Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 8 – Arco 3

Capítulo 76: Medo da morte.

Shiori



Uma luz forte domina o local, como se tudo aquilo fosse derreter… e assim…

Quando abro meus olhos, uma barreira de fogo estava à minha volta, eu e Hideki estávamos abraçados e parecia tudo estar bem por algum momento.

A luta continuava na nossa frente, mas dessa vez a única proteção que mamãe precisava fazer era comigo e com o Hideki, de alguma forma todas as pessoas que estavam atrás dela simplesmente sumiram, não queria perguntar nada pois estava com medo de atrapalhar o que mamãe estava fazendo.

Nos meus olhos tudo parecia ser extremamente importante, mas… era o contrário.

— Gehenna… desista! — disse mamãe.

— Não é hora pra isso, Solveig, você sabe o motivo de tudo isso…

— Eu sei… e é exatamente por isso que estou te impedindo de fazer o que quer.

— Boa sorte com isso…

A criatura que mamãe estava lutando me percebeu, e com isso ele quebra a proteção que tinha à nossa volta apenas com o olhar… avançando em nossa direção. Mamãe aparece na nossa frente e segura a espada dessa criatura com a mão esquerda.

— Você é fraca quando tem algo para proteger, Solveig.

— Cala a boca, apenas estou seguindo meus instintos…

Ela joga a espada dessa criatura para longe e corre em direção a essa coisa, tentando acertar vários golpes com a espada, tudo parecia estar indo bem até outra pessoa aparecer atrás de mim… mamãe não tinha refeito a barreira, então naquele momento estávamos desprotegidos…

— Então essa é a fonte de poder dela…

— O que…

Antes que pudéssemos reagir, nossas bocas foram tapadas. Mamãe não tinha percebido pois estava completamente focada na luta que estava acontecendo, isso a deixa longe da gente… mas a pessoa que estava nos segurando era nada mais nada menos que Riki, o pai de Hideki.

A luta continuava e mamãe trava sua espada novamente.

— Pare com isso, podemos nos juntar, imagina o quão foda seria acabar com todos aqueles deuses! — disse a criatura.

— Pare com isso… só estou do lado deles pois tenho alguém para proteger, APENAS PELA PESSOA QUE EU MAIS AMO NESSE MUNDO!

Mamãe destrava a espada, e deixa a criatura passar por ela, sem pensar duas vezes ela finca sua espada nas costas dessa coisa e a faz pegar fogo. Ela continua atacando sem dar uma chance de revidar alguma coisa e isso dura por segundos… até uma voz ecoar pelo local.

— SE VOCÊ CONTINUAR, EU MATO OS DOIS!

Era Riki que estava ameaçando mamãe de me matar. Naquele momento ela para e olha como se fosse assassinar a primeira pessoa que estivesse na sua frente.

— Continue essa luta… e eu mato a sua filha.

Gehenna dá um soco na cara da mamãe.

— MAMÃE!

A luta para com mamãe sendo jogada até uma parede atrás dela. Riki se tornou uma pessoa desconhecida aos meus olhos, antes de todas as memórias serem resetadas, ele já era alguém terrível, mas agora parecia que era mais do que uma ameaça pra minha vida, ele era uma ameaça para todos.

— O que você quer… Riki? — perguntou mamãe.

Ela se levanta dos escombros e continua olhando para Riki.

— Nada demais, apenas vim ver o que meus dois escravos pessoais estavam fazendo.

— Ei… eu não sou…

Gehenna era interrompido com Riki que mexia seu dedo indicador até o chão, o corpo do deus do inferno se mexeu em ordem ao que Riki fez.

— Você é meu escravo pessoal… agora… o que aconteceu aqui para essa luta acontecer?

— Eu vim aqui… para te matar… RIKI! — gritou Gehenna.

O deus do inferno estava com fogo nos olhos, pronto para atacar a pessoa que estava na sua frente, nem se importava comigo que estava ali…

— Me matar… você?...

