Volume 1 – Arco 4
Capítulo 41: Tempos de Fogueira III.
Aquela noite seria a última antes de chegarem a Shenxi, onde finalmente se encontrariam com o Herói Budai.
O céu, tingido de um azul profundo, começava a ser pontilhado pelas primeiras estrelas, enquanto a lua ainda não ousava se erguer. Um vento frio passava pelas copas das árvores, sussurrando segredos que apenas os que escutavam com atenção poderiam compreender.
Devido à importância daquela noite, Erina organizou os preparativos com uma disciplina que beirava o militarismo. Pediu para Kenshiro, Sebastian e Takashi que partissem à caça, enquanto os demais ficavam responsáveis por montar o acampamento. Ela mesma supervisionava tudo de perto, andando ao redor da fogueira como uma general silenciosa.
Gurok, de onde estava, observava com curiosidade o elemental Kaji, que trabalhava incansavelmente. Era como se fosse uma força da natureza domada ao serviço de Erina, uma chama viva.
Percebendo o olhar de admiração de Gurok, Kaji começou a brincar. Transformou-se em pequenas labaredas que dançavam no ar, traçando círculos e espirais, depois projetou imagens flamejantes que lembravam figuras de animais e soldados, tudo com um toque de humor. Ele até ameaçou atear fogo em alguns objetos, mas logo os apagava com um estalar de seus dedos de fogo, demonstrando que, apesar de sua natureza destrutiva, podia ser dócil e brincalhão.
Enquanto isso, Xin aproximou-se de Gurok e sentou-se a seu lado, cruzando as pernas com elegância e cuidado. Fez questão de posicionar-se de forma que ele pudesse vê-la claramente, pois sabia que sua comunicação dependia disso. Seus olhos brilhavam com a luz da fogueira, refletindo emoções contidas. Ela lhe perguntou, por meio de sinais e expressões delicadas, se ele já se sentia à vontade com o novo grupo.
Gurok hesitou por um instante, coçando a cabeça com as pontas de seus grossos dedos. Seu olhar se perdeu na escuridão, como se buscasse nas estrelas alguma resposta.
— Vocês são muito receptivos, não posso negar — respondeu, a voz grave. — Mas é um pouco estranho estar tão longe de Altunet. Eu nunca imaginei que realmente conseguiria sair daquela cidade. Lá... Era a única vida que eu tinha.
Xin inclinou a cabeça levemente, demonstrando empatia. Não sabia descrever o que sentia em relação à sua própria terra natal, Shenxi, mas comparava-a a uma corrente: algo que prendia, limitava, e por vezes até sufocava. Percebendo que Gurok não compreenderia totalmente o que queria dizer, decidiu ser direta. Seus olhos se tornaram mais sombrios, e, com gestos firmes, revelou-lhe sua condição de escrava.
Ela explicou conceitos de servidão, descreveu seu passado, a marca que ainda carregava na alma. Compartilhou tudo que o grupo já sabia, mas que para Gurok era novidade, ou, pelo menos, uma verdade que ele precisava ouvir diretamente dela. Ao compreender tudo aquilo, Gurok sentiu crescer dentro de si uma chama de indignação — não apenas contra Zudao, mas também contra a injustiça que se perpetuava mesmo entre aqueles que chamava de companheiros.
Pouco tempo depois, Erina apareceu. Seu semblante estava fechado, o cenho franzido de preocupação e irritação. Ela ainda terminava de dar uma bronca em Zudao, que se mostrava resistente à ideia de compartilhar espaço com um orc. Ofendido, Zudao havia se afastado do grupo, preferindo o isolamento.
— O que estão conversando de bom? — perguntou Erina, sentando-se ao lado de Gurok. Sua voz soou leve, mas havia um cansaço perceptível em seu tom. Tomou uma caneca de água e virou de uma só vez, como se precisasse daquilo para lavar as frustrações.
Gurok lançou um olhar a Xin, querendo saber se poderia revelar o teor da conversa. Ela assentiu com um gesto suave.
