Volume 1
Capítulo 2: Ardos! (2)
Num canto de uma floresta imensa intocada pelas mãos humanas, um grupo de pessoas apareceu envolto por um feixe de luz brilhante.
Eram exatamente cem. Todos surgiram por meio de um fenômeno misterioso, e nenhum deles parecia consciente.
Caídos como marionetes com os fios cortados, não havia sinal de que despertariam tão cedo.
Quanto tempo teria se passado?
De repente, as costas de uma daquelas "marionetes" se moveram.
— Ugh...
Com um gemido baixo, a figura se levantou, virou-se e sentou.
Era Seojun.
Não bastava ter perdido a consciência uma vez, ele tinha perdido duas vezes no mesmo dia.
Uma experiência desagradável que nunca mais queria repetir.
“Onde estou?!”
Parecia ter caído no meio de uma selva primitiva.
Árvores gigantescas, cipós grossos e vegetação densa por todos os lados. A sombra das árvores parecia ameaçadora, e os arbustos balançando ao vento davam a sensação de que se abririam a qualquer momento para liberar os "mutantes" que a voz na praça havia alertado.
Resumindo: tudo parecia perigoso.
Sua mente, antes turva, agora estava clara.
Os eventos na praça surgiram lhe vieram à mente como uma fotografia colorida.
“Transporte!”
Seojun se levantou com um pulo, como uma mola enfurecida.
Havia pessoas caídas por toda parte, mas tinha algo estranho nas roupas.
Usavam trajes longos e cinza, sapatos de couro e, na cintura de cada pessoa, um tipo de adaga parecendo um crachá de identificação.
Ninguém na praça estava vestido assim.
Então... quem eram essas pessoas?
Foi nesse momento que Seojun sentiu uma sensação rígida na mão.
Ao olhar para o objeto que havia tocado, seus olhos se arregalaram e sua expressão congelou como pedra.
— O que é isso? Essa adaga?
E não era só a adaga.
Ele também estava vestido como os outros.
A ansiedade por encontrar suas irmãs congelou instantaneamente.
Enquanto ficava parado, chocado, as pessoas aos poucos começaram a acordar.
E com isso, os gritos começaram a surgir de todos os lados.
— Onde é que a gente está agora?
— Aaah, um in-in... inseto! Que nojo!
— O quê?! Mas que lugar é este?!
Com o alvoroço repentino, os pássaros que descansavam nos galhos próximos levantaram voo em uníssono.
O som das asas batendo substituiu o susto pela mais pura sensação de medo.
Tudo isso... por causa de uns pássaros.
Um silêncio se espalhou. Breve, mas intenso.
— Suna! Suna!
— Dongshin! Dongshin!
As vozes de quem procurava familiares e conhecidos quebraram o silêncio.
E com isso, a confusão de Seojun também se desfez, porque também tinha alguém para procurar.
— Seoyeon! Seohee!
“Por favor, estejam aqui... por favor!”
Com o coração aflito, ele gritou e começou a correr, procurando por toda parte, mas não viu sinal das irmãs.
Cem pessoas foram transportadas. Excluindo Seojun, sobravam 99 pessoas, o que não era um número tão grande.
Mesmo assim, levaria um tempo para verificar todos.
Afinal, não estavam em um campo aberto.
E foi quando Seojun se deparou com o pior cenário possível.
Suas pernas fraquejaram, e um sentimento de raiva emergiu do fundo do peito.
“Merda, merda, merda...!”
Até há pouco, elas estavam em seus braços.
O calor e o toque delas ainda estavam muito vívidos nas suas mãos.
— AAAAAAAAH!
Ele não aguentou.
Tomado pela raiva, tristeza, frustração e desespero, Seojun gritou feito um louco.
Se não fizesse isso, sentia que iria sufocar e cair morto ali mesmo.
Aos poucos, sua cabeça quente começou a esfriar.
E com isso, o calor das irmãs também se esvaiu das mãos.
Queria agarrar e não soltar, mas era impossível.
Apertou os punhos vazios com ainda mais força.
“Elas estão bem. As duas. Vai ficar tudo bem. Só preciso encontrar... elas.”
Ele as encontraria, custasse o que custasse.
Firmando sua determinação, Seojun respirou fundo sem parar para se acalmar.
Aos poucos, suas emoções turbulentas se acalmaram.
Antes de mais nada, precisava organizar seus pensamentos e montar um plano.
Sair vagando sem rumo nessa floresta, ignorando o peso do ambiente e os avisos da voz da praça, seria suicídio.
“Zona segura”, “sobrevivência”, “condições específicas”, “o pacto entre mundos”... Essas palavras passaram pela sua mente como ferro em brasa.
Gotas começaram a pingar sobre seus punhos cerrados.
Eram lágrimas.
