Livro 2

Capítulo 38: Pergunta e Resposta (1)

Devido ao estado de fome do Gula, Theo escolheu primeiro dois livros. Assim que ele colocou os livros na colcha e mirou sua mão esquerda na direção deles, a língua faminta engoliu rapidamente os dois livros.

 


[‘Poder da Areia e do Vento’ foi consumido. Sua compreensão é muito alta.]  

[A magia ‘Tempestade de Areia’ do 4º Círculo foi aprendida.]  

[‘Sobrevivendo no Frio’ foi consumido. Sua compreensão é muito alta.]  

[A magia ‘Resistir ao Frio’ do 3º Círculo foi aprendida.]


 

Os livros que o Gula comeu hoje eram relacionados às magias, Tempestade de Areia, que era necessário estar em um deserto, e Resistir ao Frio, que era necessário estar em uma área fria. O Gula se alimentou com dois livros e em seguida enviou rapidamente seus conhecimentos ao Theodore.

— “Huuuu…”

A sensação de dois feitiços entrando no cérebro do Theo ainda era estranha. Acima de tudo, magias do 4º Círculo continham muitas informações. Theo respirou fundo para acalmar as consequências, depois ele abriu os olhos.

Ao mesmo tempo, Gula começou a falar.

— Dois livros, parece que você tem uma pergunta a fazer hoje.

‘Porque essa sensação de desconforto?’ Theodore se perguntou antes de perceber que o tom do Gula havia mudado.

Agora, seu modo de falar que costumava ser meio cortado, soou como o de uma pessoa normal. Querendo saber por que essa mudança havia acontecido, Theo perguntou, — “Você… Parece que o seu modo de falar mudou?”

— Hum?

— “Antes… você falava as coisas pela metade.”

Gula resmungou e respondeu.

— Isso porque você me alimentou com um grande número de artefatos recentemente. Não é suficiente para destravar o próximo selo, mas recuperou a minha voz.

— “…Tinha tal função?”

— Só estou recuperando meu estado original. Ou você achou que eu falava assim normalmente?

Agora que ele recuperou sua voz, o Gula falava com mais orgulho do que antes. Alimentá-lo com livros o faria crescer mais rápido, enquanto ele quase vomitava quando o Theo o alimentava com artefatos baratos. Se ele continuasse ouvindo, isso poderia durar dias, então o Theo interrompeu o Gula. — “Espere, eu gostaria de lhe perguntar mais uma coisa.”

Gula parou de falar e então perguntou.

— Você é idiota?

— “…Hã?”

— Eu já respondi sua pergunta. A pergunta não foi sobre o porquê de eu ter mudado a minha forma de falar?

A expressão do Theo se distorceu. Seria apenas um dia de espera, mas qualquer um ficaria frustrado por perder todo esse tempo de preparação. No entanto, essa frustração logo mudou para irritação.

— É uma piada.

— “…O que?”

— Não sabe o que é uma piada? Piadas são palavras usadas para causar diversão…

— “Não é isso, eu sei o que é uma piada!”

Pensar que o Gula era alguém que podia brincar dessa forma… O grimório era realmente uma criatura estranha. A história principal nem tinha começado, mas o Theo já estava exausto. Ele suspirou algumas vezes antes de abrir a boca para falar de novo. Felizmente, a pergunta anterior não contou como uma pergunta para uma resposta.

— “Eu posso transferir meu direito de fazer uma pergunta para outras pessoas?”

Gula fez um barulho com interesse.

— Hoh, que interessante.

Ou será que o Theo estava imaginando? Aparentemente um “olho” apareceu no buraco de onde a língua emergia. Ele olhou para o Vince ao lado do Theodore e entendeu o significado da pergunta. Mesmo se ele disser que não, Theo estava pronto para fazer a pergunta que o Vince havia preparado.

Sem surpresa, Gula prontamente respondeu.

— Realmente não importa. Você é a primeira pessoa a fazer tal transação, mas não tem um problema com a ação em si.

— “…Vá em frente, Professor.”

— “Obrigado por sua preocupação.”