O deus do inferno tentava se mexer, tentava colocar o máximo de força possível em seus movimentos, mas era impossível, era como se a mágica do deus da criação fosse extremamente mais forte que o poder de Gehenna… aquilo me deixava assustada. Mamãe estava de fundo, com um olhar assustador, apenas observava os mínimos movimentos de Riki… como se estivesse o matando com os olhos.

— Escute aqui seu merda, eu te coloquei no inferno por um motivo, queria que você cuidasse daquele lugar para não virar festa lá dentro… então respeite a porra da posição que te dei. E você…

Riki olha atentamente para a mamãe.

— Você sabe o crime que cometeu e sabe exatamente o motivo de todos os deuses te perseguirem…

— Sim.

— Então me diga, por que tenta proteger o crime que cometeu? 

— Você… não entende.

— Claro que entendo… te entendo perfeitamente.

Riki pressiona uma lâmina contra meu pescoço e abafa meu choro com sua mão.

— Todos os crimes serão perdoados, não há com o que se preocupar.

— EI… NÃO…

Mamãe é interrompida por alguém que aparece em meio a uma luz forte.

— Não acha que está indo longe demais, seu deusinho de merda? — perguntou uma voz misteriosa.

A pessoa em questão era a Lola que tinha surgido do meu lado e dado um chute na cara de Riki. Mamãe aproveita a oportunidade e corre em minha direção, ela me abraça e diz que vai ficar tudo bem.

— Entendi… é assim que vocês querem resolver as coisas…

Riki se levanta.

— Tentei resolver as coisas na paz, mas já que querem a violência…

Antes que ele conseguisse se preparar, Hideki entra na frente de Riki com os braços abertos.

— Pai… para…

Ele estava tremendo de medo, mas mesmo assim correu para tentar nos ajudar.

— Você… É O CULPADO DE TUDO ISSO!

Riki dá um tapa na cara de Hideki, um tão forte que o jogou pelas paredes. O pai correu atrás do seu próprio filho como se fosse matá-lo a qualquer momento.

— Ela não estaria tão mal… se não fosse por sua culpa… SEU NASCIMENTO É UM ERRO! — disse Riki.

O olhar de um pai aterrorizado com o que estava na frente dos seus olhos, como se o filho dele fosse nada mais nada menos que apenas um brinquedo. Ele aos poucos se aproximava, enquanto isso Lola me segura nos braços, me impedindo de correr para ajudar o Hideki.

Eu entendi o que Lola queria fazer, mas naquela hora o que tinha no meu coração era mais forte do que tinha na mente, na verdade… ambas entraram em perfeita sincronia.

— Hideki, você vai pagar pelos seus crimes.

Ele nem ao menos o chamava de filho, era apenas pelo nome, evitava o olhar e apenas corria para bater na criança indefesa.

O primeiro soco foi dado.

Mamãe apenas desvia o olhar, Lola faz o mesmo.

— VOCÊ…

O segundo soco foi dado. Olho para Lola e tento correr, mas ela me segura.

— Não há nada… que você possa fazer contra ele. — disse Lola.

O terceiro.

— É…

O quarto.

— UM INÚTIL!

O quinto.

E assim ele para, Hideki cai no chão inconsciente, Lola me solta e corro em direção ao meu amigo, empurrando o homem que estava na minha frente.

— HIDEKI! HIDEKI!

Eles ignoravam o que estava acontecendo comigo… Riki olha atentamente a minha mãe.

— Você vai voltar de onde veio, não é mais útil pra gente nessa guerra.

— Mas…

— VAI LOGO!

— Sim…

Mamãe entra em um portal.

— E você, Gehenna, vai voltar direto pro inferno.

— Você não vai me prender lá de novo…

Riki olha com raiva pro deus do inferno e se aproxima como se fosse apenas um amigo, e ao tocar no ombro dele… o corpo do deus do inferno… explode.

O barulho foi tão alto que assustou todos que estavam na volta, inclusive… eu.

Ao ver aquele homem forte se aproximando da gente novamente, um sentimento ruim dominou meu coração, sem saber o que fazer apenas entrei na frente do meu amigo, como uma forma de protegê-lo do que estava por vir. Se aproximando lentamente… o homem para na minha frente e então… com seus a única coisa que brilhava na minha visão — os seus olhos — Riki deu um tapa na minha cara.