— Estávamos conversando sobre... a natureza de Xin — respondeu o orc, medindo as palavras.
Erina respirou fundo.
— Entendo — disse, e seus olhos mostraram que compreendia mais do que ele poderia supor.
Ela percebia a inquietação dele, a luta interna que travava. Então, decidiu dar-lhe espaço para falar livremente.
— Xin, leve Kaji com você e patrulhe um pouco a área. Nossos caçadores estão demorando mais do que o normal. Prefiro ter certeza de que não há nada nos espreitando.
Xin obedeceu sem hesitar. Pegou um graveto modesto, posicionou-o na lareira. Kaji, com um gesto, transformou-o em uma tocha incandescente. A chama dançava com cores intensas, iluminando o rosto de Xin enquanto ela desaparecia na escuridão, seguida por Kaji, que ainda podia manter-se presente na fogueira, mesmo com seu rosto ausente, como uma consciência que pairava ali.
Agora, com Xin longe, Erina e Gurok estavam a sós — embora a presença etérea de Kaji, sentinela invisível, ainda estivesse ali.
Gurok respirou fundo.
— Acho que eu te julguei mal — disse por fim, com a voz rouca. — Eu pensei que, por você ter me ajudado em Altunet... pensei que você jamais teria um senhor de escravos em seu grupo.
Erina permaneceu em silêncio, observando o fogo com uma expressão inexpressiva.
— Acha que eu sou uma hipócrita? — perguntou por fim, sem desviar os olhos das chamas.
— Acho que você é uma oportunista — retrucou Gurok, sem hesitar. — Não importa quem seja, raça, cor ou classe social. Se for útil para você, você aceita. E isso... me assusta.
— Você não está completamente errado — admitiu Erina, com um suspiro pesado.
— Nunca pensei que juraria lealdade a alguém assim — murmurou Gurok, a voz tremendo de frustração e mágoa.
Erina se levantou, ficando à frente de Gurok, os olhos quase na mesma altura. A fogueira iluminava seu rosto, revelando sombras que dançavam como espectros.
— Explique-se — disse, com uma calma que contrastava com o fogo que queimava em seu olhar.
Gurok ergueu o queixo, segurando a fúria que ameaçava transbordar.
— Passei minha vida inteira lutando contra injustiças. Vi os pobres sendo esmagados por senhores cruéis, vi eles sendo tratados pior do que animais. Dediquei cada fibra do meu ser para acabar com isso. — Seus punhos cerraram-se. — Existe algo mais injusto no mundo do que a escravidão? Como consegue dormir à noite, sabendo que permitiu que algo tão vil permaneça ao seu lado? E você... não faz nada para mudar!
Erina permaneceu em silêncio, fitando-o com intensidade. O silêncio dela o irritou ainda mais, como se fosse uma afronta.
— Por acaso Zudao é mais forte do que todos vocês? — continuou Gurok, com a voz carregada de indignação. — Você desafiou as muralhas de Altunet, mas não tem coragem de enfrentar um velho atrás de sua bengala? Qual é a razão, Erina? Eu preciso saber para...
— ...Para continuar ao meu lado? — interrompeu ela, num tom que misturava compreensão e uma pontada de dor.
— Para eu não matá-lo com as minhas próprias mãos! — bradou o orc, levantando-se e encarando-a de cima, como se todo o seu ser pulsasse em fúria.
Erina ergueu a mão em um gesto calmo, convidando-o a se sentar novamente.
— Sente-se e se acalme, meu paladino — disse, em um tom carinhoso, como quem consola uma criança ferida.
Gurok respirou fundo, percebendo que havia perdido o controle. Obedeceu.
Erina suspirou e desviou o olhar, fitando o fogo como se buscasse respostas ali.
— Eu só consigo dormir à noite porque... tenho meu marido para me acalmar. Não sou tão forte quanto pareço. Sempre que vejo Zudao e a forma como Xin age perto dele, sinto vontade de esmagar o crânio dele com os meus pés. Mas existe um risco real de que Xin morra no processo. A ligação deles... é mais forte do que o comum.
