Volume 1

Capítulo 1: Ardos! (1)

O enjoo era tão horrível que Seojun mal conseguia manter a consciência; era como se náuseas comuns de barco ou carro fossem brincadeira de criança perto disso.

De repente, sua visão escureceu por completo. Foi como despencar direto para o inferno montado em uma montanha-russa. O que parecia um tormento eterno cessou de forma abrupta e milagrosa assim que sua visão voltou.

A sensação era a de ter despertado de um sonho vívido. Conforme seu foco voltava lentamente ao normal, Seojun finalmente conseguiu distinguir o ambiente ao seu redor.

Era uma praça.

Todo o espaço estava coberto por uma barreira azulada que tremeluzia como miragem.

Num instante, seus pelos se arrepiaram, e arrepios percorreram todo seu corpo.

— Q-que… lugar é este?!

Assustado, Seojun se levantou com um pulo e olhou ao redor reflexivamente.

Seu rosto tenso estava repleto de choque e surpresa.

Logo em seguida, gritos confusos e desesperados ecoaram de todos os cantos da praça.

Como peças de dominó caindo uma após a outra.

— O-o que é esse lugar!?

— O que está acontecendo!?

As reações daqueles que recobraram a consciência foram todas iguais.

Como se tivessem sido programados para isso.

Tum-tum. Tum-tum.

Seojun já tinha recuperado os sentidos, mas sua mente continuava em desordem.

Foi então que alguém mencionou o fenômeno dos desaparecimentos.

Mesmo sendo uma voz fraca, suas palavras ressoaram forte dentro dele, como o canto de um galo anunciando o amanhecer.

— Primeiro de julho… m-meio-dia!

Seojun estremeceu.

Ao seu redor estavam seus colegas de classe. Não parecia que todos os colegas foram sequestrados, mas também não tinha só alunos da sua turma, a Classe E do 2º ano do ensino médio.

Havia estudantes de outras classes e até de outras séries.

Era difícil pensar direito.

Não sabia o que fazer, nem por onde começar.

Então um pensamento lhe veio à mente, como um relâmpago.

Sua família.

Todos os desaparecidos tinham algo em comum: a faixa etária.

Homens e mulheres entre 10 e 40 anos.

Seus pais já tinham passado dos 40.

Mas não suas irmãs mais novas.

A escola do ensino fundamental 2 da irmã do meio e a do ensino fundamental 1 da caçula ficavam bem perto da sua.

Antes de mais nada, precisava encontrá-las.

Foi então que Seojun começou a correr, como alguém fugindo de algo.

O suor frio escorria pelas costas sem parar, e sua boca estava tão seca quanto um deserto.

A praça mergulhou no caos com os gritos e passos apressados das pessoas que despertaram do torpor.

As vozes agudas de gente em pânico soavam como milhares de sinos tocando ao mesmo tempo.

No meio daquela confusão, Seojun parou de repente.

Seus olhos vacilaram.

Estava procurando pelas irmãs, mas no fundo torcia para que elas não estivessem ali.

Este lugar parecia perigoso demais.

— S-Seoyeon!

Ele encontrou a irmã do meio.

Seoyeon, que estava com algumas amigas, olhou em volta e seus olhos se encontraram com os dele.

Seu rosto parecia prestes a desabar em lágrimas quando ela gritou: — Irmão!

Em casa, a relação entre os dois não era das melhores, visto que viviam brigando só de se olharem.

Eles eram o retrato clássico de irmãos que não se suportavam.

Mas diante de um evento tão sem precedentes, essa relação frágil se quebrou como vidro.

Os dois correram um para o outro como ímãs se atraindo.

Antes, até esbarrar as mãos era motivo de birra, mas agora se abraçaram firmemente, sem pensar.

Seoyeon, nos braços do irmão, finalmente desabou em lágrimas e medo.

Seojun, por sua vez, consolou a irmã o máximo que podia.

Ele também estava assustado, mas não demonstrou, porque não podia. Afinal, era o irmão mais velho.

— E a Seohee? Você viu a Seohee?

— N-não. Não me diga que… a Seohee também veio?

Seoyeon estava naquela fase.

Ela estava no oitavo ano, uma idade cheia de dramas e rebeldias.

Mas ele também já foi assim.

Uma fase em que rascunhava sem parar os capítulos vergonhosos que hoje gostaria de apagar da memória.

