Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 14

Capítulo 135: Senshi do Martelo

A casa do Cônsul abria os portões para Hidetaka em uma manhã nublada. As portas de bronze do casarão estavam trancadas. Seus homens guiaram o convidado fazendo um corredor para os jardins no fundo. A cada passo do general, um homem se curvava diante dele até finalmente chegar na presença de seu anfitrião.

O pequeno campo era rodeado de arqueiros. Cada porta de entrada, um guarda de armadura e machado. No centro, uma mesa de mármore negro rodeada por três pessoas. Itoshi estava sentado, Nobura atrás dele, ambos de frente para Hidetaka. A terceira, que se virou para vê-lo, era a mulher de cabelo vermelho, lentes para os olhos e camisa fechada até o pescoço.

Assim que o viu, seus olhos foram atraídos pelo amuleto pendurado de prata na sua cintura. Após uma rápida continência ao Cônsul, Hidetaka pegou a cadeira vaga da mesa e se sentou do lado oposto ao da mulher.

— Nobura, sempre um prazer — apertou a mão do homem atrás da cadeira principal — Queria ter sido avisado que estaríamos ao ar livre, um dos meus times poderia nos proteger da chuva que vem por aí.

— Prefiro afastar a imundice da minha casa — olhou de canto para Pandora — Já que as catacumbas são um tanto sujas para um homem da sua estatura, preferi correr o risco da chuva. 

— Se a presença desta aí incomoda, por que ela veio?

— Pandora é nossa informante — respondeu Nobura — Ela tem trabalhado em conjunto com nosso corpo de médicos, além dos súditos. É de confiança.

— Entendido — ajeitou a cadeira para encará-la de frente — Relatório, Pandora.

— Como eu estava dizendo — ela retomou o raciocínio — com o deserto sob controle, vocês têm acesso à toda a fronteira sul dos Aka. No papel, vocês não teriam muito a ganhar saqueando vilas camponesas…

— E aí aqui está você sugerindo isso — Hidetaka se inclinou sobre a mesa — Sei do objetivo final desta campanha, porém onde que esse começo se encaixa?

— Durante a Guerra do Sangue, a cidade de Doa se tornou a casa da classe política mais forte do reino, fora o Rei e seu Supremo: os anciãos. Uma invasão sistemática os manteria como refém — explicava Pandora — É impossível os Senshis ignorarem isso.

— Bom, diria surpreendente para alguém como você — questionou Hidetaka — E qual o tipo de resistência esperamos nessa cidade?

— Menos do que encontraram em Oásis. Mais do que em Nokyokai. Tenho certeza que com os súditos…

— Não — Nobura levantou sua voz rouca — meus Súditos têm outras obrigações. 

— É por isso que você está aqui, meu caro general — Itoshi cruzava as pernas — A Guarda Pacificadora é imbatível, mas somente nossos pretorianos têm controle do iro além dos súditos. Vocês são uma garantia. Uma ótima cortina de fumaça para finalmente retomarmos o que é nosso por direito!

— Eu não mobilizei meus homens para servirem de distração, Cônsul. Cumpriremos nosso papel, — levantou da cadeira estendendo a mão a Itoshi — mas Doa será conquistada para sua glória, em uma grande batalha.

A expressão de satisfação de Itoshi se desfazia nas memórias do general líder do alto escalão do exército Kuro. Com os sons de estouros proferidos próximo ao portão da Cidade de Doa, ele urrou em uma ordem:

— Avante! 

Um exército inteiro respondeu em uníssono, marchando contra a aliança de Senshis e Heishis que recuaram aos portões. Na medida que a nova linha defensiva se formava, Masaki viu três torres de cerco se aproximando, além de homens uniformizados, sem a armadura da Guarda Pacificadora, andando no meio deles.

— Para trás — ordenou Masaki aos seus homens — Eu quero espaço.

Com uma martelada, rachaduras se espalharam como ramos na terra, engolindo as pernas de alguns homens até tombar às fundações da torre mais próxima.

Na iminência da queda, dezenas de homens escorreram para fora, como formigas saindo de um formigueiro. Apesar da queda levar outra porção dos inimigos, a Guarda Pacificadora não parava de avançar.

— Eram só esses os reforços? — Doku olhou para Masaki — Estamos em território Aka e ainda assim os inimigos são maioria! 

— Temos tudo que precisamos por hora — respondeu Masaki — Fiquem perto dos núcleos e estarão a salvo do poder ocular. 

