Volume 1 – Arco 2

— Capítulo 8: Cerimônia —



A comoção provocada pela presença daquele homem no palco ainda reverberava pelo salão, impregnando o ar com uma tensão quase sufocante. Para os jovens ali reunidos, estar diante de alguém tão poderoso era uma experiência que beirava o irreal.

E, no entanto, seu semblante não era autoritário, nem carregava a rigidez típica dos grandes líderes. Pelo contrário, ele ostentava um sorriso tranquilo — o sorriso de quem há muito tempo não sente necessidade de provar nada a ninguém.

Com um leve toque na garganta, uma tênue luz púrpura brilhou, e sua voz ecoou por todo o salão. Não importava onde estivessem, todos os presentes ouviram-no como se ele estivesse bem ao seu lado. Sua clareza era tamanha que nem mesmo o burburinho incessante conseguiu abafá-la.

— Certo, certo, vamos lá! Imagino que estejam se perguntando por que resolvi aparecer na cerimônia de abertura deste ano, não é?

Com o início do discurso, um silêncio expectante tomou conta dos calouros, cada um deles prendendo a atenção no diretor.

— Em parte, talvez eu tenha simplesmente caído aqui de paraquedas. Mas há outro motivo… Este ano, entre os novos alunos, há nomes interessantes. Digamos que, com alguns "peixes grandes" no meio de vocês, seja prudente reforçar certas regrinhas, não acham? — continuou ele, em um tom quase despreocupado. 

De fato, mesmo entre herdeiros de linhagens nobres e influentes, alguns se destacavam. Era como se emanassem uma aura própria, uma presença tão intensa que beirava o resplendor.

— Pulando toda a firula da parabenização, que imagino que Serenna já tenha feito, há algo muito importante que preciso deixar claro. Principalmente para os grandes herdeiros aqui presentes. Não é mesmo? Haha. — ele prosseguiu, lançando um olhar divertido à multidão 

Uma gota de suor metafórica pareceu se formar na testa dos nobres espalhados pelo salão, e Atlas seguiu sem se deter:

— Arcadya NÃO é, de forma alguma, um parque de diversões. Vocês não vão passar três anos brincando e, no final, sair daqui com um diploma na mão. Este lugar é um criadouro de pilares, de pessoas destinadas a se tornarem lendas dentro do domínio humano. E saibam disso desde já: expulsões por baixo desempenho não são incomuns. Não haverá conexões ou favores que possam salvá-los. Entenderam?

O peso de suas palavras caiu sobre o salão como uma tempestade iminente.

— E, com isso, preciso deixar clara uma regra fundamental em Arcadya: usar a autoridade do seu nome para benefício próprio, seja por chantagem, ameaça ou mera ostentação resultará em expulsão imediata.

Atlas proferiu tais palavras mirando diretamente um jovem específico na multidão. Cabelos e olhos de um azul profundo, como o prenúncio de uma tempestade, faiscavam com um olhar furioso.

O anúncio provocou reações diversas. Muitos sentiram-se ultrajados, como se tivessem sido atacados pessoalmente. Mas qualquer impulso de protesto era esmagado pela autoridade que emanava do homem no palco.

— O que quero que compreendam é que Arcadya é um território único. Tudo o que vocês foram do lado de fora não tem valor aqui dentro. De plebeus a príncipes, todos começarão do mesmo ponto. E a única hierarquia válida será construída por mérito, com seus próprios esforços. Quero ver cada um de vocês escalando até o topo com as próprias mãos.

O diretor fez uma pausa, deixando que suas palavras afundassem na mente de cada um dos presentes. Então, sorriu de maneira serena antes de perguntar:

— Vocês entenderam?

O salão ressoou com uma resposta uníssona:

— S-Sim, senhor diretor!

E naquele instante, algo despertou em cada um deles. Orgulho ferido, empolgação, medo… Mas acima de tudo, uma chama de ambição comum ardia em todos os olhares.

