O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 7: Crime e Punição

Prosseguimos pela floresta com cuidado. O cheiro de sangue do coelho poderia atrair animais, o que não seria nada agradável. O lobo branco estava ferido e, apesar de não ser grave, tornava a capacidade de combate dele quase nula.

Logo, escutei sons vindo na nossa direção. Agarrei o lobo, coloquei nas costas e corri para trás de um árvore, esperando poder escapar de qualquer perigo.

O som suave de galhos quebrando, passos lentos e respirações baixas, demonstrava para mim que, o que estivesse vindo, estava caçando.

Todos os barulhos eram ruidosos e a tentativa de esconder suas presenças era péssima. Abaixei um pouco a guarda, pois o que se aproximava não era uma ameaça realmente grande.

Meu medo diminuiu, porque chutei que aqueles que vinham eram meus subordinados.

E, como se para atender, ou não, minhas súplicas, um goblin baixinho atravessou por entre a moita.

Sabia que eram burros, mas isso quebrou minhas expectativas. Acho que nem a I.A mais idiota de Vangloria poderia se comparar a burrice e descuido dessas criaturas.

A dupla nem percebeu que o seu mestre estava a poucos metros deles e continuaram andando. Pareciam buscar por algo, falhando completamente em tentar esconder suas presenças. Suspirei com a situação trágica desses goblins.

 Se fossem eles encontrando com o coelho, estariam mortos.

Coloquei o lobo branco no chão, caminhei então na direção dos goblins e os chamei. Os dois pequenos olharam para trás assustados, pois agora eu já estava logo atrás deles.

Dei um tapa na cabeça de cada e prosseguimos juntos.

Após mais um dúzia de metros, sons de batalha ressoaram pela mata. Corri na direção dos barulhos, deparando-me com uma cena cômica, mas brutal.

Três goblins estavam caídos no chão sangrando muito e outros dois tentavam lutar desesperadamente contra um outro coelho de chifre.

Antes de tentar salvá-los, decidi eliminar a ameaça. Segui pelo mesmo esquema anterior. O coelho atacou e, no processo de queda, contra ataquei com uma flechada.

A flecha voou em alta velocidade, mas em pleno ar, o coelho se moveu um pouco, tentando desviar. Contudo, apesar da falha tentativa, a flecha ainda atravessou a pata dele e o arremessou contra uma árvore.

Isto me deu tempo de ir socorrer os caídos. Um Goblin morreu; os outros dois estavam gravemente feridos. Tentando ajudá-los, sujei minha mão de um sangue vermelho vívido.

Há algo errado...

Os goblins caídos gritavam pelo desespero de suas almas. A dor, profunda e ardente, os fazia tremer impiedosamente em espasmos contínuos.

Neste momento me dei conta, afinal, do que significava a realidade.

Isto não é um jogo; minha vida está em risco... mas há algo de errado.

Dei um passo desesperado para trás, enquanto observava os pequenos servos agonizarem e se afogarem no próprio sangue.

Minha respiração tornou-se pesada. Inalava o ar com dificuldade e meu peito doía ao ponto de quase cair no chão. Meus olhos começaram a brincar comigo, tornando tudo embaçado, escuro e duplicado.

Eu acho que não consigo aguentar isso...

Quando estava caindo... uma mensagem ressoou.

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[Habilidade Mente Serena] Ativada

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Naquele momento, o tempo parou por um instante. Minha respiração normalizou-se um pouco, minha visão turva retornou ao normal e minha mente voltou a trabalhar como antes; até, ouso dizer, melhor que antes.

Encarei a situação pensando no que poderia fazer, sendo o mais racional. Um dos goblins já havia perdido sangue demais, mas o outro ainda tinha chances.

— Vocês quatro! Peguem-no e retornem para a masmorra agora! Vou alcançá-los logo.

Os goblins seguiram minhas ordens e agarraram o seu companheiro caído, correndo de volta para a Masmorra.

No lugar, sobrou apenas eu, o coelho, o lobo, o corpo morto de um goblin e o outro ferido.

Peguei uma flecha e me aproximei do ferido. Ele tremia e os olhos reviravam. A vida dele foi curta, porém morreu seguindo minhas ordens. Ele não merecia sofrer.