— Não podemos ficar parados, Principal — disse Takuma — Se as torres estacionarem no portão teremos que recuar, com os inimigos dentro da cidade o estrago seria… 

— Vamos derrubá-las — levou sua marreta para as costas.

— Permissão para falar senhor — solicitou Yukirama.

Takuma virou os olhos, mas encontrou em Masaki um rosto permissivo.

— Não podemos esquecer do sujeito dos raios e o monstro que quase levou a vida do comandante Iori.

— Se está falando sobre os súditos, é por isso que estamos esperando. Eles sempre medem nossa força no início — concluiu Masaki — E já eu dei um demonstrativo do que está aguardando por eles. E com as proteções da muralha, só temos que segurar nossas posições até a ameaça principal se revelar.

— Que tal um equilíbrio? Me dê alguns núcleos e posso resolver uma das torres à distância — indagou Doku. Sem riscos.

— Não mais do que três núcleos — Masaki acenou para Takuma acompanhá-lo para dentro do muro — E, Takuma, mantenha alguns arqueiros de olho em mim. Precisarei de cobertura.

Takuma trouxe Yukirama para dentro da muralha, onde Senshis amarravam garrafas contendo um líquido amarelado a dezenas de flechas. Por sua vez, os Heishis enchiam baldes de água com o que tinha guardado em barris dentro dos muros. 

O mirim estava prestes a se juntar aos Aka, quando o comandante o impediu:

— Você vai esquentar a água.

— Não deveríamos atirar? Sem toda essa gente a torre vai… — cessou de falar — Sim, senhor.

Das ameias, os arqueiros fizeram chover sobre a Guarda Pacificadora. Encolhida entre as torres e um par de arqueiros, Umi disparava junto com o grupo, mas suas flechas tinham um arco curto demais.

— Droga! Masori sempre fez parecer fácil! 

— Faz parte do plano— comentou Doku, passando por elas acompanhado de Heishis — continuem atirando. 

— Quero saber quando aquele Monstro vai aparecer de novo — perguntava Aiko preparando um tiro, deixando a flecha escorregar da corda — Quero ficar bem longe dele.

— Uma pena — respondeu Doku, exibindo uma caixa de flechas alteradas para o grupo de arqueiros — Por que vou precisar que o inimigo fique bem perto para nosso plano funcionar.

Quando as torres chegaram a menos de cem metros da muralha, os arqueiros trocaram suas flechas inundando o caminho da torre mais à direita com óleo. Por fim, um único arqueiro atirou uma flecha com a ponta em chamas e foi o bastante para incendiar tudo ao redor.

A torre se viu cercada pelas labaredas até que os Heishis avançaram à cavalo para a armadilha jogando água fervente para atiçar as chamas. Em pouco tempo, a estrutura estava completamente tomada pelas labaredas.

— Viram? — Doku cruzou os braços — Duas a menos. Falta uma.

O incêndio também impediu o avanço das tropas inimigas de um lado, enquanto do outro, o Principal do martelo rasgava as linhas inimigas como um tanque. Seu destino era a torre cujas bases ele se chocou, fazendo-a tombar para trás.

A Guarda Pacificadora o cercou, mas com outro golpe, Masaki derrubou a torre de modo que a dispersão havia se tornado inevitável. Senshis e Heishis ameaçaram uma comemoração, quando um vento gelado soprou contra as chamas, seguido também de uma chuva vinda de uma nuvem repentina na região. 

O apagar do incêndio que se alastrava pelo bosque, gerou uma fumaça que cobriu a visibilidade do campo de batalha por um momento.

— Isso é manipulação elemental de água — Doku tentava olhar por cima da névoa — Eu só conheço uma pessoa capaz de trazer uma tempestade dessas.

— Espera, alguém tem alguma visão do Principal Masaki?! — Takuma subia até o topo da muralha para observar.

— Ele desapareceu após a ofensiva, comandante — respondeu um dos arqueiros. 

Emergindo da fumaça, a torre incendiada continuou vagando mesmo aos pedaços.

— Melhor recuar — sugeriu Doku. 

— Você ouviu o que o Principal disse — respondeu Takuma — No pior dos casos, pegamos nossas espadas e lutamos.

— Ele não está aqui. Temos que tomar a melhor decisão com o pouco recurso que vocês nos deram — levantou a voz Doku. 

— Olha quem fala — cochichou Umi. 

Os dois lados começaram uma discussão que foi rapidamente cortada por novo tremor. Os Senshis desceram para a entrada, enquanto os Heishis assistiram de cima um chão se abrir debaixo da terceira e última torre, que tombou na floresta. Vários da Guarda Pacificadora caíram da estrutura direto na fenda.