Atlas sorriu, satisfeito. Agora, poderia continuar.


— Certo, creio que este seja o momento ideal para convidarmos ao palco os destaques entre os calouros deste ano. Ahn, vejamos... pftt.

De repente, em um súbito lampejo azulado, um pedaço de papel materializou-se nas mãos do diretor. Nele, seis nomes estavam escritos, acompanhados de títulos que, ao que tudo indicava, haviam sido concedidos por aclamação popular. No entanto, ao deparar-se com tais designações, Atlas não conseguiu conter o riso.

— Pftt... Hahaha! Mas que tipo de títulos são esses? Foram vocês mesmos que escolheram? — gargalhava ele, enxugando uma lágrima teimosa no canto do olho. Contudo, logo recompôs-se e chamou o primeiro nome da lista, ainda lutando para segurar o riso.

— Lucy Frost, a Imperatriz de Gelo da família Frost.

Com passos suaves e graciosos, uma jovem subiu ao palco. Sua pele e cabelos eram tão alvos quanto a neve, e longos cílios ocultavam olhos de expressão gélida. A beleza que exalava era pura e impecável, mas havia nela algo intransponível — como uma estátua de gelo, bela, porém fria demais para ser tocada. Sua feição permanecia inalterável, indiferente a tudo ao redor.

— Lilith Lionheart, a Flor Flamejante dos Lionheart.

Dessa vez, os passos que ecoaram eram mais firmes, carregados de força e desdém. Uma garota alta caminhou até o centro do palco, as mãos enterradas nos bolsos. Seus cabelos, de um vermelho incandescente como fogo, contrastavam com olhos verdes reluzentes, vívidos como esmeraldas. Sua beleza era selvagem e hipnotizante, mas a fúria latente em seu olhar parecia afastar qualquer um que ousasse se aproximar.

— Bolt Stormrider, o Herdeiro da Tempestade dos Stormriders.

Dos três, era, sem dúvida, o mais imponente. Seus passos eram silenciosos, mas sua presença pesava sobre o ambiente. Os cabelos negros, mesclados a fios azulados que lembravam relâmpagos, e os olhos de um azul profundo como o céu antes de uma tempestade compunham sua figura austera. Seu semblante permanecia fechado, analisando a plateia de cima, como um trovão à espreita.

Então, quando o próximo nome foi anunciado, Artemy, que observava da plateia, sentiu uma onda de ódio lhe percorrer o corpo. Ele conhecia aquele nome... e conhecia bem demais.

— Adrian Von-Doix, o Demônio Escarlate dos Von-Doix.

Passos largos e arrogantes ecoaram pelo palco. O garoto que surgiu possuía cabelos brancos, espetados, e olhos de um escarlate cortante, que varriam a plateia com um desdém evidente. Seu olhar era afiado como lâminas, carregado de uma malícia que transparecia sem esforço, como se enxergasse todos à sua volta como meros insetos.

— Bom, além dessas quatro estrelinhas aqui, também temos dois alunos que ingressaram por indicação.

Atlas comentou, dando um leve tapinha no topo da cabeça dos quatro. Quando chegou a vez de Lilith, precisou se colocar na ponta dos pés, mas ainda assim o fez, arrancando algumas reaçoes do público.

— C-Caramba... por indicação?

— Quem são eles? Acho que nunca os vi.

— Se foram indicados, com certeza devem ser fortes!

Os sussurros se espalhavam entre os alunos, carregados de ansiedade e expectativa. Ser aceito em Arcadya por indicação era um feito raro e prestigioso, sinal de que alguém poderoso havia reconhecido seu talento—fosse pela força, inteligência ou um dom único. Mas quem seriam aqueles recém-chegados? O mistério os envolvia como um véu invisível, alimentando a curiosidade coletiva.

— Noah Shade.

