O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 16: A Batalha Contra os Orcs

— AROKI! AROKI! AROKI! — continuou a gritar enlouquecidamente. Ele chutou o cadáver dela e bateu com as mãos contra o chão, criando um leve tremor que até à distância consegui sentir.

Estava com raiva, frustrado e inconformado. Eu conseguia compreender o sentimento. Não poderia ter certeza, mas, para chegar àquele ponto de fúria, algo de terrível havia acontecido entre os dois.

Levar como algo leviano essa situação poderia me custar caro. Muito caro mesmo.

Depois de descarregar sua fúria no corpo, ele se virou para os restantes. Seus olhos fixaram-se na bela jovem e a sua fúria diminuiu.

Ele abriu um enorme sorriso e disse algo como: “Você deve servir”. Claro, ele falando era completamente diferente. 

O orc nobre parou de se esconder atrás dos demais e entrou no combate. Carregava uma tora de madeira extremamente grande.

— Droga. Eu preciso salvar a Cristal e dar o fora daqui. Como eu faço isso?! 

Tentei observar todos os lados. Havia cabanas de madeira, orcs desgarrados, os muros de madeira e mais uma dúzia de escombros.

Nada parecia poder me ajudar. E, era tarde demais, o nobre partiu para o ataque. Ele bateu com a tora de madeira em dois outros orcs.

Eles tentaram se defender, porém não resistiram. Seus braços se partiram em dois. Os ossos saíram para fora, o sangue manchou o chão e a tora continuou descendo, esmagando os crânios.

Como um enorme Juggernaut, ele correu com o corpo gorduroso para frente. Quebrou as defesas, jogou os orcs restantes com força, passando por eles como se fossem folhas de papel e, afinal, chegando na jovem.

Ele agarrou o seu corpo e ela se debateu tentando escapar, mas não daria. Quando vi seu olhar lascivo, entendi o que ocorreria.

— Talvez essa seja minha chance de fugir... — Não deu nem tempo de terminar de falar.

Cristal deu um tremendo salto nas costas do orc nobre. Ela mordeu, arranhou e rasgou, furiosa. Não temia o forte adversário.

— Ah! Merda! 

Sem escolha, corri na direção da batalha. Pela minha análise, havia mais de 30 inimigos; do lado aliado, menos de 10.

Era uma batalha perdida. Eu sabia disso, minha mente sabia disso, meu corpo sabia disso, a habilidade Mente Serena sabia disso...

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[Habilidade Mente Serena] Ativada

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Não! Eu não posso...! Agora não!

De repente, o tempo pareceu parar. Os orcs lutavam entre si em câmera lenta e as roupas da jovem eram rasgadas devagar enquanto eu encarava a situação com frieza.

Conforme os milésimos passavam, o tempo finalmente parou por completo e pude encarar a situação de forma diferente

Com um piscar vagaroso dos meus olhos, uma figura se apresentou, alguém que eu conhecia bem.

Ele era magro — quase desnutrido, um verdadeiro fragelo em forma de gente — possuía um olhar cansado com grandes olheiras negras que caíam sob os olhos.

E os olhos... tão mortos quanto o de um peixe secando no deserto.

Usava roupas de marca, mas que estavam sujas. Ele parecia não as trocar há muito tempo, mas também não parecia alguém que viria a se importar com isso.

Como eu o conhecia? Ele vivia comigo. Ele era eu.

— Olá, Kayn — cumprimentei.

— Olá, Kayn — respondeu.

Nossos olhos se encontraram e ele levantou um pequeno sorriso de canto.

— Continua sendo a mesma pessoa, mesmo com essa aparência diferente.

— Se você está dizendo... Mas quem é você? Você de verdade?

O sorriso de canto se tornou um enorme sorriso completo.

— Eu sou você, idiota. Um você que aparentemente se esqueceu. Um você antes de entrar em Vanglória e começar a ter pensamentos. Esses desejo e vontades. O verdadeiro você.

— A sua aparência parece mais a de um mendigo, mas está bem — debochei.

— Ah, Kayn. Parece que o senso de humor é algo que nunca perdemos.

Eu já estava sem paciência para aquela situação e fui direto a questão.

— O que você quer?

— Eu? Eu não quero nada. Você é quem quer uma solução para os seus problemas e eu, a melhor versão de você, estou aqui para ajudá-lo. Eu sou a voz da razão. Para que não se confunda, pode me chamar de A Mente Serena.

— Como você me ajudaria então?

