Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


A1 – Vol.2

Capítulo 40: Uma confiança fraca, mas necessária

Após contar para equipe o que planejava fazer a partir dali, Magda agradeceu Griec, prometendo-lhe que traria Astrid viva para continuarem as negociações. Hilda ouviu aquilo olhando torto, porém, suspirou e engoliu o preconceito enraizado, indo falar com o Rei.

— Eu ainda não confio em você nem na sua raça, Griec. Mas depois do que vi aqui hoje, de conhecer seu povo… posso começar a tentar. Quando Astrid estiver segura, nós três conversaremos melhor.

— Nós queríamos que você fizesse parte disso desde o início, Hilda. É bom saber que agora está aberta a nos ouvir. — Griec sorriu e olhou para o grupo. — A Fossa fica a oito quilômetros daqui. Irei emprestar dois cavalos do meu estábulo, e vocês poderão seguir pelo mesmo caminho que usamos para ir até Stakkurin e subir na montanha. Confiem, será mais fácil do que seguir pela autoestrada. Eu acompanharia vocês, mas tenho… assuntos pendentes para resolver. — Olhou para Arne, que ainda estava inconsciente por causa do chute dado por Adam previamente.

O rei desejou boa sorte ao grupo e pediu para que um guarda o escoltasse até os cavalos e, depois, mostrasse o caminho que deveriam seguir para chegar à Fossa. E assim foi feito. Griec desceu as escadas até o subterrâneo junto de dois guardas e um Arne inconsciente.

Enquanto isso, Magda e companhia foram escoltadas por outro guarda até os estábulos, onde lhes foi dado dois grandes alazões selados.

— Sabe cavalgar, Hoffman? — perguntou Yohane, com um sorriso peralta no rosto enquanto alisava o cavalo. — Quer apostar corrida?

— Err… na próxima, que tal? — Adam desviou o olhar. O alemão nunca sequer tinha subido em um cavalo e, por algum motivo, quando olhava para aquele equino simpático, sentia-se intimidado.

— Nem tenta, Yohane — disse Magda, subindo em seu cavalo e ajudando Hilda a subir atrás. — Ele morre de medo desde pequeno. E, de todo modo, temos um trabalho a fazer.

— Ah, tá bom! Estraga prazeres. — Yohane bufou e subiu no cavalo, auxiliando o amigo a montar. — Relaxa, ele não morde. Muito. — O sorriso travesso ainda em seu rosto. Era como uma criança implicando com o irmão mais novo.

— Eu tô… de boa! — O volume de sua voz aumentou quando sentou na sela, atrás de Jô. — E eu não tenho medo deles! Só não estou acostumado com a presença deles como a caipira aqui — disse, referindo-se a Yohane.

— Adam Hoffman, o nefilim que enfrenta vampiros e demônios, mas tem medo de um simples cavalo! — Yohane exclamou, fazendo até o guarda segurar o riso.

— Vamos logo, já está anoitecendo — falou Vernichter

O guarda explicou o caminho para Magda, que gravou facilmente a rota.

— Obrigada, moço! — Yohane parecia animada e, além disso, parecia calma. Eles seguiram pelo caminho dito, trotando a uma velocidade mediana.

Adam, que há alguns meses tinha pilotado uma motocicleta a 250km/h nas ruas movimentadas de Manhattan sem nenhuma hesitação, naquele momento parecia controlar a ânsia de vômito.

Assim que subiram a elevação e chegaram à planície acima da vila, Magda chamou a atenção de todos.

— Vamos revisar o plano.

— O quê? — Jô reclamou. — Nós literalmente ouvimos o plano cinco minutos atrás.

— A questão é que eu subestimo, e muito, a capacidade de memorização de vocês. Mas já que você parece estar confiante, Pride, me diga: o que faremos quando nos aproximarmos da Fossa?

A ruiva bufou, revirando os olhos.

— Vamos nos dividir em dois grupos, mandona.

— Certo. Adam, quem são esses grupos?

— Err… Eu vou com a Tera e a Hilda. A ruiva vai com você… Meu deus, espero que aquele caldo não volte de elevador — reclamou o alemão, enjoado.

— Epa, epa, epa! Se você vomitar em cima de mim, eu juro que te dou de comida pra esse cavalo! — gritou Jô.

— E você, Tera?

— Relaxa, Maggie, a gente sabe o que fazer — disse a raposinha, entre as pernas da ruiva. — Vai dar tudo certo.

— Então me diz: qual é o papel dos dois grupos?

— Santa eu… Vocês duas vão interceptar a bruxa, enquanto nós três vamos resgatar Astrid.

— Ótimo.

Eles seguiram por mais alguns minutos enquanto Yohane implicando com Adam. No entanto, mesmo isso passou a se tornar maçante, e a ruiva começou a ficar entediada.

— Magda, falta muito pra chegarmos?

— Nesse ritmo, devemos chegar em uma hora — disse a mulher, rispidamente.

— Hm… quer apostar corrida pra chegarmos mais rápido?

— Isso não é um passeio, Yohane... é uma missão de resgate.

— Ah, tudo bem, tudo bem. Em Amarillo as pessoas também tinham medo de correr contra mim. Eu sou tipo um gênio do hipismo, sabe? — provocou, com o mesmo sorriso travesso no rosto.