Masaki surgiu da fumaça, carregando seu martelo sujo de sangue e o corpo sujo de terra:

— Perdi alguma coisa?

— Agora entendi, é além do martelo — Doku disse aos Heishis do lado — Ele manipula terra. Estava debaixo dela.

— Vocês, comigo — Masaki apontou para os Senshis que vieram vê-lo — Se nossos inimigos têm algo melhor que isso, vão lançar agora.

Entre os Senshis que reagruparam com Masaki, Yukirama assistia boquiaberto:

“Incrível, mesmo em menor número e sofrendo um ataque surpresa não sofremos nenhuma baixa graças ao Masaki. Então… esse é o nível de um Senshi Principal.

Mesmo na retaguarda, o forte tremor foi sentido por Hidetaka que assistiu às três torres de cerco sumirem de seu campo de visão, longe de seu destino. Ao seu lado, o capitão da Guarda Pacificadora gritava:

— Avancem. Alinhem as artilharias e tragam mais torres. Eles não podem nos manter longe por muito tempo.

— Negativo. As próximas torres ficam até a segunda ordem — Hidetaka levantou o punho cerrado, paralisando a todos — O time flamejante vai na frente.

— Sem reforços? — suspirou o capitão.

— Meus homens são todo o reforço que precisa — virou para os homens de uniforme atrás de si — Time terrestre, cubra-os. O tremor deixou uma falha no terreno, suas ordens são para restaurar o caminho. Somente depois que o problema for resolvido, a Guarda Pacificadora entra com as torres.

— Sim, senhor — o grupo repetiu em uníssono.

— Despachados! Priorizem o homem da marreta, matem ele logo — se voltou aos outros guardas — Os demais mobilizem as células imediatamente. Quero isso pronto até o cair da noite.

Do outro lado, os Senshis e Heishis voltavam a se armar, notando os barulhos que vinham dos destroços deixados no bosque. Os Senshis sacaram seus estiletes junto às espadas, Yukirama fez o mesmo. 

Eles se organizaram em uma única linha atrás de Masaki. Ao riscarem suas espadas com a pequena lâmina, formaram um fogaréu coletivo em vez de viajar até os inimigos escorreu para a fenda debaixo da terra. 

“Eles estão… Me guiando junto com a força deles”, ele sentia sua chama viva sendo tomada pela mão junto das outras, penetrando a terra, rastejando por baixo dos inimigos.

A aura dos Senshis mudaram para branco. O fogo que antes deslizava pela terra suavemente, começou a borbulhar debaixo da superfície. Foi então que Masaki balançou seu martelo novamente. Uma pancada no chão soltou a respiração de Yukirama que deixou a sua e a chama de outros Senshis explodir de baixo, impulsionada por ar vindo dos que dominavam o iro Shiro

Vários pilares de fogo acenderam a floresta, incendiando os inimigos. Era uma reação em cadeia, várias ondas de pilastras incandescentes brotando do chão e varrendo o bosque. Os arqueiros nos muros eram pontuados pela luz daquelas explosões, que por sua vez serviam de alvos, indicativos de onde os inimigos fugiam para escapar do ataque generalizado.

Os subordinados de Masaki se preparavam para ganhar terreno sobre o inimigo recuado, quando o fogo que trouxeram à tona começou a se dividir para os lados, aspirado por várias direções. O que sobrou dos Kuro nas ruínas daquela parte da floresta era uma equipe de sete homens uniformizados. Sem espadas, uma faixa no braço, um amuleto de prata pendurado na cintura e uma bola de fogo acumulando cada membro um pedaço do incêndio de pouco tempo.

— Devemos avançar agora, Principal? — perguntou um subordinado.

— Vamos continuar resistindo — respondeu, colocando o martelo nos ombros — deixem que venham. 

Os Senshis, que estavam em maior número, cercaram os lados e a retaguarda de Masaki. O chão estremeceu novamente. A terra se moveu como uma esteira debaixo dos Senshis, que recuaram para trás da fenda aberta por Masaki, somente para em poucos segundos o buraco se fechar, como se a terra tivesse sido colada de volta à forma.

Outra equipe de pretorianos apareceu do lado esquerdo do campo de batalha, dessa vez cinco.

— Temos que trazer os Senshis ainda em campo para trás das muralhas — ordenou Masaki — Dividam-se, deixem a artilharia fazer o resto.