Achava que já tinha se acalmado, mas não era bem assim.
As pessoas ainda procuravam por seus entes queridos, gritavam em desespero, algumas com ódio.
Outras choravam em silêncio ou soluçando alto.
Tudo isso o afetou.
Parecia que iria se afundar nesse caos.
Seojun esfregou os olhos com força para tentar recuperar o juízo.
Foi quando, como se acendesse uma luz num quarto escuro, sua mente clareou.
A luz do pensamento.
“Podemos voltar para a Terra se cumprirmos certas condições.”
Foi isso que a voz na praça disse.
“Mas, quando estávamos na Terra, ninguém que foi abduzido voltou. Isso significa que é algo extremamente difícil.”
Não seria algo resolvido em um ou dois dias.
Antes disso, era mais urgente encontrar suas irmãs e...
“Tenho que me preparar.”
Precisava fortalecer o poder que recebeu.
Tinha recebido poderes, mas não fazia ideia de como usá-las.
Enquanto analisava sua situação com calma, Seojun ouviu um grito.
— Kyaaaaaaaah!
No mesmo instante, todos pararam o que estavam fazendo como se o tempo tivesse congelado.
Afinal, estavam numa floresta. E não qualquer floresta: uma selva primitiva.
Sobreviver nas selvas primitivas da Terra já era uma tarefa difícil. Quanto mais numa de outro mundo.
E ainda por cima cheia de "mutantes", monstros sem precedentes.
Seria um mutante? Ou um animal selvagem?
De qualquer forma, ambos eram perigosos.
Como se estivessem programados, sinais de alerta soaram na mente de todos.
Ninguém se moveu.
Alguns tentaram se afastar do local do grito.
Mas não foram muito longe, porque não havia para onde fugir.
— P-puta merda.
— Estou fodido.
— É um mutante?
— Não devíamos ir ver?
— Vai você! Por que está olhando pra mim?
— Você é homem.
— E daí? Homem não é gente?
— Covarde!
— Então vai você, sua vaca!
Todos ficaram empurrando a responsabilidade para os outros.
— Ei! Devem ter usuários entre nós, né? Vocês receberam poderes, não foi? Foi pra esse tipo de coisa que aquele... aquele maldito nos deu habilidades!
A maioria da praça não tinha recebido nenhum poder. E a maioria dos transportados também estava nessa condição.
— É, isso! Usuários, era isso? Enfim, vocês que vão!
As pessoas começaram a exigir que os usuários tomassem a dianteira.
Ou melhor, forçaram essa responsabilidade neles.
Por um instante, Seojun ficou furioso com a atitude deles.
Parecia que estavam jogando vidas alheias como se não fossem nada.
Mas também não podiam continuar parados.
Usuários podem ficar mais fortes com o tempo, como personagens de jogo que evoluem de nível.
Ignorar esse benefício seria tolice.
Por isso, Seojun decidiu ir até o local do grito.
“Podiam ao menos me dar tempo pra treinar.”
Não sabia o quanto isso representava, mas certamente era melhor que um humano comum.
No momento em que ia se mover, alguém passou por ele, correndo em direção à origem do grito.
Um homem com aparência de uns vinte e tantos anos, cabelo curto, pele bronzeada e físico robusto.
Seus movimentos não eram normais.
“É um usuário de atributo como eu? Ou apenas um usuário comum?”
Seojun também correu atrás dele.
Foi então que outras pessoas começaram a se mover também, como se tivessem percebido que fugir não resolveria nada.
“Sinto que meu corpo está mais leve que antes...”
Seojun ficou surpreso com sua própria agilidade.
— O-o que é aquilo? Que coisa horrível!
— C-caralho. Só de olhar já me dá arrepios.
— Os mutantes que aquela voz mencionou eram... aquilo ali?
O grito veio de uma mulher jovem.
Ela tinha caído um pouco afastada do grupo desde o início.
Ao recuperar a consciência, deu de cara com o mutante.
A criatura era horrenda, com uma cabeça desproporcionalmente grande em comparação ao corpo pequeno e atarracado.
A princípio, seu tamanho parecia inofensivo.
Mas, ao observar seus dentes e garras, qualquer ilusão de segurança desaparecia por completo.
Seojun analisou a criatura com atenção, porque teria que enfrentar essas coisas no futuro.
“Será que consigo?”
Seu olhar pousou na adaga.
Se lutasse contra o mutante com essa adaga... Sua imaginação criou a cena.
Uma luta intensa e imaginária se desenrolou na sua mente, só que o vencedor… não seria ele.
Pelo menos, não neste cenário
Mas isso era imaginação, não a realidade.
Se realmente lutasse com a intenção de matar ou morrer, a história poderia ser diferente.
Era uma questão de vontade.
