A1 – Vol.2
Capítulo 47: Preparativos para a cerimônia
Pouco mais de um mês se passou desde então. Tudo que houve naquele dia, desde a revelação de Amélia como irmã de Magda e Adam, como a morte de Hilda, foi deixado na gaveta, pois todos deveriam seguir em frente. O reino de Astrid estava, aos poucos, tomando forma, e tanto elfos brancos como elfos negros estavam tentando se acostumar com a ideia de viverem em harmonia.
Assim, toda a diplomacia que vinha com a coroa foi adiada, pois estavam em época de comemoração. Estavam comemorando o réveillon de forma atrasada, quase sincronizados com o ano novo lunar da China. E, além disso, a Rainha Astrid estava noiva, prestes a se casar. Normalmente levariam meses para organizar um casamento, mas para uma princesa – agora, rainha – com os recursos e contatos de Astrid, não levou mais do que algumas semanas.
A cerimônia seria no entardecer do dia dez de fevereiro. Magda tentou convidar Shijie e Kaguya, suas amigas do extremo oriente, mas elas estavam ocupadas com suas responsabilidades, então, apenas desejaram felicitações ao casal.
Estava tudo decidido. A cerimônia seria na mesma planície onde Magda e Yohane enfrentaram Amélia. Por mais trágico que possa ser, já que Hilda tinha sido morta perto dali, Astrid insistiu, pois queria que, de alguma forma, sua mãe participasse da festa. Além disso, todos os habitantes de Faroe foram convidados.
No castelo, pela manhã, servos de Astrid corriam de um lado para o outro, como baratas tontas, para preparar o buffet e finalizar as decorações que seriam levadas ao local. Era uma viagem longa, então tudo deveria ser feito com cuidado e antecedência.
Enquanto isso, Yohane, que usava um vestido rodado vermelho e um penteado rabo-de-cavalo preso por tranças, ajudava a organizar a lista de convidados. Até pensou em ajudar na cozinha, mas não queria destruir o casamento da Rainha. Pensou que poderia até ser sentenciada a morte, caso isso acontecesse.
“Não que você possa morrer, de qualquer forma. Mas seria, de fato, constrangedor.” A voz de Nikéia falou dentro da cabeça da garota. Não podia arriscar aparecer fisicamente e acabar queimando alguma decoração.
— É. Mas estou feliz pela Magda. Quando ajudei ela a escolher o vestido, foi a primeira vez que vi a mulher dentro dela. Tímida, introvertida e com medo de se aparecer. — Yohane sorriu com a cena que presenciou. — Ela estava tão vermelha, parecia que estava indo para o primeiro encontro da vida dela
“Também fiquei surpresa com o que ela disse. Nunca imaginei que o sonho dela fosse subir no altar com um vestido de noiva.”
— Não é? Foi tão fofo. Nem parece que, normalmente, ela tende a quebrar o crânio das pessoas.
“Você também não ficou nada mal nesse vestido. Fico feliz de saber que o corpo em que renasci é adequado a minha grandeza, por mais irônico que isso seja. Mesmo com salto alto você continua pequena." — A voz arrogante de Nikéia tirava a garota sardenta do sério.
— Continua bancando a engraçadinha e eu inscrevo você numa rinha de galo!
Enquanto Yohane conversava com a voz em sua cabeça, uma pequena raposinha branca veio correndo da cozinha com um prato de petiscos na boca. Ela entrou embaixo da mesa do cerimonialista.
— Yohaanee! Me ajuda! — disse a raposa.
— O que você aprontou? — A ruiva se abaixou, respondendo com um olhar desconfiado.
— Eu roubei alguns smorebord de baleia, mas o chefe da cozinha começou a me perseguir. Se ele aparecer, diz que eu fui pra outro lugar, por favor!
A ruiva cerrou os olhos, tendo pensamentos travessos.
— Quero metade. — A ruiva falou com muita seriedade.
— Metade?! Larga de ser gulosa!
— Você rouba o buffet de casamento da Rainha e eu sou a gulosa?
— Ah, Yohane, você está aqui. — Um homem com roupa de chefe de cozinha apareceu no corredor, zangado.
— Decide logo, ele tá vindo. — Yohane apressou a raposa.
— Ah, tá bom! Que saco!
— Oi, chefe. Estou quase terminando de conferir os convidados confirmados. — Com a maior cara de pau do mundo, a ruiva respondeu o chefe como se nada tivesse acontecido.
— Ótimo. Você viu a raposa da senhorita Magda? Ela invadiu a cozinha de novo e roubou alguns petiscos do buffet.
— Hm... acho que vi ela correndo para os banheiros. — Se fez de idiota. — Estava tão concentrada na lista de convidados, que acabei não prestando muita atenção nos arredores.
— Entendo. Aquela pestinha acha que, só por que já foi uma deusa no extremo oriente, tem o direito de fazer o que lhe der na telha. Por Odin, somos nórdicos! Se ela não fosse mascote da noiva da Rainha, já teria virado Frikadeller de raposa.