— E quanto a esses aí? — perguntou Yukirama — Vai cuidar deles sozinhos?

— Vou fazer o que tem que ser feito — olhou diretamente para o mirim com uma expressão calma e confiante — Vai lá e faça o mesmo.

Assim que os Senshis se dispersaram, o chão abriu debaixo de Masaki. Com o cabo do seu martelo, ele se apoiou nos paredões do precipício e deu uma cambalhota que o mandou planando de volta à superfície. Logo que emergiu, uma saraivada de pétalas de fogo foram atiradas nele, porém com um golpe de sua arma ele as dispersou no ar.

Os pretorianos de fogo continuaram atirando, suspensos pelo time terrestre por meio de plataformas de terra brotadas do chão. Masaki derrubava árvores com um balançar, montando coberturas. As pétalas eram mais cortantes que incendiárias, causando mínimo dano às madeiras perfuradas.

Escondido por trás de um tronco, Masaki balançou seu martelo para o lado, gerando uma leve brisa que sacudiu as árvores em um canto. A pista fez com que os pretorianos ali atirassem, de modo que o Senshi correu na direção oposta onde um pedaço da torre de cerco descansava. 

Quando os inimigos suspensos perceberam aquela larga estrutura se mover, emergir do chão e voar até eles, já era tarde demais. A estrutura colapsou as plataformas de uma vez só, derrubando a todos.

Uma nova plataforma, mais larga para pegar todos os que caíram emergiu, alta o bastante para agir como barreira para que Masaki não os alcançasse. Ele, porém, deu pouca importância, porque já estava com seu martelo de volta em mãos, saltando pelas árvores até aterrissar no meio deles.

— Usar fogo contra Senshis, é pouco inteligente — provocava cercado — presumo que seu líder seja arrogante.

Os pretorianos nem ao menos responderam, mantendo o foco. O principal tentava distraí-los ao mesmo tempo que refletia sobre suas posições:

“Três na borda do meu lado”, Masaki olhava ao seu redor. “Dois atrás de mim, um na minha frente. Os cinco de antes controlam as plataformas, este só fogo. Eles são os próximos”

A borda da plataforma foi descolada do restante da estrutura com uma martelada de Masaki. Dos três pretorianos ali, somente um saltou rápido o bastante e mesmo assim ele ficou pendurado na borda. Girando para atacar os dois nas suas costas, o Principal deu um único golpe que acertou ambos de uma vez no lado com tanta força que ele sentiu suas costelas partindo. 

Prestes a partir para o último, Masaki sentiu seus pés grudarem no chão. Suas botas estavam derretendo. O pretoriano na borda, com as mãos no chão e aura negra ativa, concedendo tempo e espaço para o último de pé fazer alguma coisa. Ele então fez uma concha com as mãos, uma lâmina maior de fogo saía por entre as palmas.

Com a unha de seu martelo de combate, Masaki rasgou parte da calça e sua bota totalmente para livrar o pé esquerdo na hora em que o pretoriano havia soprado a lâmina incandescente na sua direção. Ele descolou o corpo e voltou para a posição batendo o martelo no chão, agora para quebrar a plataforma totalmente, desconectando-se dos outros pretorianos que caíram em direções diferentes.

Quando a poeira abaixou, Masaki estava descalço, com calças rasgadas até os joelhos. Não havia pretorianos à vista, mas uma grande massa de terra viajou por cima dele indo parar na muralha de Doa, acertando em cheio a artilharia que até então manteve a Guarda Pacificadora distante. Ele precisava voltar.

Alheios à batalha, os mirins aguardavam os resultados da sessão da Câmara Carmesim, quando os rugidos da batalha chegaram até eles. Um Senshi passou como um vulto pelas janelas que davam para a entrada. Poucos tomaram nota, mas a confirmação veio quando Tomio escancarou as portas:

— Mirins, comigo. Doa está sob ataque.

Os Senshis que treinavam no pátio dos fundos também formaram com os mirins no portão de saída. Cavalarias eram preparadas, carruagens alinhadas, tudo para o momento em que a porta tombasse para o outro lado. Em especial, Jin e Tsuneo permaneceram próximos do seu professor, o ajudando a selar os cavalos para despachá-los.

— A gente tem que ir logo!— disse Jin, amarrando um lado da sela — senhor Masaki deve estar por lá, e também…

— Se Yukirama disse que voltaria, os Ao podem estar aqui — Tsuneo trazia outro cavalo.

— Silêncio — levantou a voz Tomio — Eu já falei esses assuntos não devem ser discutidos em voz alta.