Uma figura esguia ergueu-se do meio da multidão e caminhou lentamente até o palco. Seus cabelos negros caiam de maneira desleixada sobre o rosto pálido, e os olhos roxos opacos transmitiam um vazio inquietante, quase inocente. As profundas olheiras sob as pálpebras eram testemunhas de noites mal dormidas, dando-lhe uma aparência fatigada e distante.

— E, por último, Polius Fairytail.

Diferente do primeiro, esse subiu ao palco com energia contagiante, os olhos azuis brilhando em êxtase. Os cabelos dourados, completamente desgrenhados, pareciam refletir a própria essência de sua animação desmedida. Ele girava a cabeça de um lado para o outro, observando tudo ao seu redor como uma criança em um parque de diversões, incapaz de conter um sorriso entusiasmado.

Era um ensinamento básico: jamais julgar um livro pela capa. Ainda assim, muitos calouros não puderam esconder sua decepção. Esperavam guerreiros temíveis, prodígios imponentes... e, em vez disso, receberam um melancólico e um saltitante.

— Ah, quase me esqueci! — Atlas sorriu de canto, como se se divertisse com seu próprio descuido. — Há mais um indicado entre os calouros, mas não o encontrei por aqui. Provavelmente, está perdido em algum canto da academia. Não se preocupem, vocês acabarão esbarrando com ele durante as aulas.

Um burburinho percorreu o salão, mas o diretor não deu espaço para mais questionamentos.

— Agora que todos estão presentes, vou passar algumas informações antes de... uma pequena surpresa que preparei.

Ele fez uma pausa dramática, observando as expressões curiosas ao seu redor antes de prosseguir:

— Amanhã começam os testes de classificação. Como vocês já devem saber, as turmas são divididas em cinco categorias, da Classe D até a Classe S. Com base nas avaliações teóricas e práticas, vocês serão designados a uma delas.

Os olhos dos calouros brilharam com a informação.

— As diferenças entre as classes envolvem benefícios exclusivos, recompensas especiais e, é claro, dormitórios de qualidade superior.

Um murmúrio animado percorreu os presentes.

— Lembrem-se, porém, de que a cada semestre há uma reavaliação. Dependendo de suas conquistas e méritos, vocês podem ser promovidos... ou rebaixados.

O peso daquelas palavras fez com que muitos estudantes engolissem em seco.

— Além disso... hmm, o que mais? — Atlas coçou o queixo, pensativo, antes de estalar os dedos. — Ah, sim! A economia de Arcadya. Aqui, usamos uma moeda própria chamada Tálions. O ouro comum não tem valor dentro da academia e não pode ser convertido. Cada um de vocês começará com uma quantia inicial, mas, para se manterem, precisarão ganhar mais Tálions—seja como recompensa pelas atividades ou trabalhando em Avalon. Isso depende de vocês.

Os estudantes nobres trocaram olhares apreensivos. Trabalhar? Aquilo era um conceito estranho para muitos deles.

— Entretanto — Atlas continuou, um brilho astuto no olhar —, embora não seja possível converter ouro em Tálions, o contrário é. Ou seja, o que vocês ganharem aqui poderá ser utilizado lá fora.

Dessa vez, foram os plebeus que se entreolharam com entusiasmo. Estudar e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro? Arcadya se tornava cada vez mais interessante.

— Por fim, como muitos de vocês chegaram de longas viagens, todos passarão a noite no Wolf’s Hall para descansarem antes dos testes. Assim que terminarmos aqui, basta assinarem seus nomes no dormitório.

Atlas soltou um suspiro, como se finalmente tivesse terminado o discurso, mas, então, seu sorriso mudou.

— Antes de encerrar, quero fazer uma pergunta.

O salão mergulhou em silêncio. Milhares de olhares voltaram-se para o diretor e os cinco alunos no palco.

— Qual é a coisa mais importante para um arcanista?

