Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 9 – Arco 3

Capítulo 81: O mais importante.

Shiori



Bem… vamos voltar, não há tempo a perder… agora eu estou ansiosa para voltar e dizer tudo a ele!

A história continuou e assim como pensei, comecei a virar melhor amiga do Hideki até tudo aquilo que aconteceu com ele. Sua mãe morrer na frente dele foi um choque tanto pra mim, quanto para a mamãe… que estava apenas ouvindo tudo o que aconteceu.

Hideki estava em prantos na porta de minha casa, e como sua melhor amiga o deixei entrar, tomar um banho e ficar tranquilo do jeito que ele deveria ficar, mas… naquele momento ele não tinha onde ficar.

— Mamãe… ele pode ficar aqui em casa?

Os pensamentos de mamãe lutaram contra seus sentimentos, na cabeça dela passava tudo o que tinha acontecido, como ele morreu e até outras coisas do tipo, ela sabia que tudo poderia acontecer novamente, e que todos poderiam perder… mas…

— Eu deixo…

Ela deixou mesmo assim.

A vida era tranquila e tudo estava indo bem, Hideki e eu vivíamos uma vida bonita e como se fossemos mais do que melhores amigos, era uma vida boa demais para ser verdade, tudo aquilo… resultou em um dia em especifico que nunca mais esquecerei.

Estava chuvoso e havia também um vento forte, mamãe tinha chegado em casa ensopada com toda essa chuva, seu rosto demonstrava um sentimento desesperador, como uma criança preocupada, abracei a mamãe e a deixei mais confortável, mas eu não estava preparada para o que estava por vir. Ela respira fundo, separa nosso abraço, segura em meus ombros e assim diz:

— Filha… eu preciso falar com você, imediatamente.

O momento que estava para vir era mais um daqueles tensos na vida de uma criança, ainda mais… na minha. Mamãe tinha acabado de voltar de uma luta verbal contra o pai de Hideki, ela perguntou a ele muitas vezes sobre o que tinha acontecido naquele momento, e ele nunca a respondeu.

Nas memórias que ela colocou na minha cabeça, mamãe nunca chegou a saber a verdade do porque o Riki tinha se juntado a Akumo só para matar a sua esposa, e sempre que era questionado, Riki só falava algo como…

— Ele agora vai me pagar por tudo o que fez naquela época.

Era como se ele guardasse rancor de algo que Hideki fez.

Na época que ele morreu, o mundo começou a se destruir, essa era a única informação que eu tinha do que aconteceu naquela época que Riki tanto falou nas memórias da mamãe…

Voltando para o momento atual, mamãe tinha se secado e assim sentou no sofá junto comigo e com o Hideki, ela não queria falar a verdade das minhas memórias e muito menos do que aconteceu com o Hideki, pois ele parecia não saber de nada do que estava acontecendo.

— Eu juntei vocês dois aqui… pois agora irão viver sozinhos.

De uma forma bruta, diferente das outras vezes, mamãe tenta se afastar de mim e do Hideki, pois ela sabia que iria ser muito ruim tanto pra mim quanto pra ela. Mamãe tinha plena noção de que não poderia deixar a guerra chegar em duas crianças de 14 anos. E por isso ela decidiu me deixar da forma mais fria possível, para que assim eu não corresse atrás dela novamente.

— Shiori, é algo sério o que está para acontecer, e existe a possibilidade de eu nem voltar pra casa, então independente do que aconteça… por favor, não corra atrás de mim.

Ela não queria repetir as mesmas coisas e fazer um looping em todas as memórias novamente, isso seria cansativo… já que teria que fazer muitas vezes. Mas era óbvio que eu não iria cumprir algo assim, já que na verdade… o que estava na minha mente de criança era apenas um questionamento:

— Por que?...

— Não posso te explicar nada, só por favor, não venha atrás de mim, só irá me atrapalhar.

