Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 10 – Arco 4

Capítulo 93: Acordo fechado.

Hideki



— QUE OS JOGOS COMEÇAM AGORA, ANY!

Um telão gigante que tinha aparecido do nada para toda a população, agora tinha sumido, e todos que estavam no meu grupo já perceberam o que tinha acontecido, por conta disso, apenas nos tampamos naqueles mantos que tínhamos ganhados e continuamos andando até o fim daquela gigante cúpula falsa. Quando me dei conta, estava completamente de noite, então as ruas estavam completamente vazias.

No final daquele gigante lugar existia uma falha nessa parede falsa, era perceptível até mesmo de noite, não daquela forma que Any tinha explicado, por conta disso conseguimos nos localizar perfeitamente, nos aproximamos do bar que ainda estava aberto e ficamos por lá, apenas esperando Any e o pessoal chegar. Por conta do que tinha acabado de acontecer, o exército real estava fazendo uma ronda pesada por quase qualquer lugar, então evitamos conversar por um tempo, e principalmente, evitamos fazer barulhos.

Essa espera no final das contas durou por algumas horas, e nesse período de tempo não pude deixar de pensar sobre a Shiori, afinal de contas… ela está em um estado que nem ao menos sei o que fazer. Falaram que poderiam nos ajudar, mas existem certas coisas que não me permitiam acreditar nessas palavras.

Pelo jeito que o reino está, é certeza que pedirão alguma coisa em troca dessa ajuda que vão me dar, e não duvido que seja algo referente a guerra contra os deuses, ou até melhor, talvez a minha ajuda para salvar a princesa seja mais que o suficiente pra eles, eu não sei como vai ser… mas tenho que pensar bem em quem devo confiar.

Estamos no meio de um beco sem saída, e ele era pequeno demais para tantas pessoas assim, por conta disso apenas espero para ver o que pode acontecer, o exército não passava por um lugar tão apertado assim, também nem valia a pena… isso pelo fato que dificilmente caberia uma pessoa aqui… imagina mais de duas, e uma ainda em um estado de sono profundo.

A nossa espera durou tempo o suficiente para o sol começar a nascer e aquela quebra na cúpula se tornar cada vez pior. O horário indicado pelo relógio gigante que dava para ver daqui, era bem de manhã, e por conta disso os comércios começaram a abrir.

Talvez o exército não tivesse nos achados, mas tenho certeza que a população iria achar, por conta disso tentamos nos mexer para não sermos procurados, pela nossa sorte o dia de hoje era extremamente movimentado, então acabava sendo muito fácil de andar sem ser percebido, até mesmo com a Shiori nas mãos de alguém… ficamos um pouco do lado do bar até ver Any e o pessoal se aproximar, eles também estavam com roupas diferentes e mais do que isso, eles estavam sem mantos… Percebi que era eles pelo fato de conhecer bem as outras pessoas, mas não dava para perceber que realmente era.

Se aproximaram da gente e assim Any diz:

— Vamos entrar no bar e pegar uma mesa…

— E a Shiori? — perguntei.

— Alguém consegue ficar aqui fora apenas para cuidar dela e falar se alguém do exército se aproximar?

Leon levanta a mão, e assim é dado.

O resto entra no bar e nos sentamos em uma mesa, uma com cadeira o suficiente para cada um sentar, por um tempo não se aproxima ninguém, nem mesmo para nos atender… até achamos um pouco estranho isso, mas ignoro e logo pulamos para uma conversa que Any queria ter com a gente.

— É um pouco estranho falar sobre essas coisas logo agora…

— Por que?

— Pelo o que parece vocês já estão sabendo o que está acontecendo, certo?

— Dá para saber, parece que estão te procurando.

— Isso conta pra você também… Hi…

Ela para de tentar falar meu nome pois sabe que eu também estou no meio dessa briga.

— E o que você quer que a gente faça? Milagre?

— Apenas quero que me ajudem… por favor.

— Te ajudar? Mesmo com tudo o que está acontecendo? 

