Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 14

Capítulo 134: Cisão em Doa

Doa, uma cidade na encruzilhada do continente. As montanhas na distância apontam para os Ao, a estrada para o leste leva ao deserto, porém os bosques ao Sul tem um destino diferente: a terra abandonada dos Shiro. De lá vem o rio que abastece sua população majoritária de Senshis, o sangue para suas veias. 

O amanhecer se aproximava naquele dia, quando um pequeno grupo de cinco Senshis partiram a cavalo floresta rumo à nascente.

— Já vi que hoje vai ser um daqueles dias — resmungou o Senshi na cauda da formação, observando o rio ao lado, com uma pata boiando — O que vamos fazer quando acharmos o fazendeiro que fez isso?

— Se dependesse de mim, uma bela surra — aquele que liderava a formação respondeu — Esse rio corta a maior parte das vilas camponesas. Temos coleta de animais mortos e os Titulares se dispõem até de comprar o gado doente. E o infeliz me faz uma coisa dessas…

— A pilha de notificações de servos doentes depois de tomarem a água do poço só cresceu na última semana. Imagina se um dos anciãos…

— Nem pense nisso.

Aueles homens encontraram no fundo da água uma carcaça putrefata de um animal irreconhecível. Na superfície, patas, focinhos e comida, com sangue negro misturado com a água. Na margem, barris destampados. O cheiro corrosivo lesionava seus olfatos.

— Mais carne podre — o líder cobria a tampa com a sua capa — Isso não é um engraçadinho qualquer.

— Tenente — um deles chamou atenção para o barril ao lado — Heléboro. Isso é venenoso. O barril está cheio, provavelmente planejavam jogar isso na água.

— Joguem tudo fora antes que…

De repente o chão se abriu, engolindo os Senshis ao ponto de enterrá-los até sobrar apenas suas cabeças na superfície. Saindo da escuridão, um grupo de homens uniformizados, portando uma escura no braço com uma rocha bordada no tecido. Olhos escurecidos e más intenções em seus rostos. 

— Avisem a todos — disse o líder, antes de ter sua cabeça esmagada por uma maça.

— Tenente! — gritaram os Senshis.

Um a um, os Senshis transferiram suas energias para aquele mais distante dos inimigos, antes de perecerem. O último que restou uniu a força conjunta dos seus camaradas para romper a terra que sufocava seus músculos.

Seus inimigos o cercaram em silêncio, com auras negras e o fitando diretamente. Mesmo assim, o Senshi brilhou em branco, sacou sua espada e uma faca para com um giro, gerar um redemoinho de chamas que incendiou parte da floresta. A fumaça serviu de cobertura para sua fuga. 

Os homens ameaçaram persegui-lo quando um deles ergueu o punho sugerindo uma pausa.

— Deixem que saibam da nossa vinda. O time hídrico vai resolver essa pequena bagunça.

Em poucos instantes uma nuvem pequena precipitou uma chuva intensa que extinguiu as chamas antes de consumir a floresta. Emergindo da fumaça, uma segunda equipe de homens igualmente uniformizados, agora com uma corrente de água bordada na faixa em seus braços, se uniu àqueles que emboscaram os Senshis

— Avisem ao General Hidetaka para trazer a Guarda Pacificadora — ordenou o representante do time com a faixa de pedra — A hora está chegando.

Mais tarde, os mirins foram apresentados à imponente fortaleza de Doa. Por dentro das muralhas havia três principais construções com muros próprios, conectados por passarelas. Guiados por Makoto, eles caminharam por cima dos muros para a primeira construção ao oeste.

Era uma cúpula vermelha com abóbadas brancas, vidraças escuras, arqueiros nos andaimes e Senshis no chão com armaduras da cabeça aos pés.

— Esta é Câmara Carmesim. Vocês devem conhecê-la como “Câmara dos Titulares”. Aqui discussões são feitas, medidas votadas, uma parte do futuro do nosso povo é decidida aqui dentre as centenas, senão milhares de Senshis votantes.

— Eu não entendi a mudança no nome — disse Kazuya, se apoiando na borda para olhar mais de perto — Não tem isso tudo de Titulares. 

