Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 8 – Arco 3

Capítulo 77: A dor, o sofrimento. O reencontro.

Shiori



O barulho do fogo que queimava todos os prédios era o que dominava a audição daqueles que estavam à nossa volta. Andávamos contra uma multidão que apenas queriam suas vidas ao invés do que parecia querer a morte… o nosso caso.

Na verdade não entendi o motivo de estar fazendo essas coisas, era como se fosse no automático, correr atrás daquela que realmente fez alguma diferença na minha vida. Por toda a eternidade — na verdade por tudo o que vivi, corri atrás da minha mãe… por um momento cogitei que nunca deveríamos viver juntas.

Mas era apenas um sentimento momentâneo, assim como todos que estavam no meu coração.

Não queria saber o que estava à minha volta, apenas queria saber onde estava a mamãe… essa realmente era a minha preocupação. 

“Olhando para o agora, entenderia a guerra, porém naquele momento infantil… não entendi o que estava acontecendo. Eu queria mudar toda essa história apenas com meu toque, para que nada de ruim acontecesse àqueles que realmente amo, mamãe… talvez eu não entenda o motivo de você não querer me contar esse passado, essa verdade.”

A minha vida dependia daquela que me criou… na verdade, não exatamente dela, e sim de todas as respostas que poderia me dar…

Andei por minutos que pareciam horas, passei por sonhos que pareciam pesadelos… até chegar no verdadeiro destino. Em meio a tantos destroços vejo pessoas que formavam um corredor, como se elas estivessem observando alguém. Ao se aproximar, todas elas estavam xingando vários seres.

— Esses deuses acham que podem simplesmente destruir tudo o que construímos.

— Eles não são de nada.

— Xiu, não fale tão alto, se te ouvirem você pode morrer.

— Chega deles, não sabem o momento de parar.

— A humanidade deveria se juntar.

Eles falavam o mais baixo possível para que os deuses não ouvissem nada, então tudo parecia sussurro. Passamos por esse corredor sem sermos percebidos. E aos poucos se via o que estava acontecendo… Lola estava ajoelhada na frente da minha mãe, parecia que uma briga estava acontecendo naquele momento.

— Eu não acredito que você saiu correndo…

— D-Desculpa.

— QUE TIPO DE AJUDANTE VOCÊ É? DEIXANDO A MINHA FILHA PRA TRÁS!

Mamãe estava extremamente irritada, como se a qualquer momento fosse explodir… seus longos cabelos começavam a brilhar e o pior de tudo isso, parecia que a qualquer momento a Lola iria morrer.

— Eu sei que os deixei pra trás, mas não consegui ir contra ele…

— Lola…

— É FORTE DEMAIS, TÁ BOM? Nem sei o motivo de eu ter entrado nessa luta que é somente para deuses, ainda que… a Yukiro precise da minha ajuda…

— Se ela realmente precisasse da sua ajuda, era só você não ter falado onde eu estou.

— Eu me segurei o máximo, mas ver que você só sabia ficar longe dela… me deixava completamente triste.

— EU IRIA VOLTAR, ERA SÓ TERMINAR TUDO ISSO QUE EU ESTAVA FAZENDO…

— Mas mesmo assim, uma mãe não deve abandonar sua filha!

— VOCÊ ACHA QUE EU FIZ POR QUERER?

— …

— PARE DE ME JULGAR COMO SE FOSSE A VILÃ DA HISTÓRIA!

Mamãe com extrema raiva levantou sua espada, e ao abaixar…

— MAMÃE!

Ela para no ar, e lentamente me olha… seus problemas que estavam completamente visíveis, pareciam que naquele momento… se tornaram invisíveis.

— Filha?

A tristeza que estava em seu rosto se tornou neutra e tudo o que estava no seu rosto era confusão… ela queria entender o motivo de eu estar na frente dela… pois naquele momento parecia ser algo impossível, já que fiquei com Riki lá atrás.

Parecia que na cabeça dela eu já estava morta, só que na verdade… logo na frente dela, apareci como se fosse um fantasma. Ela corre em minha direção e logo me abraça, segurando suas lágrimas ela me forçava contra seu corpo, tentando ver se eu era real.

