O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 41: Roupas Novas

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[Habilidade Olhos da Ambição] Ativada

A Ambição do Usuário é maior que a do alvo.

É possível ver suas informações, porém com algumas limitações.

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[Informações]

Nome: Oz

Raça: Águia do Grande Relâmpago | Nível 65/80

Raridade: Incomum | Grau: 8

Emblema: Bestial | Elétrico

[Estatísticas]

Força: 130/180 Velocidade 140/180| Vigor 90/140

Destreza: 110/170 | Inteligência 100/150 | Mana 90/150

Era surpreendente. Se ele quisesse, aquele pássaro poderia me matar num instante. O poder dele já estava próximo do auge que um monstro incomum poderia alcançar, o que era ainda mais incrível levando em conta a raridade disso ocorrer.

Mesmo em Vanglória, poucos monstros meus foram tão longe. Alcançar o grau 8 era algo sem igual. Normalmente, os monstros morriam e eram simplesmente substituídos por outros com raridades maiores.

A águia era um pássaro da velha guarda que provavelmente passou por intensas batalhas.

Aproveitei a brecha para também olhar as informações do Rio.

— Olhos da Ambição — murmurei de novo.

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[Habilidade Olhos da Ambição] Ativada

A Ambição do Usuário é equivalente ao do alvo

É possível ver suas informações, porém com muitas limitações

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Meus olhos embaçaram por um instante e logo em seguida uma dor de cabeça severa me abateu. Vertigem?’, pensei. Provável efeito colateral da minha ambição não ser forte o suficiente. Mesmo com a dor, continuei a investigação.

[Informações]

Nome: Rio

Raça: Troll da Montanha | Nível ???/50

Raridade: Heroico | Grau: 5

Emblema: Regeneração | Terra | Gigante

Já imaginava que fosse algo do tipo, mas ainda me surpreendi. Apesar de não poder ter acesso a tudo, o pouco que vi já era maravilhoso. Raridade e o grau. Heroico e grau 5. Isto já provava sua força.

Muitos achavam que as classificações dadas pelo sistema de Vanglória eram apenas nomes pomposos para enganar os nerds obcecados por jogos de azar. Oh! Um grande prêmio! Mas não! Cada nome indicava algo.

Um monstro comum não necessariamente poderia ser encontrado em qualquer lugar, mas ele era comum para a sua raça e, em seu hábitat natural, viveria na base da pirâmide. Como se fossem níveis de ameaça para os aventureiros, eles estavam ali apenas por estar.

Mas por que eu tinha um foco tão grande em monstros heroicos? Além de ser o meio, que determinava a média da escala de poder, havia os Heróis. No jogo, a classe de herói só começou a aparecer mais para frente, muito depois de eu virar um mestre da masmorra, porém eles mudaram todo o esquema social e político entre os jogadores.

A classe que começava diretamente da raridade heroico. Nem mestre da masmorra começou tão alto. Tive que escalar do Raro até classificações maiores. Se eu pudesse colocar em uma escala, se eu não pudesse ser um mestre da masmorra, com certeza eu escolheria começar como um herói.

Ainda lembrava do poder do Goblin Herói que dizimou o espectro com um único ataque. Seja por coincidência ou pré-disposição, os humanos eram os mais propensos a obter a classe de herói.

Será o mesmo nesse mundo?, pensei.

Então a classificação de heroico era basicamente baseado nisso. 

Um monstro capaz de enfrentar um herói.

Sendo do grau 5, ele ainda tinha muito para crescer. Seu poder estava próximo dos de um chefe de andar da minha antiga masmorra.

— Mestre Kayn, e, então, vai para o evento principal? 

Quando ele disse isso, lembrei que hoje era o dia: o leilão dos mestres realmente começaria. No dia de ontem, ocorreu apenas algumas confraternizações, trocas e reuniões entre os mestres menores. Hoje que o evento principal começaria de verdade.

— Estou sim. Antes de ir, gostaria de antes comprar algumas roupas novas para mim e para minha nova serva. — Apontei para os remendos que chamava de roupa de depois para o vestido de noiva calorento de Natália.

Até o brutamontes na minha frente usava trajes melhores.

— Roupas, não é? Vamos procurar pela Una. Ela conhece ótimos lugares.

— Ótimo. Pode guiar o caminho. 

E assim prosseguimos. Era até que um pouco reconfortante ter o Rio comigo. Apesar dele não ter um mestre tão famoso quanto Alina ou Leifr, já não era alguém a quem não ousariam ofender facilmente. 