Segurei o corpo dele para acalmá-lo, tomei a flecha em mãos e cortei para baixo em direção ao peito desprotegido dele. Após mais alguns poucos segundos tremendo, ele se foi aos poucos...

O lobo branco encarou a cena por detrás de mim, soltando um uivo alto e poderoso aos céus. Ele parecia orar pelo caído.

Peguei os corpos dos dois goblins, recolhi as suas pedras de mana e os coloquei lado a lado na copa de uma grande árvore.

Logo algum animal apareceria para devora-los; era e inevitável, mas eu possuía suas pedras de mana e era isso que importava.

Pelo menos poderia salvar um pedaço deles.

— Lobo branco, venha, ainda precisamos salvar o outro — disse, pegando o coelho ainda vivo, embora desmaiado, pelas orelhas.

O lobo Ignorou a dor que sentia e apenas me seguiu de perto em silêncio.

A princípio, estava com medo, mas quando a habilidade ativou, senti minha mente se aliviar. Junto desse alívio, percebi que o número de Goblins não batia.

Há realmente algo de errado.

A minha raiva se tornou uma verdadeira fúria. Algum dos goblins havia traído minhas ordens e abandonou o seu companheiro.

O lobo branco não soltou um pio. Não era por luto, ou qualquer outra baboseira do gênero. Ele estava com medo, porque a expressão no meu rosto era a de um verdadeiro demônio em fúria.

Chegamos rapidamente na masmorra. Entrando, deparei-me com o esqueleto e o primeiro goblin, carregando cada um o corpo de um coelho.

 Era surpreendente, mas decidi focar no goblin ferido. Não tinha tempo para gastar nisso.

Cheguei até os goblins e percebi que se não fizesse nada em breve o pequeno morreria. Rapidamente abri a tela de status da masmorra.

[Informações]

Masmorra

Nome: Nenhum | Tipo: Torre

Raridade: Único | Grau: 1

Servos: 11

Andares: 2 | Andares Subsidiários: 0

Pontos: 610

Requisito para próximo Grau: 1000 Pontos | Monstro Incomum | Monstro de Grau: 2

[Bônus]

Monstros Dominados e Domados tem um chance de receber a habilidade Mente Calma

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Rapidamente abri a loja e procurei por um item específico. O alívio me abateu quando encontrei o que desejava.

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[Item]

Nome: Poção de cura Fraca

Tipo: Poção de Cura

Grau: Comum

Usos: 3/3

Descrição:

Cura ferimentos instantaneamente

Custo: 100 pontos

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Comprei rapidamente a poção e, como se em um passe de mágica, ela tomou forma entre os meus dedos. Era um frasco de vidro não muito maior que um dedo indicador. Dentro dele, um líquido vermelho pulsante repousava.

Puxei a tampa do frasco, virei dentro da boca do goblin, mas apenas isto não resolveria. Comprei mais, e outra, e outra... Até que...

— Ele parou de tremer — contei aliviado.

Os goblins colocaram o seu pequeno companheiro no chão; pareciam também aliviados. Gastei, outra vez, quase todo os meus pontos, mas tinha certeza de que valeria a pena.

A Mente Serena não me deixaria agir de forma ilógica, portanto entendi que salvar aquele pequeno traria-me benefícios futuros.

Todos viram os meus esforços para salvá-lo, tornando-me um líder gentil, mas também, todos veriam o que viria a seguir, tirando de suas mentes a ideia de que um dia poderiam me desobedecer.

— Você — Apontei para o primeiro goblin invocado. — traga todos de volta para a masmorra.

Sem pestanejar, ele saiu correndo acompanhado do esqueleto. Verifiquei a situação do pequeno ferido; estava tudo ótimo com ele. Livre dessa preocupação, sentei em uma rocha e esperei calado.

Cerca de uma hora passou quando goblin retornou com todos aqueles que estavam do lado de fora. Aparentemente, nada de ruim ocorreu com eles.

Logo, busquei pelo traidor. Todos estavam acompanhados de suas duplas, assim como designei, mas havia um único sozinho. Ele estava de cabeça baixa em um canto, tentando passar despercebido.

— Segurem-no — disse com frieza.

Percebendo o que estava para ocorrer, ele tentou sair correndo, mas eu era o mestre daquela masmorra e, apesar de tudo, ele ainda estava ligado à mim.