— Bem observado — disse Makoto, afastando os olhos curiosos de Kazuya do parapeito — Todo Senshi acima de 30 anos pode votar aqui, porém devido a guerras, indisposições, viagens e outras dificuldades, eles  votam coletivamente através de um partido, que por sua vez é representado por um Titular.

— Duvido que eu largaria tudo para vir aqui dar um mísero voto político — disse Masori — além de não achar que me encaixaria totalmente em nenhum partido.

— Engano seu. Os partidos são fluídos na Câmara, ou seja, a cada nova Convocação, os Senshis têm a liberdade de criar ou se associar a coalizões diferentes. Entretanto, se você sentir que nenhuma te representa, é permitido votar individualmente. 

— Por que uma Convocação agora? — questionou Yanaho — No meio da guerra não deveríamos ter coisas mais importantes para fazer?

— Qual o seu nome? — Makoto o mediu com os olhos. 

— Yanaho Aka.

— Entendi. Eu não gostei do tom da sua pergunta, Yanaho Aka, a julgar pelo último confronto, a Guerra do Sangue, diria que a Convocação é algo bastante comum e esperado. Guerras representam um momento de crise, alguns concordam com a direção atual do Rei junto ao Supremo, outros têm opiniões divergentes.

Os dois seguraram o olhar fixo um para o outro por um tempo, até que Jin rompeu o silêncio:

— Então, me contaram uma vez que os mirins se tornam Senshis após serem aprovados na Câmara. É para isso que convocaram os Titulares? 

— Apesar da sua lógica fazer sentido, esse não foi o motivo dessa Convocação — Makoto abriu um sorriso e continuou andando pela passarela — Claro, todo ano uma nova turma é aprovada ou promovida e a necessidade de substituir aqueles que caíram em batalha acelera o processo, porém há outros problemas dos quais vocês saberão na hora certa. Venham comigo!

Ao lado do domo escarlate, havia uma construção de dois andares modesta. A fachada era branca com ornamentos de cor vinho. Não havia Senshis fazendo a segurança das entradas. Nos fundos, era possível ver alguns senhores mais velhos perambulando pelo jardim.

— Esta é a Casa dos Lírios, lar dos Anciãos. O nome veio por conta de um falecido ancião que cultivava essas flores do jardim de trás. Infelizmente, há bem menos desta espécie hoje em dia, mas ainda há outras com certa beleza.

— Quantos anciãos vivem aqui? — perguntou Usagi.

— Os números têm crescido pela ausência de guerras e pelo crescimento da expectativa de vida do Senshi médio. Sabia que nos últimos cem anos os anciãos mudaram o teto de membros mais do que em toda sua história anterior? Três vezes em um século contra apenas uma em milhares de anos.

— A paz era comum neste continente — o mirim mais velho admirava a paz dos anciãos no jardim — Poderia ser assim de novo.

— E será — assegurou Makoto — Sabe, às vezes eu penso se um dia serei digno de terminar aqui. Imagina ver este lindo jardim todos os dias.

— Não acho interessante viver isolado aqui, enquanto a realidade lá fora é tão diferente — retrucou Yanaho.

— Os anciãos são responsáveis por pautar as sessões na Câmara Carmesim — Makoto prosseguiu — Diferente dos Senshis, que se organizam em partidos, os anciãos devem exibir apenas um posicionamento, um voto.

O grupo deu a volta por trás do prédio central, chegando até um pátio de treinamento. Os mirins desceram por elevadores, onde encontraram homens em treinamento com bonecos, auxiliares e alvos para tiro.

— Sabemos que há a possibilidade real de ataque em Doa, portanto estamos treinando nosso contingente de Senshis. Seus alojamentos estão logo à frente, no terceiro e último prédio — Makoto se calou ao reconhecer alguém nas vidraças da casa — No momento, peço que aguardem aqui. Logo vamos levá-los para a Câmara para ver a primeira sessão do dia.

Cada mirim escolheu o exercício que mais lhe cabiam, exceto por Yanaho. O aprendiz de Onochi seguiu Makoto com os olhos, quando entrou no prédio. De repente, alguém esbarrou nele.

— Ei olha por onde — se impediu de falar — Por que tava parado aí, Kazuya?

Seu companheiro apontou para seus olhos e depois para o de Yanaho.