Theo se afastou, enquanto o Vince se moveu para a frente. Vince estava ligeiramente diferente do habitual, devido a sua excitação por se comunicar com o grimório guloso. Era o sentimento de um mago finalmente chegando a uma resposta depois de correr por uma longa estrada desconhecida.

Vince perguntou com uma voz trêmula, — “Posso te chamar de Gula?”

— Qualquer título está bom. Eu pareço me importar com coisas tão triviais?

— “Entendi. Então me deixe te fazer uma pergunta.” Ele respirou fundo e depois de várias tentativas, finalmente fez a pergunta que ele tinha escolhido, — “Eu quero que você me ensine sobre a relação entre a linguagem e a magia.”

 

*     *     *

 

No passado distante, a magia existia antes mesmo de os seres humanos darem um nome a ela.

Elfos que viveram milhares de anos, dragões que viveram por dezenas de milhares de anos, demônios amarrados a uma falsa eternidade e inúmeras outras espécies, todas usavam o poder mágico sob nomes diferentes.

Além disso, o sistema mágico era diferente para cada espécie.

Elfos dançavam com os elementais, enquanto os anões acertavam o metal usando fogo e terra. Os demônios zombavam das leis usando rituais estranhos e os dragões fizeram o mundo se debater com apenas algumas palavras poderosas.

Os humanos eram os únicos que nasciam sem qualquer poder. Eles roubavam o canto dos elfos, forjavam ferro como os anões e às vezes imitavam os rituais dos demônios.

O primeiro milênio foi inútil. No entanto, o milênio seguinte viu um pouco de luz. Então no próximo milênio, o conceito de círculos foi finalmente concluído. Pela primeira vez desde o início do mundo, “magos” nasceram na espécie humana.

Vários milhares de anos se passaram desde então e o grimório, que já existia desde antes da fundação desse mundo, respondeu a pergunta do mago humano.

— A pergunta é muito abrangente. Para explicar completamente a relação entre a linguagem e a magia, não há tempo suficiente em sua vida.

— “E se for limitado à língua humana?”

— É o mesmo. Há 526 línguas minoritárias, então a quantidade de informação excede o limite permitido para uma pergunta.

— “Hum.” Era uma situação difícil, então o Vince tocou seu queixo enquanto pensava.

Nas Torres Mágicas onde os magos do continente se reuniam, havia poucos que estudavam arqueologia. Centenas de milhares de monumentos haviam sido destruídos nos últimos dois séculos devido as guerras, tantos registros antigos haviam sido perdidos.

Não é um exagero dizer que não havia nenhuma forma de explorar as línguas antigas esquecidas com a exceção de algo como um grimório. Vince se esforçou por um tempo antes de abrir a boca, — “Então me diga, por favor, por que as palavras das línguas antigas e das línguas modernas causam diferentes efeitos mágicos.”

Ele desistiu de sua ganância. Em vez de tentar descobrir muito de uma vez só, Vince perguntou algo que ele vinha enfrentando recentemente. Palavras que tinham o mesmo significado, muitas vezes eram usadas de forma intercambiável. Ele queria saber por que às vezes eram mais poderosas e às vezes mais fracas.

— Essa é aceitável.

Gula aceitou a pergunta.

— Eu irei definir uma coisa primeiro. Eu não sei o que vocês magos humanos pensam, mas a magia é o ato de persuadir o poder mágico do mundo. Pode-se dizer que você está pedindo sinceramente que ele se mova.

— “Persuasão… Isso parece plausível.”

— Vou continuar. O conceito de “linguagem” que você está perguntando envolve a persuasão. Quanto mais perto do início as coisas são, mais o mundo vai ouvir a voz do mago.

A expressão do Vince ficou estranha ao ouvir as palavras. Certamente, magias que usavam as línguas antigas eram mais poderosas e eficientes do que as magias que usavam as línguas modernas. Esse foi o início de suas pesquisas arqueológicas.

No entanto, isso não se manifestava frequentemente, então tal incompletude era um grande desafio para o Vince. Felizmente, Gula explicou a parte que o Vince estava ponderando sem qualquer atraso.