— É… eu sei que pode ser estranho fazer um pedido desses, mas eu quero salvá-la, e mais do que isso… eu quero poder fazer tudo isso voltar ao normal!

— Eu entendo seu pedido, e é até digno… mas não sei se consigo te ajudar… olha o gigante problema que tenho que resolver!

— O seu problema é sobre uma pessoa… o nosso é sobre o reino inteiro, seria muito ruim perder o que seria a maior concentração de pessoas do mundo.

— Any… não sou um herói de uma novel estranha, sou apenas uma pessoa que está buscando a verdade por trás de si mesmo, não há nada nesse mundo que me faça desistir do meu sonho de descobrir a verdade… e não há nada que irá me fazer desistir de salvar a Shiori.

— Eu sei que você não é o herói da nação nem nada do tipo, mas não estou considerando isso, estou considerando… o que há em suas mãos.

Any estava claramente falando do meu poder, ou até mesmo mais do que isso. Quando conversei melhor com o meu eu interior, tive a plena certeza de que minhas habilidades com espada aumentaram cerca de 500%, e isso vem sendo retirado da minha cabeça. Na minha última conversa com ele, milhares de habilidades se envolveram na minha mente, e era como se eu soubesse tudo o que ele sabia naquele momento.

Não que eu vá questionar como isso aconteceu, talvez seja algo até mesmo sem explicação, ou algo que só ele pode me explicar. Mesmo eu não tenho interesse em saber como isso aconteceu, então… enquanto eu tiver esses conhecimentos na minha mente, não haverá motivos para eu sequer voltar a conversar com aquele cara, mesmo que seja eu mesmo.

Por um instante meus olhos olharam para os lados, para ter plena certeza de que ninguém estaria ouvindo o que eu estava falando, para a minha surpresa não havia ninguém de olho na minha conversa. Na verdade, o movimento naquele bar tinha parado por um tempo, e nem ao menos percebi que algo assim tinha acontecido, não que isso iria me preocupar.

— Toda ajuda será… devolvida na mesma moeda. — disse Any, inconformada com as minhas respostas.

— O que quer dizer com isso?

— Da mesma forma que você vai me ajudar com a Emilly, eu vou te ajudar com a Shiori.

Isso poderia ser interessante… se eu soubesse o nível de poder que Any possui. Na fuga da academia de batalha não consegui ver se ela fugiu, se lutou ou algo do tipo, apenas sei que ela fugiu por ter aparecido na minha frente um tempo depois, como se nada tivesse acontecido.

Mas se pensar bem, não seria ela que me ajudaria dessa forma, e sim a Emilly. A princesa teria um alto nível de poder em suas mãos para me ajudar com qualquer coisa que eu pedisse, principalmente quando se tratasse da Shiori, já que isso colocaria as duas em dívida comigo. Mas… caso Shiori acordasse e soubesse de tudo o que eu estou pensando nesse momento, provavelmente voltaria a dormir como se nada tivesse acontecido, e isso serviria como uma punição para a minha pessoa, já que estaria pensando em prejudicar alguém que ela talvez goste.

Por mais que num futuro isso pudesse fazer sentido, só me atrasa pensar nessas coisas agora. Pensando melhor na situação, Any está no mesmo barco que eu, ou até mesmo pior, mas por conta da velocidade extrema que tudo isso está acontecendo, não consigo pensar rapidamente em uma resposta.

Leva em consideração que ela não está fazendo isso por egoísmo próprio, mesmo que possa parecer. Any está fazendo isso tanto por ela, quanto por um bem maior… o reino inteiro — quem sabe… o mundo inteiro.

Enquanto eu estava lá, procurando uma desculpa infantil para esconder o meu egoísmo. Não queria salvar a Shiori por um bem maior, não é pelo mundo… é por mim. Tentei esconder meu egoísmo, mas estava na cara que não era por um bem maior assim como Any estava fazendo. Por conta disso comecei a pensar melhor nas minhas palavras, nas coisas que eu estava falando. Não era justo a Any me ajudar a me esconder aqui, me ajudar a encontrar o que poderia ser a resposta para o que estou procurando, enquanto eu estou lá… parado e apenas olhando.