— É simples. Eles ainda não te viram. Dê meia volta, retorne a masmorra e finja que nada aconteceu. Conte uma história qualquer em que torna Cristal uma heroína que se sacrificou por você. — Ele disse tudo com aquela nojenta falta de empatia dele.

— Você quer que eu seja um covarde? Um covarde como você?

— É, eu quero que seja. Eu sou você.

Era verdade. Ele não era o meu eu incrível de Vanglória, mas o meu eu interior. Uma pessoa que ainda não havia visto o quão incrível era Vanglória com os próprios olhos.

Alguém que eu tinha medo de voltar a ser. Uma criatura que pensei ter morrido dentro daquela cápsulas de jogo.

— Eu quero que você seja inteligente. Do que serviria tentar ajudar se vocês dois vão morrer? É isso que você quer, morrer de novo?

— Eu já morri uma vez. Duas vezes seria divertido. Talvez a terceira vida seja a da sorte, não é?

— Por que está agindo dessa forma? Você e eu ainda somos a exata mesma pessoa. Nada mudou desde que veio para cá. Você ainda é tão lixo quanto eu.

— Uma coisa mudou — Me levantei, minha aparência ficou idêntica a dele, até mesmo as roupas, olheiras e a desnutrição.

— O que mudou? 

— Podemos ainda ser a mesma pessoa, mas eu tenho alguém para proteger e você continua sozinho.

Ele sorriu com desdém. Aos meus olhos, ele parecia enorme e intocável. Entretanto, surpreendentemente, deu um passo para o lado, saindo do meu caminho.

— Kayn, você está vivo até hoje graças a mim. Se você quer acabar com a sua vida sozinho, fique a vontade. Eu estarei aqui, esperando por você quando você finalmente se der conta de que sem mim, você não é nada. Vamos ver o quão longe você consegue ir sem mim.

— Você, você, você, você. Não sabe falar outra coisa?

— Então direi. Boa sorte, Kayn. Quando o poder lhe consumir, estarei aqui. Ainda acha que aquela sede de sangue é algo normal?

Ele sumiu e, com um estalar de dedos...

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[Habilidade Mente Serena] Desativada

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...estava na realidade outra vez. Mente Serena se desativou e eu conseguia controlar meu corpo.

O medo desapareceu, tudo ainda parecia um pouco mais devagar e eu enxergava o que antes não conseguia.

— Cristal, abaixe-se! — gritei.

Ela me escutou e se abaixou. O golpe passou por cima da sua cabeça e ela correu para outro contra-ataque sem pestanejar. 

Puxei uma lança de madeira e também me preparei.

— Cuide dele que irei cuidar dos outros! 

29 inimigos. 

Me movimentei com agilidade entre a multidão. Passei entre eles como uma sombra. Meus passos eram precisos e velozes.

A poeira subia e o meu rastro desaparecia, deixando-os confusos. Com a lança na mão, comecei meu abate. Apareci por detrás de um, e cortei seu tornozelo.

Ele caiu de joelhos, corri para o outro lado, pois tentou me capturar com as mãos. Bati com minha lança contra as suas costelas e, em seguida, acertei o seu pescoço.

O sangue fluiu como um rio, caindo em cima de mim e no chão. 

Eu estava em um estranho mundo de êxtase. As minhas presas ficaram salientes, meus olhos trocaram de cor para um carmesim sangue, mas eu não percebi isso. 

Prossegui para o próximo, enquanto uma dor começou a percorrer pela minha pele que queimava ao sol.

Outro orc veio correndo e eu simplesmente o encarei de frente. Ele desceu um poderoso golpe e saltei para trás. O taco de madeira encontrou-se apenas com chão.

Poeira levantou quando comecei a escalar o cabo de madeira, subindo pelo antebraço do homem porco.  Ele, desesperado, tentou retaliar com outro golpe, porém saltei!

Minha lança criou uma linha branca no ar junto do meu corpo. O golpe acertou um dos olhos do orc e todo o peso do meu corpo o jogou no chão na direção contrária.

Levantei de mãos nuas, a lança quebrada ao meio e o corpo sob meus pés completamente pintado de vermelho.

Minha pele foi tornando-se branca, as guelras, escamas, orelhas afiadas e todas as outras características foram sumindo. 

Apenas o meu rabo que era algo único meu continuou normal. Até as minhas asas que nunca cheguei a usar desapareceram.

Cada vez mais queimava ao sol e cada vez mais a sede, aquela vontade inerente de devorar os que estavam na minha frente, crescia intensamente. Estava ficando louco.

Sangue e mais sangue me pintava. Eu chegava a babar, respirando enlouquecidamente. Isto continuou, até que... 

Eu me tornei outra criatura. 

