O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 42: Leilão dos Mestres

Retornando para o salão carmesim, vi que todos os mestres se dirigiam para a mesma direção. Ao segui-los, alcançamos a belíssima escadaria de pedra branca e a subimos.

Poderia até tentar mentir para mim mesmo, mas na realidade estava nervoso. Minhas mãos suavam frio. A cada degrau da escada meu coração acelerava um pouco. Ainda bem que Cristal me acompanha sem temer. Ela que me dava coragem.

Quando meu grupo chegou no topo, no andar de cima, as cortinas gigantes se abriram, revelando um novo mundo.

Eram dezenas, senão centenas de milhares lugares. Cadeiras e assentos para as na s variadas criaturas e seres que participavam daquele evento e também para os seus servos.

Acima da minha cabeça, senti o vento bater e olhei para cima. Dúzias e mais dúzias de gárgulas feitas de rocha voavam levemente pelo céu, iluminando todo o salão com as poderosas chamas que brilhavam das suas cabeças. 

Gárgulas de Fogo.

Mal tive tempo de acompanhar a visão daquela rara raça, pois minha atenção foi puxada abruptamente para um ponto ainda mais acima no céu. Lá, quase tocando o teto de escuridão, havia uma centena de lugares.

Eram tronos de verdadeiros reis. Eram decorados com a diversidade dos seus donos. Mesmo distante, conseguia sentir as energias e auras que vazavam deles e pairavam na atmosfera ao redor, como se temessem se afastar demais deles por conta de algo...

Se eu pudesse supor o que era esse “algo”, chutaria que fosse os quatro tronos que flutuavam ainda mais acima. Estes que eram ainda mais brilhantes em poder e que já tinham seus donos sentados nos seus devidos lugares.  

Mal tive tempo para ver aquela espécie rara e minha atenção foi chamada para uma área acima, no céu. Lá, havia apenas uma centena de lugares. 

Azazel era o sentado mais na direita. O trono dele era feito de magma incandescente puro. Assim como sua imagem envolta em chamas, o assento era brilhante e quente.

Amadeus apoiava relaxado a cabeça no seu braço que era apoiado por seu assento. Um trono de escuridão profunda como o próprio teto do abismo. Dele, vazavam apenas os sórdidos e maltratados grunhidos dos morcegos que sofriam nas sombras absolutas. Como sempre, sua expressão era de desinteresse.

Baal era diferente dos demais. Seguia logo depois, sentado ao lado vampiro. Parecia mais ansioso que os demais; empolgado apertava a cabeça de ossos do seu trono de corpos.

Por último, era ela, com seu sorriso brilhante. Já não usava mais um vestido e sim uma armadura completa de couro e um grande casaco vermelho feito do corpo de um lobo. Cecília estava belíssima.

O anfitrião se esbaldava ainda mais acima. Sentava-se mas próprias nuvens e era servido com uvas e vinho por beldades divinas. Azarias ria alto, bebendo do vinho e curtindo das mulheres. Sua imagem era de um verdadeiro Rei.

Mordi os dentes, segurando a inveja firmemente e continuei meu caminho. Não era merecedor desse sentimento.

Meu grupo desceu um pouco mais para perto do palco. O lugar era como uma gigantesca arena, mais como um campo de futebol do que um palco. Sentamos juntos e esperamos.

— Onde está Alina, Akai e Leifr? — perguntei para a sereia.

— Os importantinhos? Devem estar lá. — Ela apontou para a área especial acima das nossas cabeças. — Apesar de sermos amigos, eles estão em outro patamar. Acostume-se, Kayn, se quiser continuar sendo parte do nosso grupo.

Eu nem sabia que fazia parte do grupo. Ri um pouco disso por dentro.

Pouco tempo depois, com todos já descansados em seus lugares, um sujeito começou a aparecer no centro da arena.

— Prepare-se, Kayn — disse Rio. — O mestre Azarias é conhecido por seu impressionismo.

— É, eu vi no dia anterior.

— Não. — O troll encarava atento o centro do palco, onde a sombra ainda se aproximava da luz. — A coisa começa agora. Hoje é que o leilão dos mestres começa de verdade.

O sujeito foi chegando perto do centro, onde havia luz, saindo das sombras e finalmente pude ver sua imagem.

Seu rosto era como o esqueleto do crânio de um antílope morto — com chifres poderosos se erguendo acima da cabeça — e seu corpo era preto, do mais escuro tom. Não era escuro ou negro; era como um buraco negro que absorvia a luz.

— Emissário da morte... — Deixei escapar.

— Não, Kayn — A sereia disse, corrigindo-me e continuou: — Eu já vi um emissário da morte antes. Esse é muito diferente, uma evolução.

— Aquele é... um emissário do abismo — respondeu Rio. — Ele evoluiu.

Engoli seco. Aquela criatura, eu conseguia sentir, ele poderia matar qualquer um dos mestres que sentavam na arquibancada sem nem mesmo suar. 