— Ninguém mandou ficar de olho em mim! — suspirou — Tá bom, eu vou.

Da janela, um senhor apoiado numa bengala assistia aos treinos, aguardando o chá que Makoto estava servindo na mesa atrás dele.

— Você devia estar na Casa dos Lírios, senhor Naohito. Aqui é perigoso.

— Eu ainda sou um Senshi no coração, Makoto. Todo esse trabalho não te traz nenhuma nostalgia? A quem eu quero enganar, você acabou de sair do internato — pegou a xícara quente — Deve se lembrar do treino melhor do que este velho aqui lembra de sua última refeição.

— Na verdade, senhor, eu também sinto falta — espiou pela janela — principalmente de quando não tínhamos guerra.

— Somos um povo guerreiro. Se não lutamos guerras, o que fazemos?! O mundo é beligerante, diria até que nos inveja. Defender nossa honra é natural — tomou um gole, acalmando a voz — Embora a honra dos outros sempre foi a prioridade do seu pai, menino.

— Lamento, senhor — deixou a travessa na mesa e caminhou até a porta para sair.

— Espere — exclamou Naohito sem se virar da janela — Você não tem costume de temer pela minha segurança, Makoto. Abra o jogo, o que está te perturbando? 

O rapaz respirou fundo antes de responder.

— Os Senshis de reconhecimento que enviamos nesta madrugada não retornaram. E o representante do Supremo não chegou com esta comitiva.

— Seu pai quer atrasar a Convocação, porque sabe que vai perder — se virou para encontrar Makoto na porta — O Principal está aqui, certamente cuidando da proteção da cidade.

— Mas se uma batalha acontecer, os anciãos podem estar em risco. É prudente uma Convocação em meio a esta crise? 

— Estamos correndo este risco para preservar as futuras gerações dos caprichos da atual diarquia. Quando aceitei minha derrota, imaginei que a experiência de governar fosse ensinar o seu pai o caminho certo. Este engano já custou muitas vidas.

— Novamente você e essa história de Diarquia. O que pretende fazer? Pelo quê a Câmara vai votar?

— Um sábio aprende mais dos seus inimigos do que dos seus amigos — terminava a xícara — Estou apenas devolvendo um favor.

 

No pátio abaixo, os mirins treinavam com Senshis alternadamente em combates simulados por algumas horas. Yanaho estava em seu quarto adversário, quando um de seus oponentes lhe chamou atenção.  Ele era um pouca mais velho. Sua espada estava apontada para baixo, e os braços pareciam descansar do peso naquela postura.

— Está segurando a espada errado — Yanaho corrigiu sua postura.

— Quanto mais ajuda, melhor né? Nunca se sabe o que a gente vai encontrar hoje — escondeu a vergonha com uma risada.

Logo no primeiro ataque desferido por Yanaho, o sujeito rodopiou três passos. Foi então que o mirim se deixou atacar. Após muito defender, finalmente Yanaho escolheu uma brecha e parou a espada a centímetros do flanco esquerdo do oponente, que congelou com a hipótese do golpe fatal.

Os Senshis ao redor começaram a rir.

— Desculpa — disse Yanaho — Deve ter tido um dia longo. Tem certeza que quer continuar lutando?

— Deixa, eu já tô acostumado. Você é um mirim, né? Que legal. Essa é sua primeira batalha?

— Minha segunda — o atacou com golpes fracos — Eu estive em Nokyokai. Quer saber, ainda não sei o seu nome.

— Ren — defendeu sem perder a postura — Você foi para as montanhas? Os Senshis falaram que lá foi horrível. Mas até que tem bastante mirins aqui. Todos voltaram?

— De Nokyokai, sim — Yanaho atacou com mais força, colocando Ren de joelhos para recobrar o fôlego.

— Oh, entendi. Sinto muito, não devia ter perguntado.

— Tudo bem — estendeu a mão para levantá-lo — Quase ninguém do primeiro pelotão enviado sobreviveu. Você também deve ter perdido alguém.

— Até que não. Sorte minha, eu acho — ficou de pé, bateu a poeira das roupas — Guerras são sempre matar ou morrer. É bom estar do lado de quem vive, né? Mal consigo imaginar o que você teve que fazer para sair das montanhas.

