Volume 1
Capítulo 30: Retrato
A ilha de São Pietro era famosa como destino turístico de gente endinheirada.
Marco nasceu e cresceu em Baía das Rocas, mas jamais pusera os pés na ilha, que ficava distante menos de trinta quilômetros do continente e contava com pousadas, fortificações de defesa do período colonial, um aeroporto e até mesmo um hotel quatro estrelas.
Quando o barco de Seu Renato finalmente atracou, encontraram um grande número de turistas bronzeados, com suas camisetas havaianas de marca, inquietos em conversinhas enquanto apontavam para além da costa — na direção de Baía das Rocas. Espessas nuvens de fumaça subiam de lá.
Ignorando a insistência dos turistas que queriam explicações detalhadas sobre o que acontecia do outro lado do mar, Marco desceu escoltado por Beatriz, Levi e Régulo. Virou-se para ela.
— Bia, preciso fazer uma coisa. — Apertou a mão da garota com ternura.
Ela nada perguntou, limitando-se a sorrir com entendimento. Seus olhos de jade brilharam sob as luzes do nascer do sol.
— Estarei aqui quando voltar.
— Eu também — Levi ergueu o braço bom. — Tem lanchonete por aqui, Bia?
Marco bagunçou os cabelos do menino e gargalhou, seguido pelo gesto firme que fez em direção a Beatriz.
Então saiu a toda dali; Régulo em seu encalço, afastando-se do barco rumo a uma parte mais isolada da praia. Quando avistou um conjunto de pedras aglomeradas que se transformavam num rochedo elevado, Marco parou, agachando-se onde a orla se quebrantava nas canelas.
Tirou o retrato da mãe do bolso, encarando o sorriso gentil de Irene Pharas.
— Consegui, mãe — disse num sussurrar. — Entendi o que devo fazer agora…
Régulo soltou um miado bastante longo, como se lamentasse a seu modo.
— E você, meu amigo… obrigado por ter voltado. Me salvou de novo. — Olhando para o gato, Marco de repente sentiu uma ternura desmedida amolecer o coração. Ali, naquela praia, entendeu pela primeira vez na vida que também amava Régulo. Mostrou o retrato para ele, que miou enlutado. — Nunca mais a veremos, mas a mãe estará nos olhando lá do céu.
O gato esfregou a cabeça contra a coxa do dono.
Marco beijou a foto e, fazendo carinho na queixada de Régulo, afrouxou os dedos da mão.
— Bom banho de mar, minha velha.
Livre, a foto ergueu voo e correu para as águas do Atlântico, empurrada pela brisa úmida que trazia um gosto de sal até os lábios de Marco.
Ele sorriu com tristeza, observando o retrato sumir ao longe.