O salão explodiu em murmúrios. Era uma pergunta que podia ter inúmeras respostas, e cada um tentava encontrar a melhor. Mas, no palco, cinco jovens responderam quase simultaneamente:

— Poder. O mais forte sempre vence! — declarou Bolt Stormrider, com a confiança de um guerreiro nato.

— Orgulho. Manter as convicções e a cabeça erguida é o mais importante! — exclamou Lilith Lionheart.

— Soberania. Ser soberano e o mais importante para manter os inimigos no chão — disse Adrian Von-Doix com uma malicia lampejando dos olhos

— Justiça! Ser justo e de bom coração é a chave para se tornar um grande herói! — proclamou Apolius com convicção.

Noah e Lucy, no entanto, permaneceram em silêncio.

Atlas ergueu uma sobrancelha, interessado.

— Respostas interessantes... De fato, todas são importantes. Mas há algo, um pilar, que sustenta qualquer um de vocês.

Enquanto o diretor falava, um jovem na plateia sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— Uma dúvida intrigante, não acha? — uma voz zombeteira sussurrou ao seu ouvido.

Flutuando ao seu redor, um gato negro com olhos brilhantes o observava, um sorriso característico desenhado no rosto.

— E você, garoto? O que acha? — Cheshire indagou, sua voz carregada de um tom teatral.

O jovem não precisou pensar muito. Ele conhecia bem a sensação de estar no fundo do poço, de perder qualquer razão para se erguer. O que causava isso? Falta de força? Coragem insuficiente? Não. A resposta era muito mais simples.

Força física e genialidade eram importantes, mas, sem um elemento essencial, de nada serviam.

— Consciência.

A palavra ressoou pelo salão, dita quase em uníssono por Artemy e Atlas.

— Mesmo com o corpo mais forte ou o controle de éter mais refinado, sem consciência e um objetivo claro, qualquer um pode se perder. Ela é o alicerce de uma mente inabalável e de um coração de aço.

O silêncio caiu sobre o salão, apenas para ser quebrado por um riso divertido do diretor.

— Nesse caso... que tal uma pequena brincadeira? Considerem isso uma "prova surpresa".

Os calouros se entreolharam, confusos.

— Tudo o que vocês precisam fazer é permanecer conscientes sob a minha autoridade.

O peso daquelas palavras não foi compreendido por todos. Muitos inclinaram a cabeça, confusos, mas três dos alunos no palco arregalaram os olhos em choque. Antes que pudessem protestar, uma voz feminina ecoou da mesa próxima ao palco.

— Você enlouqueceu?! Está tentando matar os calouros, seu idiota?!

Serenna, geralmente tranquila e serena como o próprio nome sugeria, havia perdido completamente a compostura.

— Ah, relaxa. — Atlas deu de ombros. — É óbvio que não vou usar a habilidade ativa da minha Zona. Eles só terão que lidar com a pressão da minha autoridade.

— M-Mas mesmo assim...!

— Além disso, já gravei o subespaço. Não se preocupe.

Serena bufou, cruzando os braços.

— Você é inacreditável às vezes.

O diretor sorriu e, por fim, declarou:

— Ah, e a propósito... Quem desmaiar durante o teste está expulso.

A naturalidade em sua voz fez com que um arrepio percorresse o salão.

Serena revirou os olhos, como se já soubesse exatamente aonde aquilo levaria. Ao seu redor, uma multidão de alunos se encolheu em um sobressalto, o desespero dançando entre olhares inquietos. No entanto, quando perceberam a real situação, um novo sentimento emergiu—não era mais medo, mas uma determinação inabalável. Eles precisavam resistir. Precisavam manter suas consciências.

Ao meu lado, Cheshire exibia um sorriso ainda mais largo, como se estivesse se divertindo com o espetáculo. Uma gota de suor frio escorreu pela minha testa. Pela convivência com meus irmãos, eu sabia exatamente o que estava prestes a acontecer. E tinha certeza de uma coisa: não seria fácil.