— EI!

Quem gritava em uma forma de desespero, era o Hideki, que ao ver o que aconteceu na sua frente, se levanta lentamente e tenta de alguma forma recompor sua consciência.

— Oh, então acordou…

Lola estava de lado apenas ouvindo o que estava acontecendo, ela não reagia e isso me deixava extremamente brava. Uma pessoa que poderia nos proteger… simplesmente se recusava a fazer isso, na verdade… era até mais. 

Ele continuava batendo no Hideki, e eu não conseguia me mover por conta do impacto do tapa.

— Lola… ajuda a gente…

Gritei pelo nome dela.

— LOLA!!!

Mas ao invés de nos ajudar… Lola correu.

Então… eu vi na minha frente uma das pessoas que eu mais confiava sumir… correr de medo… me senti traída, como se tudo o que acreditei fosse na verdade… uma mentira, mais do que isso, uma traição de anos. Nossa família era feliz, incrível e nosso dia a dia era perfeito, mas nessa hora é como se todos esses anos fossem nada pra ela, como se tudo o que passamos juntas… fosse na verdade apenas uma brincadeira.

No meu coração tudo estava incorreto. Raiva, dor, sofrimento, tudo isso me dominava por completo.

Me senti traída, e ainda por cima por uma pessoa que por um tempo considerei uma mãe.

— LOLA!

Tentei gritar seu nome novamente, mas ela correu como se sua vida dependesse apenas disso.

— Garota, pode calar a boca, ela não vai voltar… agora… é apenas eu e vocês.

Riki começa a rir como um louco enquanto tenta matar seu próprio filho.

Meu coração se preenchia em sentimentos ruins, coisas que nem era possível se explicar, dor… era isso o que tinha em meu coração. Uma explosão acontece no plano de fundo e isso pega a atenção de Riki.

— Eles estão fazendo isso de novo…

Ele para de andar em minha direção e começa a dar pequenos passos para a avenida destruída que havia do nosso lado.

— Olha, você se salvou, garota. Mas a próxima vez que você aparecer na minha frente, te mato junto com meu filho.

— Você…

— E HIDEKI! Você está fudido na minha mão por fugir de casa.

Os batimentos do meu coração se sincronizam com minha respiração e consegui ter noção do que estava acontecendo à minha volta. Pessoas corriam para sobreviver… enquanto isso eu estava deitada no chão, incapacitada de continuar por conta do medo, havia no meu coração um sentimento tão ruim que não me permitia seguir, isso… era o medo de morrer.

A qualquer momento parecia que algo ruim iria acontecer, e isso me deixava com medo de continuar em frente, parece que qualquer deslize será o meu fim. Escuto o Hideki tossir sangue na minha frente, o que me faz correr em sua direção… as explosões no fundo começam a se intensificar, e o medo de algo ruim acontecer piora dentro do meu coração.

Não era explicável o que aconteceu, Hideki nem ao menos perguntava se eu estava bem, apenas me olhava com um sorriso no rosto, como se ele estivesse pedindo desculpas, como se ele achasse que tudo isso fosse culpa dele.

Sendo que na verdade… é a minha culpa.

A nossa procura pela minha mãe teria acabado por aqui, sabíamos onde ela estava, e sabíamos o que teria acontecido com ela, o pior foi ter fugido depois de tudo isso que aconteceu.

— No momento… o importante é a gente fugir daqui.

Quem dizia isso era Hideki, que aos poucos tentava se levantar. Parecia que teu corpo tinha sido quebrado em milhões de pedaços, ele realmente não estava em uma boa situação, mas mesmo assim decidiu que iria continuar, talvez pela vontade imensa que tinha em seu coração, uma vontade de sobreviver.

Ajudo Hideki a se levantar e assim começamos a andar em direção às explosões… pois algo no meu coração dizia que mamãe estava por lá e que ela seria a única capaz de nos ajudar.

Isso poderia ser o fim pra gente, mas apenas estávamos entrando em uma luta que possivelmente não teria fim. Essa sim era a verdadeira guerra dos deuses, e eu estava envolvida.





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