Ela fechou os olhos por um momento, como se cada palavra fosse uma lâmina apontada para si mesma.
— Desde que saímos de Altunet, pedi para Kaji aumentar a velocidade. Eu quero resolver essa história o quanto antes. Zudao afirma ser uma pessoa, mas eu sei que está mentindo ou, ao menos, escondendo algo. Mantenho-o no grupo para poder vigiá-lo de perto. Se ele voltasse para Shenxi antes de nós, eu não saberia o que nos aguardaria lá.
Abriu os olhos, encarava seu paladino com um olhar endurecido.
— Não gosto de mostrar minhas fraquezas, muito menos para membros novos. Então, peço que controle seus nervos. Amanhã, a história de Zudao e Xin terá um fim.
Ela se aproximou dele, fitando-o com intensidade.
— Duvidar é a única coisa que irá causar a sua morte e a nossa decadência, Gurok. Acabe com essa dúvida. Aja na ignorância, ou torne-se um fanático, não me importo. Sua lealdade a mim é a única coisa que me importa.
Gurok baixou a cabeça, absorvendo cada palavra. Decidiu confiar nela. Amanhã, tudo seria resolvido. Ele seria, então, o fiel paladino do grupo... ou retornaria para Lois.
(...)
A demora dos caçadores justificou-se quando chegaram com três cervos e duas dúzias de coelhos. O cheiro da caça fresca invadiu o ar, misturando-se com a fumaça da fogueira.
Xin retornara com eles.
— Teremos convidados e eu não estou sabendo? — perguntou Erina, pondo as mãos na cintura e arqueando uma sobrancelha.
Estava irritada ao imaginar o desperdício da carne.
— Não se irrite — disse Kenshiro, entregando um cervo a Kaji, que logo começou a preparar o churrasco com maestria. — Estamos andando há dias sem uma refeição decente. Sebastian ainda nem recuperou sua cor. E Gurok precisa se acostumar com nosso estilo de vida.
— Você sabe muito bem porque estamos com pressa — retrucou Erina, o tom afiado.
— Meu amor — murmurou Kenshiro, aproximando-se dela. Segurou-lhe as mãos com doçura, falando baixo para que apenas ela ouvisse. — Sei que você está ansiosa para libertar Xin. Mas não podemos desperdiçar essas noites. Não sabemos se teremos outra oportunidade.
— Eu sei — disse Erina, desviando o olhar. — É que... — Sua voz vacilou.
— Nós dois sabemos o que nos espera nessa jornada. Mas, tirando Sebastian, eles não. Precisamos aproveitar esses momentos como se fossem os últimos — disse Kenshiro. — Porque podem ser.
Erina suspirou. Não poderia negar. Sua preocupação com Xin estava afetando sua liderança. Decidiu então que permitiria que todos acordassem mais tarde no dia seguinte, como compensação. Mas prometeu a si mesma que não repetiria esse erro.
(...)
Quando o cheiro da carne se espalhou, Zudao finalmente se aproximou, ainda afastado pelo próprio orgulho.
Erina permitiu vinho, cerveja e hidromel para seus subordinados — para aqueles que não gostavam, água e leite.
Mesmo com três cervos inteiros, a disputa pelos melhores pedaços foi acirrada. Sebastian, Kenshiro e Gurok brigaram como crianças famintas, alegando que precisavam de energia. O restante do grupo se divertia com a cena, dividindo as carnes de forma mais civilizada, cada um escolhendo os pedaços que mais gostava.
Kenshiro, Sebastian e Gurok beberam em excesso — cada um na sua bebida favorita: cerveja, vinho e hidromel, respectivamente. Foi a primeira vez que Gurok provou o hidromel e pareceu desenvolver uma atração natural por ele, como se fosse parte de sua alma.
Como castigo pela gula e pela bebedeira, Erina ordenou que eles aguentassem todas as ânsias, dores de barriga e dores de cabeça. Se quisessem vomitar, teriam de se afastar para que ninguém ouvisse. Caso contrário, não teriam sua ajuda para curar a ressaca no dia seguinte.