— Eu só… — Yanaho olhou para seu reflexo na espada — sobrevivi.

Eles ensaiaram seus golpes por mais uma dúzia de repetições té finamente serem chamados por Makoto. O falatório na Câmara podia ser ouvido ainda da extensa fila de entrada.

O lugar era uma sala circular, organizada por cadeiras em círculos concêntricos que se estendiam para cima em degraus, do menor ao maior. No centro, um palco suspenso com uma mesa e uma poltrona.

Makoto logo reconheceu Naohito de pé, porém do Senshi na poltrona ainda não sabia o nome. Um homem de cabelos grisalhos, com um olho na pilha de papéis e outro nos convidados.

O responsável pelos mirins os acomodou na círculo mais externo, longe das principais desavenças e desceu para o palco central.

— Já começaram? Como assistente do coordenador da sessão, gostaria de ter sido avisado — o jovem trocou olhares com o ancião — Ainda nem me apresentaram a ele.

— Está olhando para ele — Naohito apontou para o Senshi sentado — Tomei a liberdade de avisar ao Titular Tatsu a respeito da equipe de reconhecimento e ele decidiu começar imediatamente. Sinto muito que você tenha se perdido no ruído da informação.

— Tudo bem — Makoto subiu as escadas do palco até a mesa onde começou a ler os papéis — Espera, essa será a votação? Os Anciãos concordaram com isso?

— Todos — Naohito tomou o papel das mãos de Makoto.

— Sabe o que isso significa? 

— Determina que as decisões estratégicas e diplomáticas do reino pelos próximos cinco anos sejam votadas — Tatsu explicou — ao invés de unilateralmente decididas pelo Rei Chaul e o Supremo. Por acaso, achou que os Titulares viriam de tão longe para discutir um assunto trivial?

— Eu nunca vi a Câmara tão cheia — respondeu Makoto, olhando ao redor — Muitos rostos pouco familiares.

Da margem da sala, os mirins enxergavam todas as bancadas e Senshis panoramicamente. Yanaho buscou rostos conhecidos entre a multidão, quando encontrou um Senshi que subia as escadas até o seu lugar. 

“Tio Kenichi!”, o homem porém não o enxergou no meio do mar de pessoas.

— Agora, eu lembro desta proposta — afirmou Makoto — Foi logo após da Guerra do Sangue, um modelo de voto por Estado.  

— Exatamente, serão três no total — explicava Tatsu — a Câmara, os Anciãos e o conjunto Rei-Supremo. Cada grupo vota como um só. Isso significa que se Anciãos e Titulares discordarem da atual administração, eles tem poder para reestruturar a máquina de guerra Aka.

— Aprendendo com seus inimigos — disse Makoto, olhando de canto para Naohito.

— Seu pai vai entender, menino — sorria Naohito — Temos que decidir pelo melhor do nosso povo.

Um pequeno grupo de servos distribuía cópias da proposta para os Senshis na câmara. Os grupos discutiam-na nos círculos maiores, ao passo que seus representantes falavam diretamente ao Coordenador do círculo menor ao redor do palco. O primeiro Titular, veio com dois papéis nas mãos:

— Espere aí Coordenador. Eu tenho uma cópia da proposta antiga, redigida por Ryoma. O período era de três anos,  não cinco. 

— Precisamos de um par de mãos extras no leme, quando o assunto é o exército — explicou Tatsu — Este é o maior conflito que já vimos desde as Guerras Separatistas. Escolhemos uma janela condizente com nossa projeção para o término do conflito.

— Na ocasião desse último período, o reinado de Kakeru foi completamente desgastado, levando ao seu adoecimento e renúncia do seu Supremo — outro Titular se aproximou — Se for o caso, seria de nosso interesse enfraquecer o Rei neste momento tão delicado? 

— Você ignora o contexto daquela época. Chaul e Ryoma são mais jovens, têm vigor e fibra para suportar tal turbulência — respondeu o titular responsável, terminando sua escrita — E no final das contas, nós podemos ceder o poder a eles a qualquer momento, se julgarmos necessários com outra votação.

— O enviado do Supremo Ryoma sequer está presente. Não podemos votar até ouvir sua defesa — cruzou os braços outro titular — Vamos realmente atiçar as chamas de uma crise interna no meio da maior guerra de nosso tempo?