— Professor — Tsuneo ajudava a amarrar a sela junto com Jin — o inimigo é muito perigoso, e os azuis não são confiáveis. Eu não entendo como você e o Supremo desejam se cercar deles.

— Eu não sou representante do Supremo para justificar suas ações. Sou seu superior. E no momento façam como eu digo.

Os três terminaram a preparação dos animais, Jin se afastou dos dois por um segundo vislumbrando o céu da noite que se aproximava:

“Umi, eu estou indo! Me espere!”

Do lado de fora, Yanaho recebia um escudo de tamanho médio feito de madeira. Resistente, porém leve. Os Senshis adultos recebiam escudos de aço, ou pelo menos ele pensou quando viu um conjunto de outros homens receberem a mesma proteção. Ren estava entre eles.

— Ei — chamou Yanaho — esses Senshis não deviam receber outro equipamento?

— Ordens, são ordens — retrucou o armeiro.

— Está tudo bem, cara — disse Ren — Eu me dou melhor com escudos mais leves mesmo.

— Estamos em solo Aka, mas não é muito diferente do que vi nas montanhas — olhou de canto para os Senshis melhor armados — Eles nem estão se preparando para embarcar ainda.

— Já devem ter Senshis mais experientes lá, cara. Somos apenas o reforço. Com sorte, vamos terminar e voltar para casa logo, logo — ouvia outro chamado — veja, acho que é minha deixa, até mais.

— Espera, por que — o portão desceu, levando Ren e as outras tropas — Por que eles foram e nós não? O chamado foi para todos — perguntou ao Senshi mais próximo.

— Mirins e Senshis Por Dívida vão em pelotões separados por segurança. Volte já para a fila.

— Senshis por… dívida? — arregalava os olhos. 

Yanaho voltou para perto dos mirins quando os cavalos e carruagens estavam arrumadas para partida. Apesar de subir na montaria guiada por um Senshi adulto com olhos fixos para a frente, sua cabeça voltava em direção à redoma branca e vermelha.

“O que aqueles velhos pensam que estão fazendo?”, questionou-se.

Dentro da Câmara Carmesim, no entanto, há uma outra batalha em curso. Com a maioria dos Senshis partindo para as muralhas, os únicos que sobraram para discussão foram algumas dezenas de Titulares. Mesmo assim, a sala estava tão barulhenta quanto antes, o suficiente para Makoto e Naohito conseguirem se afastar dos holofotes sem serem notados.

Sentados na extremidade mais vazia da Câmara, eles assistiam ao debate entre Tatsu e os Titulares.

— A batalha se agravou — Makoto esfregava as mãos por baixo da bancada — Não esperava que chegassem aqui hoje.

— Quanto antes resolverem antes podemos lidar com assuntos realmente importantes, menino — Naohito descansava a bengala no colo.

— O senhor acredita que os Kuro são uma ameaça menor?

— Os Kuro são um incêndio. Eu quero quem acendeu o palheiro.

— Em Nokyokai eu duvidei se nossa derrota tivesse sido apenas fruto da arrogância de não mandar um Principal para o campo de batalha. Depois de saber que dois terços dos homens e mulheres mais fortes precisaram ficar no deserto somente para manter Oásis a salvo, eu não julgo os receios do Rei.

— Então os Senshis afrouxaram. Lutamos em múltiplas frentes na Guerra do Sangue, em um território desconhecido como os Midori. Sabe qual a diferença agora? É que nossas melhores armas estão limpando a sujeira de outro reino em vez de defender o nosso povo. Se somos de importância menor para seu pai, deixe que seus aliados sofram as consequências.

— Senhor, eu… Insisto… Que você ao menos considere um plano de evacuação para os próximos dias.

— Com esta covardia, pode desistir da aprovação minha e da Câmara para sua promoção à Senshi, menino.

— Eu dou a minha vida aqui, sem pensar duas vezes, senhor. É com os anciãos que me preocupo. 

— Comigo? Essa bajulação não muda o meu voto — Naohito soltou uma risada — É isso que seu pai quer, agravar uma batalha para ganhar outra.

— Com todo respeito, eu duvido muito que…

— É mesmo? — Naohito colocou sua bengala no chão e se pôs de pé — Se ainda tivermos um teto sobre nossas cabeças até esta noite, e haverá, vá até as muralhas para lembrar ao representante do Supremo sobre as suas obrigações com o reino porque não saímos daqui antes de votar — andou aos resmungos.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 

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