Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 11: As irmãs se separam.

Alysci

35 anos atrás.



Após aquele dia, nós três corremos em direção a pequena cidade que havia seguindo caminho até o pé da montanha onde ficava o orfanato. Lá o povo nos ajudou a viver. Não se sabe o que aconteceu com Akumo depois daquele dia, por isso decidimos que era o momento de procurar a nossa mãe. Vivíamos em uma pequena loja de costura, a mulher de lá nos recebeu muito bem… seu nome era Riko, ela era casada com um homem chamado Riki e não tinham filhos.

Eles decidiram nos acolher depois de aparecermos na cidade todas machucadas…eles acharam que fomos abandonadas pela nossa família, nunca foi contado a verdade. Nossa vida era tranquila e não havia nada com que se preocupar, a tristeza era viver sem a mamãe e todos os nossos amigos, que de um dia para o outros, não estão mais entre nós.

Já se passaram 5 anos desde que tudo aquilo aconteceu, agora tenho 11 anos.

Eu estava no quarto esperando Saionara e Solveig, elas estavam ajudando Riki a fazer um bolo para Riko, parece que é aniversário de casamento deles. Eu sou a única que ainda está assustada com o que aconteceu, não consigo pensar…

— Alysci, vem cá? — diz alguém do outro lado da porta.

— Já estou indo.

Eu não consigo seguir em frente igual as outras que já aceitaram a vida que tem, eu estava parada no tempo, toda noite era o mesmo sonho, todo dia era o mesmo dia… todo momento era igual. Eu realmente parei no tempo.

Me levanto da cama e vou em direção a sala, vejo que todos estão ali, sorrindo e conversando.

— Ehehe, mas, senhor Riki… — diz Solveig.

— O que?

— Como o senhor conheceu a Riko?

— Oh… isso infelizmente não posso te contar, é coisa de casado sabe… e se eu falar isso, ela me mata.

— Que loucura! Ehehehe.

Saionara estava quieta ouvindo a conversa, me aproximo da mesa onde todos estavam reunidos.

— Parece que a estrela principal chegou. — diz Riko.

— Estrela principal? — pergunto.

— Sim… pelo o que você havia me dito… hoje é seu aniversário, não é?

— Mas não é aniversário de casamento de vocês?

— Era só mentira, nosso aniversário de casamento é só daqui alguns meses!

A luz estava fraca naquele dia, tanto pelo motivo de que a conta não havia sido paga, quanto de que era um dia chuvoso. A família de Riko era um tanto quanto pobre, mas ainda sim tentava de tudo para nos ajudar nesses 5 anos, esse é o primeiro aniversário que comemoro com eles.

Estranhamente nunca fui de ligar para isso, meu aniversário não era algo que se comemorava, tanto aqui quanto no orfanato, mamãe dizia que esse dia era apenas para subir um número a mais na minha idade, mas parece que aqui na cidade é normal as pessoas comemorarem seus aniversários…

Era uma festa simples, havia um bolo no centro da mesa, ele era pequeno, sinto que daria metade de um pedaço para cada um, tinha duas velas acima dele e alguns copos pela mesa com água.

Riko me olha e diz:

— Gente, não podemos esperar tanto… temos que cantar parabéns!

— Ah sim, é verdade… — diz Riki.

Todos da sala começam a bater palmas e cantar parabéns, eu queria que esse momento durasse para sempre, ele durou segundos que pareciam horas… Solveig batia palma enquanto tinha um pouco de bolo ao lado da sua boca, Saionara batia palma enquanto sorria, Riki batia palma enquanto tentava dançar… Riko batia palma enquanto derramava um pouco suas lágrimas.

Eu não sei dizer se esse momento é feliz, triste, ou angustiante.

Mas após essa cantoria toda e bolo foi distribuído, todos comeram felizes, a conversa era saudável, mas algo chamou mais minha atenção. Era a linda chuva que estava do lado de fora, o barulho alto que às vezes ofuscava as vozes das pessoas, era um momento lindo e perfeito.

Pela primeira vez nesses anos… eu sorri.

Eu estava tão feliz que nem ao menos poderia me conter, e comecei a chorar.

Riko se aproxima de mim preocupada.