Um ser das trevas, uma criatura que assombravam os pesadelos dos homens, um monstro imortal e incansável.

 

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[Habilidade ❂❂❂❂❂❂] Ativada

Linhagem Desbloqueada

Vampiro

Todas as estatísticas cresceram 5 pontos permanentemente

[Habilidade: Vampirismo] Adquirida

[Habilidade: Força Monstruosa] Adquirida

[Habilidade: Magia das Sombras] Adquirida

[Habilidade: Força Monstruosa] Ativada

Estatísticas de Força Triplicará pelo período de 3 minutos

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Meus olhos vermelhos piscaram, minhas presas afiadas e brilhantes reluziam e minha sede por sangue era voraz

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[Informações]

Nome: Kayn 

Raça: Vampiro | Nível 6

Raridade: Especial  | Grau:1

Classe: Mestre da Masmorra | Emblema: Vampiro

]Estatísticas]

Força: 63 | Velocidade: 21 | Vigor: 21

Destreza: 21 | Inteligência: 31 | Mana: 51

[Habilidades]

[Ativas]

Domar | Dominação

[Passivas]

Mente Serena

 Maestria com Lança

[Especiais]

 Criação de Masmorra 

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[Linhagem]

Força Monstruosa |  Vampirismo 

[Magia]

Magia das Sombras

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Muita coisa havia mudado, mas eu não me importava em pensar nisso. Naquele instante, só uma coisa vinha à minha cabeça.

O poder... ele é... delicioso!

Um orc veio correndo na minha direção. Ele usou toda a força para me acertar um golpe, mas eu simplesmente aguentei com as mãos nuas. 

Parecia assustado com minha reação e tentou fugir, mas não lhe dei chance.

Segurando a ponta contrária do taco, ergui o seu corpo inteiro e devagar. A expressão no rosto dele ficou branca, era sublime. 

E, então, esmaguei o seu corpo contra o chão feito um inseto. A força de impacto foi tão poderosa que abriu um pequeno buraco.

Peguei minha lança de madeira e corri para frente enlouquecido. Minha força era tão tremenda que perfurei um, dois, três, quatro deles seguidos e continuei com um largo sorriso no rosto.

Minha expressão causaria medo em qualquer criança. Talvez eu tivesse me tornado aquilo que os pais diziam não existir dentro do armário.

Um verdadeiro monstro.

Três minutos. Durante esse tempo, eu faria um banquete. A força que eu tinha era incrível! Eu me sentia um Deus; invencível e inalcançável.

O poder absoluto, mas eu sabia que poderia ter mais e mais... A sede de sangue não acabava...

— Eu preciso de sangue! — esbravejei aos céus.

Um orc correu para me atacar. Puxei minha lança, cortei pela esquerda, acertei a mão que segurava o cabo do taco e girei meu pulso. Como uma cobra, a lança se moveu até o peito.

Perfurou um lado e saiu pelo outro. Ergui o corpo ao ar e, como chuva, o sangue caiu. Embaixo, comecei a beber o líquido quente que possuía gosto de ferro.

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[Habilidade: Vampirismo] Ativada

Vigor vai se recuperar rapidamente.

Ferimentos vão se regenerar rapidamente.

+1 ponto em todas as estatísticas por um curto espaço de tempo

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Era incrível. O sabor, a textura, a quentura e o poder! O poder era a melhor parte. 

Capacidade, talento, esforço? Nada poderia se comparar àquela força absoluta.

O meu massacre continuou e, nos próximos dois minutos que se seguiram, eu não era um mero homem.

Um homem era constituído de 7 pecados.

Pecados inescapáveis que faziam parte do ser humano — pecados capitais — e, naquele momento, eu sentia Orgulho.

Arrogante, vencedor, com um complexo de superioridade abissal, de fato, a soberba em pessoa.

Um traço intrínseco meu que escapou, ou algo causado pela transformação repentina? Não me importava. Apenas o tempo diria.

E, quando finalmente voltei a dar conta de mim, estava de pé sobre um palanque de corpos exatamente dois minutos depois de adquirir aquelas estranhas novas habilidades.

Devorei ainda mais sangue, aumentando minhas estatísticas por um curto espaço de tempo. Entretanto, mesmo sobre aquele pilha de cadáveres, ainda sentia que faltava algo.

Ele, o orgulho, a soberba, ainda me corrompia.

— Ainda tem um...

Meus olhos vermelhos brilharam quando encarei o rosto do último inimigo. Cabelos loiros, um rosto gordo, raivoso, que ainda lutava contra uma cansada loba branca.

O nobre era o último!



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