Xin permaneceu em silêncio, mas Erina percebia em seus pequenos gestos e olhares um discreto divertimento, quase infantil, como se a atmosfera de companheirismo a fizesse esquecer, mesmo que por um breve momento, sua condição de escrava.
Takashi, por sua vez, parecia mais solto do que nunca. Desde que disparara sua primeira Flecha Fantasma, algo nele havia mudado. A confiança emergira, e agora ele se misturava ao grupo com mais naturalidade.
Zudao, como sempre, comia de forma egoísta, pegando para si os melhores pedaços e mantendo-se isolado, um abutre vestido em roupas nobres.
(...)
Quando a carne virou pequenos pedaços e o álcool se esgotou, Erina se levantou e bateu algumas palmas. O fogo projetou sua silhueta, tornando-a ainda mais imponente.
— Precisamos conversar antes de dormir — disse, e o tom sério fez o grupo silenciar.
Kenshiro e Sebastian trocaram olhares cúmplices, como se já soubessem o assunto. Os demais aguardavam.
— Eu sei que não revelei quase nenhum detalhe sobre nossa jornada. Tenho estado mais silenciosa desde que deixamos Altunet. Então eu gostaria de conversar um pouco com vocês, minhas crianças — disse, com um sorriso que parecia pesar tanto quanto o mundo.
Kaji aumentou a chama da fogueira, fazendo sua chama dançar como um espetáculo de luzes, projetando no rosto de Erina uma aura quase divina.
— Não estamos juntos há muito tempo — continuou ela. — Na verdade, ainda somos quase estranhos. Não conhecemos os sonhos uns dos outros, nem as crenças políticas ou nossas próprias histórias. Mas o que aconteceu em Altunet me trouxe esperança.
Ela caminhou entre eles como uma sacerdotisa, a chama de Kaji sempre a iluminando.
— Sem muito planejamento, apenas com algumas ideias suicidas e uma determinação tola, confiamos uns nos outros como se fôssemos companheiros de longa data. Sabíamos que se um de nós falhasse, tudo ruiria. E mesmo assim, nenhum de vocês hesitou. — Ela parou. — Todos vocês merecem estar aqui, ao meu lado. Vocês me provaram que podem caminhar comigo e com Kenshiro nesta jornada traiçoeira. Não consigo imaginar pessoas melhores com quem eu gostaria de dividir o meu fardo.
Takashi, Xin e Gurok ergueram seus copos, brindando com água. Xin apenas bateu levemente o copo contra o tronco, como se fosse um gesto simbólico. Gurok socou o tronco em que estava sentado, enquanto Takashi assoviava em aprovação.
Erina ergueu a palma, pedindo silêncio. Seu sorriso era tímido, mas sincero.
— E por isso, acredito que vocês merecem a nossa confiança. Merecem saber a importância desta jornada. — Fez um gesto para seu serviçal. — Kaji?
A porta da carruagem se abriu com um rangido quase sobrenatural. Um vento forte sugou o ar em volta da fogueira, como se o universo prendesse a respiração. Kaji trouxe consigo um objeto enrolado, oculto até de Erina e Kenshiro.
Um grande pergaminho, feito de um papel tão branco que lembrava o tecido das cortesãs mais nobres, emergiu das sombras do interior da carruagem. Símbolos e inscrições estranhas cobriam sua superfície, como runas de outro mundo.
Zudao arregalou os olhos, atraído como uma mariposa pela chama. —
É falso! — gritou, desesperado.
Erina permaneceu impassível. Jogou o pergaminho sobre o fogo, derramou gordura e água. O pergaminho permaneceu intacto. O fogo tremeluzia, mas não consumia.
— Não pode ser... é impossível! — murmurou Zudao.
— O que é isso? — perguntou Gurok, intrigado.
— Não faço ideia — respondeu Takashi.
Xin inclinou a cabeça, curiosa com o comportamento de Zudao.
— Isso — disse Erina, segurando o pergaminho ainda enrolado — é uma Crônica. Foi entregue a nós pouco depois de Reiji Torison, o verdadeiro líder desta expedição, ser morto. É o motivo pelo qual retomamos esta jornada.