— A língua é um meio contraditório. Reduzir o número de usuários aumenta o poder. Mas por outro lado, se houver mais usuários, sua existência se torna mais firme. Se houver poucos ou nenhum usuário sobrando, o significado da língua antiga se torna ambíguo.

— “Eu pensei que entendia as línguas antigas do meu próprio jeito.”

— É insuficiente se comparado as pessoas antigas reais. A menos que você possa substituir o seu cotidiano com a língua antiga, será difícil tirar proveito disso.

Como era um grimório, suas palavras foram mais devastadoras. Mesmo se as habilidades de pesquisa do Vince fossem perfeitas, suas habilidades linguísticas eram significativamente menores do que as das pessoas que viveram naqueles dias. Deixando de lado as palavras simples, se tornaria bem mais complicado se ele usasse feitiços mágicos que envolviam sentenças ou parágrafos. É por isso que era difícil usar línguas antigas em círculos mais elevados.

Vince ouviu as palavras dolorosas e aceitou.

— Qual é o nome da língua antiga que você está pesquisando?

— “Ela se chama Balcard.”

— Permanece em meus registros. Era a língua utilizada durante a época do Império Balcia, quando a magia estava no auge. Os estrangeiros não conseguiam seguir a pronúncia muito bem.

Naquele momento, esclarecimento atingiu o Vince como relâmpago. Ele murmurou inconscientemente com uma expressão perplexa, — “…Pronúncia?”

— O verdadeiro valor da língua Balcard não pode ser visto a menos que as oito sílabas sejam pronunciadas harmoniosamente.

— O mesmo vale para qualquer língua. A pronúncia e a expressão de uma língua são estabelecidas pelo uso padrão.

— O mundo aceita o cortejo dos magos com base nas palavras…

E com isso a resposta foi encerrada. Vince não conseguia ouvir mais nada.

Este era um tipo de fenômeno chamado carga cognitiva. O próprio Vince havia bloqueado o fluxo de informações, já que ele havia excedido a quantidade que conseguia lidar. Ele podia sentir sua cabeça girando em branco, então qualquer palavra a mais quebraria seu cérebro!

Huuuuong!

De repente, uma onda de poder mágico emergiu do Vince e varreu suavemente a sala. Era um fenômeno que o Theo já havia presenciado uma vez. Durante o duelo final do Torneio dos Estudantes, ele sentiu uma onda de poder mágico vindo da Sylvia. O fato de que o mesmo impulso veio do Vince só podia significar uma coisa.

‘Ele atravessou a barreira!’ Uma emoção desceu pela espinha do Theo enquanto ele observava admirado o Vince.

Não tinha como ser outra coisa. Diante dos olhos do Theo, um mago do 6º Círculo estava saindo de sua concha. Havia apenas cerca de 100 magos do 6º Círculo no Reino de Meltor, então como ele não poderia prestar homenagem ao Vince como um homem e como um mago?

No entanto, havia uma presença no quarto que não foi movida.

— Ei, portador.

Com o súbito chamado, Theo olhou para trás como se ele tivesse sido privado de alguma coisa.

— “O que? Acabou, então você deveria voltar a dormir.”

— Acho que você deve estar brincando. Mas normalmente eu estaria dormindo, então eu entendo.

— “…Então, o que você quer?”

Normalmente, ele não diria nada e só cairia no sono. Theo estava ciente da fisiologia desse cara, e aconteceu como ele havia dito.

Gula parecia envergonhado, e sua língua balançou como se ele estivesse bêbado. No entanto, essa reação durou apenas um segundo.

— Eu tenho conselhos para um crescimento rápido. Nesse ritmo, você estará velho e quase morrendo antes de desbloquear todos os selos.

— “Quais?”

— Como você deve ter presumido, eu tenho mais algumas características ocultas. Ao contrário do Memorizar, destravá-las é algo que não pode ser feito sem cumprir condições especiais.

Gula falou com uma voz baixa, assim como a tentação de um demônio das lendas.

— Eu vou te ensinar sobre uma das funções ocultas, sem quaisquer condições.



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