Seojun respirou fundo, tentando manter a calma.

— Não sei. Consegue andar?

As pernas da Seoyeon ainda tremiam, assim como seu corpo.

Ela parecia um pouco melhor do que antes, mas ainda assim assustada.

Outras pessoas começaram a gritar pelos nomes de familiares e conhecidos.

A praça já confusa ficou ainda mais caótica.

Antes que o caos se espalhasse, ele precisava confirmar se a irmã mais nova estava ali.

— E se… e se a Seohee também estiver aqui?

— Vamos procurar agora.

O medo lhe apertou o peito, mas não disse nada.

Com medo de que as palavras se tornassem realidade.

Seojun e Seoyeon começaram a procurar a irmã mais nova, Seohee.

Logo, encontraram quem tanto procuravam.

Mas, em vez de alegria, o sentimento predominante foi de preocupação.

— Irmão!

Seohee correu ao encontro deles e se jogou nos braços dos dois.

Os três irmãos se abraçaram com força.

Os gritos e passos ao redor pareciam uma correnteza prestes a engolir tudo.

Seojun, temendo que se separassem outra vez, levou as duas para a beirada da praça.

Mesmo que só tivessem passado algumas horas longe, a sensação era de reencontro após anos.

Não sabiam o que fazer ou por onde começar.

A preocupação com os pais também apertou o coração do Seojun.

Só de pensar neles, uma emoção incontrolável brotou dentro de si.

Ele cerrou os dentes, tentando se conter.

Se desabasse ali, só causaria mais medo às irmãs.

Mesmo que este lugar fosse mais perigoso que a toca de um tigre, precisava manter a cabeça no lugar.

— Vocês estão bem? Algum machucado?

Seojun se esforçou para parecer calmo e forte.

— I-irmão… Que lugar é esse? Por que a gente está aqui?

Seohee falou entre soluços.

Bastava um empurrãozinho para ela desabar.

Essa emoção parecia ter contaminado Seoyeon também, cujo rosto tremia visivelmente.

Seojun não respondeu de imediato.

Temia que, ao abrir a boca, deixasse transparecer sua própria fragilidade.

Então apertou os braços ao redor das irmãs com força.

Em seguida, respirou fundo sem parar.

— Escutem bem. O que quer que aconteça, nunca se separem de mim. Entenderam? Fiquem sempre do meu lado. Sempre. Compreenderam?

Ele precisava ser o ponto de apoio delas. Essa era a sua única preocupação.

Se os pais não estavam ali, então ele era o protetor, o chefe da família.

Pela primeira vez, Seojun sentiu na pele o peso da responsabilidade.

— I-irmão… E a mamãe e o papai?

Com a pergunta da Seohee, a expressão da Seoyeon se desestabilizou.

Seojun também ficou abalado, mas se conteve.

— Eles vão ficar bem. Os dois… estão fora da faixa etária envolvida.

As irmãs o olharam, confusas.

Ao ver as expressões das duas, Seojun percebeu que elas ainda não compreenderam a situação direito.

— Vocês ouviram falar do caso dos desaparecimentos misteriosos, né?

— …!

— N-não me diga que é… o nosso caso!?

Seohee permaneceu em silêncio, mas Seoyeon arregalou os olhos em choque.

Seojun assentiu com firmeza, mordendo os lábios.

Talvez Seoyeon já suspeitasse.

Mas só agora, ouvindo da boca do irmão, ela aceitou encarar a verdade.

— Eu sabia…

Com a voz baixa, ela murmurou. Seojun então a puxou para mais perto, apertando-a contra o peito.

Ela tremia inteira.

Se fosse na Terra, algo assim jamais teria acontecido.

Nem com ele, nem com Seoyeon.

Mas nesta situação, eles se tornaram mais próximos como se fossem personagens de uma novel.

Ninguém disse mais nada.

Precisavam de tempo para pensar.

Seojun, Seoyeon e Seohee, todos em silêncio.

Enquanto isso, a praça seguia caótica.

Uns choravam de alívio ao reencontrar alguém.

Outros gritavam palavrões, sozinhos e desesperados.

Mas foi então que tudo cessou.

Por causa de uma voz estrondosa que ecoou por toda a praça.

— Sejam bem-vindos a Ardos.

No instante em que aquela voz ressoou, tudo parou.

Alguns segundos de silêncio, só que logo foi quebrado.

— Devolvam a gente pra casa!