— O que aconteceu? O bolo estava ruim? Foi o Riki que fez!

— NÃO BOTE A CULPA EM MIM!

— Irmã, o que aconteceu? — pergunta Saionara.

— Maninha, maninha… está tudo bem?

— Eu estou… eu estou feliz… Desde que a mamãe não apareceu mais… eu estava tão triste. Mas esses momentos me fizeram feliz, esses momentos onde todos estão rindo e conversando… eu gosto muito de ver vocês dessa forma! — dou uma pausa e limpo minhas lágrimas — Eu queria muito… muito… poder ficar mais tempo com vocês, essa família… essa família me faz feliz, Riko, Riki… eu não sou filha biológica de vocês, mas tenho certeza que a pessoa que vir no nosso lugar… tenho certeza que essa pessoa será muito feliz!

Riko me olha com uma cara surpresa, Riki só demonstra um sorriso infantil.

Eu dou um sorriso de ponta a ponta para eles, eu estava genuinamente feliz com toda aquela situação…

Alguém começa a bater muito na porta e Riko vai lá atender.

— Com licença senhora, somos do exército real e aqui estamos a procurar três crianças que estão sob mandado de prisão.

— Mandado de prisão?

— Sim, essas três crianças cometeram um gravíssimo crime, enfim… você viu essas crianças?

Após uns segundos de silêncio.

— Não.

— Mora mais alguém com você?

— Somente meu marido.

— Sabe onde fica o orfanato da cidade?

— Subindo a montanha…

— Ok, obrigado senhora. Tenha uma boa noite de sono.

— De nada senhor, tenha boa sorte na sua procura.

Assim a porta se fecha e Riko aos poucos volta para a sala com uma cara assustada.

Ela atentamente olha para mim, Saionara e Solveig.

— O que vocês três fizeram…?

— O que aconteceu, amor?

— Riki… essas três são procuradas pelo exército…

— O que?

O rosto de indignação de Riki se vira em minha direção.

Saionara e Solveig se aproximam de mim, eles realmente não sabiam o que havia acontecido naquele dia em que chegamos aqui, nunca contamos na verdade… tanto pelo motivo de querer esquecer tudo o que estava ali, quanto pelo motivo de que não achamos necessário…

Não imaginava que isso iria acontecer.

— Por favor… me diga que isso é mentira. Eu não quero acreditar nisso. — diz Riko.

— Mas elas estão sendo procuradas por qual motivo?

— Estarem aliadas à Akumo.

— Mamãe…? Mamãe está… viva? — pergunta Solveig.

— Mamãe? Que papo é esse de mamãe? 

— Akumo é a mulher que cuidava da gente naquele orfanato… — digo.

— Akumo cuidava de crianças?

A cara de Riko poderia ser chamada de ódio, dor, um sentimento de desprezo sobre as pessoas que estavam na sua frente.

— Sumam da minha frente, eu não quero mais ver vocês. Eu não acredito que estava cuidando das crianças daquela puta, daquela desgraçada… AQUELA MULHER QUE SÓ SABE MATAR OS OUTROS! Na verdade… Eu já sei o que devo fazer…

Ela pega uma faca e aponta em nossa direção.

— Se eu matar as três, poderei vingar… PODEREI ME VINGAR!

Nós estávamos assustadas, assim decidimos correr. Após sairmos de sua casa, Riko fecha a porta e diz que nunca mais quer nos ver, é possível escutar seu choro de longe, o exército assim aparece para controlar o que estava acontecendo.

Nós decidimos correr e nos esconder em uma viela até a chuva parar.

— O que está acontecendo? — pergunto.

— Mamãe está viva…? — pergunta Solveig.

— Isso… isso está errado, estão nos procurando por que?

— O que a mamãe fez de errado...?

— Mamãe está viva…?

— SIM SOLVEIG, A MAMÃE ESTÁ VIVA…

Um raio caiu do nosso lado, revelando uma pessoa que nós conhecemos muito bem.

— Olha só… umas crianças apareceram.

— Mamãe?

Akumo estava na nossa frente, sua forma era extremamente assustadora, seu cabelo era curto e sua voz era extremamente fina, seu olhar era assustador e da cor vermelha como sangue, sua pele era clara como se fosse a própria cor branca.