— O-O que você está fazendo aqui?...

Não consegui responder sua pergunta, precisava de um incentivo para tudo isso sair da minha boca. Naquele momento queria que tudo fosse apenas um pesadelo, e que quando abrisse meus olhos tudo iria voltar ao normal… eu estaria em casa com o Hideki e a mamãe aproveitando meus dias e sendo a pessoa mais feliz do mundo todo.

Mas tudo aquilo… era um pesadelo real.

— Eu…

Hideki cai no chão  e começa a respirar de forma ofegante, era entendível já que ele estava totalmente acabado com o que aconteceu, seu rosto estava coberto de sangue e parecia que iria morrer a qualquer momento, reagi da forma mais rápida possível… larguei do abraço de mamãe e corri em direção daquele que ficou comigo a minha vida toda.

Sim, naquele momento… abandonei a mamãe.

A reação que ela teve foi rir de uma forma maluca, era como se ela estivesse perdendo o resto de sanidade que havia na sua mente, e por conta disso… sua reação foi voar para longe, o que deixou meu coração partido e extremamente indeciso… o que deveria fazer nesse momento? Correr atrás da minha mãe ou correr atrás daquele que me ajudou a vida inteira?

Não sabia qual caminho seguir… e com isso me ajoelhei.

A confusão que havia na minha mente me deixava extremamente irritada, parecia ser tão óbvio o que fazer nesse momento, mas não conseguia… não conseguia escolher um caminho certo, era como se houvesse uma parede impedindo de seguir os dois caminhos.

Quando me levantei e andei uns passos para o caminho que mamãe tinha ido, um buraco gigante no meu coração se abria por deixar o Hideki sozinho, mas se eu ficasse… sentia que ela iria morrer.

— Vá…

Hideki sorriu pra mim enquanto tentava escolher um caminho, percebi que em meio a tanto sangue que havia no seu rosto, tinha um sorriso lindo que me dizia pra seguir a mamãe e não deixá-la sozinha, mas ao perceber que Hideki na verdade estava vivo… corri e coloquei a cabeça dele nas minhas coxas, o deixando descansar.

— Está tudo bem?...

— Shiori… vá…

— Não… quer dizer… primeiro tenho que ver se você está bem.

— Não se preocupe comigo… uma hora ou outra irei melhorar, só por favor… não faça o nosso motivo de vir até aqui ser inútil… vá, corra até aquela pessoa que você veio ver… corra o máximo que puder… estarei de longe te observando e te protegendo!

Ele se levantou em dores. Quando tentei ajudá-lo fui recusada… e quando estava de pé me deu a mão.

— Você não pode deixar pra trás aquela pessoa que tanto queria ver… vamos, Shiori, corra atrás dela!

Em uma determinação temporária segurei a mão de Hideki, ele me puxou e assim me deu um leve empurrão pra onde a mamãe foi, como se estivesse me falando para seguir o caminho certo. Em um tempo como esses ele era a pessoa certa a se confiar, mas naquele momento meu coração estava se sentindo terrível por deixá-lo para trás, mesmo que ele pediu pra isso.

Mas… corri.

Usei minhas pernas ao máximo e sem olhar pra trás… corri.

Todo o medo que tinha em meu corpo sumiu por conta de toda a adrenalina que tinha nele. Em meio a corrida fechei meus olhos e comecei a gritar para deixar pra trás todo o medo, toda a dor que estava no meu coração.

Quando parei de gritar e olhei pra frente, uma explosão de fogo acontece, fazendo meu coração dizer que é por esse o caminho que mamãe foi. Corri até minhas pernas simplesmente pararem… e caí no chão, ralando todo meu corpo… sem me preocupar olhei pra frente novamente e visão que tenho é uma das piores de toda a minha vida.

— Mamãe?...

Acima de uma montanha de corpos, enquanto parecia chover sangue… mamãe estava acima de todos, respirando profundamente, aqueles eram quase todos os moradores daquela cidade que tinha sido destruída, o choque é tão grande que meu corpo simplesmente paralisa e minha respiração fica extremamente ofegante.

Queria gritar de medo, mas nada saía, era como se tudo estivesse tentando sair ao mesmo tempo.