— Por favor, nos deixem ir!

— Minha mãe está doente, pelo amor de Deus, levem a gente de volta!

Todos imploraram, quase chorando.

Seojun não era diferente deles.

Se pudesse, ele se ajoelharia mil vezes para voltar para casa.

Mas…

“Eles não vão nos mandar de voltar.”

Implorar era inútil.

Se voltar fosse possível, então aqueles levados antes já teriam voltado. 

Seoyeon e Seohee também gritaram como os demais.

Pareciam até um coro.

— Seoyeon, Seohee…

Seojun apertou as irmãs com mais força.

Elas pararam de gritar ao ver a expressão dele.

Seu rosto estava frio e racional.

— Nunca ouvi falar de ninguém que tenha voltado depois de ser levado. Então guardem suas forças. Mantenham a cabeça no lugar.

Seoyeon arregalou os olhos, como se não reconhecesse o irmão.

Mas não era só ela.

Seohee também parecia surpresa.

Esse não era o Seojun que conheciam, porque ele sempre fazia mais drama do que elas.

— Irmão? Você é mesmo o Park Seojun?

— É o nosso irmão… mesmo?

Ele ficou sem palavras com a reação delas; era assim que o viam?

Mas foi então que uma nova voz os interrompeu, poupando-o de responder.

— A partir de agora, vocês viverão como residentes de Ardos. Por ser um mundo estranho e perigoso, receberão habilidades com base nos talentos inatos de cada um.

A voz fez o anúncio unilateralmente. Como se ouvir ou não fosse responsabilidade de cada um.

Logo em seguida, uma luz branca e intensa envolveu todas as pessoas.

Sem exceção.

Seojun sentiu que este momento era tão importante quanto o vestibular.

“Me escolham! Por favor…”

Se fosse para escolher, ele preferia ser um habilidoso a um inútil.

Não por ele, mas por suas irmãs.

Pela primeira vez na vida, Seojun rezou com todo o coração.

***

Quando o brilho branco desapareceu, algo semelhante a uma janela de status de jogo surgiu repentinamente diante dos olhos de Seojun; ou melhor, dentro de sua mente.

A janela de status que apareceu do nada podia ser vista mesmo com os olhos fechados, ou simplesmente ao desejar vê-la.

Era como estar possuído por um fantasma.

Ficou confuso, mas ao mesmo tempo pensou se talvez ele fosse alguém que se encaixava nas condições mencionadas pela voz da praça.

— Os escolhidos podem compreender o significado do conteúdo da janela de status ao se concentrarem nela.

Quando pensou na janela de status, como a voz tinha dito, palavras inacreditáveis surgiram diante de seus olhos.

Pensou se outras pessoas podiam vê-la também, mas aparentemente não era o caso.

Usuário: Park Seojun (Masculino).  Atributo: Água (12★).  Nível: (0/333).  Força: 3.  Vigor: 3.  Agilidade: 3.  Respiração da Água: 3.  Inventário: 1 espaço.  Habilidades Básicas: Esfera de Água, Flecha de Água, Lança de Água.  Habilidade Especializada: Nenhuma.  Pontos: 0

Quem já jogou jogos estaria familiarizado com esses termos.

Como a voz falou, ele conseguiu entender o significado.

“Atributo” era literalmente um poder especial atribuído às pessoas, e havia quatro tipos diferentes de poder. Seojun compreendeu que tinha recebido o atributo da água.

A parte das 12 estrelas (★) indicava o número de ativações possíveis da “Respiração”, e após usar todas as doze, havia um tempo de recarga de cinco minutos.

— Os usuários de atributos recebem estrelas adicionais relacionadas à quantidade de ativações da Respiração. As 12 estrelas (★) são o limite máximo, conhecidas como Estrela Suprema.

“Estrela Suprema? Eu…?”

O tempo de recarga o incomodava, mas gostou do fato de ser uma Estrela Suprema.

A parte dos status era fácil de entender aplicando os elementos de jogos.

Mesmo assim, ele verificou para ter certeza.

Força: afeta a força física (Contudo, a partir do valor 5, usuários de atributos têm seus status de Resistência e Agilidade reduzidos pela metade a cada uso da Força equivalente ao valor usado)

Em resumo, usuários de atributos não deveriam investir em Força.

Seojun conferiu se Resistência, Agilidade e Respiração da Água também tinham esse tipo de limitação, mas felizmente não.