Magda bufou silenciosamente, não poderia deixar uma garotinha americana tirar sarro dela daquele jeito. “Ignora, ela é só uma criança querendo te irritar”, foi o que Vernichter pensou, mas não foi desse modo que o corpo dela respondeu. Quando se deu conta, já tinha batido os calcanhares na barriga do cavalo e balançado as rédeas, disparando pela planície sem dizer uma palavra.

— Ei! Assim não vale, era pra começarmos juntas! — Yohane gritou, sorrindo, determinada.

— Ah, merda — reclamou Adam, mas não teve tempo de tentar impedir a garota. Em um segundo, seu cavalo já estava correndo, com uma desvantagem considerável.

Yohane cresceu no interior de Amarillo e, como sua mãe — antes de conhecer Ricardo — não tinha condições de comprar um carro, as duas sempre andavam a cavalo. Foi aos quatro anos de idade que ela aprender a cavalgar e, no ano seguinte, já chamava a atenção de todos por ser tão boa naquilo. Jô podia transformar em um carro de corrida qualquer cavalo que segurasse as rédeas. Fez amizade com os motoqueiros da cidade por causa disso. Claro, sua mãe frequentar os bares e participar das cantorias amadoras também ajudou na aproximação da pequena ruiva com aquele mundo.

Mas não existia velocidade no planeta que superasse uma vantagem injusta. O cavalo de Yohane era mais rápido e mais resistente — diferentemente de Adam, na garupa, que estava quase vomitando —, mas Magda estava muitos metros à frente, seria quase impossível vencê-la. Até que a mulher parou. Parou no meio da planície, encarando o horizonte. Yohane chegou rapidamente, puxando as rédeas e desacelerando o cavalo.

— Ei, não vou aceitar que você pare só pra me dar uma vantagem.

— Ah… merda…! — Adam pulou do cavalo e vomitou na neve, fazendo um buraco quente e seboso no solo branco.

— Que nojo! — Yohane torceu o rosto, desviando o olhar.

— Aquilo não estava no mapa — disse Magda, seriamente.

A ruiva olhou para o horizonte que deixou Vernichter atônita e se chocou com o que viu. Uma estrutura massiva, gigantesca, que cobria quase todo o horizonte. Magda estava perdida, sem entender como aquilo tinha surgido.

— A última vez que visitei a Fossa foi há dois anos, e não tinha nada aqui além dessas planícies.

— Certeza? Não é possível que uma coisa desse tamanho tenha surgido do nada.

— É sim — disse Hilda. — Se for uma ilusão, é possível.

— O ódio dela por você é pra valer, Magda, se ela tá disposta a fazer uma coisa dessa escala só pra te receber… Afinal de contas, o que você fez pra essa mulher? — perguntou o alemão, limpando a boca com neve.

— É o que quero descobrir. — Magda desceu do cavalo, pedindo para Yohane fazer o mesmo. — Certo, nós duas seguiremos a pé, daqui. Hilda, Adam, Tera, vocês seguem com os cavalos pra caverna. É bem provável que a Astrid esteja exausta e ferida, então vai ser mais fácil trazê-la. Estou contando com vocês.

— Relaxa, Magda, você não é a única preocupada com ela. Astrid é minha filha, lembra? — Hilda sorriu e colocou as mãos no ombro de Vernichter, tocando sua testa na dela. — Vamos trazê-la sã e salva, e poderão cumprir a promessa de vocês — disse, para que só Magda pudesse ouvir.

Obrigada — gesticulou com os lábios e se afastou.

Hilda subiu em um dos cavalos, acompanhada por Adam, que subiu desengonçado no segundo. Tera se despediu com um uivo curto, deitando no colo da rainha. Rapidamente eles sumiram, portanto Yohane e Magda caminharam até a frente da estrutura.

Ela era ainda maior de perto. Suas paredes rochosas eram tão reais, que era impossível confirmar se aquilo era ilusão.

— Okay, o que a gente vai fazer agora? Um labirinto gigante não tava no plano. — A ruiva colocou a mão na cintura.

— É uma armadilha, obviamente. Nós vamos entrar.

— Tem certeza?

— Cansei dessa merda. Se for pra encontrar aquela bruxa, eu até volto pro Inferno. — Magda respirou fundo e olhou pra Yohane, que franzia a testa. — Sei que tivemos nossos problemas nos últimos dias, Yohane, mas agora somos só nós duas. E preciso que você confie em mim, independentemente do que acontecer. Consegue fazer isso?

A ruiva se questionou a mesma coisa inúmeras vezes, em sua mente. Poderia confiar em uma pessoa com ideais que iam contra todos os seus princípios? Conseguiria confiar em alguém como Magda? Não importava os motivos, pois, naquele momento, ela precisava confiar.

— Vou confiar em você. Mas precisa fazer o mesmo por mim.

Yohane estendeu a mão, um olhar sério em seu rosto. Magda a encarou, e uma brisa gelada atravessou as duas. Suas mãos se tocaram, e uma promessa silenciosa foi feita. Um laço de confiança foi selado. Fraco e improvisado, mas era a única coisa que aquelas duas mulheres, diferentes em cada aspecto que as tornavam únicas, tinham.

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