Ela sempre foi ruim com as palavras, mas dessa vez disse algo extremo para uma criança, e assim como qualquer outra eu comecei a chorar, não fazia sentido pra mim o motivo de tudo isso estar acontecendo, por um curto período consegui viver com a minha mãe, coisa que não consegui por toda a minha vida, estava doendo muito no meu coração todas as palavras dela…

Eu estava me esforçando demais para chamar a atenção da mamãe, e escutar todas essas palavras… fizeram eu desistir completamente de tudo que estava acontecendo. Ela realmente tinha seus motivos para correr atrás dessa guerra, afinal de contas, mamãe queria me dar uma vida tranquila diferente de tudo o que aconteceu nessas memórias. Ela estava cansada de ver sua filha sofrer e queria dar um pouco de paz na vida da criança.

O que fez a mamãe não começar a chorar foi Hideki que se intromete no assunto.

— Eu vou… PROTEGER A SHIORI PRA VOCÊ! TIA SOLVEIG!

Os olhos da mamãe se arregalaram e ela nem começou a chorar. Segurou o choro.

— Você… realmente consegue proteger a minha filha?

— Sim! Eu vou proteger a sua filha e irei esperar você voltar, para assim tudo ficar perfeitamente bem.

— Obrigada… garoto.

Mamãe suspirou e me olhou novamente com dó do que estava acontecendo, ela se aproxima, beija a minha testa… e sai correndo de casa, indo em direção ao desconhecido para a pequena Shiori que estava entrando em prantos.

Hideki novamente estava me protegendo, mas dessa vez prometeu a mamãe tudo isso. Logo após isso ele me disse que me ajudaria a seguir meus sonhos e que traria tanta felicidade para a minha vida que simplesmente não iria esquecê-lo nunca.

Meu pequeno coração não aguentava tudo isso, então um sentimento ruim nasceu dentro de mim.

Após tudo isso que aconteceu, deixei meu corpo ser levado por todas as coisas que aconteceram, na minha mente eu poderia desistir, não faria sentido seguir em frente uma vida que só coisas ruins acontecem, então… deixei meu corpo ser levado pelo sentimento de dependência daquele que estava mais próximo de mim… criei uma dependência emocional do Hideki.

Tinha na minha mente que deveria deixar minha vida em suas mãos que ele saberia resolver as coisas, mesmo sendo apenas uma criança de 14 anos assim como eu, e vendo essas memórias agora, eu sabia que Hideki ficaria chateado comigo, e foi da forma que ele ficou.

Hideki mesmo assim levou a minha vida ao lado da dele, deixando as coisas aconteceram, mesmo sabendo que tinha alguém que estava dependendo dele. Com tanto peso… ele também faz a mesma coisa que a mamãe. 

Em um dia Hideki decide que irá procurar pelo seu pai, e que não estava aguentando aquela vida pacata que estava vivendo ao meu lado.

— Não está ruim… só não estou progredindo.

O meu coração novamente se sentiu traído.

Dentro de mim um sentimento ruim despertou, mais uma pessoa iria embora e nada na minha vida tinha acontecido ainda, apenas fui deixada para trás pelas duas pessoas que eu mais amava. Com o Hideki… esse momento foi diferente.

Ele me abraçou, me fez segurar o choro e prometer uma coisa a ele.

— Me prometa que você vai viver uma vida tranquila e saudável, assim quando nós nos encontrarmos novamente, poderemos seguir em frente juntos.

Sim, o Hideki tinha percebido que eu estava dependendo dele, e a forma que encontrou de me fazer deixar esse sentimento de lado, também foi indo embora da minha vida, mesmo que ele prometeu voltar.

Vendo essas memórias agora… eu finalmente entendi o que estava acontecendo comigo. A vida não deveria ser desse jeito, tudo poderia ter acabado naquele dia em que o Hideki morreu, e se existisse algo além dessa vida… eu poderia viver como se nada tivesse acontecido com as pessoas que eu realmente amo.

Mas decidi seguir essa promessa e ao invés de seguir uma vida saudável, decidi esperar por algo acontecer. Voltei a ter aquela vida de ficar esperando algo, procrastinando a maioria do tempo, pensando na vida e deixando de lado todas as minhas preocupações. Foi assim que em um momento decidi seguir, mesmo que seja empurrando as coisas com a barriga. Decidi me inscrever na academia de batalha, e também descobri que Hideki iria fazer o mesmo, aquele poderia ser o nosso reencontro.

Mesmo com tudo o que aconteceu, eu estava ansiosa para vê-lo novamente, então decidi fazer de tudo para o tempo passar o mais rápido possível. Assim quando chegasse no primeiro dia… tudo estava perfeitamente bem.