A criatura ficou no meio da luz. Lentamente ele abaixou a cabeça. Um silêncio percorreu todo o salão. Alguns mestres seguravam suas cadeiras com firmeza; outros mal fechavam seus lábios. Todos esperavam. Ele então lentamente ergueu seu braço acima da cabeça.

Observei bem cada detalhe.

O emissário do abismo esticou o braço até o máximo e, pouco a pouco, começou a socar o ar. Eram socos normais, sem muita força, sem muito impacto nem velocidade. Ele apenas bateu contra o ar. 

Uma música animada com batidas dançantes começou a tocar no ritmo dos socos dele.

— O que caralhos está acontecen... — Antes de poder falar, as gárgulas começaram a voar em círculos.

Os feixes de luz giraram pelo céu e iluminaram mais e mais o palco. De repente, algumas batidas de pés e socos no ar começaram a soar dos arredores. Quando notei, até a sereia e o troll batiam forte conforme a música.

— ESTÃO PREPARADOS!!!! — A voz gutural e profunda do emissário da morte vazou, enquanto ele anunciava. O som soou por todo o espaço. — ESPERO QUE ESTEJAM PRONTOS, MESTRES! POIS, HOJE, EM NOME DO MEU CRIADOR, AZARIAS! EU TENHO O GRANDISSIMO ORGULHO DE ANUNCIAR O COMEÇO DO Leilão dos Mestres!!!!!!! 

Eu não sei dizer se ria, ou chorava. Me sentia num verdadeiro show de Rock' Roll.

A plateia estava extremamente animada, então parecia ser algo a qual estavam acostumados.

O emissário do abismo então andou pelo palco sacudindo a cabeça e batendo o pé, como um verdadeiro rockeiro enlouquecido. Eu segurei o riso o máximo que pude. 

O humor do público estava bom, como a moral de um exército vencendo a batalha.

— Kayn — chamou a sereia —, como hoje é o evento principal, não compraremos nada tão cedo, então não desperdice seus lances. Eles sempre colocam as coisas mais caras primeiro.

— Ah. Sim. Não se preocupe. —Agradeci pelo aviso e aproveitei para ver quantas moedas eu tinha. 

[Moedas Restantes: 700.000]

Era um bom número, levando em conta que o valor de um minotauro era 100.000 moedas. Talvez eu pudesse comprar algo interessante.

Assim o leilão começou. Concentrei meus olhos cromáticos no palco e observei enquanto os primeiros itens surgiam. Para minha surpresa, reconheci a primeira peça de imediato.

— Trazida a nós pelo grandíssimo mestre do submundo, está peça possui o poder da vida e da morte e é nomeada com o nome de um dos antigos deuses que se foram. Sabemos nós que restam poucos dos antigos e que seus pertences nomeados desapareceram junto deles. Mestres que hoje estão por aqui...

Eu mal conseguia respirar. O que ele trouxe era um longo cajado de cor escura com faixas negras cobrindo-o de cima a baixo. No topo, estava gravado a cabeça de um conhecido cão negro, um Dobermann.

Não pode ser...

—... eu lhes apresento o Cetro de Anúbis! 

O emissário da morte começou a descrever o item, mas eu já conhecia suas especificações. Porém, as especificações daquele item não poderiam ser reais. 

Dentro de Vanglória, não havia expectativas de que algum jogador pudesse adquirir o Cetro, pois seu poder era gigantesco demais. Reviver os mortos ilimitadamente e apenas com uma pequena perda de nível e alguns itens. Era absurdo demais.

Tendo certeza disso, acionei minha habilidade:

— Olhos da Ambição!

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[Habilidade Olhos da Ambição] Ativada

A Ambição do Usuário e o Nível da habilidade é muito baixa para lutar contra O Cetro de Anúbis  

É impossível ler suas informações

❂❂❂

Droga. 

Apesar de ser uma droga, ainda era o esperado. Decide prestar atenção no que dizia o emissário do abismo.

Ele contou que o item era sim capaz de reviver qualquer um, porém com limitações não especificadas e que era necessário dar algo também não especificado em troca. 

E então ele anunciou: 

— Começarei os lances com o valor base de dez bilhões de moedas pelo Cetro de Anúbis!

Para a minha surpresa, vários lances começaram a subir. Dez bilhões se tornaram vinte, trinta, cinquenta até que uma voz enlouquecida e mecânica surgiu:

— Cem bilhões de moedas. — Era o Lich. Um silêncio se instalou e nenhum outro lance foi feito. 

— O Cetro de Anúbis está vendido para o Duque Lich pela bagatela  de cem bilhões de moedas. Meus parabéns!

Levando em conta a taxa de conversão da masmorra e outras muitas especificações, o valor ainda era ínfimo se comparado ao poder daquele item. Trazer alguém de volta a vida... Quanto alguém pagaria por isso? Não havia como calcular...  



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