— Desde a separação, o reino Aka está invicto. Vencemos os Ao, podemos vencer os Kuro — o Senshi ao lado respondeu — Sabemos tomar as decisões difíceis na hora acerta e acredito que compartilhar o comando das forças armadas seja uma dessas decisões. 

— Organizem-se entre seus representantes para formular suas posições com contundência — ordenou Tatsu — Só podemos votar quando os partidos apresentarem suas posições e ouvirem a dos outros dois Estados. Os Anciãos estão representados por Naohito. O representante do Supremo virá em breve.

Titulares se tornaram inquietos. Dentro de um mesmo grupo, vários disputavam pelo lugar no círculo central, passando um na frente do outro.

Kenichi em poucos minutos de conversa se afastou da sua tribuna para se dirigir aos mirins. Makoto fez o mesmo, descendo do palco e cruzando com o tio de Yanaho. 

— Parecem possuídos. Faz tempo que uma sessão é tão conturbada — disse Kenichi.

— Pensei que Naohito planejava mudanças pontuais, não uma reestruturação do governo. Mais surpreso ainda com o fato de que a ideia parece ter conquistado uma grande quantidade de pessoas.

— Vida e morte mexem com as pessoas. Tem certeza que os mirins devem ficar para ver toda essa desgraça?

— Tem razão, vou encaminhá-los para mansão dos hóspedes — prestou continência partindo — Boa sorte, Titular Kenichi. 

Vendo seu tio de tão perto, Yanaho chegou a abrir a boca para falar, porém Kenichi logo o dispensou com um gesto. Quando foram levados a uma das salas de jantar da casa central da Fortaleza, os mirins tomaram seus assentos. Makoto, no entanto, puxou Yanaho para perto.

— Alguém da sua ascendência não conheceria um Titular como Kenichi. 

— Ele é meu tio — respondeu cabisbaixo. 

— Kenichi? Eu não entendo, por que seu pai…

— Quer saber, algumas coisas ainda posso guardar para mim. Eu fiquei com o bico calado na Câmara, o que mais quer de mim?

— Não quero que a presença de familiares interfira nas responsabilidades que ambos têm para com o reino — levou a mão ao ombro do mirim — aprendeu isso no primeiro dia de internato. 

— Senhor Makoto — Usagi entrou no meio dos dois — o pouco que ovuimos na Câmara me pareceu muito sério. Devemos guardar segredo desses assuntos dos Senshis que encontrarmos na cidade? 

— É assim que se faz — sussurrou no ouvido de Yanaho, antes de prosseguir para frente do restante concluindo — Fiquem despreocupados com o que viram e ouviram na Câmara. Apesar do assunto lhes dizer respeito nenhum, não há segredos entre Senshis. Assim que o representante do Supremo chegar, todos os Estados de nossa governança estarão cientes da pauta. 

— Se for tudo que ouvi, — questionou Yanaho — duvido que quem quer que o Supremo tenha mandado vai gostar disso.

— Sua imaturidade confunde discussão com inimizade, Yanaho Aka — Makoto jogou as mãos para trás — A Monarquia tem o respeito tanto de Titulares quanto Anciãos desde muito tempo. Quem é você para prever uma cisão? Devia restringir suas previsões ao mundo que conhece: o das crianças.

Os mirins congelaram em seus assentos. Yanaho não ofereceu resistência, pegando sua cadeira na mesa cabisbaixo, exalando apenas ar pelas narinas. Makoto virou-se de costas: 

— Espero que esse seja seu último comentário infeliz. Agora, se me derem licença, preciso voltar a auxiliar a Câmara. Um Senshi deve vir buscá-los para apoiar as muralhas da cidade em breve.

Um amontoado de carroças viajava passando do clima chuvoso e úmido das tempestades imperiais para um clima seco com ventanias isoladas. Foi quando se aproximavam da primeira cidade após adentrarem o território vermelho, que a caravana imperial estacionou seus veículos. Três das carruagens levavam tripulantes que já estavam adaptados ao clima, sendo os únicos de raça diferente das centenas de Heishis, que desembarcaram sendo instruídos por dois jovens ligados diretamente ao Imperador Satoru. 

