Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


A1 – Vol.2

Capítulo 46: O sol se põe para Faroe, e nasce para Alfheim

Todos se acalmaram e correram até a caverna, deixando todas as perguntas para serem respondidas mais tarde. O local de destino ficava próximo da planície, alguns metros abaixo. O trio desceu por um caminho de pedra com cuidado e, em alguns minutos, puderam chegar à entrada da caverna.

— Antes de eu sair, Hilda disse que queria entrar sozinha. Tera e eu fomos contra, mas ela insistiu. Foi aí que eu ouvi vocês lutando, então deixei a Tera de guarda e corri pra ajudar. — disse Adam, com a voz serena.

— Bom, ela deve entrado. Tera estava com tanta saudade da Astrid quanto eu. Vamos entrar.

Eles adentraram a caverna escura, e assim que estavam à alguns metros da entrada, puderam ouvir um murmúrio de choro.

— Me desculpa, Astrid. Me desculpa…

O coração de Magda disparou quando ouviu a voz de Tera em lamentação, e correu para conferir o que houvera.

Alguns metros à frente, encontrou uma bela garota elfo de pele morena e cabelos lilás, acorrentada na parede, chorando. Aos seus pés, uma pequena feneco estava deitava, com o pelo branco manchado de azul, sobre o corpo de uma mulher. Hilda. Ela estava lentamente desaparecendo em partículas brilhantes.

— O que… — disse Yohane, quase perdendo a voz.

— O que houve?! — Adam exclamou, igualmente chocado.

— Me desculpa… — Tera dizia em meio as lágrimas. — Hilda pediu pra entrar sozinha, e eu deixei. Então ouvi um grito e, quando entrei, uma mulher de vestido preto estava com uma espada de luz na mão… e Hilda já estava no chão sangrando. Me desculpa, Maggie. Me desculpa, Astrid.

— Não foi sua culpa, minha pequena deusa. — disse Astrid, tentando conter as lágrimas e a dor que sentia em seu peito. — Minha mãe queria parecer a heroína da história, e aquela mulher sabia disso. Era uma armadilha, e eu não consegui avisá-la a tempo.

Os joelhos de Magda tremeram, a fazendo cair no chão.

— Por que… por que eu nunca consigo salvar ninguém? Tudo que eu toco morre… Por que… — Magda encarou o chão, com olhos cinzentos, e finalmente as lágrimas caíram. O rosto seguia inexpressivo, mas era possível ver em seus olhos a dor, o remorso.

Então, Astrid tocou seu rosto, se aproximando o máximo que as correntes permitiam.

— Não diga isso, meu amor… — As lágrimas escorrendo por seu rosto, enquanto forçava um sorriso para acalmar àquela que a ouvia. — Foi você quem me salvou. Antes de te conhecer eu não aguentava a pressão desse reino, mas você me salvou. Trouxe leveza e amor pra minha vida… — Suas testas se encostaram, e Astrid segurou o rosto da alemã com delicadeza. — Sei que apenas eu não posso apagar as dores e as cicatrizes do seu passado, acho que nada nesse mundo vai te dar a paz que você procura. Mas por favor, me deixe apenas ajudar você a carregar esse peso.

Yohane foi de fininho atrás de Astrid derretendo as correntes e a liberando. Em seguida se agachou ao lado de Tera, lamentando em silêncio por Hilda.

— Minha mãe fez um pedido antes de morrer…

— Astrid, não acha meio inadequado fazer isso aqui? — disse Tera, insinuando saber sobre o que a princesa se referia.

— Acho, mas foi o último pedido da minha mãe, e a última ordem de minha rainha. E esse é o momento de mostrarmos que, independentemente da perda e do sofrimento, o amor pode trazer paz pra qualquer coração. — Astrid moveu as mãos suavemente no ar, formando um pequeno aro brilhante feito de pura magia. — Mãe, com esse anel eu honro sua memória. E que a dor que sinto nesse momento por sua perda se torne, um dia, uma memória saudosa dos momentos que tive com você. Magda Hoffman Vernichter, você aceita se tornar minha companheira, de hoje até o fim de nossas vidas?

— Espera… — Adam ficou tão surpreso com aquela cena que até aumentou o tom da voz. — Ela tá pedindo a Magda em casamento?

— Astrid é conhecida por saber lidar bem com suas emoções. Alguns a consideram fria com uma pedra de gelo, mas é exatamente por isso que nós duas a respeitamos tanto — disse Tera.

— E desde quando elas tinham um relacionamento?

— Ou você é muito inocente ou só muito burro mesmo — disse Yohane, quase cochichando.

— Astrid, é sério? — Os olhos de Magda brilharam. A tristeza gelada do peito foi misturada com o calor da emoção que sentia com a palpitação do peito.

— Honraremos a memória de minha mãe com nosso amor. Sua despedida não deve ser motivo de tristeza, mas de comemoração, pois ela finalmente encontrará a paz em Valhalla. E, a partir de hoje, eu carregarei seu legado e seu reino. E quero você ao meu lado.