Atlas ergueu as mãos diante do rosto, alinhando os dedos em um selo que parecia ordenar silêncio absoluto. Então, suas palavras se espalharam como um trovão, ecoando nos ouvidos de todos.

Liberação de autoridade: Zona de Éther.

E, num instante, o mundo se apagou.

A escuridão tomou tudo, como se a realidade tivesse sido arrancada debaixo de nossos pés. A única coisa visível era um par de olhos púrpura—dois universos infinitos que pareciam fitar minha alma.

Então, Atlas pronunciou sua sentença final:

Reino do Deus Onipotente.

Urghh...

De repente, uma pressão avassaladora tomou conta de mim. Era como se uma força invisível, colossal e implacável, esmagasse minha mente com um peso insuportável. Instintivamente, levei as mãos à cabeça, sentindo como se ela fosse rachar a qualquer instante.

Minha consciência vacilava, os sentidos se embaralhavam. Algo semelhante a uma gravidade imensa me puxava para o chão, como se quisesse me enterrar ali mesmo. O mundo ao meu redor oscilava entre o real e o abstrato, se desmanchando em ondas distorcidas.

Quando senti que estava prestes a sucumbir, cravando os joelhos no chão para impedir minha queda, um lampejo de fúria atravessou minha mente. Aquele olhar maldito... sempre me fitando de cima!

EU ME RECUSO!

Com um grito silencioso, arranquei forças do mais profundo abismo da minha alma. Meu corpo tremia, queimava como se estivesse em brasas, mas me recusei a ceder. Mantive na cabeça a face daqueles que odiava, deixando minha mente em ebulição, fervendo em um ódio incontrolável.

Eu não vou cair! Não de novo!

O tempo tornou-se um borrão. Segundos? Minutos? Não sei. A única coisa que importava era resistir. E então, tão súbita quanto viera, a pressão se dissipou. O mundo, antes sombrio e opressivo, reacendeu ao meu redor como se alguém tivesse acendido uma chama no meio da escuridão.

E foi então que eu os vi.

Um par de olhos púrpura—profundos, analíticos, como se sondassem diretamente a minha alma.

— O-o quê...? — Minha voz saiu trêmula enquanto instintivamente dava um passo para trás.

Ali, parado diante de mim, estava Atlas d’Arcadya.

O diretor me encarava com um misto de curiosidade e diversão, a mão apoiada no queixo, seus olhos percorrendo cada detalhe meu, como se analisasse algo intrigante.

— Caramba! Eu tô chocado! Haha! Você realmente não tem nada...

— E-eu n-não... — Minha garganta se fechou. A confusão me dominava.

Foi então que percebi os olhares sobre mim. Não eram muitos... e então entendi o porquê.

Mais da metade dos presentes jazia inconsciente pelo salão. Outros se contorciam no chão, suando frio. Poucos estavam ajoelhados, lutando para se manterem conscientes. No palco, apenas três permaneciam de pé.

A cena diante de mim parecia um campo de batalha devastado. Aqueles que ainda estavam conscientes tinham os olhos cravados em mim, tentando entender por que, entre todos, Atlas d’Arcadya estava parado bem na minha frente. Mas esse momento de confusão não durou muito.

Atlas passou ao meu lado e, com um tapinha casual no ombro, sussurrou próximo ao meu ouvido:

— Com certeza nos veremos de novo... É um prazer conhecê-lo, “Acorrentado”.

Minha cabeça girou em sua direção, mas ele já não estava mais lá. No lugar onde deveria estar, apenas partículas púrpuras se dissipavam no ar.

Antes que pudesse processar aquilo, uma voz ecoou pelo salão, vinda do palco:

— Bom, com isso acho que a cerimônia de abertura está encerrada. Sigam para seus dormitórios e descansem bem para amanhã. Ah, sim...

Click.

Atlas estalou os dedos.