— Parado.

Como se uma força invisível o prendesse, ele deu uma parada brusca no ar. Desobedecer minhas ordens, era ir contra a própria vontade do seu criador. Para fazer isso, duas de um total de três condições eram necessárias.

Não estar submetido a dominação, ou seja, a minha vontade, ser mais forte do que eu e não temer a morte.

Ele não era mais forte do que eu, mas também não estava sobre efeito da dominação, portanto a única coisa lhe pretendo era o medo da morte.

— Lutar contra o seu criador; é lutar contra a sua própria existência, pequeno. — Misericórdia não estava no meu vocabulário e eu nunca pretendia adicionar. — Segurem-no.

Com essa chance, o primeiro goblin invocado e um outro agarraram os braços do traidor.

— Primeiramente, esta é uma mensagem para todos aqui. — Fiz minha voz ressoar com profundidade em suas mentes. — Se me obedecerem, fizerem o seu trabalho bem e com verdadeiro ímpeto, nunca passarão fome, frio e nunca precisarão temer.

Dei um passo a frente, coloquei uma flecha no arco e puxei para trás.

— No entanto, se desobedecerem uma ordem por covardia, se tentarem me trair, até mesmo pensarem nisso, e, por fim, se outra vez abandonarem um companheiro para morte...

Soltei a flecha que voou até o ombro do pequeno, fazendo-o gritar de dor.

— A morte vai ser para onde estarão indo. E agora, apenas para você, pequeno traidor. Pelo crime de covardia, de desobedecer uma ordem clara minha e abandonar um companheiro, declaro-lhe: um cadáver.

Vendo que não teria chance de sobreviver, aquilo que segurava o goblin quebrou, pois ele já sabia que morreria. Ele retorceu-se e tentou escapar, mas o esqueleto segurou os seus ombros e eu proclamei:

— Lobo, mate-o!

Um rosnado surgiu e, em seguida, apenas um grito curto que foi substituído pelo som dos ossos quebrando um a um, enquanto o cadáver ainda quente era devorado.

Deixei a cena sob os olhares de temor e respeito. Caminhei sozinho até a sala do trono. Lá, isolado de todos, coloquei a mão no peito.

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[Habilidade Mente Serena] Desativada

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Quando a habilidade desativou, o meu coração acelerou. Meu semblante intocável, digno de um Oscar, foi substituído por nojo e desgosto.

Assim que joguei meu corpo cambaleante no trono de madeira, vomitei todo o chão na minha frente.

A raiva e os efeitos da habilidade passaram, restando um eu vazio e abalado.

Eu era apenas um ator sendo manipulado pelos sentimentos e pela Mente Serena. Como um humano normal poderia fazer aquilo?

E, com o término da habilidade, o eu real retornou. Esse poder não era absoluto. Percebi que, para sobreviver nesse mundo, eu não poderia mais apenas atuar.

Eu preciso realmente me tornar isso...

Naquele dia passei o resto do tempo acordado em contemplação. As luzes do salão estavam apagadas e apenas o brilho suave e quente do núcleo da masmorra era a minha companhia.

Naquele dia, passei o resto do tempo em contemplação, acompanhado somente do Núcleo quente da Masmorra.

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Dia 0: O dia em que Kayn foi invocado

— Meredith, você acha que realmente há algo dentro dessa floresta?

— Senhorita, para ser sincera, não sei. Mas, antes de conhecê-la, não me atreveria nem a pisar nesse lugar. Na verdade, nenhum dos soldados reunidos aqui prosseguiriam se não fosse você nos guiando. Eu acredito somente em você.

A jovem heroína Reese assentiu com a cabeça com um rosto brilhante e resoluto.

A Comitiva com cerca de 1000 dos soldados mais bem treinados, a elite, entrou junto com a Heroína na Floresta de Sort.

Os soldados de elite atravessaram o terreno externo com grande facilidade no curto prazo de três dias. Nada de ruim aconteceu nesse meio tempo. No quarto dia, alcançaram as áreas intermediárias, em que poucos aventureiros se atreviam a ir.

Foi neste lugar que um soldado se deparou com aquilo que dizimaria metade da comitiva.

— Isso é um... Coelho Chifrudo?



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