Magda limpou o rosto e segurou a mão de Hilda, encarando seu rosto que desaparecia em luz.

— Eu aceito. Vou cuidar de você para que Hilda possa descansar tranquila.

As testas de Magda e Astrid se encostaram novamente. O luto pela perda, a felicidade por um novo começo, e a esperança por um futuro melhor. Todas essas emoções se misturavam no peito das duas, enquanto o corpo de Hilda era levado para os céus em partículas de luz azulada. Seu corpo pode ter morrido, mas seu espírito estaria sempre cuidando de seu povo, e de sua filha.

O pedido de casamento mais trágico da história. Mas para os elfos, assim como para os vikings, a morte não era uma final ruim. A morte era certeza de que finalmente poderiam viver em paz, e descansar em Valhalla.

Após todos se acalmaram, o grupo retornou a cavalo para Tjornuvik, onde foram recebidos por Griec. Ele lamentou a perda de Hilda, mas se alegrou ao ver Astrid viva e bem. Toda o reino passou a virada de ano em luto, sem forças ou motivos para comemorar.

 

Após alguns dias de descanso e recuperação, eles retornaram à capital, onde Astrid faria seu primeiro anuncio como nova rainha. Não gostava da ideia de governar, mas sabia que era seu dever como herdeira.

Ela reuniu todo o povo em frente ao castelo, informando a morte de sua mãe. Todo o público chorou, mas com as palavras firmes e confiantes de Astrid, ela demonstrou que poderia ser uma sucessora digna de Hilda. Ela também anunciou um novo acordo entre a capital e Tjornuvik, onde elfos e elfos negros começariam uma cooperação mútua, e ambas as cidades seriam abertas para ambos os povos. Muitos viraram o rosto, não gostando da decisão, mas as novas leis que viriam a ser criadas e a devoção do povo ao trono, facilitaria as coisas. Por fim, Astrid terminou seu pronunciamento com apenas uma declaração:

— Sei que não sou minha mãe, e nunca poderei ser. Hilda era uma rainha forte, firme e dedicada. Às vezes eu pensava que ele amava mais seu povo do que a mim, sua filha. Mas eu entendo que, como princesa, eu deveria compartilhar minha mãe com o reino. E agora, é com muita relutância que eu coloco essa coroa. Não com a promessa de superar minha mãe, mas de honrá-la e criar um reino no qual ela se orgulharia de viver.

Ela se curvou em frente ao povo, permitindo que seus acompanhantes colocassem a coroa em sua cabeça, e uma capa feita de folhas em suas costas. O povo, em comemoração e respeito, deu um grito de guerra. “Por Alfheim!” Um antigo costume daquele povo, que celebrava a força de sua sociedade.

Astrid agradeceu e voltou a seus aposentos, onde tirou a capa e a coroa. Quando colocou as mãos na escrivaninha e relaxou, sentiu o corpo pesar. Finalmente, estando sozinha, podia lamentar por sua mãe. Ela chorou e gritou, tentando se apoiar na mesinha para não cair.

Desde o momento na caverna, tem se feito de forte, pois era seu dever como princesa e, agora, rainha. Não poderia parecer fraca na frente de seu povo. A dor em seu peito era enorme, mas familiar. Um sentimento semelhante ocorreu quando perdeu seu pai, séculos atrás. Porém, esse está sendo mais dolorido, causando um remorso insuportável na consciência de Astrid.

— Afinal, não deve ter sido fácil matar ela, não é?

Uma voz serena foi ouvida no quarto. A nova rainha olhou para trás, por cima do ombro, e viu uma dama de cabelos brancos, vestindo um recatado vestido negro. Sua postura era de uma mulher de alta classe, sua voz era educada, e sua atitude era calma e inofensiva.

— Sinto muito, queria que houvesse outro modo. — Dawn parecia genuinamente comovida.

— Sacrifícios necessários para um bem maior. Minha mãe teria feito o mesmo se soubesse o que está por vir — falou Astrid, limpando o rosto. — O que você quer?

— Honestamente, só queria me desculpar. Mesmo sendo inferiores, não gosto de ver vocês sofrerem. E, claro, também queria ver como a Yohane estava.

— Ela amadureceu, finalmente aceitou o poder da Fênix que habita dentro dela.

— Ótimo, ótimo. Fico aliviada. Agora podemos dar sequência ao plano.

— Está indo pra Rússia, agora?

— Seu Olho de Odin mostrou tudo, não é? — Ela sorriu. — Estou indo sim, mas tenho que resolver uma última pendência em Faroe. Amélia matou a família de Juliana como ordenado, mas ainda tenho que recolher um espólio daquela batalha.

— Você acha que o garoto vai te ajudar?

Dawn sorriu.

— A única coisa que ele sabe é que sua família foi assassinada após dar abrigo para um grupo de estrangeiros. Eu vou convencê-lo a me ajudar.

O sorriso gentil que escondia intenções malignas, o olhar negro que escondia a alma. Dawn estava preparando algo grande, que fazia os pelos de Astrid se arrepiarem.

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