A restrição na Força indicava que os usuários de atributos deviam focar na Respiração.

Mas então por que existia esse status de Força? Era uma dúvida que ele não conseguia esclarecer. Assim como antes, a voz não permitia perguntas.

Falava apenas o que queria, como um gravador.

Antes que a voz falasse novamente, Seojun precisava verificar se tinha mais limitações.

O inventário aumentava em múltiplos de 10, e cada espaço podia armazenar até 100 quilos.

“Entendi as habilidades básicas… Mas por que não tenho uma habilidade especializada?”

Transformar a energia ativada em poder era possível apenas por meio dessas habilidades.

Parecia que as habilidades especializadas, marcadas como "Nenhuma", eram a chave para manifestar um poder mais forte.

— Dentro de uma hora, vocês serão enviados em grupos de 100 pessoas.  A área de um quilômetro ao redor das coordenadas de envio será uma zona segura por 30 dias. Fora dessa zona segura, há monstros chamados “Mutantes”. Por isso, nesse período, vocês devem se esforçar ao máximo para se adaptar ao ambiente. Se atingirem certas condições exigidas por este mundo, poderão obter um portal de acesso ao seu mundo de origem. Esta é uma promessa entre mundos, e vocês são a prova viva dessa promessa. Sinceramente, desejo boa sorte a todos.

A essa altura, pouco importava ter ou não habilidades especializadas. Esses pensamentos sumiram da mente dele.

A voz não mencionou os critérios para selecionar as cem pessoas.

Pessoas como Seojun, que se reuniram com sua família, protestaram surpresas, mas nada mudou.

— E se a gente for separado? Irmão!

Ele precisava de qualquer jeito ficar junto com suas duas irmãs.

Precisava encontrar um jeito. Alguma solução.

Seojun pensou desesperadamente.

Nunca na sua vida tinha se esforçado tanto para pensar.

Mesmo assim, não conseguiu encontrar nenhuma saída.

Tudo o que restava era esperar pela decisão final.

— Seoyeon, Seohee. Escutem bem o que o vou dizer.

Precisava considerar o pior cenário.

Precisava imaginar uma situação miserável em que fossem separados à força.

— As duas… foram escolhidas como usuárias, certo?

— Sim…

— Sim…

O fato de ambas as irmãs terem sido escolhidas como usuárias era, ao menos, um alívio.

Considerando que a maioria das pessoas recebeu a classificação de “inapta”, isso era uma sorte imensa.

— I-irmão, mas eu não tenho nenhuma estrela (★). Acho que sou uma usuária comum…

— Tá tudo bem. Não se preocupe com isso. Fique calma.

A única coisa que incomodava era que a irmã do meio não era uma usuária com atributo, mas sim uma usuária comum.

Ainda assim, sua situação era muito melhor do que a da maioria das pessoas que nem sequer foram escolhidas.

Muito melhor!

— Mesmo que a gente se separe, não devem desistir nunca… Onde quer que esteja, vocês precisam sobreviver. Se estiverem vivas, prometo que vou encontrar vocês. Não importa o que aconteça. Então… prometam que vão aguentar… que vão sobreviver.

— E-estou com medo. Medo. Não fale essas coisas, irmão… Sniff, sniff…

A caçula, Seohee, finalmente começou a chorar.

O medo e a tristeza que ela sentia perfuraram o peito do Seojun como uma lança.

Como uma agulha afiada.

Ela era uma criança madura, sempre se colocando como mediadora quando o irmão e a irmã do meio brigavam.

Dos três, Seohee era justamente a mais madura.

E agora, essa mesma garota voltou a ser apenas uma criança comum, chorando aos prantos e se agarrando a ele.

Seoyeon também estava se sentindo da mesma forma que Seohee, mas controlou suas próprias emoções ao ver a irmãzinha chorar. Com uma força admirável.

— E-eu também… Eu e a Seohee vamos nos encontrar de novo. Então… Então, Seohee, você tem que ser forte. Entendeu?

Seojun temia que, após Seohee, Seoyeon também se desabasse em lágrimas, mas a maneira firme — ainda que forçada — com que a irmã do meio se manteve o deixou orgulhoso, só que com o coração apertado ao mesmo tempo.

“A gente consegue ficar junto. Talvez na Terra fosse impossível, mas aqui a gente teve sorte…”

Seojun abraçou as duas irmãs com força.

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