Foi assim que passei o meu tempo até chegar… no nosso reencontro.

O dia estava extremamente chuvoso, então levei um guarda-chuva, deixei a minha casa trancada e corri pelas ruas, tudo estava indo perfeitamente bem, meu coração estava feliz… no meio do caminho vi gatinhos que estavam abandonados, parei o que estava fazendo para ajudar os pequenos felinos que estavam sozinhos. Procurei uma caixa por todos os lugares e ao encontrar, coloquei um por um na caixa e deixei meu guarda-chuva para trás, só assim os felinos poderiam encontrar uma alma boa como dono.

— Eu não posso levá-los comigo, mas tenho certeza que alguma hora vai aparecer alguém e assim vai levá-los… Bem, eu tenho que ir, me desejem boa sorte!

Sorri para os gatinhos, me levantei e continuei correndo… dessa vez no meio da chuva e sem uma forma de me proteger. Meu coração estava acelerado demais, havia algo dentro de mim que queria gritar, soltar todos meus sentimentos para fora… mas não era hora de tudo isso acontecer!

Quando virei a última esquina, vi na minha frente o garoto que não via a muito tempo, me segurei para não chorar, mas era impossível, então a única forma que achei na minha mente, era correr e pular em seus braços.

— AAAHHHH! HIDEEEEEKIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!! — Gritei, correndo aos braços de Hideki.

Eu queria chorar, mas não poderia fazer isso, talvez ele sentisse o mesmo… havia algo dentro de mim que estava extremamente feliz.

— FAZ MUITO TEMPO QUE A GENTE NÃO SE FALA!!!!

— Faz faz… muito tempo…

— EU SENTI TANTO A SUA FALTA!!

— Eu também…

Ele me olha e sorri, logo em seguida demonstra uma face de preocupação.

— Qual o motivo de você estar sem guarda-chuva?

— Ah sim, é que tinha uns gatinhos sem teto lá, daí eu arrumei uma caixa para eles e ajudei lá, foi muito legal isso da minha parte, pode falar que eu sei que é verdade!

— Sim sim, foi muito legal da sua parte…

Ele estava fazendo um sorriso bobo.

— Você está bem, Hideki?

— S-Sim, eu estou bem!

— Está falando tão pouco.

— Ah, é que eu… não sei o que dizer…

— Oh… tendi tendi.

— Eu estou tão feliz de te ver, que acabo ficando sem palavras e sem saber o que fazer.

— Hehe… eu também estou muito feliz de poder te ver…

Dessa vez… vivemos ao lado do outro até agora, sem abandonar ou deixar para trás todas as memórias. Assim… percebi novamente que te amo muito.

Tudo na minha volta fica escuro e já estava na hora de voltar para o meu corpo… decidi seguir toda essa história ao lado dele e no final… fazer o Hideki viver feliz para todo o sempre.

É isso né? É isso que chamam de amor…

Quando volto ao meu corpo, toda a luta já tinha acabado, mas eu não conseguia me mexer…

— Eu… estou…

Essas foram as únicas palavras que consegui falar antes de voltar a cair no chão… lentamente escuto alguém se aproximar de mim, era Hideki que estava me chamando.

— Shiori?... Para… não brinca com isso… SHIORI!

Ele se desesperava e me chamava cada vez mais, eu queria atender o seu chamado… mas eu não conseguia, havia algo dentro de mim que não me permitia falar. Foi assim… que senti um calor imenso… e então… desmaiei.

Meu corpo estava com um calor tão alto que nem ao menos consegui fazer alguma coisa, mas ouvia tudo… e isso me deixava triste, todas as coisas estavam acontecendo e eu não estava conseguindo voltar ao meu corpo… O QUE EU DEVERIA FAZER?

Uma cúpula aparece na minha volta.

As minhas memórias estavam… sumindo, eu não queria que isso acontecesse, não agora que eu consegui voltar com elas… o que eu deveria fazer? Eu não sei… eu quero que fique tudo bem com essas memórias…

Entendi naquele momento que deveria fazer uma escolha… e deixar de lado as memórias que fiz com a mamãe… ou deixar de lado as memórias que fiz com o Hideki…

Meu coração… escolheu…



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