O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 50: Pedaço de Pau

Ragnar retornou a Nova Avalon surgindo no ponto exato onde morreu há mais de doze horas, no alto do Platô Cerimonial, o ponto mais alto do refúgio dos ursos de ferro, mas diferente da noite anterior, o sol agora brilhava em um céu sem nuvens.

Ele olhou para os lados e se assustou ao ver que a montanha de barras de ferro havia desaparecido. Parecia que tudo voltara ao normal, e ao pensar nisso, uma mensagem do sistema apareceu diante de seus olhos:

Missão Concluída: O Lamento de Bjorn (Nível 50)

Você trouxe equilíbrio ao Santuário dos Ursos de Ferro.

Agora as diferentes espécies de ursos poderão conviver em paz.

E graças aos seus esforços, Bjorn poderá descansar em paz pela eternidade.

Recompensas

Título: Protetor do Refúgio dos Ursos de Ferro

Missão concluída? E a segunda frase da descrição atiçou sua curiosidade. Como assim “poderão conviver em paz”? Será que isso quer dizer que… o ritual funcionou?

Quando fechou a janela, dois alertas o surpreenderam.

Você evoluiu para o nível 20

Você evoluiu para o nível 21

Agora as mensagens de Artic fazem sentido. Minhas suspeitas estavam corretas, pensou, tranquilizado por não precisar mais se preocupar com a aposta.

Ragnar caminhou até a beirada do Platô Cerimonial. Ainda com a mente à mil, tentou relaxar e ponderar sobre os acontecimentos, mas deixou isso de lado e se pôs a correr morro abaixo, descendo como um louco. Então entrou na mata e, em poucos minutos, chegou ao interior do refúgio.

— Ragnar — disse uma voz estranha, grave.

O druida olhou ao redor e se deparou com um urso de pelos vermelhos. O coração pulou do peito ao ver as quatro patas cobertas em ferro.

— Deu certo! — exaltou-se.

E o urso vermelho de ferro transmitiu em pensamento:

— Ragnar, venha comigo, Hardgart e os demais líderes querem falar com você.

Ragnar anuiu com um aceno e seguiu o vermelho pelas passagens e corredores do santuário. Quando alcançaram a grande construção depredada onde confrontou Torvell dias atrás, o urso falou:

— Irei anunciar sua chegada. — Virou as costas e se pôs a caminhar pela larga e longa passagem em arco.

Da entrada era possível ouvir as vozes ecoando de dentro, mas era impossível entender por causa da distorção do som. Ragnar se escorou na parede direita da passagem e avançou de pouco em pouco para dentro.

As vozes ficaram mais discerníveis a cada passo dado. Ele se aproximou do fim da passagem até ouvir alguém dizer:

— Pequeno, faça-me o favor, vá lá fora e chame o druida.

Pequeno? Ragnar ponderou coçando o queixo.

O ruído de passos reverberou pelo grande salão e pela passagem onde Ragnar se encontrava. Os passos eram pesados e ritmados, advindos de patas saudáveis, o que não fazia sentido para a suposição que maturava em sua cabeça.

Um pequeno urso pardo passou correndo, indo até o lado de fora. Ele olhou para os lados e fez uma cara confusa, então olhou para traz, sua face decepcionada abriu um sorriso bobalhão, muito familiar.

— Ragnar! Achei que você tinha morrido. — O urso disparou até o druida e se jogou contra ele.

Ragnar foi lançado para trás, caindo no chão e revelando sua presença.

— Mikken…, suas patas — disse enquanto era lambido no rosto.

As patas de ferro do pequeno pesavam em cima de seus braços. Ele cessou a sessão de lambidas e se sentou ao lado do druida. Uma voz grave ecoou, vinda do centro do grande salão.

— Ragnar.

Ainda deitado, olhou para a esquerda e viu os líderes das espécies reunidos em semicírculo no centro.

— Hardgart, Troel, Knudsen, Inga. — Lembrava-se de cada nome.

Enquanto se levantava, o pequeno Mikken correu para o lado do pai. Ragnar não perdeu tempo e se apressou até eles.

— É bom vê-lo saudável, e… cadê o Torvell? — disse olhando para o chefe dos pardos, estava morrendo para saber o que aconteceu após se sacrificar no ritual.

— Em exílio. O desgraçado e seus irmãos mais próximos decidiram deixar o refúgio após o sucesso do ritual.

Ragnar sempre ficava confuso com o emprego da palavra “irmão” pelos ursos, pois poderia significar literalmente um irmão, um urso de mesma espécie, ou um urso do mesmo refúgio.

— E os outros ursos negros? — Queria muito saber.

— Parece que nem todos eram mesquinhos e orgulhosos no fim das contas. O resto aceitou dividir o refúgio igualmente entre todos nós.

— E aceitaram de bom grado ter Hardgart como urso regente — complementou Knudsen, o líder dos vermelhos.

— E você, Ragnar, como protetor — O desprezo na voz de Hardgart ao dizer seu nome sumira por completo.

— Sinto-me profundamente honrado — simulou cordialidade, pois não esperava menos após tanto esforço e sacrifício na realização do ritual.

Agora restava descobrir quais recompensas receberia com essa nomeação.

— Como você ainda é inexperiente e Hardgart está ocupado com a reestruturação do santuário, eu posso levá-lo até a pessoa que o instruirá no caminho do protetor — disse Knudsen.

— Quem? O Bjorn? Eu conheço o caminho até o Círculo de Convergência.

