em que a alma se separava do corpo e ascendia ao céu. Ao contrário da Terra, a existência de almas era um fato aceito, por isso, rezar pela felicidade do falecido na vida após a morte era especialmente importante.

Portanto, em certo sentido, o próprio momento da morte era um funeral. Depois disso, restava apenas o corpo, que era considerado um recipiente vazio, sem alma. Claro, isso não significava que ele seria apenas descartado, porém, o próprio corpo não recebia grande importância.

Assim, como um sinal de respeito pelo falecido, seu corpo era protegido para não se transformar em um morto-vivo. Afinal, um aventureiro forte se tornaria um morto-vivo forte.

Portanto, se o corpo do falecido pudesse ser carregado, ele era levado, e se isso fosse problemático, o corpo era queimado e enterrado. Parecia que os ossos também não eram guardados. Era necessário certificar-se de que ninguém mais identificasse o falecido.

Se o falecido pudesse ser levado, então um ritual de proteção para evitar a transformação em morto-vivo seria realizado, após o qual ele era enterrado. No entanto, a principal questão no funeral não era o morto, mas os vivos.

Enquanto dizíamos figurativamente na Terra que a família se despede do falecido, era exatamente isso o que acontecia nos funerais deste mundo. No velório, os presentes podiam ver o falecido em um caixão, aceitar o fato de sua morte e receber o apoio de outras pessoas para enfrentar a perda.

Mas não havia presentes ou grinaldas. De fato, nada disso poderia ser levado para a vida após a morte. E as orações pela felicidade na pós vida e outras cerimônias eram conduzidas não por padres, mas por familiares e amigos. Sim, não havia um único padre em funerais neste mundo, esta era outra diferença importante em relação à Terra.

— O funeral da Mestra Kiara acontecerá em quatro dias. No dia seguinte ao retorno do Rei das Feras.

— O quê? Você entrou em contato com o seu pai?

— Sim. Como o dispositivo mágico para comunicação remota não funciona entre continentes, e há uma chance de que a conversa possa ser ouvida em Bashar, usei o Falcão-Correio da Guilda dos Aventureiros. Ele respondeu que voltaria logo.

Não seria rápido demais voltar de outro continente em apenas três dias? Eles teriam que marchar sem descanso. No entanto, quando seu país está em guerra, isso não era algo surpreendente.

Eles tentaram iniciá-la quando o rei não estava no país. Embora isso por si só não tivesse criado nenhum problema particular. Ainda assim, o poder militar excedia de forma significante o do Reino de Bashar.

— Madame Fran, quais são seus planos? Se você quiser, pode conseguir um emprego no mesmo navio veloz que navegará com o Rei das Feras. De acordo com os planos, Sua Majestade desembarcará primeiro no porto de Greyseal, e depois retornará a Barbola durante o dia.

— Posso contar com isso?

— Claro.

Fran concordou com a proposta de Mia. Mas essas palavras só me preocuparam mais.

“Ei, espere. Você não gostaria de comparecer ao funeral de Kiara?” Eu falei.

Nn? Não há nada de errado nisso.

Sim, exatamente. Ainda não conseguia tirar isso da minha cabeça pensando no meu próprio mundo. Já que Fran estava com Kiara em seus minutos finais, não adiantava participar do funeral uma segunda vez. Enquanto pensava que era incrível como ela foi capaz de aceitar sua perda com facilidade, para os homens-fera, essa parecia ser a ordem das coisas.

Mas nem Mare nem Kuina reagiram às palavras de Fran de que ela não estaria presente no funeral de Kiara. Embora, Mare, ao ouvir que Fran ia partir, ficasse triste.

— Bem, Fran. Porque você não fica um pouco mais?

— Desculpe. Fiz uma promessa com alguém.

“Somos obrigados a participar do leilão no Reino de Kranzell.”, respondi.

— Então é isso. Vocês precisam mesmo se apressar. Isso é um problema.

— Madame. Você não acha que se ficar tão chateada, Fran se preocupará durante a viagem dela?

— Sim, você tem razão.

— Além disso, ainda há alguns dias.

— Sim! Durante esse intervalo, podemos brincar o suficiente!

Kuina era uma mestra em manipulação. Em um instante, a tensão de Mare desapareceu. Parecia que ela já havia decidido que Fran e Mare deveriam manter um relacionamento...

— É. Vamos brincar o suficiente.

Fran também estava ansiosa. Afinal, esta era sua primeira amiga íntima. Esperava que esses três dias fossem cheios de boas lembranças.


Nota

1 – A guerra de túnel é um nome geral para a guerra em túneis e outras cavidades subterrâneas. Muitas vezes, inclui a construção de instalações subterrâneas para atacar ou para a defesa e o uso de cavernas naturais existentes e instalações subterrâneas artificiais (catacumbas, esgoto da cidade, etc.) para fins militares. Os túneis podem ser usados para minar fortificações e infiltrar-se em território, enquanto pode fortalecer uma defesa, criando a possibilidade de emboscada, contra-ataque e a capacidade de transferir tropas de uma parte do campo de batalha para outra invisível e protegida. Além disso, os túneis podem servir de abrigo para não combatentes contra ataques inimigos. Os primeiros a copiarem a guerra em túneis foram os japoneses. Nas batalhas do Pacífico Ocidental, eles maximizariam suas capacidades estabelecendo uma defesa de ponto forte, utilizando a guerra em cavernas. O primeiro encontro dos fuzileiros navais dos EUA com esta nova tática foi na ilha de Peleliu. Os fuzileiros navais invasores sofreram duas vezes mais baixas do que em Tarawa, onde a velha tática japonesa de defesa da praia foi empregada. O auge desta forma de defesa, no entanto, pode ser encontrado em Iwo Jima, onde os japoneses projetaram todo o Monte Suribachi com muitos túneis que levam a posições defensivas ou saídas para contra-ataques rápidos. A guerra em túneis dos japoneses forçou os fuzileiros navais dos EUA a adotar as táticas específicas para expulsar sistematicamente os defensores japoneses, uma caverna de cada vez.



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