A mulher, por outro lado, não tinha nem um pingo de vontade de lutar, visto que ela só conseguia gritar. Nem mesmo pensou em fugir.
Ter essa mentalidade em um mundo como esse era puro suicídio.
“Aquilo é a zona segura?”
Uma barreira translúcida separava a garota do mutante grotesco.
Era uma barreira fina.
Mesmo assim, o mutante cabeçudo não conseguia atravessá-la, apenas desperdiçava energia.
— Você está bem? — O primeiro a chegar foi o mesmo homem de vinte e poucos anos que tinha se destacado antes. Ele se aproximou da mulher e perguntou com calma.
— O-o que é isso? Por que essa coisa está bem na minha frente?
A mulher balbuciava, completamente desnorteada.
E não era a única assustada.
Aqueles que seguiram o grupo também tremiam, chocados.
O mutante, que hesitava diante da multidão, começou a agir com agressividade assim que percebeu o medo deles.
“Fingindo ser durão.”
Pelo menos aos olhos de Seojun, era o que parecia.
Como os valentões que só sabiam bancar os durões, mas na verdade eram fracotes.
E esse tipo sempre fingia ser forte.
Pensando bem, ele achava ter visto esse tipo na praça mais cedo.
Se continuassem agindo como faziam na escola, acabariam mortos bem rápido.
Pensar neles era perda de tempo.
— Fique calma. Ele não consegue entrar. Olha, ele está só fazendo escândalo do lado de fora.
As palavras do homem acalmaram a mulher.
Ele se levantou.
Tinha cabelo curto e pele escura; parecia um militar.
— Moço, o senhor é militar? — uma garota que parecia estar no ensino fundamental perguntou.
O homem hesitou por um instante diante da pergunta, com uma expressão estranha, mas logo respondeu: — Sou entregador.
Houve um leve murmúrio de decepção.
Não havia hierarquia em profissões.
Mesmo assim, algumas pessoas passaram a olhá-lo com desprezo assim que ele revelou o que fazia da vida.
Claro, nem todos foram assim.
Apenas aqueles que ainda não haviam se adaptado a esse mundo reagiram assim.
Diferente deles, Seojun observou o homem atentamente.
“Ele é, no mínimo, um usuário.”
Enquanto vinha para cá, Seojun observou atentamente os movimentos das pessoas.
E com isso, percebeu que uma garotinha tinha corrido muito mais rápido do que homens adultos.
Algo impossível segundo os padrões da Terra.
Mas tudo era possível em Ardos, este mundo maldito.
— Então, isto aqui é mesmo uma zona segura.
— Ou seja, aquelas coisas não conseguem nos atacar aqui dentro.
— Que alívio.
Alívio? Isso acabou de ser dito, mas alguém os lembrou da verdade.
— Só dura 30 dias.
— Ah, é mesmo. Ele disse isso. Droga. Então quer dizer que, depois de 30 dias, aquelas coisas vão poder entrar aqui.
Como se tivessem recebido uma prévia do desastre que os esperava, os rostos das pessoas empalideceram.
Mas Seojun não se importou muito com a conversa preocupada deles.
Este lugar era uma zona segura; um local onde estariam protegidos por 30 dias.
Então, o que ele deveria fazer durante esse tempo?
A primeira coisa que lhe veio à mente foi que precisava ficar mais forte.
Tanto mental quanto fisicamente.
“Preciso caçar esses monstros.”
Usuário de atributo da Água.
Esse poder... não era comum.
Quando Seojun pensou no atributo da Água e na "Respiração da Água", algo mudou nele.
Uma energia refrescante o envolveu, como se estivesse esperando por isso.
Sem querer, ele ativou a Respiração da Água e, instintivamente, compreendeu o que significava.
Quatro pessoas na multidão perceberam sua mudança.
O entregador corajoso, um homem de aparência indiferente de uns trinta anos, uma mulher na casa dos vinte e uma garota do ensino fundamental.
Seojun, no entanto, não percebeu isso.
Estava focado na sua própria transformação.
Foi então que, sem querer, pensou em uma forma de atacar. Algo que poderia ferir; as habilidades básicas.
— O-o que é aquilo?!
— Parece uma flecha!
— Tem uma flecha flutuando na frente dele!
Era verdade.
Sem querer, Seojun transformou a Respiração da Água ativada em uma Flecha de Água.
“Será que consigo derrotar o mutante com isso?”
Essa ideia simples foi o suficiente para ativar a habilidade.
No mesmo instante, as quatro pessoas que reagiram à sua energia também entenderam como ativar suas próprias Respirações.
Não que fosse difícil. Afinal, as informações estavam escritas na janela de status.
De qualquer forma, isso permitiu que Seojun identificasse os outros usuários de atributos.
“Eles... também são usuários de atributos!”
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