O urso vermelho desaprovou suas palavras, mas em complacência:

— Tudo bem. Se prefere ver o seu mestre, vá.

E foi o que Ragnar fez, mas diferente de antes, agora era cumprimentado com respeito pelos ursos em seu caminho, até mesmo os de pelo escuro. Mesmo se tratando de um jogo, mesmo não sendo real, uma sensação acalorada o reconfortou.

— Ragnar, me espere! — Ouviu a voz do filhote.

E diferente das outras vezes, não desacelerou, manteve seu passo apressado, obrigando o pequeno a correr.

— Me espera…

Continuou ignorando e apenas parou quando pôs os dois pés no círculo de pedra.

— Ragnar, você vai fechar os olhos e sonhar acordado durante horas como da última vez?

— Sim.

— Poxa, então deveria ter avisado, porque eu não viria junto.

O pequeno urso de ferro poderia ser fofo, mas ainda era um filhote impaciente.

Ragnar sentou de pernas cruzadas no centro do Círculo de Convergência Natural, fechou os olhos e limpou a mente para iniciar a meditação. O tempo passou e ele ouviu passos vagarosos se aproximando, seguido por uma bufada cansada.

Abriu uma fresta do olho direito para espiar e se deparou com a silhueta do pequeno urso pardo agora encolhido em posição de descanso. Esforçou-se para não se distrair com a fofura do animalzinho. Foi complicado, mas conseguiu.

O mundo espiritual estava diferente daquele de suas visitas anteriores. As folhas coloridas das diferentes árvores e plantas ao seu redor agora flutuavam em um voo gracioso, etéreo. O céu sem nuvens, outrora azul, resplandecia um tom arroxeado e carmesim.

— O que está acontecendo? — disse não em desespero, mas em profunda admiração.

— Que bom que você veio — Bjorn vestia seu longo vestido marrom. — Fico feliz que tenha gostado da paisagem, considere-a meu presente de despedida, um vislumbre digno do crepúsculo de minha existência.

Ragnar sabia ao que se referia.

— É sempre uma honra vir a este plano para encontrá-lo, mas hoje…, sinceramente…, sinto que estou começando a vislumbrar a beleza e o sentido de nossa existência.

De olhos fechados, Bjorn balançou a cabeça em anuência.

— Venha, quero lhe mostrar uma coisa. — E começou a andar sobre o caminho de pedras.

A viajem passou por locais familiares, aquele era o interior do refúgio em seus dias de glória. As construções estavam inteiras, decoradas com plantas trepadeiras abarrotadas de flores coloridas. Dezenas de druidas habitavam o local em sintonia com as inúmeras espécies de animais, em especial com os ursos que davam nome ao lugar.

O cenário diferente fez a viagem parecer mais longa e demorada do que de costume. Bjorn parou em frente à passagem em arco do salão central do santuário.

— Druida, você sabe o nome dessa construção? — Bjorn falou apontando.

E Ragnar se deu conta de que nunca ouvira o nome verdadeiro desse local. O que era estranho, pois conhecia os outros lugares por seu nome, como o Círculo de Convergência Natural e o Platô Cerimonial.

— Não sei — admitiu sem vergonha de expor sua ignorância.

— É claro que não sabe, o nome muda com a chegada de um novo protetor. Em meu tempo era chamado de Bjornhall. — Olhou para Ragnar. — E você, como pretenderá chamá-lo?

— Eu não tenho um nome em mente…, ainda.

Bjorn se preparou para dizer algo, mas uma ave de penas douradas entrou por uma janela e planou na direção deles. Bjorn estendeu a mão direita e o pássaro pousou sobre ela o embrulho que trazia em suas patas.

Ragnar ficou encantado com a beleza do animal semelhante a uma arara, porém três vezes maior que sua contraparte no mundo real. Também ficou surpreso porque jamais imaginou encontrar um animal típico de seu país na mesma região do jogo onde habitavam ursos e outros animais de ecossistemas distintos.

Após entregar o objeto, a arara pousou no ombro esquerdo de Bjorn, que retomou raciocínio:

— Ragnar, você tem todo o tempo do mundo para nomear esse lugar. — Finalizou oferecendo o embrulho ao seu aprendiz.

Ragnar alcançou o objeto com suas mãos trêmulas. O tecido púrpuro do embrulho era macio e suave como seda. Bjorn largou o objeto e, junto da ave, aguardou pela revelação.

A fita amarrada no centro do presente foi desatada em um puxão. Em dois segundos ela deslizou do objeto e foi ao chão. Como por magia, o tecido se desenrolou do objeto que envolvia, revelando-o aos olhos do presenteado…

— Um pedaço de pau?

Isso é literalmente um pedaço de pau. Parece um galho de árvore de laranjeira, limoeiro, goiabeira…, matutou em pensamento.

Nesse jogo nem tudo é o que parece ser, então vamos analisar…

Bastão das Heras

[Categoria: Cajado] [Nível: 20] [Raridade: Lendário]

[Dano Físico: 68] [Dano Mágico: 84]

Uma arma misteriosa de tempos misteriosos.

Ragnar estacou com a raridade lendária, mas em contrapartida, os status do equipamento eram equivalentes ao de uma arma comum do mesmo nível, além disso, também era desprovida de efeitos especiais.

— À primeira vista ela pode parecer um cajado comum, mas eu lhe garanto: se você se esforçar bastante, ela evoluirá com você.

Sempre há um porquê nesse jogo, Ragnar ponderou tomado de ansiedade e empolgação.

 



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