— O que é uma “Crônica”? — perguntou Gurok, inocentemente.
— Sua besta ignorante! — exclamou Zudao, levantando-se com ódio. — São pergaminhos que revelam o futuro, o destino! — Ele respirava pesadamente, como um cão faminto.
— O destino não existe, velhote. Você acha mesmo que alguém escreveu tudo? — retrucou Gurok, cerrando os punhos.
— Claro que não, seu tolo! — rosnou Zudao. — O destino não se importa com detalhes. Ele se importa com grandes eventos: a erupção de um vulcão, a morte prematura de um herdeiro, a extinção de famílias ou espécies... ou algo pior!
Erina e Kenshiro trocaram olhares, surpresos com o conhecimento de Zudao.
— Parece que não é tão estúpido quanto parece — disse Sebastian, balançando a cabeça com um sorriso provocador.
— Estou tentando criar uma Crônica desde que assumi Shenxi! — A voz dele carregava frustração, misturada com uma chama de orgulho. — Meus oráculos conseguiram fazer apenas previsões, algumas corretas, a maioria inútil — Encarou o pergaminho, aproximando-se com passos curtos. — Eu daria tudo que eu tenho para poder ver uma única Crônica e seu conteúdo…
Sua mão, pálida, avançou com lentidão, hesitação e ganância misturadas, pairando sobre o pergaminho, como se temesse queimá-lo com o toque.
— Talvez se eu o ver, eu possa finalmente entender…
— Não — A voz de Erina cortou o ar como uma lâmina, firme e implacável.
Antes mesmo que Zudao conseguisse piscar, o pergaminho brilhou com uma luz intensa e foi rapidamente sugado para dentro da carruagem, desaparecendo como se fosse engolido por um abismo de sombras.
Zudao permaneceu com a mão estendida, os olhos arregalados, paralisado, como se ainda pudesse sentir o calor da Crônica a centímetros de distância. Sua boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu.
Erina respirou fundo, o rosto sério, os olhos duros como granito.
— Como nem todos vocês irão nos acompanhar até o fim — disse, e seu olhar se deteve em Zudao. — Não poderei revelar o conteúdo da Crônica agora. Quando resolvermos todas as questões em Shenxi, eu responderei todas as dúvidas de vocês. — Sua voz suavizou um pouco. — É uma promessa.
Erina levava a sério suas promessas. Tentaria ao máximo cumprir todas, mesmo que isso lhe custasse a alma. Mesmo que o preço fosse a própria morte.
(...)
Todos estavam deitados, enrolados em cobertores finos ou mantos improvisados, mas poucos conseguiram dormir. A insônia e a ansiedade sobre o dia seguinte pairavam sobre eles como uma maldição.
Erina não conseguia pregar os olhos. Estava sentada perto da pequena fogueira que insistia em crepitar, oferecendo uma fraca luz. Seus olhos não piscavam, atentos a cada som, a cada suspiro, como uma sentinela. Ela não podia se dar ao luxo de relaxar, não agora.
Ao lado dela, Xin dormia profundamente, o rosto suave, os lábios levemente entreabertos, como se murmurasse segredos em sonhos. A expressão dela era de paz. Uma paz que Erina temia jamais poder oferecer de novo. Uma dor atravessou o peito de Erina ao pensar que aquela poderia ser a última noite em que estariam juntas. O vínculo que haviam construído, de confiança, de afeto, poderia ser destruído ao amanhecer.
Erina estendeu a mão, como se quisesse proteger Xin mesmo nos sonhos. Seus dedos pairaram no ar, hesitando, antes de recuar. Se fosse pelo bem de Xin — e de todos os outros — ela aceitaria qualquer sacrifício. Mas, naquele momento, não podia evitar o desejo egoísta de que, ao menos, Xin permanecesse segura.
Ela suspirou, deixando que a respiração carregasse a angústia que havia acumulado ao longo do dia.
Enfim pegou no sono, ao sentir o abraço de seu marido — sua família.
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