Instantaneamente, uma luz roxa cobriu todo o salão. Como um passe de mágica, a fadiga mental causada por sua autoridade desapareceu, como se nunca tivesse existido. Um a um, os alunos desmaiados começaram a acordar, se erguendo com olhares atordoados.

No entanto, mesmo com o alívio físico, um clima melancólico tomou conta do ambiente. Aquelas palavras proferidas antes da provação voltaram à mente de todos:

"Quem desmaiar durante o teste será expulso."

O desespero tomou forma entre os estudantes. Alguns choraram, outros pareciam paralisados. Mas tudo foi interrompido pelas palavras finais de Atlas:

— Ah, é verdade! Aquilo sobre quem desmaiasse ser expulso… era mentira.

Com um sorriso travesso e um olhar descaradamente divertido, ele simplesmente largou essa bomba e saiu, deixando para trás um salão cheio de estudantes experimentando uma mistura de alívio, raiva e pura incredulidade.

Sério... qual é a desse cara?

O Wolf’s Hall se erguia majestoso à distância, sua imponente estrutura se destacando contra o céu da tarde. Pelo menos por hoje, ele abrigaria todos os calouros antes da divisão definitiva para os dormitórios correspondentes após a classificação.

O salão principal era luxuoso, com um piso de mármore branco que refletia a iluminação suave, paredes negras adornadas com detalhes dourados que conferiam um ar de sofisticação. Lembrava, de certa forma, a mansão dos Von-Doix, embora com menos ostentação—talvez por não ser o melhor dos dormitórios.

Ao me aproximar do balcão principal, fui atendido por uma jovem funcionária que parecia ligeiramente perdida. Mal pronunciei meu nome e, para minha frustração, desencadeei uma cena que me remeteu à entrada no barco dos calouros.

Com um sobressalto, a atendente arregalou os olhos e, incapaz de conter a surpresa, anunciou meu nome em alto e bom som. Um novo burburinho se espalhou entre os alunos ao redor. Suspirei, sentindo a paciência se esgotar. O dia fora longo e desgastante; tudo o que eu queria era meu quarto.

Percebendo meu descontentamento, a funcionária se apressou e, em poucos instantes, me entregou a chave. Sem perder tempo, segui direto para o dormitório.

Meu quarto ficava no terceiro andar. Ao empurrar a porta, deparei-me com um ambiente simples, mas bem organizado. Havia uma mesa com cadeiras, bancadas, um banheiro privativo e, no canto, uma grande beliche. Soltei minha mochila pesada no chão, sentindo o alívio imediato nas costas.

Enquanto pensava no que fazer a seguir, meus olhos foram atraídos por um objeto curioso ao lado da mochila: um boneco de metal. Não era pequeno—devia ter pelo menos um metro de altura. Alguém provavelmente o havia esquecido ali… não que isso me importasse.

Suspirando, sentei-me na cama debaixo da beliche, mergulhado em pensamentos. A cerimônia de abertura fora uma loucura—os testes de classificação, os alunos no palco, e… aquele cara.

Soltei um suspiro exasperado.

— Como ele soube?

— Soube do quê?

— ARGH!

Meu corpo reagiu instintivamente ao som inesperado. Um rosto surgiu de cabeça para baixo bem diante do meu, fazendo-me saltar para trás e bater a cabeça na parede.

— Pfft, hahaha! Foi mal! Não queria te assustar. Você deve ser meu colega de quarto, né?

Caramba, por que eu estava me assustando tanto hoje? Que inferno! Massageei a cabeça, já prevendo o galo que se formaria ali.

Descendo com um movimento ágil da cama superior, surgiu um garoto de pele cor de bronze, uma touca laranja cobrindo seus cabelos prateados que brilhavam sob a luz do quarto. Olhos da mesma tonalidade e diversas bandagens pelo corpo, além de uma tatuagem de engrenagens destacando-se em seu pescoço.