— Quem são vocês? — pergunta Akumo.

— Nós somos suas filhas…

— Filhas? Acho que houve um engano, minha querida… eu não tenho filhas. Bem… eu estava precisando de pessoas mais novas para fazer umas coisinhas, vocês vão trabalhar para mim.

Akumo nos guia por um caminho estranho, todas as pessoas da cidade estão nos observando e nos chamando de traidores, mas ninguém tem coragem de parar Akumo… o que está acontecendo?

Até… Akumo dar de cara com o exército.

— Finalmente nos vimos, Akumo.

— Quem é você?

— Ora ora… Enfim, me dê as garotas.

— Claro que não farei isso, elas são minhas escravas.

— Então é assim que você tratava elas naquele orfanato?

— Orfanato?

— Caso não faça o pedido, iremos fazer a força.

Akumo esfaqueia o homem que estava falando com ela, várias vezes, assim os outros do exército decidem abrir fogo e avançar para cima daquela mulher que aos poucos matava cada um, até que um homem estranho aparece, ele era careca, forte e muito alto… ele não usava camisa, somente uma calça com uma faixa preta em sua cintura, ao lado dele tinha uma garota que seus cabelos eram feitos de água… aquilo era estranho.

A garota dá um passo à frente e começa a falar com Akumo.

— O que temos aqui? Uma deusa que não sabe dizer oi.

— OLÁ, MIER! Vejo que trouxe o Krig também… o que traz vocês dois aqui? — diz Akumo enquanto termina de matar todos os homens do exército.

Nós três estávamos muito assustadas, até demais… não conseguimos nem gritar…

— Você pegou as garotas?

— Elas estão aí.

— Fica com essas duas, eu pego essa aqui.

Solveig é separada da gente, amarraram uma corda nela e aos poucos é levada, enquanto isso ela gritava para parar pois estava machucando, se perguntava o que estava acontecendo, mas nada é respondido… Akumo desmaia Saionara e eu fico acordada, pois na visão dela… eu era a mais comportada.

— É bom fazer contrato com você, Akumo.

— Claro, claro, agora podemos ganhar a guerra, não é mesmo?

— Isso é algo que você está procurando, eu não tenho nada haver com suas escolhas.

— Oh… entendo então, a querida deusa dos mares não irá ajudar?

— Claro que não, por que deveria?

— Nenhuma razão em específico.

— Espero poder fazer mais contratos com você, deusa Akumo.

Assim ela se afasta, enquanto Solveig gritava meu nome, eu não tinha reação, o dia estava… terrível? Eu não consegui ter reação de nada, é como se meu corpo não quisesse, mas por dentro eu estava totalmente destruída.

— Vamos, minha escrava.

Eu aos poucos sigo a ordem de Akumo enquanto escuto minha irmã ser levada, ela gritava assustada meu nome, dizia que estava machucando e que queria ajuda, ela gritava pela mamãe, ela gritava por todos…

Eu aos poucos não me importava mais, eu aos poucos já nem deveria ligar para isso, ah… que maldição, que inferno, essa voz infantil que enoja. Ela grita meu nome, grita por mamãe, grita pela Saionara, o que caralhos está acontecendo?

— EI, CALA A BOCA… — grito.

A menina de nome desconhecido para de gritar e tenho um pouco de paz. O que irá acontecer agora? A loucura domina minha mente, tudo agora soa meio estranho, meio… escuro. Talvez a escuridão não seja tão ruim assim, talvez seguir os métodos de Akumo seja a coisa certa a se fazer, o sangue dela corre nas minhas veias… então eu meio que estou certa disso.

Devo seguir Akumo, devo estar atrás dela, esse é meu dever, essa é a minha escolha, eu tenho que fazer o que ela mandar, eu tenho que fazer tudo… não posso deixar nada de ruim acontecer. Envolta de mim só roda apenas o que você escolher, eu sou sua serva e poderá fazer o que quiser.

Eu vivo por você, eu quero você, eu só penso em você.

Akumo… Akumo. Akumo…

És a única pessoa que quero seguir, és minha mestra. 

O resto que se foda, não ligo para mais nada, daqui pra frente só quero te ver e te entender. Será que sente o mesmo?



Comentários