— Não se estresse com isso, chefe. Ela anda meio carente, já que desde que Magda e Astrid anunciaram o casamento, sou a única que tem dado atenção a ela. De “deusa” aquela ali só tem nome, por que é sensível como um bebê.
— Bom, vou deixar passar dessa vez. Obrigado, Yohane. Quando terminar de conferir a lista, pode levá-la até mim na cozinha, certo?
— Podexá.
O chefe saiu resmungando, de volta ao corredor que levava à cozinha. Quando ele saiu de vista, Tera cochichou por baixo da mesa.
— Ele já foi?
— Já, pode sair... Argh! Por que você mordeu meu pé?!
— Por me chamar de carente e de bebê! Você tá toda metida desde que assumiu relacionamento sério com essa gaivota dentro do peito. Mas eu ainda sou a Deusa do Sol, garota! — disse, a raposa de trinta centímetros de altura, com o peito estufado.
— Hm? Ah, ok. — Yohane ouviu a voz de Nikeia em sua mente e reproduziu seu comentário para Tera. — A Nik disse que quer te devorar junto com uma porção de batatas.
Tera se arrepiou, pulando do chão como um gato assustado. Ela puxou o prato de petiscos e ofereceu para Yohane.
— P-pega logo sua parte!
Yohane pegou dois smorebords do prato, que nada mais eram que pequenos sanduíches abertos, com recheio sobre o pão. Como não tinha um prato, apenas juntou os dois petiscos, formando um único sanduíche de baleia, que comeu enquanto finalizava a confirmação da lista de convidados.
Enquanto isso, nos aposentos de Magda, Adam tinha que, pela primeira vez na vida, agir como irmão mais velho, mesmo que, na prática, fosse o caçula. A mulher alemã estava fora de sua personalidade habitual, andava de um lado para o outro, enquanto murmurava algo e encarava os dois vestidos que estavam sobre a cama.
— Magda, a ruiva não tinha te ajudado? E você não tinha decidido usar o de manga longa? — disse Adam, sentado em uma cadeira ao lado da porta.
— Eu sei, mas e se o de decote e costas abertas combinarem mais com o da Astrid? Meu peito é um dos poucos lugares que não tenho cicatrizes, então poderia ficar bem.
— Então vai com o de decote.
— Mas as minhas costas são cheias de cicatrizes. Eu passaria vergonha se elas aparecerem.
— Então usa o de manga comprida.
— Mas se eu usar um véu longo na cabeça, ele pode acabar cobrindo as costas. Pode funcionar.
— Meu Deus! — Adam colocou as duas mãos no rosto, pedindo socorro internamente. — E pensar que eu quase passei por isso há alguns anos.
— Espera, você ficou noivo? — Magda se virou como uma criança curiosa e correu até o irmão. — Com quem? Quando? Como?
— Te conto nas próximas temporadas. A questão aqui é: qual vestido te deixa mais confortável? Em qual deles você se sente mais bonita? Sei que quer tudo perfeito pra Astrid, mas, contanto que você esteja no altar pra colocar o anel no dedo dela, tudo vai ser perfeito... maninha... — Essa última palavra foi dita em tom de voz baixo, e o alemão virou o rosto envergonhado ao dizê-la.
Os olhos de Magda brilharam, e ela colocou as mãos sobre a boca. Seu rosto estava vermelho de emoção.
— Você me chamou de “maninha”?
— Você é a mesma mulher que quase me matou em Londres?
Ela o abraçou. Magda tinha conseguido recuperar parte de sua família e estava realizando o sonho de se casar. Então se permitiu lembrar os velhos tempos, quando ela era apenas uma garota do interior da Alemanha colhendo maçãs e cenouras.
— Você tá certo, pirralho. — Ela acariciou a cabeça dele. Mesmo que Adam fosse uma das pessoas mais altas daquele castelo, sentado ele era apenas o irmão caçula de Magda, e nada deixava ela mais satisfeita do que poder estar novamente com seu irmão. — O vestido que se dane, o que importa é que estou realizando um sonho, e finalmente recuperei meu irmãozinho. — Ela se ajoelhou, segurando suas mãos. — Sei que ainda temos muito o que conversar, Adam. Sei que é difícil me tratar como família, já que, pra você, a gente se conheceu a menos de um mês..., mas quero que me prometa uma coisa: Quando você se lembrar de mim, e da nossa vida antes do Asmodeus, quero que me dê o abraço mais forte que você já deu em alguém. Não importa quantos anos se passem até que esse dia chegue, quero que você me abrace como você fazia quando éramos pequenos, e eu te levava nos ombros para colhermos maçãs e cenouras na nossa fazenda.
Adam ficou envergonhado e virou o rosto. Não se lembrava de nada que a mulher dizia, mas a sinceridade no olhar e na voz impedia que fossem apenas palavras vazias.
— Eu... vou pensar no seu caso. Idiota. Agora decide logo o que vai vestir, vou ir me arrumar. — Ele se levantou e abriu a porta, ficando parado entre o vão. — Eu espero poder lembrar desses momentos um dia, Magda. Espero mesmo...
E assim, ele se retirou do quarto, deixando Magda com um sorriso melancólico no rosto, segurando o pingente em seu colar.
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