Precisava de mais para chegar em um lugar em paz… precisava encontrar a minha própria liberdade.

— Ah… acho que entendi o que quis dizer então.

— S-Sério?

— Sim. Eu posso te ajudar nisso.

Os grandes olhos — principalmente aquele que possuía uma marca de estrela — brilharam imensamente, e mais do que isso… demonstraram uma felicidade que não tinha como descrever, eu sabia que existia a grande chance dela estar feliz com a minha escolha, afinal de contas… eu era a pessoa mais forte na opinião dela.

Se toda essa forma que ela fala realmente existisse, seria muito bom sabe-lá usar nesse momento, mas até mesmo para essa conversa eu estou cansado, não há nada que eu possa fazer para salvar a Shiori, nada mesmo, e por conta disso talvez seja melhor só deixar as coisas irem como deve ser…

— Eu sei alguém que pode nos ajudar… Hideki.

— Quem?

Minha resposta foi imediata, não tinha mais nada que eu queria saber, apenas como irei salvar a Shiori, na minha mente isso seria impossível, até mesmo com a ajuda de alguém que tem extremo conhecimento de mana e de poderes, mas se realmente existe alguém que possa me salvar dessa luta, queria tentar conhecê-lo, isso porque… não custa tentar.

— Vamos sair daqui e ir para o lugar certo.

Any se levanta e começa a andar, aos poucos me levanto e vou seguindo ela, do lado de fora do bar tudo estava extremamente claro, o sol por mais real que parecesse, ele não dava um sinal de calor, e sim apenas um sinal de frio, como resposta para isso qualquer pessoa que parecesse questionar o que estava acontecendo com sol, seria silenciada… é isso que vejo acontecer na minha frente.

Andamos pelas pequenas ruas que pareciam vazias para não chamar a atenção, tendo em mente que as pessoas saberiam quem sou eu. Por muitos lugares que passei meu rosto estava extremamente exposto em qualquer parede diferente, tudo isso seria para me matar… o quão longe as pessoas vão para retirar a liberdade de outra pessoa? Eu, até mesmo como pessoa… nunca fiz algo errado para as pessoas que estavam jogadas por este reino, até mesmo… raramente pisei aqui. Por conta disso meus pensamentos são inundados com apenas uma pergunta…

“O que eu fiz de errado?”

Como deus da destruição, algo realmente pode ter acontecido, mas como pessoa… nem ao menos cogitei fazer algo para este reino, por conta disso o nosso caminho além de silencioso, é extremamente desconfortável.

Ter meu rosto jogado para todos os lados era a mesma coisa que se tornar uma pessoa famosa, mas ao invés de muitos fãs, tenho muitas pessoas que realmente me odeiam…

Por mais “pacifico” que seja o caminho que estamos seguindo, ficamos olhando para todos os lados, e tivemos todo o cuidado do mundo para não sermos detectados, por conta disso o que deveria ser alguns minutos de caminhada, se tornaram duas horas inteiras sem parar de andar para lá e pra cá.

— Bem… chegamos.

À primeira vista era só uma loja qualquer de ferreiro, mas quando Any nos leva pra dentro e para trás do balcão de atendimento, um lugar novo se demonstra, uma casa quieta e extremamente arrumada. Não questionei nada que ela tinha feito, apenas a segui como se fosse um animal perdido…

Talvez falando em um animal… tenha um que eu teria que rever ao chegar neste reino, mas não é uma hora boa para se pensar em algo assim.

— Parece que eu tenho convidados…

Uma voz misteriosa ecoa pelo local… dava um certo desconforto, mas isso não era o suficiente para a Any, que bate duas palmas, sorri ferozmente… e simplesmente fala como se nada tivesse acontecido:

— Oi, eu voltei… Kay…



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