— Então você chegou… filha.

Ao me ver mamãe começa a dar pequenos passos em minha direção. Seu corpo estava cheio de sangue e era óbvio que na verdade quem matou todas essas pessoas foi ela. Seus olhos estavam sem vida alguma. Toda a sua caminhada em minha direção poderia ser resumida em puro desespero por pouca coisa.

O sangue era tanto que chegava nos meus pés e isso me deixava extremamente assustada, eu sabia que era ela a pessoa quem matou tudo aquilo, e muitas perguntas surgiam na minha mente… qual era o motivo pra ela ter feito tudo aquilo?

Mamãe chegou na minha frente e me olhou como se estivesse observando uma inútil. Deu um sorriso e estendeu sua mão.

— Você está bem, filha?

A forma que ela perguntava sobre meu estado era assustador, percebi que ela estava com tanta raiva que soltou tudo nas pessoas que não tinham nada haver com a situação, o que provavelmente fez ela se questionar e provavelmente se odiar por todo esse tempo. Sem medo e com toda a dor no meu coração… abracei a mamãe.

Meu coração acelerou, mas ignorei esse fato, naquele momento apenas queria falar a ela o quanto senti falta e o quanto queria vê-la novamente…

O choque de realidade deveria ter sido forte pra mamãe, já que ficou espantada com esse abraço, ela se segurou… percebi o quanto tinha se segurado para não chorar, ela tentou aos poucos se afastar, mas era tarde demais. Mamãe era o tipo de pessoa que não queria demonstrar nada na frente das pessoas, e até entendo essa situação, mas eu queria, de qualquer forma, ver ela chorar e demonstrar todos os sentimentos ruins que tinha no coração, não porque sou uma pessoa ruim, mas porque eu queria realmente entender o que estava dentro do coração da pessoa que mais procurei na minha vida toda.

— Eu… senti sua falta… mamãe!

Ela parou de tentar se afastar e logo me abraçou novamente, deixando para trás tanto a espada que estava em suas mãos, quanto o peso gigante de ter deixado sua filha pra trás, na verdade acho que isso se intensificou cada vez mais no coração dela, o que me deixava triste, já que não era meu objetivo deixar a mamãe daquela forma.

Mesmo tentando segurar as lágrimas, ela chorou.

Não consegui entender o que ela tinha falado, então abracei a mamãe cada vez mais forte, não queria me importar o que iria acontecer, meu objetivo já estava completo… já encontrei a pessoa que tanto procurava e por conta disso toda a minha felicidade estava nas alturas, tanto que cheguei a chorar junto com ela.

Tudo estava indo perfeitamente bem, não teria motivos para acabar com tudo dando errado… encontrei a pessoa que tanto procurei e tudo estava indo perfeitamente bem, tirando o fato que muitos erros foram causados e que muitas pessoas morreram nesse caminho, mas ainda sim… procurei e encontrei o que queria.

— Podemos… voltar para casa?

“Uma pergunta simples é feita após todo o choro acontecer. Mamãe respirou fundo, me olhou e tentou responder. Era perceptível que ela queria falar sim, mas sabia que não poderia dizer essa simples palavra, pois dentro da sua mente algo estava conflitando, como uma criança não entendi, mas logo após relembrar tudo isso… percebi. Mamãe apenas estava tentando me proteger, foi pra isso que ela fugiu e me ‘deixou pra trás’... no fundo era apenas para me manter viva, e por isso correu para matar aquele que controlava todo o planeta.”

— Não… posso… — respondeu mamãe.

Uma resposta simples dada com tanto esforço…

Mamãe não podia vir pra casa comigo, ela tinha que lutar… e de alguma forma vencer essa luta tão difícil que estava na frente do nosso relacionamento de mãe e filha. Quando tentei questionar o motivo dela ter negado, fui interrompida por uma voz estranha, mas que de alguma forma remete ao ódio.

— Então… é aqui que você estava… deusa do sol.

Quem dizia isso… era Riki, o deus da criação.

— Quando disse pra você ir embora, é vazar desse lugar, não correr atrás da sua filha. Já que quebrou esse acordo, terá que morrer.

 



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