Passamos pelo salão carmesim iluminado de vermelho, depois pelas salas de exibição, com vidros resistentes que separavam os vários produtos dos gananciosos mestres do outro lado, e chegamos até a conhecida presença que flutuava numa bolha enquanto sacudia a cauda olhando para uma das peças em exibição.

— Una — chamou Rio.

A sereia virou distraidamente a cabeça para os lados e seus olhos quase dobraram de tamanho com sua expressão nervosa. Ela pediu silêncio sobrando um dos dedos e acenou com a mão para que nós nos aproximássemos devagar. Entendemos o recado e prosseguimos.

— O que foi, Una? 

— Eu encontrei algo aqui. Veja, Rio, e você também, mestre Kayn.

Ela apontou o dedo para a exibição e eu o segui, olhando para o objeto atrás do vidro que me era bem familiar. As poções mágicas que anunciei dias atrás.

O que tem de especial?

— Eu... eu não acredito. E olhe esse preço! Está sendo dado de graça! — exclamou Rio.

— Fale baixo. Quer que mais alguém descubra o que são? — Una olhou para os lados e suspirou com alívio quando notou que ninguém ouviu. — Temos que participar desse Leilão. Elas serão leiloados no salão principal e veja a descrição do produto!

A descrição? Qual era o problema?... De repente, eu me lembrei.

Poção de cura Maravilhosa!

Ela cura. Maravilha! Achou que ela fazia mais o quê?

Custo: 2.500

Estoque: 10

— Deve ter sido um idiota para não reconhecer o valor disso. Espero conseguir uma também.

A poção que coloquei era o modelo mais fraco, que só curava feridas fracas. Eu não estava conseguindo entender o que tinha de tão especial. Era necessário beber de três a quatro delas apenas para se curar de uma facada. Por que achavam ela tão impressionante?

— O que tem de especial nessa poção?

— Você não sabe? — Rio me olhou. Virou-se para a sereia e ela concordou com a cabeça. — A poção de cura que está vendo é vermelha. Poções assim são capazes de curar o corpo instantaneamente e por igual, fortalecendo-o. É como uma poção de retorno no tempo. Mesmo a mais fraca delas é capaz de retardar a morte mesmo que por mais alguns poucos segundos. Beber dela é a diferença entre a vida e a morte. Normalmente, ela só pode ser feita com o sangue raro de um homem das neves; uma evolução da minha própria raça

Quando pensei nisso, vi que ele tinha razão. Anteriormente havia até feito esse processo de retardar a morte com o irmão diabo. Mantive ele vivo durante horas apenas usando de poções fracas.

Para alguém à beira da morte, tempo era o bastante.

Para não atrair olhos gananciosos, decidimos sair dali o mais rápido possível. Sendo o vendedor, era até melhor para mim ficar no lugar para atrair mais clientes, porém não queria levantar suspeitas.

Contei à Una o motivo de estar procurando-a e ela levou a gente a uma loja de roupas que conhecia.

Natália substituiu o seu longo vestido de noiva.

Como meu senso de estética era horrível, deixei que ela escolhesse sozinha. 

Ela escolheu um vestido mais curto e pouco menos decorado. Havia um grande decote na altura dos seios e detalhes em couro negro na altura do tronco — ele era todo negro — e abaixo do decote havia alguns detalhes em escalas, como se fossem asas de morcego até perto de cintura. 

Perto da cintura, um pouco acima da saia do vestido, havia a decoração de uma caveira humana. Também usava agora uma gargantilha de couro negro acizentado que tinha uma coleira que segurava a roupa no lugar. Ela era toda estilizada com pequenos dentes de vampiro.

Finalmente consegui ver seu rosto. O cabelo era escuro num tom arroxeado, os olhos vermelhos cintilavam na escassa luz quente que vinha de cima, a pele era pálida e branca, perfeita aos meus olhos, perto do lábio havia uma pequena pinta, dando-lhe um ar encantador, e ela era alta. Muito alta!

Todo mundo é alto nesse mundo ou é a minha imaginação?

Eu também me vesti. Coloquei uma blusa social branca com tecido leve, também escolhi uma jaqueta leve e aberta de cor igual, que cobria meus braços e, por cima dela, adicionei um colete de couro preto com alguns detalhes brancos que subiam como fios de cabelo.

Também comprei uma calça nova escura e um par de botas. Terminei tudo comprando um par de luvas negras. Una pagou na saída e disse que era um presente. Eu não recusei.

Eu estava pronto para o Leilão dos Mestres.



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