— Nossa — Umi puxava o ar com toda força — só por essa brisa já me sinto em casa. 

— Falta muito para voltarmos de verdade — Yukirama se atentou aos homens de armadura do outro lado. 

Após isso reparava as redondezas, notando que estavam em um bosque. No final da rota de terra, notou um enorme portão cromado em vermelho que estava aberto e com uma guarnição de Senshis em frente. 

— Estamos nos Aka, mas não reconheço nada aqui — dizia Aiko. 

— Aqui… — Yukirama continuou reparando ao redor — aquele material no portão, estamos em Doa. 

— Onde? — coçou a cabeça Aiko. 

— Se me lembro bem, aprendemos sobre essa cidade no internato — percebia Umi — além de ser conhecida como a cidade dos Senshis, é a cidade mais próxima do território Ao. 

— Verdade, como pude me esquecer? Mas aqui fica muito distante da capital também, a região é meio isolada — concluiu Aiko — tem certeza Yuki?

— Absoluta — apontou para os Senshis do portão vindo na direção deles — eu sei por que meu pai vinha aqui e me trazia, mas nunca me deixou passar pelo portão. Minha casa é bem próxima da…

— Ei, olham! — apontou Aiko — é o Doku e a Kyoko! 

Aiko apontou na direção da rota do bosque que levava até o portão, os Senshis que viam em encontro pausaram sua passada na medida que a dupla enviada pelo imperador se aproximava, sendo os únicos dos recém chegados a se aproximarem. Tomando as rédeas da situação, um sujeito coberto por vestes até sua cabeça, carregava algo enorme consigo coberto por um manto:

— Saudações, sou Masaki Katashi, enviado do Supremo para conter qualquer avanço inimigo. 

— Sou Doku Chisei — os dois se encaravam sem trocar cumprimentos — imagino que você esteja no comando da cidade então. 

— Chisei, né? Bom meu jovem, as coisas por aqui não funcionam exatamente como em seu império — apontou com o polegar para trás — seja qual ameaça esteja vindo, nossa luta é dos portões da fortaleza para fora. 

— Não irá convidar a visita para entrar? — provocou Doku sorrindo cinicamente. 

— Na verdade, meu contingente também está de saída — fazia um sinal para os Senshis, que continuaram andando para fora da cidade — foram ordens do Supremo que eu não adentrasse a fortaleza inicialmente. 

O clima de tensão foi freado assim que Doku virou-se de costas ameaçando seguir o mesmo curso dos demais Senshis que ali já estavam. Kyoko por sua vez permaneceu com os olhos vidrados e enojados nos homens a sua frente, despertando a curiosidade do Principal:

— Sua companheira tem algum problema conosco? 

— Acho que ela só está espantada pelo contato com uma raça nova — puxou ela para trás — vamos. 

Yukirama e os mirins assistiam assim como os outros dois exércitos, o primeiro contato entre as autoridades das duas nações. Um clima de tensão era evidente e fazia os olhares se tornarem até mesmo grunhidos de raiva por parte de alguns. O solo de repente começou a crepitar assim como os troncos das árvores onde os carros estavam estacionados. Quando os comandantes das duas nações estavam prestes a terminar o caminho. O solo se abria lentamente por debaixo dos que acabaram de chegar de viagem:

—  O que é isso?! — gritou Umi. 

—  Uma armadilha?! —  Takuma sugeriu aos seus —  tentem escalar. 

A terra já virava uma rampa, onde a maioira caiu sob o buraco com apenas alugns escapando por pouco, os veículos também eram engolidos pelo chão até que o Principal que carregava a marreta deu um grande salto para além da região afundada, e com as duas mãos no enorme cabo desferiu um enorme golpe no chão. Um terremoto atingiu as redondezas com o impacto, que fez as árvores tombarem, abrindo grandes rachaduras no solo. 

De repente a terra parou de afundar, continuando apenas trêmula pelo ataque do Principal.Yukirama e os demais viravam-se para contemplar a aura escarlate do sujeito que os salvou, não restando dúvidas: 

— É o Principal do Martelo, Masaki Katashi! 

Os gritos da direção do golpe do Senshi principal, confirmou suas suspeitas:

— Mudança de planos, recuem para os portões da muralha. A batalha começou! 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



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