— Meu nome é Finn Darkwood, mas pode me chamar de Finn. Você… acho que te vi no final da cerimônia há pouco. Qual o seu nome? — perguntou, estendendo-me a mão.

— Artemy. — Respondi, aceitando o aperto de mão enquanto me levantava.

— Cara, que loucura foi aquela, hein? Eu não esperava que o próprio Atlas aparecesse do nada! E aquela zona de éther… inacreditável! Eu não consegui ver muita coisa porque desmaiei quase na hora, mas ainda assi—

Ele não cala a boca.

As palavras jorravam sem pausa, uma avalanche de frases atropeladas. Antes que perdesse completamente a paciência, algo em seu rosto chamou minha atenção. Apontei para seu olho esquerdo, curioso.

— Qual é a desse olho? É de vidro?

O olho esquerdo dele era estranho. No lugar da pupila, havia uma engrenagem prateada que girava constantemente.

— Ah, isso? — Finn riu, tocando o próprio rosto. — É um artefato que eu mesmo fiz. Tive que adaptá-lo depois que perdi um olho na forja.

— Você perdeu um olho na forja? — Minha sobrancelha arqueou. Esse cara ou era extremamente azarado, ou um completo idiota.

Arrependi-me imediatamente de perguntar. Como se tivesse recebido um convite, Finn começou a contar histórias intermináveis, remontando a eventos de sei lá quantos anos atrás. Foram longos cinco minutos antes que ele voltasse ao assunto inicial.

— Ah, inclusive, eu coloquei um encantamento de medição de energia nesse olho. Olha só que maneiro! — Ao pressionar a lateral do olho, um número surgiu no meio da engrenagem prateada.

— Foda, né? Agora deixa eu ver o seu. Vamos lá… Ué, quebrou? — Ele franziu o cenho e começou a dar leves tapas no artefato.

Com um leve sorriso, abaixei-me para pegar algo na mochila, respondendo com naturalidade:

— Relaxa, não quebrou. Eu só não tenho energia para controlar éther.

Enquanto remexia na mochila em busca de uma garrafa, aguardei sua reação. Não era algo que eu pretendia esconder, e se ele fosse um babaca, melhor descobrir logo.

— Uou. Isso eu nunca vi. Você é realmente estranho.

— E daí? O que voc—o-oquê?!

Antes que pudesse terminar a frase, senti um peso nas costas. Levantei-me num susto, apenas para perceber Finn agarrado a mim.

— Nesse caso, somos uma dupla de esquisitos, hahaha! — Ele ria, tentando se equilibrar nos meus ombros.

— Desce daí, seu desgraçado! — gritei, sentindo uma veia latejar na têmpora.

— Hã? Não consigo te ouvir daí de baixo! — zombou, rindo.

— Ah, então é assim?!

Com um movimento rápido, virei o corpo e o arremessei para o outro lado do quarto.

— Merda… — coloquei força demais. Queria só derrubá-lo, não lançá-lo ao espaço. Antes que pudesse me preocupar com sua queda, algo se moveu ao lado da porta.

O boneco de metal, que até então parecia um mero enfeite, se ergueu com uma velocidade surpreendente e, com reflexos impecáveis, pegou Finn no ar, amparando-o nos braços metálicos.

— Bela pegada, Ditto! Hahaha! — Finn gargalhava enquanto descia dos braços do autômato.

— O-o que…? — gaguejei, ainda assimilando o que acabara de ver.

— Ah, isso? É meu golem de aço! O nome dele é Beneditto, mas pode chamar só de Ditto. Fiz ele usando umas sucatas e um núcleo que adaptei depois eu—

— Pfft, hahaha… — Levei a mão à testa, rindo.

— Acho difícil nos compararmos quando o assunto é ser estranho, né?

Mesmo sendo um idiota, esse cara parecia divertido. O futuro prometia surpresas, mas, por ora, eu só precisava descansar. Amanhã, os testes de classificação nos aguardavam.

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